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Hobbits e Evolução na Série da Amazon

É uma leitura possível sim, com certeza. Quando o tópico for movido eu respondo. O assunto é interessante e dá pano pra manga justamente pela falta de informação precisa.
Acho que já digredimos demais do tópico principal.
@Turgon @dermeister
Alguém pode mover essa discussão sobre evolução pra outro tópico, por favor?
Tinha sugerido movê-lo para um tópico sobre a origem dos hobbits, mas acho que um tópico novo sobre evolução nas obras seria mais interessante.
 
A criação original e modificação do mundo e dos seres nos tempos das Luminárias e Árvores era recheado de magia súbita, que pegava atalhos, diferentemente da evolução.

Conta-se que os Kelvar (os animais) teriam vindo do "bosom" de Yavanna. "Bosom" podendo ser útero (no sentido da palavra no Old English) ou seio. Ela "devised" (num sentido de vontade, mas também num sentido divisor parecido ao do Gênesis de separar água de terra) as sementes que não vieram de nenhuma árvore pois eram as primeiras (poderiam ser como feijões mágicos) para plantar a Primavera de Arda. A primavera, após a destruição das luminárias, culmina em outro ato de poder súbito, a canção de Yavanna misturada com as lágrimas de Nienna que fazem crescer as duas árvores. Tudo isso precede o surgimento dos corpos dos filhos, como se fossem ensaios para a vinda dos filhos (O Hroa, pelo que se lê do diálogo de Manwe e Eru) estava a cargo dos Valar, em especial dos Aratar (Yavanna era da mesma classe de Varda e Melkor). Porque tinha disso também, Eru poderia criar o habitante e os Valar poderiam atuar oferecendo a casa do habitante.

No encantamento do sono de Yavanna (que ela adormeceu plantas e animais) as feras criadas por Melkor não dormiram e ficaram vagando pelo mundo. Oromë precisava caçá-las. Melkor detinha um quinhão do dom de Yavanna, provavelmente havia um equivalente monstruoso de útero/seio de gestação para ele copiar o trabalho dela.

A imagem de Yavanna no texto aparece descrita também como de espécie ambígua (bicho-planta) podendo ela ser confundida com uma árvore alta com orvalho dourado. Yavanna poderia ser considerada como uma "super-semente", totipotente não apenas gerando uma espécie fértil de seu poder sub-criativo mas reinos inteiros completamente estranhos entre si.

 
Última edição:
@Turgon @dermeister já que vocês moveram o tópico, deveriam colocar na seção da série da Amazon. Ficou sem sentido eu citar uma matéria falando da série e ela estar numa seção sem relação. Poderiam modificar isso por gentileza?
 
Ficou um post para trás. Talvez por conta do "refresh".
Ficaram dois, do @Finarfin e seu.

Esse.
Uma nota importante sobre magia em SdA.

Vi a equipe da Amazon devorando o Silmarillion, mas não sei se vão internalizar magia do jeito certo (em particular sob a luz dos prazos e contratos). No Silma se fala sobre magia em que a magia/poder subcriativo na obra funcionavam com regras diferentes das que surgiram com o advento da ciência (evolução, etc...), as quais são dependentes de coisas como constantes universais, leis físiscas, etc... No lore há diferenças que envolvem também estudos a respeito de Tolkien e da modernidade (tecnologia poderia ser um sinal de deterioração do mundo ao suprir uma solução para um problema que antes não havia). A Terra Média funciona como o Eden de Adão e Eva sendo cada vez mais expulsos do paraíso.

A princípio o poder sub-criativo ou magia não precisava depender de um mundo para funcionar, bastava o pensamento do Ainu ou de Eru serem aplicados na escuridão primordial reinante para concretizar uma forma pela força da vontade e do pensamento (forças mais elementares e simples do que a obra dos Valar). E o resultado era como cortar caminho (Gandalf é especialista em procurar cortar caminhos). Mas a medida que o mundo se enrijece, fica mais denso e se corrompe a lei do mundo também muda (Eru intervém) e os caminhos se tornam mais longos, exigindo mais esforço e sofrimento, alternativas indiretas são concebidas e aparece a Era de Saruman e seus engenhos.

Evidentemente que Ainur também podiam manipular tecnologias do mundo, mas esta constava como sendo uma das opções disponíveis dentro no cardápio deles, em especial no começo de tudo. Já mais adiante eles vão ficando rígidos e menos poderosos (o mundo vai conter cada vez mais os poderes deles). Por isso que na Terceira Era é tipo uma transição do predomínio dos dias médios e antigos para os dias novos (humanos e científicos). Porque Eru aplicou uma força tão grande que tudo se deformou em outra direção. (o mundo fica inclusive redondo ao invés de plano)

E esse.

Infelizmente o próprio Tolkien tendia a se afastar desse universo mais mágico em prol de uma abordagem mais realista nos seus escritos mais tardios. Talvez o exemplo mais marcante, ao menos para mim, é a exclusão de uma das passagem mais legais da obra, a criação do Sol e da Lua, por uma versão na qual eles sempre existiram e são apenas astros.
Embora eu não goste dessa nova abordagem, esse era a intenção do autor. Então não dá pra negar que ele não fazia esse tipo de conjecturas sobre a própria obra, uma vez que ele trabalhou a fundo para transformar seu mitos em versões mais realistas.
Como se trata em sua maioria de material não finalizado, cabe a nós escolher qual versão mais agrada. Eu fico com o mitológico. Mas isso é gosto meu. O autor abre a possibilidade pra outra visão.

Falar que simplesmente não existe ciência e por isso não pode haver evolução (hein?), ou que os hobbits não podem ter evoluído dos homens quando o próprio autor fala que aqueles são um ramo destes, baseado e uma concepção toda errada do que seja evolução, tudo isso só pra justificar que a série vai ser uma bosta?

Lendo a História da Terra-média, bem como a Natureza da Terra-Média, dá pra perceber que Tolkien era muito menos purista que muito dos seu fãs. Metia a mão sem dó no seu lore, modificando aqui e acolá a torto e a direito. Acho que esse pessoal é mais fã do Christopher do que do pai.

Já até prevejo a próxima indignação: MEU DEUS, GIL-GALAD NÃO É FILHO DO FINGON!!! ABSURDO!!!
@Turgon @dermeister
 
Ok, tópicos movidos, vou retomar a discussão que estava tendo com o Haran.

Pode sim, os hobbits podem ter sido criados e ponto. Como não há descrição nos livros sobre seu surgimento, é perfeitamente possível. Mas há alguns indícios, ao meu ver, que suportam uma evolução a partir de outro grupo de homens.

Primeiro eu gostaria de pontuar que nem todo grupo de ser vivo que tem na Terra-média foi criado como tal.
O exemplo mais claro pra mim são os numenoreanos. Não existiam homens com as características deles antes. Eles são um grupo de homens que se diferenciou dos outros. Aqui eu vejo claramente o conceito de ramo que se desmembra de um galho ou tronco anterior.
Os elfos de Aman eu tenho um pouco de dificuldade de fazer essa afirmação, mas não é de todo impossível que eles tenha se diferenciado também no seu hröa em relação ao elfos que não migraram.

Então, a ideia que tudo foi criado tal como era desde o início, tem pelo menos essa exceção numenoreana. Isso não confirma que os hobbits também se diferenciaram dos homens, mas mostra que não é um hipótese inválida e que já aconteceu com pelo menos outro grupo.

A concepção dos drúedain pelo autor me parece ter uma influência muito grande de um estereótipo de seres humanos primitivos. Primitivos não só falando como Homo Sapiens antigos, mas de outros Homos mesmo. São de fato outra espécie? Fato é que essa influência paira no ar. Não é algo que está definitivamente excluído do Legendarium. São interpretações abertas e possíveis.

O que pra mim é óbvio é que Tolkien em momento algum segue um rigor científico pra explicar o surgimento ou evolução de uma espécie. Isso não mesmo. Nem seria o propósito de uma obra fictícia de fantasia. A evolução não é calcada na seleção natural tal qual preconizada por Darwin. É uma seleção fantástica.

Para o numenoreanos, por exemplo, a seleção é divina. Um grupo de homens se diferencia de outro por um bênção divina. Ainda assim, é um grupo que se diferenciou de outro, portanto, evoluiu - deixando claro que o termo evoluir não significa ficar melhor, e sim mais apto.

Como já comentei, a evolução em Tolkien ter ares muito mais Lamarckistas que Darwinistas. Em vários casos um grupo já nascido e desenvolvido adquire características que os diferenciam, e depois passam isso pros seus descendentes. O exemplo mais gritante é na concepção de que os orcs seriam corrupções de elfos ou humanos. Não é a única alternativa pro seu surgimento, mas ao menos nessa, há uma seleção que não é natural, mas forçada, e as alteração passam pros descendentes em uma evolução bem aos moldes do Lamarck.
Outra coisa que me faz pensar são os Eldar. Eles se diferenciaram por terem visto a luz das árvores. Depois que as árvores morreram, quem nascia em Aman ainda era um Elda? As características que os definiam como Eldar passavam de pai pra filho? Ou era apenas pra quem viu as árvores mesmo, e quem não viu tem o status de Elda, mas são diferentes dos Elda de fato?
E os numeranoreanos? A longevidade e altura foi sendo adquirida ao longo das gerações de forma gradiente, mais darwinista? Parece que pelo menos na decadência assim ocorreu.

Sobre o termo branch, eu entendo o que você diz, você tem razão, mas confesso que tenho muita dificuldade de pensar em um ramo que não tenha vindo de um galho ou de um tronco. É possível que Tolkien use ramo no sentido genealógico, talvez, aí tem mais a ver com a descendência e divisão interna entre família e grupo, que tem os ancentrais em comum no Cuiviénen, do que uma diferenciação genética. Isso sim é possível. Mas os Noldor não nasceram Noldor, eles se diferenciaram, ainda que culturalmente, e nesse ponto não há evolução de fato, do tronco comum aos quendi. Ou um ramo no sentido daquela árvore que classifica os elfos que tem no fim do Silma. Sim, faz sentido.
Mas o fato dos primeiros elfos, ao menos em uma das versões, serem mortais, também me sugere que possa ter havido um evolução, e eles tenham se desmembrado em grupos com características distintas. Se bem me lembro Tolkien justifica essa mortalidade mais como uma dificuldade na interação entre fëa e hröa e que com o passar dos tempos eles foram aprendendo a fazer essa compatibilização. A dúvida que fica é se esse aprendizado foi uma modificação só do hröa, só do fëa ou de ambos? Se não estou errado ele pesa mais pra um controle do fëa, mas isso não exclui que também tenha havido alguma alteração do hröa durante o processo. A passagem de um estágio mortal para um imortal me soa muito como uma adaptação (fantástica) da espécie.

Branch pra meio-elfos é realmente estranho, tem exatamente o sentido inverso de ramo. Não é um galho formando uma forquilha, mas são dois galhos se fundindo e virando um só. Não sei se em linguística isso é chamado de ramo também. Só gostaria de destacar que no caso dos meio-elfos não é evolução, é hibridismo.

Já essa afirmação dos elfos e homens serem ramos de uma mesma raça, eu acho que é bastante incongruente com muito do que tem no Legendarium. Provavelmente faça parte daquelas revisões maiores que Tolkien andou fazendo. A não ser que seja algo mais figurado e extrapolado, do tipo: Há os olvar, os kelvar e os filhos. Os filho se ramificam em homens e elfos. Um ramo classificatório, tal qual o usado para os elfos. Não sei, acho meio forçação chama de uma mesma raça. Creio que nesse ponto Tolkien já pensava em alguma alteração mais radical do que vinha sendo feito até então.

Por fim, voltando ao hobbits, o fato deles serem tão diferentes, e de não haver notícias deles até a terceira era, me faz crer que eles se diferenciaram dos homem comuns, assim como os numenoreanos. O fato de hobbits serem ariscos e esquivos, soa muito como uma espécie que foi adaptada. Não é a única leitura possível, concordo, mas é um leitura que me parece bem factível.

No fim, a obra, não finalizada, com múltiplas versões, abre mais questionamento do que nos dá respostas. E isso é o que eu mais gosto em Tolkien.
 
Existe um período em que Yavanna aparentemente precisa trabalhar com Ulmo no processo de brotamento de espécies, animais e plantas (Kelvar, Olvar). Não fica tão aparente diante da quantidade de detalhes da história e o autor passa isso de forma indireta, mas a água também é central para os seres vivos em Tolkien e levava mensagens para ele de todos os seres que habitavam as terras mortais (cheguei a abrir um tópico sobre águas encantadas). E todos os seres no começo fizeram uso de fontes ou regiões que com freqüência irradiavam algum poder estranho porque dependiam de água (floresta das Aranhas, floresta Ent, o reino de Turgon).

Por muito tempo a magia de Ulmo permaneceu pelas terras mortais em locais que produziam instantaneamente todo tipo de efeito esquisito. Rios que se beber a água a pessoa dorme, rios que se usar a água a pessoa cresce (Bebida dos Ents), rios com vozes e música, rios com barreiras de ocultação. Onde o poder de Ulmo se espalhava era tão forte que mesmo Melkor não invadia até que o poder dele se retirasse dali.
 
Como já comentei, a evolução em Tolkien ter ares muito mais Lamarckistas que Darwinistas. Em vários casos um grupo já nascido e desenvolvido adquire características que os diferenciam, e depois passam isso pros seus descendentes. O exemplo mais gritante é na concepção de que os orcs seriam corrupções de elfos ou humanos.
Isso aí é edição (alteração, ou de fato corrupção) genética por magia negra, não evolução ou nada que remeta a uma modificação para vantagem de vida ou desenvolvimento.

Por fim, voltando ao hobbits, o fato deles serem tão diferentes, e de não haver notícias deles até a terceira era, me faz crer que eles se diferenciaram dos homem comuns, assim como os numenoreanos. O fato de hobbits serem ariscos e esquivos, soa muito como uma espécie que foi adaptada. Não é a única leitura possível, concordo, mas é um leitura que me parece bem factível.
Sim, eles se diferenciam de todos os Homens porque não são Homens. Quando Tolkien fala sobre serem parecidos com Homens é no sentido de se assemelharem muito mais com eles do que com os Elfos.
E o maior ponto de análise que demonstra que eles são uma raça criada distintamente dos Homens é a conversa com Barbárvore. Eles não são homens pequenos, são Hobbits, uma raça distinta dos Elfos, dos Anões, dos Ents e dos próprios Homens.
 
A criação original e modificação do mundo e dos seres nos tempos das Luminárias e Árvores era recheado de magia súbita, que pegava atalhos, diferentemente da evolução.

Conta-se que os Kelvar (os animais) teriam vindo do "bosom" de Yavanna. "Bosom" podendo ser útero (no sentido da palavra no Old English) ou seio. Ela "devised" (num sentido de vontade, mas também num sentido divisor parecido ao do Gênesis de separar água de terra) as sementes que não vieram de nenhuma árvore pois eram as primeiras (poderiam ser como feijões mágicos) para plantar a Primavera de Arda. A primavera, após a destruição das luminárias, culmina em outro ato de poder súbito, a canção de Yavanna misturada com as lágrimas de Nienna que fazem crescer as duas árvores. Tudo isso precede o surgimento dos corpos dos filhos, como se fossem ensaios para a vinda dos filhos (O Hroa, pelo que se lê do diálogo de Manwe e Eru) estava a cargo dos Valar, em especial dos Aratar (Yavanna era da mesma classe de Varda e Melkor). Porque tinha disso também, Eru poderia criar o habitante e os Valar poderiam atuar oferecendo a casa do habitante.

No encantamento do sono de Yavanna (que ela adormeceu plantas e animais) as feras criadas por Melkor não dormiram e ficaram vagando pelo mundo. Oromë precisava caçá-las. Melkor detinha um quinhão do dom de Yavanna, provavelmente havia um equivalente monstruoso de útero/seio de gestação para ele copiar o trabalho dela.

A imagem de Yavanna no texto aparece descrita também como de espécie ambígua (bicho-planta) podendo ela ser confundida com uma árvore alta com orvalho dourado. Yavanna poderia ser considerada como uma "super-semente", totipotente não apenas gerando uma espécie fértil de seu poder sub-criativo mas reinos inteiros completamente estranhos entre si.

Esses seu comentário lembra o fórum de pelo menos uns 8 anos atrás, com muitas discussões interessantes e tópicos profundos para pesquisar. Bons tempos realmente. Essa conversa valeu a pena só por isso. É impressionante como sua forma de apresentar suas reflexões sobre as obras me faz recordar sempre e sempre de como o que Tolkien escreveu é cheio de detalhismo e riquezas, como uma árvore que você pode estudar cada ramo e cada flor e sempre haverá mais para saber.

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Esses seu comentário lembra o fórum de pelo menos uns 8 anos atrás, com muitas discussões interessantes e tópicos profundos para pesquisar. Bons tempos realmente. Essa conversa valeu a pena só por isso. É impressionante como sua forma de apresentar suas reflexões sobre as obras me faz recordar sempre e sempre de como o que Tolkien escreveu é cheio de detalhismo e riquezas, como uma árvore que você pode estudar cada ramo e cada flor e sempre haverá mais para saber.

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Tem uma parte fascinante do trabalho de Galadriel nesse tema que pode interessar a discussão de mudança de formas dos seres das terras mortais. Galadriel viveu muitos anos com Melian, em Doriath, que era uma maia relacionada a Yavanna e serva de Vana e Este. Melian disputava em pé de igualdade a fronteira contra Sauron.

Em SdA se diz que Galadriel presenteia a Sam uma caixa com grãos miraculosos, e pelo que me lembro um Hobbit até fala que "cada grão de lá de dentro tem seu valor". O resultado da semeadura de Sam por todo o território hobbit é a ocorrência de uma espécie de miniatura da Primavera de Arda afetando até mesmo o clima e colheita de alimentos no Condado. E afeta tanto a região que começam a nascer crianças louras por toda parte.
 
Isso aí é edição (alteração, ou de fato corrupção) genética por magia negra, não evolução ou nada que remeta a uma modificação para vantagem de vida ou desenvolvimento.
A seleção não necessariamente é natural, ela pode ser artificial. Se adaptar pressupõe conseguir sobreviver e gerar descendentes férteis nas condições em que o meio o submete. Seja por magia negra, seja pelo que for, Morgoth submeteu elfos a situações nas quais eles não eram capazes de sobreviver e/ou reproduzir (dependendo da versão de Tolkien) como elfos, e precisaram se adaptar como orcs.
Claro, volto a frisar, evolução em uma obra de fantasia também é recheada de aspectos fantásticos, não da pra esperar um rigor científico aqui, nem tem o por quê disso.
Sobre engenharia genética, isso é só especulação, não há nada escrito sobre pelo autor. Mas até que não é má ideia. Entra no rol das tantas possibilidades que Tolkien mesmo não soube como solucionar. Mas creio que quando Tolkien escreveu não havia conhecimento para que ele pudesse incluir como uma possiblidade, o que é uma pena, talvez se fosse hoje ele consegui resolver o problema indo por esse caminho. Mas, ao meu ver, o maior problema dele era conciliar a questão espiritual. E isso foge à nossa discussão.
Sim, eles se diferenciam de todos os Homens porque não são Homens. Quando Tolkien fala sobre serem parecidos com Homens é no sentido de se assemelharem muito mais com eles do que com os Elfos.
E o maior ponto de análise que demonstra que eles são uma raça criada distintamente dos Homens é a conversa com Barbárvore. Eles não são homens pequenos, são Hobbits, uma raça distinta dos Elfos, dos Anões, dos Ents e dos próprios Homens.
O ponto que o Haran levantou, e que eu acabei concordando com ele, é que ramo pode ser classificatório - no sentido em que existem Homens, e dentro da classe de homens alguns são classificados como Hobbits, sem relação temporal - ou pode ser evolutivo, no sentido de que os Hobbits são uma espécie humana que surgiu a partir de uma outra espécie humana ancestral.
São as duas leitura que considero possíveis do trecho da carta de Tolkien falando sobre os hobbits que citei anteriormente.

O fato de Barbárvore desconhecê-los, pra mim, dá mais suporte à segunda leitura. Se hobbits existissem como uma classe humana desde o início, seria mais provável que os Ents tivessem algum conhecimento sobre eles. Mas se só surgiram depois que os Ents estavam às minguas, então faz mais sentido que Barbávore nunca tivesse visto um Hobbit. Ainda mais se for uma seleção mais natural mesmo, em que um grupo isolado geograficamente se diferencia do resto. O isolamento geográfico contribuiria muito para que os Ents os ignorassem.
No caso dos Hobbits seria uma evolução aos moldes do darwinismo mesmo. Não vejo espaço pro Lamarckismo aqui.
 
Sobre o termo branch, eu entendo o que você diz, você tem razão, mas confesso que tenho muita dificuldade de pensar em um ramo que não tenha vindo de um galho ou de um tronco. É possível que Tolkien use ramo no sentido genealógico, talvez, aí tem mais a ver com a descendência e divisão interna entre família e grupo, que tem os ancentrais em comum no Cuiviénen, do que uma diferenciação genética. Isso sim é possível. Mas os Noldor não nasceram Noldor, eles se diferenciaram, ainda que culturalmente, e nesse ponto não há evolução de fato, do tronco comum aos quendi. Ou um ramo no sentido daquela árvore que classifica os elfos que tem no fim do Silma. Sim, faz sentido.

Eu não pesquisei a etimologia e a história da palavra, mas também acredito que "branch" remeta essencialmente a galhos de árvores e coisas do tipo. Mas o que seria essencial aqui tem mais a ver com o formato e geometria do que com o processo de crescimento do galho. Quer dizer, tem mais a ver com espaço do que com tempo. Até porque, por exemplo, uma árvore eterna como Yggdrasil tem seus ramos também. O uso de termos como árvore da vida (na biologia), árvore genealógica, etc. remeteria à semelhança geométrica entre os ramos de árvores e as representações gráficas de processos genealógicos, evolutivos, etc. Ainda que essas representações usem, em geral, o eixo tempo, não é o tempo que está na raiz do conceito de "ramo", e não é necessário que seja este o eixo usado.

Por isso não vejo sinto estranheza alguma em, por exemplo, falar de ramos de espécies mesmo em um cenário em que as espécies são criadas por Deus todas de uma vez. O parentesco ou semelhança entre as espécies teria mais a ver com o ideal, e não com o temporal. Tanto é que, por exemplo, temos na própria obra os "irmãos na mente de Ilúvatar" (como Manwë e Melkor), e os elfos e homens como "filhos de Ilúvatar". É um processo afim ao processo genealógico, mas diferentemente deste, não é temporal. Com espécies e raças poderia acontecer a mesma coisa: do mesmo jeito que Deus poderia ter criado várias espécies de equinos, ou várias raças de cavalos, Eru poderia ter criado duas espécies ou duas raças de humanóides, a sua imagem e semelhança. E é o que ocorre em textos do autor. O texto que postei anteriormente é do Comentário sobre o Diálogo de Finrod e Andreth, datado sem tanta precisão entre 1955 e 60:

The existence of Elves: that is of a race of beings closely akin to Men, so closely indeed that they must be regarded as physically (or biologically) simply branches of the same race.​

De 1954, há uma carta com conteúdo bastante afim (#153):

Elves and Men are evidently in biological terms one race, or they could not breed and produce fertile offspring – even as a rare event.​

Tolkien não está rementendo a teorias bizarras e rascunhadas como a de elfos mortais (onde isso aparece mesmo?), mas sim descrevendo seu legendário como "evidentemente" vemos em O Senhor dos Anéis.

Dispensável dizer que Tolkien não usa o termo "raça" com um sentido rigoroso. "Raça" pra ele é um agrupamento que pode ser desde meramente os descendentes de Elros...

Elros chose to be a King and 'longaevus' but mortal, so all his descendants are mortal, and of a specially noble race, but with dwindling longevity (...)​

...passando por tão somente homens...

(....) entering into Men of the Elven-strain is indeed represented as part of a Divine Plan for the​
ennoblement of the Human Race, (...)​

...e até, por fim, pela raça dos eruhíni, de "Elves and Men" (nesse caso, decerto ele está se referindo ao que chamamos, cientificamente, de "espécie").

E os três trechos se dão na mesma carta... Então, se nem para "raça" Tolkien usa um termo de significado relativamente rigoroso, para "branch", termo usado em textos com variadas datações e contextos, também não vejo motivo pra pensar que haja um sentido mais rigoroso, e a partir daí teorizar, inclusive apelando para teorias como a de elfos mortais...

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Quanto à evolução biológica de homens, dentro do legendário de Tolkien, agora vejo que, além da falta de evidências diretas, não me parece uma possibilidade lá muito plausível - mesmo num cenário em que os homens despertem logo após os elfos, há um intervalo de tempo de cerca de (apenas) 70 mil anos para os homens evoluirem e chegarem ao ponto em que estão em Beleriand.[1] Tolkien muda um pouco as datas entre um texto e outro (por exemplo, no capítulo 6 de A Natureza da Terra-Média, ele coloca os elfos despertando em 1000 A.V. e os homens em 1075 A.V.), mas a ordem de grandeza é a mesma (naquele caso, o próprio Tolkien dá o valor exato de 64.534 anos). Isso é suficiente para explicar certa variedade cultural, mas não me parece plausível que haja uma evolução biológica tão acentuada a ponto de embarcar a diferença entre homens e hobbits, por exemplo.

E repare que esses números já são na cosmogonia mais experimental de Tolkien (na cosmogonia em que os homens despertam bastante cedo e que o Sol existe desde há muito). Na cosmogonia mais "canônica", os homens despertam e chegam a Beleriand em cerca de 300 anos. Quer dizer, a hipótese da evolução biológica de homens dependeria, antes de tudo, desse grande "se". Há não muito tempo eu acreditava que dava pra jogar o despertar dos homens para um passado remoto sem apelar para uma grande reformulação dos mitos, mas (1) Tolkien parece não ter conjecturado esse caminho, (2) não parece funcionar mesmo como headcanon: colocar os homens como vivendo por milhares de anos na escuridão é um tanto quanto bizarro (ainda mais se quisermos que eles evoluam darwinianamente), e sacrifica vários elementos simbólicos do legendário (por exemplo, a particularidade de elfos como o "povo das estrelas").[2][3]

Por isso tenho preferido a cosmogonia mais tradicional mesmo, de O Silmarillion. Nem o fato dos edain terem existido por apenas 300 anos me causa tanto incômodo. Na Grécia, de períodos semilendários para períodos históricos, o intervalo é de cerca de cinco, seis séculos. Em Roma, menos ainda... Não vejo tanta dificuldade de, entre a semilendária queda do conto de Adanel e o estado histórico que vemos em O Silmarillion, termos 300 anos, já que os edain eram sociologicamente muito mais simples do que romanos e gregos em seus períodos históricos. Claro, isso tudo assumindo que eles despertem, como os quendi, relativamente civilizados e já com diferenças étnicas. E teriam que despertar mais numerosos.

Aliás, quem deu uma passada de olho em A Natureza, verá que o próprio editor, ao final do livro, separa trechos em que Tolkien parece abrir caminho para uma evolução (tanto cosmológica quanto biológica) mais palatável às crenças modernas. Mas, ainda assim, essas ideias não se estendem aos Filhos, nem que fosse para jogar o despertar num passado mais remoto e permitir o surgimento de raças a partir de um povo "adâmico" original, ou até mesmo ir mais longe e fazer com que os corpos dos homens surgissem de "matéria orgânica pré-existente" situada na árvore da vida. Tolkien poderia muito bem ter tomado algum caminho desse tipo, mas não o fez... Isso tudo porque, imagino, a história de evolução dos hominídeos (diferentemente do heliocentrismo ou da cosmologia moderna) é ainda uma pedra no sapato do catolicismo e de católicos estritos como Tolkien, daí ele não teria feito questão de integrá-la em seu legendário.

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Sobre numenorianos, aqui já acho que fugimos do assunto de evolução biológica, pois, independentemente de como queira descrever, os numenorianos se estabeleceram enquanto agrupamento de forma relativamente rápida, e não uma mudança lenta, com o passar de gerações.... Seja como for, há um fato interessente que é fácil deixar passar batido: investigando a respeito, vemos que as características numenorianas não estavam (fundamentalmente ou essencialmente) assentadas em herança biológica.

É descrito nos apêndices de O Senhor dos Anéis que Vidugavia foi um rei auto-proclamado dos homens do norte. Provavelmente ele unificou os homens de Rhovanion e era reconhecido como rei. Sua filha Vidumavi casou-se com Valacar, que vivera entre os homens do norte para aprender seus costumes, sob ordem de seu pai, rei de Gondor. Essa união, vista por alguns nobres de Gondor como algo que denegriria o sangue numenoriano, deu origem a uma guerra civil, a Contenda das Famílias. No final ficou claro que o sangue não era "denegrido", e a vida dos reis de Gondor, apesar de encurtar-se, encurtou-se ao ritmo que já o fazia antes de Valacar.

Desse rei também descendem os chefes dos éothéod, Eorl e os reis de Rohan, criando um parentesco entre os reis de Rohan e os reis de Gondor pós-Valacar, como também Aragorn, já que descendia de Fíriel, filha do rei Ondoher de Gondor.

O que é muito interessante, pois ajuda a afastar a noção desagradável de numenorianos como uma raça biologicamente superior. Teria mais a ver com uma "benção espiritual" ou "efeito mágico" que incide sobre determinados povos e determinadas famílias - tanto é que ela não diminui em ritmo mais acelerado com o aumento da miscigenação, e ela parece repentinamente aumentar quando os personagens se tornam mais virtuosos (por exemplo, a longevidade de Aragorn), mesmo depois de gerações que há muito pareciam ter perdido essa benção ou pareciam tê-la diminuído consideravelmente. Em A Natureza da Terra-Média, a própria altura é vista como uma "benção" desse tipo:

O decréscimo na estatura dos Dúnedain não era uma tendência normal, compartilhada por povos cujo lar normal era a Terra-média; mas era decorrente da perda de sua antiga terra, no longínquo Oeste, de todas as terras mortais a mais próxima do “Reino Imortal”. Tanto em Arnor como em Gondor, fora a mistura de raças, os Númenóreanos apresentavam uma diminuição de altura e longevidade na Terra-média que se tornou mais evidente conforme a Terceira Era passava.​

Até a longevidade dos numenorianos não é uma característica inerentemente biológica, ainda mais se termos em mente que elfos e homens são uma mesma espécie e (arrisco dizer) a própria mortalidade (do corpo) dos homens não é uma característica inerentemente biológica: se os homens são mortais de corpo, é um acidente que incidiu sobre eles, por causa do Pecado Original, acidente que pode ser mitigado - quer medicamente, quer "magicamente" (sejam "magias" legítimas, como aquela que incidiu nos numenorianos, ou ilegítimas, como via anéis de poder). E, sob condições excepcionais, talvez pudesse até ser revertido totalmente - por exemplo, no caso da virgem Maria (mencionado por Tolkien em texto dissertativo sobre seu universo), ou no caso de Tuor.[4][5]
 
Última edição:
Eu não pesquisei a etimologia e a história da palavra, mas também acredito que "branch" remeta essencialmente a galhos de árvores e coisas do tipo. Mas o que seria essencial aqui tem mais a ver com o formato e geometria do que com o processo de crescimento do galho. Quer dizer, tem mais a ver com espaço do que com tempo. Até porque, por exemplo, uma árvore eterna como Yggdrasil tem seus ramos também. O uso de termos como árvore da vida (na biologia), árvore genealógica, etc. remeteria à semelhança geométrica entre os ramos de árvores e as representações gráficas de processos genealógicos, evolutivos, etc. Ainda que essas representações usem, em geral, o eixo tempo, não é o tempo que está na raiz do conceito de "ramo", e não é necessário que seja este o eixo usado.

Por isso não vejo sinto estranheza alguma em, por exemplo, falar de ramos de espécies mesmo em um cenário em que as espécies são criadas por Deus todas de uma vez. O parentesco ou semelhança entre as espécies teria mais a ver com o ideal, e não com o temporal. Tanto é que, por exemplo, temos na própria obra os "irmãos na mente de Ilúvatar" (Manwë e Melkor, por exemplo), e os elfos e homens como "filhos de Ilúvatar". É um processo afim ao processo genealógico, mas diferentemente deste, não é temporal. Com espécies e raças poderia acontecer a mesma coisa: do mesmo jeito que Deus poderia ter criado várias espécies de equinos, ou várias raças de cavalos, Eru poderia ter criado duas espécies ou duas raças de humanóides, a sua imagem e semelhança. E é o que ocorre em textos do autor. O texto que postei anteriormente é do Comentário sobre o Diálogo de Finrod e Andreth, datado sem tanta precisão entre 1955 e 60.

The existence of Elves: that is of a race of beings closely akin to Men, so closely indeed that they must be regarded as physically (or biologically) simply branches of the same race.​

De 1954, há uma carta com conteúdo bastante afim (#153):

Elves and Men are evidently in biological terms one race, or they could not breed and produce fertile offspring – even as a rare event.​

Tolkien não está rementendo a teorias bizarras e rascunhadas como a de elfos mortais (onde isso aparece mesmo?), mas sim descrevendo seu legendário como "evidentemente" vemos em O Senhor dos Anéis.

Dispensável dizer que Tolkien não usa o termo "raça" com um sentido rigoroso. "Raça" pra ele é um agrupamento que pode ser desde meramente os descendentes de Elros...

Elros chose to be a King and 'longaevus' but mortal, so all his descendants are mortal, and of a specially noble race, but with dwindling longevity (...)​

...passando por tão somente homens...

(....) entering into Men of the Elven-strain is indeed represented as part of a Divine Plan for the​
ennoblement of the Human Race, (...)​

...e até, por fim, pela raça dos eruhíni, de "Elves and Men" (nesse caso, decerto ele está se referindo ao que chamamos, cientificamente, de "espécie").

E os três trechos se dão na mesma carta... Então, se nem para "raça" Tolkien usa um termo de significado relativamente rigoroso, para "branch", termo usado em textos com variadas datações e contextos, também não vejo motivo pra pensar que haja um sentido mais rigoroso, e a partir daí teorizar, inclusive apelando para teorias como a de elfos mortais...

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Quanto à evolução biológica de homens, dentro do legendário de Tolkien, agora vejo que, além da falta de evidências diretas, não me parece uma possibilidade lá muito plausível - mesmo num cenário em que os homens despertem logo após os elfos, há um intervalo de tempo de cerca de (apenas) 70 mil anos para os homens evoluirem e chegarem ao ponto em que estão em Beleriand.[1] Tolkien muda um pouco as datas entre um texto e outro (por exemplo, no capítulo 6 de A Natureza da Terra-Média, ele coloca os elfos despertando em 1000 A.V. e os homens em 1075 A.V.), mas a ordem de grandeza é a mesma (naquele caso, o próprio Tolkien dá o valor exato de 64.534 anos). Isso é suficiente para explicar certa variedade cultural, mas não me parece plausível que haja uma evolução biológica tão acentuada a ponto de embarcar a diferença entre homens e hobbits, por exemplo.

E repare que esses números já são na cosmogonia mais experimental de Tolkien (na cosmogonia que os homens despertam bastante cedo e que o Sol existe desde há muito). Na cosmogonia mais "canônica", os homens despertam e chegam a Beleriand em cerca de 300 anos. Quer dizer, a hipótose da evolução biológica de homens dependeria, antes de tudo, desse grande "se". Há não muito tempo eu acreditava que dava pra jogar o despertar dos homens para um passado remoto sem apelar para uma grande reformulação dos mitos, mas (1) Tolkien parece não ter conjecturado esse caminho, (2) não parece funcionar mesmo como headcanon: colocar os homens como vivendo por milhares de anos na escuridão é um tanto quanto bizarro (ainda mais se quisermos que eles evoluam darwinianamente), e sacrifica vários elementos simbólicos do legendário (por exemplo, elfos como o "povo das estrelas").[2][3]

Por isso tenho preferido a cosmogonia mais tradicional mesmo, de O Silmarillion. Nem o fato dos edain terem existido por apenas 300 anos me causa tanto incômodo. Na Grécia, de períodos semilendários para períodos históricos, o intervalo é de cerca de cinco, seis séculos. Em Roma, menos ainda... Não vejo tanta dificuldade de, entre a semilendária queda do conto de Adanel e o estado histórico que vemos em O Silmarillion, termos 300 anos, já que os edain eram sociologicamente muito mais simples do que romanos e gregos em seus períodos históricos. Claro, isso tudo assumindo que eles despertem, como os quendi, relativamente civilizados e já com diferenças étnicas. E teriam que despertar mais numerosos.

Aliás, quem deu uma passada de olho em A Natureza, verá que o próprio editor, ao final do livro, separa trechos em que Tolkien parece abrir caminho para uma evolução (tanto cosmogônica quanto biológica) mais palatável às crenças modernas. Mas, ainda assim, essas ideias não se estendem aos Filhos, nem que fosse para jogar o despertar num passado mais remoto e permitir o surgimento de raças a partir de um povo "adâmico" original, ou até mesmo ir mais longe e fazer com que os corpos dos homens surgissem de "matéria orgânica pré-existente" situada na árvore da vida. Tolkien poderia muito bem ter tomado algum caminho desse tipo, mas não o fez... Isso tudo porque, imagino, a história de evolução dos hominídeos (diferentemente do heliocentrismo ou da cosmogonia moderna) é ainda uma pedra no sapato do catolicismo e de católicos estritos como Tolkien, daí ele não teria feito questão de integrá-la em seu legendário.

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Sobre numenorianos, aqui já acho que fugimos do assunto de evolução biológica, pois, independentemente de como queira descrever, os numenorianos se estabeleceram enquanto agrupamento de forma relativamente rápida, e não uma mudança lenta, com o passar de gerações.... Seja como for, há um fato interessente que é fácil deixar passar batido: investigando a respeito, vemos que as características numenorianas não estavam (fundamentalmente ou essencialmente) assentadas em herança biológica.



O que é muito interessante, pois ajuda a afastar a noção desagradável de numenorianos como uma raça biologicamente superior. Teria mais a ver com uma "benção espiritual" ou "efeito mágico" que incide sobre determinados povos e determinadas famílias - tanto é que ela não diminui em ritmo mais acelerado com o aumento da miscigenação, e ela parece repentinamente aumentar quando os personagens se tornam mais virtuosos (por exemplo, longevidade de Aragorn), mesmo depois de gerações que há muito pareciam ter perdido essa benção ou pareciam tê-la diminuído consideravelmente. Em A Natureza da Terra-Média, a própria altura é vista como uma "benção" desse tipo:

O decréscimo na estatura dos Dúnedain não era uma tendência normal, compartilhada por povos cujo lar normal era a Terra-média; mas era decorrente da perda de sua antiga terra, no longínquo Oeste, de todas as terras mortais a mais próxima do “Reino Imortal”. Tanto em Arnor como em Gondor, fora a mistura de raças, os Númenóreanos apresentavam uma diminuição de altura e longevidade na Terra-média que se tornou mais evidente conforme a Terceira Era passava.​

Até a longevidade dos numenorianos não é uma característica inerentemente biológica, ainda mais se termos em mente que elfos e homens são uma mesma espécie e (arrisco dizer) a própria mortalidade (do corpo) dos homens não é uma característica inerentemente biológica: se os homens são mortais de corpo, é um acidente que incidiu sobre eles, por causa do Pecado Original, acidente que pode ser mitigado - quer medicamente, quer "magicamente" (sejam "magias" legítimas, como aquela que incidiu nos numenorianos, ou ilegítimas, como via anéis de poder). E, sob condições excepcionais, talvez pudesse até ser revertido totalmente - por exemplo, no caso da virgem Maria (mencionado por Tolkien em texto dissertativo sobre seu universo), ou no caso de Tuor.[4][5]

Maravilhosa explanação, justa dos bons tópicos e comentários da Valinor. Obrigada por dedicar essa pesquisa @Haran, sempre uso elas para estudar mais depois.
 

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