Imrahil de Dol Amroth disse:
Mas (um dos personagens) que sempre me facinou, apesar de eu realmente o achar um pé no saco, foi Denethor. Tolkien foi gênio o suficiente pra criar um personagem dotado de uma sabedoria e um poder extenso e mesmo assim cair em armadilhas que ele mesmo criou. Cita-se muito a estupidez de Denethor em relação aos seus comandados, e o seu desprezo (relativo...) a Faramir. eu e limito a dizer que Denethor foi um personagem cuja personalidade não batia com seu tempo e situação - sabendo que a morte de Boromir foi um choque terrível. Gostaria de vê-lo em ação como um conselheiro em Númenor, ou dono de um exército maior na ocasião da 2a. Guerra do Anel. Aí sim veríamos um quase-Rei, pois o própro Gandalf o respeitava, apesar de no fundo querer matá-lo de porrada, afinal, ele era um saco mesmo.
Bom, Denethor é uma personagem muito complexa; a sua personalidade é das mais difíceis de compreender no livro "O Senhor dos Anéis", e isso leva a que seja encarado como irritante pelos fãs, como alguém sem sentimentos e frio que despreza os que o rodeam, até mesmo o seu filho mais novo, e que cuja obcessão pelo trono de Gondor leva a extremos. Resumindo, um maluco enervante.
Mas Denethor não era nada disso (pelo menos não em grande parte); pelo facto de a sua personalidade ser complexa não podemos analisá-lo de uma maneira superficial, pois acabaremos por tirar a conclusão que eu descrevi acima. Que aliás foi a que foi transcrita por Peter Jackson, Fran Walsh e Phlilippa Boyens para o filme, por essa mesma razão: as pessoas não compreenderiam uma personalidade tão complexa, e explicá-la tiraria tempo ao filme, por isso transformaram-no naquilo que as pessoas realmente pensam dele. Isto, na minha opinião, foi um desastre; Denethor foi o calcanhar de Aquiles do filme o Retorno do Rei, o seu ponto fraco, a sua pior transcrição de uma personagem para o filme a partir do livro.
Para compreender Denethor temos de tantar compreender muitos factores: a época em que vivia, as experiencias pessoais, a mentalidade que lhe foi ensinada a ter (a maneira de ver as coisas a que foi ensinado), a alta linhagem que fluía no seu sangue, a noção do Mundo que tinha.
Não sou grande conhecedor de psicologia em si, como uma ciência, e aquilo que aqui vou dizer vai ser baseado maioritariamente nos conhecimentos medianos que tenho da mente humana. Antes de mais nada, passemos a um resumo mais ou menos pequeno da vida de Denethor, o que por si só explicará muito:
"Denethor, filho de Ecthelion, nasceu em 2984 da 3ª Era. A sua linhagem, a dos Mordomos (mais belamente, mas erroneamente chamados Regentes na tradução brasileira), era de puro sangue Numenoriano. O poder de Gondor na época em que se tornou Mordomo estava muito diminuído. Desde cedo ele se havia revelado um homem solitário, e em 2976 ele casou-se com Finduilas, de Dol Amroth. O coração desta dama cresceu no entanto triste e negro, pois na cidade de pedra de Minas Tirith estava afastada da sua paixão, o mar. Morreu apenas 12 anos depois de casar com Denethor, e depois de lhe ter dado 2 filhos: Boromir e Faramir. Depois disto o coração de Denethor endureceu ainda mais, e nesta altura ele usou pela primeira vez o palantír que estava na Torre de Ecthelion. A vontade e inteligência de Denthor eram demasiado fortes para que Sauron pudesse controlar o Mordomo, no entanto, ainda assim pode controlar a pedra e mostrar a Denethor apenas aquilo que queria; e assim mostrava-lhe imagens do terrível - e invencível, como queria dar a entender - poder da Torre Negra. Isto debilitou as forças de Denethor, que viveu ainda mais sem esperanças e desalentado, apesar de a sua vontade se manter inquebrável e a sua astúcia imperecível. No fim, durante a guerra do Anel, o seu filho mais velho, Boromir, e seu favorito, enviado por ele numa missão a Rivenddel, acabou por ser morto. Mais tarde, durante o cerco a Gondor, o seu outro filho, a que não dava tanta importância apesar de inconscientemente amar, Faramir, ficou - aparentemente- mortalmente ferido. Assim, com com toda a pressão dos longos anos de trevas e solidão a acumularem-se a ponto de se tornarem insuportáveis, e com a morte do seu filho mais velho e aparente morte do seu filho mais novo, Denethor acabou, no fim e extremo da sua pressão, por ficar mentalmente debilitado, e elouquecer, vindo a causar grandes danos e acabando por pôr um fim à sua vida, depois de tentar pôr um fim também à de Faramir."
Bom, vou discutir antes de mais nada algo de que as pessoas muito acusam Denethor: o facto de ele pouco (parecer) fazer em relação à invasão e poder crescente de Mordor. Antes de mais nada é preciso ter algo em mente: o poder de Gondor estava muito diminuído na época em que ele se tornou Mordomo. Gondor já não era o reino belo e imponente que outrora havia sido; estava baixo em poder como nunca havia estado, e a descer cada vez mais. Ainda era a principal potência contra Mordor, isso é verdade, e o mais poderoso reino dos Homens; mas não estava com capacidade para fazer frente directamente ao poderio de Sauron. Tudo o que Denethor poderia fazer era tentar impedir o avanço do inimigo e a chegada de exércitos a Mordor atrvés das suas terras, o que fazia com reçlativo sucesso, e tentar defender os seus territórios, mantendo Osgiliath e Minas Tirith de pé o maior tempo que conseguisse. Nada mais poderia fazer Denethor e nada mais faria outro Rei no lugar dele. Denethor não era estúpido, e era orgulhoso como um típico Numenoriano; queria acima de tudo que o seu reino fosse o maior de todos, e lutaria o mais que pudesse para que isso se sucedesse. Acontece que Denethor, como inteligente que era, previu desde cedo o ataque final de Mordor, e isso foi a primeira coisa que lhe abalou o espírito.
Agora vou analizar um pouco a fundo a personalidade com que Denethor era dotado desde que nasceu. Denethor era de sangue Numenoriano puro, e possuía todas as características destes reis: era orgulhoso e forte de vontade. Além disso era também sábio como poucos e tomava as suas responsabilidades a fundo. Compreendia bem a nobreza de Gondor e a missão que lhe fora destinada, como se pode justificar na educação que dava aos seus filhos:
Faramir disse:
"E lembro-me que, quando Boromir era rapaz e aprendíamos juntos a história dos nossos antepassados e da nossa cidade, lhe desagradava sempre que o seu pai não fosse rei. "Quantos centos de anos são necessários para fazer de um Mordomo rei?" - Perguntava. "Poucos, talvez, noutros lugares de menos realeza", respondia-lhe o meu pai. "Em Gondor 10 mil anos não chegariam.""
Denethor era um homem que sabia bem qual a missão de um Mordomo: guardar o reino e esperar a chegada do rei. Pesava-lhe fortemente no espírito que não fosse rei, é verdade, mas não podia fazer nada comtra isso; dava muita importância às histórias dos seus antepassados e era orgulhoso e cumpridor. Apenas se revoltou no fim contra o Regresso do Rei porque suspeitava de Gandalf, achando que este queria possuír controlo sobre Gondor e usava para isso um simples Dunadan sem direito para assumir o trono.
Denethor disse:
"O Senhor de Gondor não será, contudo, instrumento dos propósitos de outros homens, por muito dignos que possam ser. Para ele não há, no mundo como agora se encontra, propósito mais elevado doq ue o bem de Gondor; e o governo de Gondor pertence-me, meu Senhor, e a nenhum outro homem, a não ser que o rei regressasse."
Denethor não era um louco obcecado pelo trono de Gondor. Era um Mordomo que tinha consciência da sua missão e das suas responsabilidades.
Quanto ao facto de ser muito reservado, existem várias justificações:
Desde cedo ele esteve sobre grande pressão. Previu o ataque final de Mordor para essa altura e previu também que pouco poderia fazer, o que o fez ficar algo desesperado. Seria ele o último da sua linhagem e aquele que, depois de muitos reis e mordomos, falharia completamente. Isto angustiava-o e atormentava-o. Por isso era muito reservado, procurava instruír-se no conhecimento, sempre ser o melhor possível.
A sa vida pessoal: o facto de ser reservado concerteza faria com que Denethor não tivesse muitos amigos. Foi então que finalmente casou, com Finduilas. A sua mulher, no entanto, devido ao facto de não gostar de viver numa cidade de pedra, e da reserva e sutornidade do seu marido, veio a falecer muito cedo, ainda eram novos os seus dois filhos. Isto foi um duro golpe para Denethor, sem dúvida, pois parcia-lhe que tudo aquilo que amava, finalmente, acabava no fim por morrer. Assim a sua personalidade fixou-se ainda mais, e a sua reserva tornou-se mais profunda. Foi até ao ponto de usar o palantír, que aliás já se suspeitava que usava pouco antes de a mulher morrer. Assim restavam-lhe os seus dois filhos, aos quais se dedicou com bastante esforço.
Para um Numenoriano, a descendência sempre é muito importante. Ter alguém que seja capaz de subir ao trono ou de suceder ao seu pai em algo importante era da maior relevância. O filho mais velho era, entre os Numenorianos, o melhor, o mais capaz, o que havia sido destinado a suceder a seu pai. Era neste ponto de vista, a que Denethor havia sido ensinado, que ele preferia o seu filho mais velho Boromir. E não apenas por isso. Boromir parecia-lhe mais apto a ser rei, pois era mais valente, mais pronto, um homem que chegava àquilo que queria fosse porque meios fossem.
Gandalf disse:
"Era um homem dominador, um homem que obtinha o que desejava."
O perfeito rei, pensava Denethor, e a prova de que o primogénito era o mais apto, segundo ele. Por isso desprezava sempre o seu filho mais novo, um desprezo aparente, pois todos sabemos, ele no fundo amava-o. Assim, quando Boromir morreu, a mente de Denethor ficou muito abalada (abalada não de ficar louco, mas de ficar perturbado de outra maneira, perturbado no que toca a sentimentos). Tornou-se ainda mais áspero para Faramir, pois achava que ele podia ter ido em vez dele, e de bom grado teria trocado os dois.
O palatír também desempenhou um papel importante. Denethor era de vontade muito forte para este o controlar, mas conseguia desviar po seu olhar apenas para morte e destruição, para o poderio da Torre Negra, e Denethor ficava cada vez mais negro e suturno.
Assim a loucura de Denethor aproximava-se cada vez mais. A pressão à sua volta aumentava, os exércitos avançavam para o ataque final que ele havia previsto à tanto, a esperança ia diminuíndo de dia para dia, os seus homens perdiam a coragem, a cidade branca estava em declínio, o seu próprio filho morrera, e agora Gandlaf, de que sempre suspeitara, aproximava-se e trazia com ele um rei atrás, que denethor achava fácil. Era como se estivesse rodeado de inimigos por todos os lados. Não havia esperança alguma. E quando Faramir foi ferido de morte, o seu último filho e última descendência, a mente de Denethor ficou finalmente perturbada. Elouqueceu de vez e preparou para ele e para o seu filho um túmulo.
Denethor, não era um home senil que nunca fazia nada pelo seu país. Era um descendente orgulhoso de Numenorianos e que queria ver o reino que comandava erguer-se acima de qualquer coisa. O que ele fazia tinha razões para fazer, e as suas acções, excepto no fim da sua vida, foram sempre as mais correctas.