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Filosofia na obra de Tolkien...

Sei que esse deve ser um tema bem batido e provavelmente devem existir variados tópicos a respeito no fórum, mas eu não consegui encontrar alguma coisa.
O que proponho é discutir algo que me atormenta há algum tempo; além da inegável importância da religião na obra de Tolkien, além da alardeada lingüística, sem falar em outras tantas influências...
Mas em se tratando da natureza de muitas dessas influências e vários outros preceitos e mesmo elementos na história, pulam aos nossos olhos inumeráveis tendências, pensamentos, teorias metafísicas, psicológicas, políticas, éticas, enfim...

Eu questino meus amigos valinorëanos:

Até que ponto os elementos filosóficos aparecem nas obras de Tolkien, qual sua importância para todos nós e como isso nos afeta, direta ou indiretamente? Como seguimos o fio do pensamento do professor, qual o sentido da escola tolkieniana?
 
Última edição:
Falo por experiência própria: quem nunca se questionou sobre as motivações de cada personagem ou se irritava com certas atitudes deles mesmos? Como se toda ideologia de morte e honra fosse balela. Ou, ao contrário, como se nós nos tornássemos parte desse mundo e de sus povos, conhecendo e amando o bem da vida, e se perguntando porque temos de temer o mal que se agita no Leste.

Pensei durante certo tempo, lendo os livros, que além de toda a ética envolvida, como era perfeita aquela ontologia. Cheia de mistérios até acompanhada dos mistérios espirituais mas carregada de uma simplicidade, identifico até um estruturalismo na concepção inteira de Arda...
 
A tentação

Gollum/Smeagol

Descendente dos Hobbits dos Grados comete um assassinato para poder ter o Um Anel que se apoderou da sua mente e seu corpo e virou Gollum...sua índole já não era lá estas coisas, matou o próprio amigo para possuir o objeto de desejo, e fez inúmeras ações durante a obra no intuíto de obter o Um Anel, ganância, poder, medo ... era uma luta constante consigo mesmo e com o Um Anel...Smeagol acredito que queria se livrar do "Mestre", no fundo seu desejo de se tornar o que era antes era profundo, o sofrimento o fez ver que suas ações o levaram para as sombras, mas sua fraqueza de espírito o entregou para o Um Anel ...

"Ele o odiava e o amava, da mesma forma como odiava e amava a si mesmo. Não podia se livrar dele. Nessa questão não tinha mais vontade própria."


Pág. 57 - A Sombra do Passado - A Sociedade do Anel

Como também aconteceu com Boromir, que se deixou levar pelo Um Anel, mas conseguiu se livrar da tentação e morreu bravamente.

Na vida existem muitos Smeagol's, Gollum's, Boromir's espalhados por aí, todos os dias somos submetidos as tentações da vida, umas nos rendemos e outras nos defendemos.
 
Precisamente o que eu me perguntava, os homens são mesmo tão poderos os quanto aparentam? De cert não, é só ver o exemplo de tantos que sucumbiram à Sombra, como tantos orientais e sulistas que voltaram olhares cheios de ódio aos edain por pura inveja.

Mais do que o sentimento de honra que ligava os povos de Rohan e Gondor em Pelennor, por exemplo, havia a certeza de Théoden que a queda do mundo seguiria à morte de Gondor...
Seria tanto coragem que o levou a esse extremo, ou os homens lutavam menos por lealdade e mais por si mesmos, até que ponto isso é importante?
 
Tirando o caráter religioso (quem já não ouviu que a obra de tolkien é algo demoníaco?) vejo a obra de Tolkien como um manual para a vida.
vemos que a força de vontade pode nos levar longe, exemplos disso são Frodo e Sam, que chegaram à Montanha da Perdição, apesar de tudo.
temos inúmeras lições sobre amizade com o professor como Aragorn, Legolas e Gimli que correm por dias atrás dos Uruks, para salvar Merry e Pippin; ou o mesmo Aragorn, que decide, em desvantagem numérica, levar seu exército ao Pòrtão Negro, e dar à Frodo e Sam uma passagem livre (auto-sacrifício).
Além de mostrar que uma pessoa pode redimir-se de suas más atitude fazendo o bem, como Boromir, que morreu lutando por Merry e Pippin.
Sem contar "o bem sempre vence".

acho que o principal de tudo, na obra de Tolkien, é que nenhuma causa é perdida, desde que exista alguém disposto à lutar por ela.
 
Tirando o caráter religioso (quem já não ouviu que a obra de tolkien é algo demoníaco?) vejo a obra de Tolkien como um manual para a vida.
vemos que a força de vontade pode nos levar longe, exemplos disso são Frodo e Sam, que chegaram à Montanha da Perdição, apesar de tudo.
temos inúmeras lições sobre amizade com o professor como Aragorn, Legolas e Gimli que correm por dias atrás dos Uruks, para salvar Merry e Pippin; ou o mesmo Aragorn, que decide, em desvantagem numérica, levar seu exército ao Pòrtão Negro, e dar à Frodo e Sam uma passagem livre (auto-sacrifício).
Além de mostrar que uma pessoa pode redimir-se de suas más atitude fazendo o bem, como Boromir, que morreu lutando por Merry e Pippin.
Sem contar "o bem sempre vence".

Corretamente correto, já discutí com muitas pessoas ignorantes, nenhum destes jamais havia lido Tolkien, porém (não sei de onde tiraram isso) diziam que Tolkien era Satanista, se ser Satanista significa abordar temas humanos, corrupção, amizade, então todos somos satanistas. Além dos exemplos mostrados pelo nosso amigo acima, Tolkien mostra o lado ruim dos humanos, que é facilmente corrompido.
 
Corretamente correto, já discutí com muitas pessoas ignorantes, nenhum destes jamais havia lido Tolkien, porém (não sei de onde tiraram isso) diziam que Tolkien era Satanista, se ser Satanista significa abordar temas humanos, corrupção, amizade, então todos somos satanistas.

já ouvi até que a TM era o inferno.. rs.. cada um com sua opinião..

Além dos exemplos mostrados pelo nosso amigo acima, Tolkien mostra o lado ruim dos humanos, que é facilmente corrompido

sim, sim, mestre anão.
o Professor não fantasia, mostrou que existem pessoas boas e ruins, assim como pessoas fortes e fracas.
Temos Faramir, que resiste à tentação do Um, ao contrário de seu irmão, Boromir.
os dois lados da tentação, na mesma família.
e continuando nessa família, a loucura e o desespero, com o pai dos dois Denethor, que morre queimando-se vivo, e por pouco não leva seu filho mais novo, Faramir.
 
Em Tolkien há teologia, mas não muita filosofia por si. Ou melhor, a filosofia é subordinada à teologia, de uma forma muito mais clara e direta que a própria criação dramática e artística em si. De certa forma, mais do que obedecerem a pressupostos teológicos, as histórias que Tolkien conta parecem revelar estes pressupostos, com maior ou menor clareza de acordo com o escopo da história (ou seja, temas diretamente teológicos aparecerão muito mais quando se trata de elfos do que em histórias de humanos). Acho que este é um motivo teo-filosófico da obra de Tolkien: a fantasia é uma transformação do mundo que o afasta da verdade imediata (mesmo da verdade revelada, como o é a da Bíblia), mas que conduz a uma verdade mais profunda e sentida. Passa-se de uma verdade formalmente conhecida para uma verdade sentida. Com filosofia a coisa é um pouco diferente, pois aí estamos falando de uma coisa diferente, que se dá já no mesmo plano universal da verdade teológica. É sensível o esforço de Tolkien de adequar significações filosóficas que saltam de sua obra com os pressupostos teológicos. Vejo isso no Melkor Morgoth e na questão sobre a ressureição dos elfos, por exemplo. E, mais interessante, isso é muito claro num texto que é tanto filosófico quanto dramático, que é o Athrabeth. Tolkien ali desenvolve um real pensamento dogmático, no qual as especulações de Andreth e as de Finrod são sempre adequadas por este último àquilo que é seu pressuposto, como no que é possível ou não a Morgoth fazer, e seu estatuto ante Deus.

Dentro deste enquadramento, Tolkien me parece conhecer, de filosofia, em especial o neoplatonismo cristão, provavelmente por Sto. Agostinho. Sua definição de mal como ausência da existência de Deus, os anjos como demiurgos, etc., isso tudo é proveniente do neoplatonismo cristão.
 
em resposta a sua colocação é isso o que eu tenho a dizer: Tolkien precisa ser reconhecido como um verdadeiro filósofo.

Ora o que caracteriza um filósofo é a sua central busca de conhecimento no horizonte das possibilidades. Ora, quando surge algum problema filosófico que impele uma pessoa a busca de respostas, onde esta busca se torna central em sua vida de maneira absoluta, isto é, quando toda a orientação vital pode ser resumida nesta busca, então essa pessoa pode ser chamada de filósofo.

É exatamente o que fez Tolkien: o cerne de toda a sua produção literária, de toda a sua criação e estudos, está justamente na sua busca incessante para entender e responder a percepção de sua realidade, isto é, Tolkien tinha por senso de orientação a sua autoconsciência de ser apenas um simples subcriador diante da criação. E que nada pode fazer se não subcriar a partir das coisas criadas e subcriadas por outros subcriadores. Onde a verdadeira realidade estava para além da procedência do tempo e das conceituações. Está para além da criação, está onde está o absoluto, o Criador.

Na finitude da sua existência na Terra, Tolkien percebe que é no eco infinito ao fantástico existente no interior do homem que ocorre a eucatástrofe, isto é, o efeito causado pela repentina virada jubilosa que culmina numa alegria vivificante semelhante ao “Felizes para sempre” dos contos de fadas. É nesta eucatástrofe onde se encontra o senso de orientação ante a angústia da insatisfação existencial. Ora esse senso de orientação eucatastrófica é um anseio antropológico entendido por Tolkien como Faërie, que por sua vez não pode ser capturado numa rede de palavras, pois uma de suas qualidades é ser indescritível, apesar de não imperceptível. É a realidade sobrejacente que está para além da procedência do tempo e das conceituações, mas não da percepção pois é real.

É por isso que Tolkien pode e deve ser reconhecido como autêntico Filósofo. Por sinal, um verdadeiro Filósofo Cristão.
 
Certamente ele tinha respeito não declarado a filosofia.

Um indício da ocorrência de introduções filosóficas aparece na influencia de Arthur Owen Barfield, filósofo, entremeada no resultado do material de Tolkien e Lewis.

Comenta-se que em Tolkien o pouco uso ou supressão deliberada da palavra filosofia seja uma forma de "embutir" no trabalho conceitos que são propriedades da filosofia ao mesmo tempo em que se aborda mais de um assunto sem se comprometer com crítica filosófica.

Seu amigo, CS Lewis, era mais nítido nas obras que o influenciaram fortemente, a Ética de Aristóteles, o The Consolation of Philosophy de Boécio (Neoplatonismo).

Já em Tolkien, apesar de os estudiosos do autor encontrarem elementos desses filósofos e de outros (Plotino Sobre A Beleza), Platão e Agostinho, a palavra filosofia pode assumir significado de sinônimo para "religião" ou "teoria". Por vezes sendo específica e por vezes sendo ambígua.

Poderíamos inclusive inferir que dado o trabalho de inteligência realizado por ele na guerra esse seria um dos resultados inevitáveis, ser discreto para o sucesso da obra.

Michael Ramer (Filólogo) comenta que Tolkien na verdade seria um experimentalista ao invés de um filósofo. Curioso ver a Verlyn Flieger se não me engano perguntando ao Tolkien se ele atravessou o véu deste mundo indo além das palavras e ele admitir.

Uma coisa é certa, apesar de evitar (provavelmente de forma proposital por não sentir ser adequado) tratar diretamente de filosofia o Tolkien escreve sobre temas centrais a filosofia, ética, estética, antropologia, história, religião e morte.

Esse texto abaixo pode interessar:

An Eulogy of Finitude

Anthropology, Eschatology and Philosophy of History in Tolkien
Franco Manni

An undeclared love and a latent polemic


http://www.lovatti.eu/fr/etp.htm#_ftn19
 

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