Apenas estou dizendo que a intolerância é uma via de mão dupla. Estamos dizendo "que absurdo, como podem as pessoas de um país desenvolvido agir desta forma", etc., mas não é por aí que vai mudar o mundo.
É importante as pessoas terem a liberdade de andar como quiserem, mas chocar não é uma boa forma educacional, antes faz as pessoas teimarem em seus preconceitos, ao invés de repensar sobre seus atrasos de vida.
Afinal preconceito é uma forma de auto-preservação. Todos nós temos um leque de idéias "úteis" para não nos metermos em encrenca. ("úteis" para nós, mas com certeza alguém do Alaska acharia a gente idiota)
Fofocas, intrigas da oposição... coisas que protegem comunidades pequenas, se você pensar bem. Cidades pequenas se você é mal-visto, mal-falado, você não consegue viver: precisa fugir. Claro que normalmente as pessoas não tem o que fazer e ficam inventando, mas o princípio básico era de auto-preservação: ninguém quer ser amigo de alguém que já matou alguém.
No entanto, em cidades grandes é muito fácil se tornar mais um rosto na multidão. E por isso, é tão fácil um criminoso esconder-se em cidades grandes.
Todos aqui criticaram os "cidadãos de bem", mas ninguém ofereceu uma ferramenta eficaz para os mecanismos de auto-preservação dos paranóicos em questão. Dizer que tem de aceitar as diferenças é bonito, mas se uma gangue de skinheads resolver que você é um "gay nojento" (apesar da namorada) como você se protege? Que sinais você utiliza para identificar pessoas potencialmente perigosas?
Se o cara é um motorista de ônibus, vocês acham que ele tem formação melhor que a nossa só porque ele nasceu na Inglaterra? Provavelmente tem a mesma formação de minha mãe, que aconselha a não andar com tatuados e com a yakuza. E minha mãe é ignorante? Bem, ela se safa melhor de abordagens perigosas do que os filhinhos "liberais" dela (eu e meus irmãos).
Até o momento que estamos conversando, essas pessoas intolerantes tiveram toda uma bagagem de vida (inútil ou não) que dá respaldo a toda a lógica tresloucada deles, e que os manteve vivos (ao contrário de um monte de colegas "loucos" que abusaram da sorte quando jovens e morreram).
Então estamos também sendo intolerantes com essas pessoas, pelo simples fato das vidas dessas pessoas serem mais limitadas que as nossas. O que também não é nada legal, se formos parar um pouco para pensar. Logo concluímos que todos são filhos da puta retrógrados, censores, castradores, etc., sem ao menos saber se um homem teve problemas com a Máfia, se outra mulher é sobrevivente do Nazismo, se o motorista é natural da Argélia e está com medo de perder o único emprego que conseguiu. (ou morrer nas mãos dos skinheads que seus amigos argelinos tanto falam que odeiam os muçulmanos por "roubar" os empregos de "gente decente" como os skinheads)
Me lembrei de um conto de fadas: do cordeiro quando a mãe sai de casa e diz para o filho não abrir a porta para ninguém a não ser ela mesma, porque o lobo está rondando. Ela fala o código para abrir a porta, mas o lobo estava escutando. Quando a mamãe estava longe, o lobo deu a senha e o cordeirinho ia abrir a porta quando pediu "me mostre a pata branca". Coisa que o lobo preto como a noite não podia mostrar.
Quais são as duas únicas coisas que o cordeiro sabia? Que a senha era uma garantia, mas a patinha branquinha de sua também era uma garantia. Ele podia ter sido "burro" e pedido apenas a senha, mas ele usou outra lembrança que tinha para ter certeza de que era seguro abrir a porta. Só que tecnicamente, hoje em dia diríamos que o cordeiro era racista.
(sem falar que acho que existem lobos brancos, então a técnica do cordeiro tinha limite de validade)