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Os senadores não entenderam ainda o fenômeno Bolsonaro. Eles procuram declarações certeiras do presidente mandando e dizendo o que os ministros vão fazer, mas não é assim que o bolsonarismo funciona. É um pouco como o trumpismo: excitar as massas bovinas de sustentação com todo tipo de absurdo dito nas redes sociais, enquanto se compromete o mínimo possível com declarações oficiais. Assim, ninguém é responsabilizado por nada, ninguém é responsável, é o reino mesmo da pós-verdade, das narrativas, não há decisões sendo tomadas nem ninguem 'accountable' por elas.

Por isso que digo que Bolsonaro nunca seria um ditador (um autogolpe ele só daria por medo ou desespero), porque os ditadores, repito, são totalmente 'accountable', podem suprimir direitos, torturar e matar, cometer genocídio, mas ainda são responsáveis diante de seus financiadores, ideólogos, apoios geopolíticos, mas o bolsonarismo não se responsabiliza por nada. É uma ausência de responsabilidade, de tomada de decisão, de ação. É pura omissão, um desmonte lento, gradual e bem sutil do Estado a partir de dentro, mesmo sem privatizações e alterações jurídicas profundas, é um afastamento do Estado do centro produtor de decisões, que se tornam puramente ideológicas.
Em certo sentido, é a realização do ideal anarcocapitalista de ter como única lei imperando a do livre-mercado, daí o desprezo pela vida diante da interrupção estatal forçada das atividades econômicas visando salvaguardar justamente a vida, a vida é nada perto da lei do livre-mercado, inclusive, a única accountability do bolsonarismo é para com os elementos piores dos seus financiadores, muito mais ideólogos que propriamente financiadores ou lobbistas, é uma representação ideológica quase búdica (o intelecto puro, que é, simplesmente, sem agir, agir seria ser menos ou menos realmente) das ideologias radicais dos memeiros conservadores, ancaps e outros delírios do tipo, com todo o pacote de teorias conspiratórias, inimigos imaginários e, principalmente narrativas.

Bolsonarismo é uma realidade política puramente de narrativas, de confronto de narrativas, de virtualização do real em função de conflitos imaginários, de leituras e interpretações 'messiânicas' e simplórias de fenômenos complexos.

E, antes que os liberais venham me massacrar, sim, eu falei especificamente de ancaps não sem motivo. Sei que o livre mercado idealizado por gentalha como Rothbard não tem muito a ver com a ideia classicamente liberal, porque uma da condições essenciais do liberalismo clássico não é uma negação do Estado, mas sua contenção, racionalização e funcionalização, tendo em vista que deve ser direcionado conforme os interesses da burguesia ('sociedade civil'), do povo, da nação etc. E nenhum liberal veria, como não vê, o bolsonarismo como algo diferente de um monstro ideológico justamente porque se nega a agir especificamente naqueles campos de atuação estatal que a doutrina liberal clássica enxerga como essenciais, imprescindíveis, até pelo fator ideológico de ver o Estado como garantidor das condições em que as leis econômicas devem funcionar.

Enfim, não queria polemizar ou fazer textão à toa, mas quando falam de conflito de narrativas, pós-verdade, não se está a brincar, isso é a essência do bolsonarismo e do tipo de pós-política antihumana que coisas como o bolsonarismo encarnam. Curiosamente, essa negação da política pela ideologia é uma das coisas que Schmitt alertou que nos amaldiçoariam conforme a política fosse progressivamente neutralizada pela técnica.
 
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