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Histórias em quadrinhos e suas histórias

Glorwendel

Usuário
Esse é um texto que escrevi há meses, depois de tanto ouvir essa de "estilo brasileiro" e ver gente querendo fazer mangá por aqui.

Posto aqui no HQs em vez do Anime&Mangá por tratar de quadrinhos em geral, apesar da ênfase no mangá (que é o estilo que mais domino).

Apenas um monte de idéias que coloquei num texto só, mas a idéia principal é justamente a identidade visual que os quadrinistas brasileiros tanto buscam. Isso é realmente necessário?

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Histórias em quadrinhos e suas histórias


Todos conhecemos bem a aparência de um super-herói americano. Desde crianças os vemos em seriados, desenhos animados e principalmente em suas próprias revistas na banca. Já existe até uma fórmula básica a ser seguida, que todos quando vêem reconhecem como os famosos comics. Geralmente os personagens são caracterizados por uniformes colantes, capas, identidades secretas e cuecas por cima da calça, um autêntico comic character. As meninas também devem se lembrar da época em que trocavam papéis de carta na escola e muitos eram estampados com figuras de olhos grandes, geralmente uma menina com muitas flores ao redor. Mesmo antes do anime ter invadido o Brasil já os reconhecíamos nas nossas coleções de adesivinhos e agendas, eram o que chamávamos simplesmente "desenho japonês". Mesmo alguém que passou a infância sem assistir a um único episódio de Honey Honey ou Super Amigos reconhecem essas figuras, tamanho o alcance mundial destas. Elas têm uma nacionalidade distinta e por elas muitas vezes são chamados -- herói "americano", desenho "japonês". Se dissermos "desenho espanhol" ou "herói belga", pouca coisa (ou nenhuma) nos vêm à mente, pois destes não temos tantas referências.


Nos anos 60 o que se viu foi a grande "invasão" mundial dos heróis e desenhos animados americanos, que então era uma fórmula nova, com muito a se explorar. São até hoje conhecidos e muitos países criaram os seus próprios, adaptando-os ao ambiente em que viviam, mas os heróis como descritos lá em cima nunca deixaram de ser americanos assim como o futebol nunca deixou de ser inglês, mesmo que um outro país o fizesse melhor que o de sua origem. O mesmo aconteceu com os heróis japoneses, essa "invasão", porém, é muito mais recente. Os japoneses conquistaram o mundo com seu jeito único de retratar os movimentos em suas animações e inovaram ao criar heróis que às vezes possuíam mais defeitos de caráter que a maioria das pessoas têm. Veio a nova era dos quadrinhos, a idéia ingênua do herói perfeito deu lugar aos conflitos psicológicos dos personagens japoneses.


Mais do que discutir a "nova ordem mundial dos quadrinhos", quero por em questão a tamanha identidade visual e comportamental conquistada por esses dois tipos de quadrinhos. O que se viu com esses dois tipos distintos de criação foi uma enorme aceitação por parte do público e este é um fenômeno difícil de se alcançar. Poderia se dizer que foi devido à influência exercida pelos dois países (EUA e Japão) nos panorama mundial, mas se fosse assim tão simples teríamos centenas de HQs francesas, alemãs, italianas e até russas vendendo nas bancas daqui. Muito do produzido nesses países tomou escala mundial, como os franceses Asterix e Moebius, porém nada que se compare aos mangás e comics. São países que têm seus próprios trabalhos, mas que geralmente ficam restritos a sua própria população, sem ter exatamente de ser conhecidos do outro lado do mundo. E muito desses trabalhos são inpirados nas já conhecidas fórmulas japonesa e americana, sem que isso prejudique o andamento das obras originais. Uma coisa não anula a outra e pode-se perfeitamente unir o melhor de cada estilo criando-se um terceiro.


No Brasil, o mercado de histórias em quadrinhos não é muito significativo, afinal, numa população onde 1/3 das pessoas é indigente e/ou analfabeta, poucos serviços não-fundamentais chegam muito longe. Mesmo assim sempre houve espaço para os blockbusters americanos e grifes francesas, o problema era mais de interesse da população do que propriamente capitalista. Estamos acostumados a produtos importados, e isso acontece mais pela falta de estrutura para a produção nacional do que por incompetência. Assim, sempre tivemos nas bancas toneladas de revistas americanas competindo com uma parca quantidade de obras nacionais. Agora, o que se vê são as revistas americanas perdendo espaço para as japonesas, mas os produtos importados ainda reinam.


Os quadrinhos japoneses no Brasil foram uma ótima novidade. O mangá apresenta uma fórmula mais flexível do que os comics, e era bem possível ao brasileiro adaptá-lo ao seu estilo de contar histórias, mesmo que a princípio tenhamos obras que pouco fogem da fôrma japonesa. Após alguns anos de amadurecimento do mangá dentro do mercado nacional, apareceram revistas nacionais seguindo o estilo, fenômeno registrado em todos os países de encontro a esta nova "onda", assim como os quadrinhos americanos anteriormente. O mercado nacional toma novo fôlego, há mais interesse do público devido à grande emancipação dos animes na TV e as HQs japonesas ocupam cada vez mais espaço nas prateleiras nacionais, sempre com novos títulos e edições tornando-se com o tempo mais caprichadas.


O Brasil nos últimos tempos, foi um grande celeiro de artistas de comics. O estilo, já familiar, amadureceu nas mãos dos desenhistas nacionais, a ponto dos próprios americanos contratá-los. Nosso país, pela força criativa que tem, conseguiu superar mais uma vez os criadores de uma obra, se então dominamos o futebol dos ingleses, não foi nenhuma surpresa ver nomes brasileiros assinando os comics mais famosos que existem. Porém, os desenhistas sempre estavam lá, e nada conseguiam em território nacional. Exportávamos artistas e importávamos as revistas que estes desenhavam, porque aqui nada se produzia.


Apesar de ser conhecido em todo o planeta, os comics aqui não ganharam uma versão nacional. Tínhamos quem os fizesse, ás vezes melhor do que os próprios americanos, mas as editoras não se interessaram. Com a chegada dos mangás, o que se viu foi um pouco diferente. Talvez o público desses quadrinhos esteja mais aberto a produções nacionais, ou a fórmula japonesa de fazer quadrinhos gerasse uma identificação maior, ou talvez não fosse nada disso. A grande verdade é que os artistas nacionais estão conquistando espaço, devagar e sempre. Houve uma grande aceitação de trabalhos em estilo mangá feitos por brasileiros e começamos a ter artistas tão bons nestes como temos em comics, embora ainda tenham muito o que amadurecer.


Com o espaço conseguido, começa-se a indagar onde está o estilo genuinamente brasileiro, um que não siga nem a fórmula americana nem a japonesa. A cara do Brasil, que estampará as revistas que tomarão as bancas dentro de uns anos, um estilo único e inconfundível. Mas será que isso é realmente necessário? Não vimos isso acontecer em países onde o mercado é muito mais favorável, nem mesmo nos que produzem seus próprios "mangás" e "comics". O que se viu foi uma adaptação destes, onde artistas ou seguiam fielmente a regra ou mudavam uma coisa aqui ou ali, sem que a essência do estilo fosse perdida. Por fora, aparecem sempre artistas únicos, com obras únicas, sem, portanto, prenunciarem uma nova fórmula. Fazem algo deles mesmos, geralmente moldado segundo experiências prévias com os estilos conhecidos, qualquer que seja este, um mix de influências juntando-se à própria vivência do autor. Todos esses, aquele que é fiel à fórmula, aquele que buscam somente a essência do estilo ou aquele que cria um novo, estão certos à sua maneira. Deve-se sim seguir aquilo que se adapta melhor ao seu trabalho, independente de preocupações nacionalistas. Pergunta-se muito onde está o estilo brasileiro, mas o que penso é que nosso país, não sendo uma potência em quadrinhos, deve seguir seu caminho, sem necessariamente que todos os brasileiros o sigam da mesma forma. Um "estilo brasileiro" pode não ser o ideal. Talvez devêssemos simplesmente fazer o que achamos melhor, sem nos tolhermos presos a fôrmas. Criar cada um aquilo que se encaixe melhor no seu trabalho. O que vejo muito são pensamentos do tipo "isso não pode ser assim, em mangá isso não existe". O que importa o que é feito lá no Japão ou nos EUA a nós que estamos engatinhando? Se prender a qualquer coisa prejudica o crescimento de um trabalho original. Aqueles que se identificam mais com o mangá, sem tirar ou adicionar a ele um elemento, então que siga esse caminho, porém jamais diga que "não se pode" fazer isso ou aquilo porque os japoneses não fazem. De todas as maneiras de se começar um trabalho, a que mais aprecio é a mistura de influências para a criação de algo único. Porém, sendo o mangá o estilo com o qual mais me identifico, é claro que a maior parte dessa influência virá dele, tendo como resultado uma obra não essencialmente mangá, mas tomando dele a melhor parte assim como dos outros estilos aprendidos. Todos as maneiras de fazer quadrinhos têm algo de bom, deve-se aprender a tomar delas a melhor parte, sem fundamentalismos.


Os artistas que tiverem mais personalidade com certeza seguirão por esse caminho. Sem medos e com muito experimentalismo e criatividade. Histórias em quadrinhos são arte também e, como qualquer arte, deve ser solta e espontânea. Nada de mal há em ter grandes influências, desde que isso não prejudique o crescimento de algo novo e original.
 
Gostei desse texto, apesar de alguns erros básicos que já vi você repetindo em papos particulares e lá noa Anime & Mangá, Jú. :wink:

Primeiro, o erro óbvio de dizer houve substituição do herói perfeito pelos conflitos dos personagens de mangá.

Qualquer um aqui sabe que essa de herói perfeito começou a ser deixado de lado nos anos 60, com o advento do Cabeça de Teia. Só que é muito mais útil dixer isso lá no A&M do que aqui.

Segundo, todo o lance de cópia de estilo ao invés de influência é extremamente válido e pode gerar (ou não, sei lá, tô com sono) alguma boa discussão.

Se bem que essa cópia descarada rola nos próprios mangás né. :roll:

Até porque só neles é fácilmente identificável essa identidade, pela similaridade tristemente sancionada pelo público.

Bom, ressucitei pra ver se alguém lê o texto dela que é maneiro.
 

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