Não há treta.
Porque ele está errado.
Viu?
Nenhuma treta.
Falando sério.
O que sempre comento é que expectativa e o gosto pelo filme são diferentes da sua qualidade.
Entendo que você talvez quisesse conflitos mais dramáticos, mas é diferente do filme não os ter. Ele inclusive é todo picotadinho em conflitos maiores entre personagens para criar os ciclos de amadurecimento do protagonista e fazer o filme andar. A estrutura de filmes clássicos de amadurecimento está ali, mas não em formato de alegorias exageradas como normalmente são colocadas. É só tentar visualizar essa família como real, o garoto teria que ser bem sortudo em crescer num ambiente tão amplo assim com um pai artista, carismático, ausente mas presente, uma mãe persistente, trabalhadora, que de fato consegue vencer profissionalmente, mas casa com um cara bêbado quase vilão, depois com um ex-veterano depressivo de guerra. É uma variedade que normalmente não se encontra rodeando todos a mesma pessoa.
Os diálogos não são "interessantes" pois só em hollywood de fato crianças de 8 anos fazem um discurso filosófico, mas o Linklater emenda com coerência o caráter dos personagens, que é esse o objetivo do roteiro. De novo, o filme não ir na direção que você quer não significa que não tenha uma direção. E todos os filmes do Linklater usualmente são assim com diálogos mais smalltalk em contraponto às conversas sempre nerds de roteiros por exemplo do Tarantino.
O objetivo dos diálogos desse filme é estabelecer as relação entre os personagens, não oferecer punchlines pro expectador.
O filme é vendido com esse rótulo de filme feito durante 12 anos, etc. Mas o filme claramente não explicita e não joga isso na cara em nenhum momento. 2 pontos fortes do filme estão justamente aí, a direção e a montagem do filme. Em 12 anos de filmagens daria perfeitamente para o filme acabar inconscientemente mostrando isso, seja em estilo, seja em tecnologia, seja em ritmo. Mas o filme se mantém coeso do início ao fim, e isso é um dos principais papéis do diretor, planejar, projetar, decupar o filme, para que não seja apenas uma colagem aleatória de cenas. E a montagem do filme foi escolhido para justamente fazer o filme fluir sem expor que entre dois planos a diferença é de 1 ou 2 dias na vida dos atores mas em outra cena se passou 1 ano real na vida dos atores. Só teve acho que uma cena em que eles optam por uma elipse colocando o protagonista pedalando, movendo a câmera para a bicicleta e quando retorna ao personagem ele está diferente com cabelos mais compridos e claramente mais velho. Foi o único ponto em que eles, por alguma razão, optaram por explicitar.
A fotografia é comum. Não há o uso corriqueiro de cores que o Scorsese adora fazer, ou filmando sempre na hora mágica como um Malick.
Mas é o propósito. Não fazer uma fotografia super chamativa que fosse completamente em contraponto ao filme em si. Tipo um Lincoln do Spielberg.
Só que um enquadramento que o Linklater adora e é fantástico são justamente nas cenas de diálogos em que ele opta por uma profundidade de foco total num close em 2 personagens conversando, coloca os personagens para se movimentar e abre o plano aos poucos. É um plano lindo em que ele consegue expor fisicamente a transposição temporal da conversa entre os personagens. Nesse filme eles aparecem mais escondidos em comparação a Antes da Meia Noite, mas ainda está lá.
A atuação do garoto eu concordo. Ele adolescente é um pouco travado, e por entrevistas aparentemente ele realmente apenas atuou como ele é, voz baixa em resmungos, cabeça baixa. Eu até achei que casou com o fato dele ser um personagem não histérico em contraponto a irmã, mas concordo que não foi um grande trabalho dele.
Mas a Arquette faz um trabalho fenomenal, inclusive em optar por de fato envelhecer durante o período do filme em vez de querer tentar se mostrar como uma mãe de hollywood sempre gostosa mesmo com 10 filhos e 60 anos de idade.