Pedro Sertório havia esquecido a foto do dia de seu casamento. Lurdes estava linda naquela foto, apesar de que, a fotografia, estava um pouco desbotada pela ação do tempo. Mas a beleza de sua jovem esposa resistira até mesmo ao tempo. Pedro ficou pensativo por um instante recordando os primeiros dias de matrimônio. Lembrou da festa do casório, dos convidados, seu sogro sisudo e sua sogra sempre solícita. Recordou o dia do nascimento de Ezequiel.
Aquela sexta-feira chuvosa, e a tensa espera no hospital maternidade. Seu primogênito nasceu logo no primeiro ano de união matrimonial, puxou o pai diziam uns, outros, achavam características físicas da mãe mais acentuadas. Já havia passado alguns anos desde então, e as recordações, cada vez mais escassas, minguavam na sua fraca memória. Seus olhos não lagrimejavam, e o coração, não pulsava tão forte assim. Um corpo sem alma. Um homem endurecido pela solidão e pelas adversidades da vida de retirante. Sentia-se meio que deslocado de tudo, pois se afastava cada vez mais daqueles dias de felicidade.
“A realidade agora é outra, Pedro Sertório”, “Os sonhos são outros, Pedro Sertório”. Sonhos?
“Aí meu Deus há quanto tempo não sonho?”
Pedro segurava seus pertences com toda força e resistência que ainda lhe restava nas mãos calejadas pela rudeza do serviço braçal. Seu cabelo grisalho e crespo, seu corpo pálido e franzino, denunciava a presença de um tempo implacável, janeiro após outro, uma reminiscência após a outra. Pedro Sertório era apenas uma vaga lembrança do carpinteiro forte e hábil da construção civil. Na carteira, a mesma que o acompanhava desde a juventude, o pouco dinheiro que conseguiu juntar; e o bilhete de número 47. (Poltrona 47- Corredor)
Pegou o ônibus de volta para a sua terra natal com uma única certeza que havia deixado para trás o pertence que mais lhe importava até então; a foto do dia de seu casamento, a foto de Lurdes, e a certidão de óbito dela e do fruto do amor de ambos; Ezequiel Sertório.
Ricardo Campos
Aquela sexta-feira chuvosa, e a tensa espera no hospital maternidade. Seu primogênito nasceu logo no primeiro ano de união matrimonial, puxou o pai diziam uns, outros, achavam características físicas da mãe mais acentuadas. Já havia passado alguns anos desde então, e as recordações, cada vez mais escassas, minguavam na sua fraca memória. Seus olhos não lagrimejavam, e o coração, não pulsava tão forte assim. Um corpo sem alma. Um homem endurecido pela solidão e pelas adversidades da vida de retirante. Sentia-se meio que deslocado de tudo, pois se afastava cada vez mais daqueles dias de felicidade.
“A realidade agora é outra, Pedro Sertório”, “Os sonhos são outros, Pedro Sertório”. Sonhos?
“Aí meu Deus há quanto tempo não sonho?”
Pedro segurava seus pertences com toda força e resistência que ainda lhe restava nas mãos calejadas pela rudeza do serviço braçal. Seu cabelo grisalho e crespo, seu corpo pálido e franzino, denunciava a presença de um tempo implacável, janeiro após outro, uma reminiscência após a outra. Pedro Sertório era apenas uma vaga lembrança do carpinteiro forte e hábil da construção civil. Na carteira, a mesma que o acompanhava desde a juventude, o pouco dinheiro que conseguiu juntar; e o bilhete de número 47. (Poltrona 47- Corredor)
Pegou o ônibus de volta para a sua terra natal com uma única certeza que havia deixado para trás o pertence que mais lhe importava até então; a foto do dia de seu casamento, a foto de Lurdes, e a certidão de óbito dela e do fruto do amor de ambos; Ezequiel Sertório.
Ricardo Campos