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Fic Fantasma da Ópera!!

Eu acho que é uma das minhas favoritas. Mas como eu tenho muitas mais, nem sei!!


AUTOR: Cavaleira Negra
GÉNERO: romance
TÍTULO: Do Continente e da Ilha

A NOVA MOÇA DE ESTREBARIA
CAP.I

Tinham-se passado apenas dois dias desde a morte da porteira do Sr. Richard quando o director das estrebarias foi ter com este e com o Sr. Firmin a dizer que se apresentava uma rapariga para trabalhar com os cavalos:
-Deve entender do assunto, – disse o director – pois ela faz-se acompanhar de um grande cavalo preto!! Eu digo-vos, é um Shire!!

Nesse momento a Sr.ª Giry escutava a conversa. Dirigiu-se apressadamente para o seu camarim e disse, para as paredes:
-Os parvalhões e o estribeiro arranjaram uma moça nova. Ela deve saber de cavalos, pois o seu companheiro é um grande cavalo Shire negro!! – esperou um pouco, e uma voz de homem, muito doce e bonita declarou:
-Onde está ela? nesta Ópera não entra ninguém sem o meu consentimento!
-Penso que já esteja a trabalhar!! Vê-la-ás; é muito alta, tem cabelo negro, apanhado num rabo-de-cavalo, usa brincos com penas de águia, veste-se como um cavaleiro andante da Idade-Média e tem um olho com a íris negra e um castanho. Ela é cega do olho castanho!!
-Cheira-me a Irlandesa!! Vou averiguar. – e a voz calou-se, enquanto se ouviu um leve roçar de tecido dentro das paredes.


O Fantasma chegou às estrebarias pelo seu caminho habitual e pôs-se à coca. Não demorou até reparar que estava perto de um cavalo Shire gigantesco, totalmente negro. O bonito cavalo era deslumbrante; estava muito bem tratado, os olhos brilhavam de alegria e as crineiras estavam amarradas em trancinhas muito bem feitas. O Fantasma abriu a boca ao cavalo e viu-lhe a idade; aquele gigante era um poldro de quatro anos!!
Mas enquanto se distraía com o cavalo, o Fantasma não deu pela aproximação da sua dona:
-Quem sois? – indagou ela. O Fantasma virou-se de repente e deparou-se com uma rapariga com os seus 25 anos, altíssima, quase do seu tamanho, robusta e bonita. Evocava os Cavaleiros Negros do séc. XIII numa versão feminina, porém, sem armadura nem espada. O seu olho preto perscrutava-o como uma lâmina afiada; estava claro que só estava interessada em defender o seu amigo equino:
-Responde-me primeiro; quem és tu? – indagou o Fantasma, serenamente. Era a primeira vez que falava frente a frente com uma pessoa que não fosse Christine, o Persa ou a Sr.ª Giry:
-Sou a Khelly. E vós, quem sois?!
-Uma sombra que assombra esta Ópera… ouvirás falar de mim; basta perguntares pelo Fantasma da Ópera! – e sumiu-se.

Khelly olhou do cavalo para o sítio onde estivera o visitante:
-Quem achas que era, Lamorak?! – perguntou ela. Depois voltou ao trabalho.

O Fantasma ficara fascinado com Khelly; era bonita e tinha uma voz forte e vibrante; nem demasiado feminina nem demasiado masculina. Agora só restava saber se ela sabia cantar. «Se eu a juntar à Christine, formo uma turma excepcional. Ah, mas a Christine… tem bela voz, aquela víbora… não; eu disse que desistiria dela, e é o que eu vou fazer; concentremo-nos na Khelly.», pensava o Fantasma, enquanto observava os ensaios. Christine nunca mais cantara tão bem, mas o Fantasma não o lamentava.

Então, apareceu ela, segurando o cavalo César pela arreata. E acabou a primeira parte do ensaio, pois Carlotta estava com fome.
As pequenas coristas reuniram-se à volta de Khelly, que acariciava o cavalo. Inundavam-na com perguntas!:
-Mas que raio se passa? – indagou uma voz arrogante; era Carlotta, que vinha a acabar de comer – Quem és tu?!
-Sou a nova moça de estrebaria, a Khelly, sou cega do olho esquerdo e sou Irlandesa, nasci no Vale do Shannon, que é um rio muito bonito e tenho um cavalo chamado Lamorak… Está satisfeita?? – concluiu a rapariga, com desdém. O Fantasma sorriu:
-Mas que desplante!! Cuide mas é dos animais malcheirosos!! – ordenou Carlotta:
-Olha que cheiram melhor que tu! – ripostou Khelly. O Fantasma riu-se baixinho:
-COMO SE ATREVE, MAL – CRIADA??!!
-Atrevendo-me!! – e depois acrescentou – Foi educada pelos meus dois irmãos, que Deus os tenha, ao Brian e ao Mike!! E agora, baixe a bolinha que está a assustar-me o César, com essa sua voz de arara!! – o Fantasma começou a rir a bandeiras despregadas, tão alto que se ouviu.
César ficou nervoso, quando aquela voz forte inundou a sala:
-É O FANTASMA!!! – gritaram todos, cheios de medo, incapazes de se mexerem. Pois então, o Fantasma dignou-se a aparecer; desceu por uma corda e aterrou no palco. Caminhou calmamente, perante os olhares horrorizados de todos, menos de Khelly, que o reconhecera:
-Vejo que La Carlotta é uma ave rara!! – exclamou – Isso é bom!! – então reparou que os dois directores da Ópera entravam nesse momento no palco:
-Quem és?!! – indagou o Sr. Richard:
-Aquele a quem deve o salário! Aviso-o; se não me pagar até à representação de hoje, a ópera Parcival, juro-lhe que não vai ficar muito satisfeito com os acontecimentos!! – e trepou corda acima, desaparecendo nas tábuas do cenário.


A CAVALARIA PESADA
CAP.II
Nos estábulos Khelly tratava de pôr os cavalos bem bonitos. A única coisa que a preocupava era o facto do seu precioso cavalo, o Lamorak, também participar. Tinha muito medo que os cavalos escorregassem no palco encerado, que fossem maltratados ou que o público não gostasse deles.
Ela sentia que estava a ser observada com interesse, e isso deixava-a um pouco nervosa. Olhava constantemente para os lados e para trás, mas o seu fraco campo de visão não a ajudava. De súbito, uma doce voz masculina indagou:
-Minha cara Khelly… porque és cega?!
-Presumo que fale com aquele que me foi ajudar com Carlotta… és tu, então, o Fantasma da Ópera??
-Adivinhas-te! És esperta!
-Disseram-me coisas horríveis; és o rosto da Morte, matas por diversão e divertes-te a atormentar as pessoas… à quanto tempo vives neste Mundo?!!
-Faz este ano 35 anos que nasci… mas fala-me de ti; podemos ser amigos. – pausou para pensar – Como é que ficaste cega?
-Oh, caro Fantasma… isso aconteceu à 3 anos atrás!! Eu galopava tranquilamente no Galahad, que Deus tenha aquele cavalo… bem, estávamos no campo, nos arredores de Dublin. De repente, um lobo saltou-nos para cima, e eu caí. O Galahad assustou-se, empinou-se, e sem querer acertou-me na cara. Fiquei cega deste olho e parti o nariz. O lobo fugiu, assustado com a confusão. Eu sangrava imenso do nariz, mas estava mais preocupada com o Galahad. Havia uma falésia lá perto, e eu tentei acalmar o cavalo… ele daqui a um bocado caía… – a sua voz sumiu-se, mas voltou, tremida – Claro está que o Galahad caiu escarpa abaixo…

O Fantasma observava com pesar aquelas lágrimas que escorriam daquele rosto bonito, cuja tristeza pareceu contagiar, subitamente, todos os cavalos ali presentes. Estranho caso, ela só chorava do olho saudável:
-Peço-te perdão pela minha intromissão… deve doer-te.
-Sim, dói-me… doeu mais a morte do meu cavalo do que a minha cegueira e o meu nariz partido! – calou-se, endireitou a franja a César e continuou – Mas fala-me mais de ti; é esse o teu nome, Fantasma?
-Não tenho nome… tomei um por acaso, um que me soo bem…
-E qual é? – mas antes de obter resposta, dois vultos entraram nos estábulos e o Fantasma sumiu-se.


Estava quase na hora da entrada dos corcéis no palco. Khelly tentava manter-se calma, mas a ideia de que um possível passo em falso de um dos seus amigos poderia ser trágico não a abandonava. Os seus pensamentos voltaram-se, então, para o Fantasma, o suicida da Ópera. E se ele tivesse armadilhado o palco???!!
Mas não a deixaram pensar mais; era agora que ela tinha de meter os cavalos em cena. Meteu-se no meio deles, e fê-los caminhar elegantemente. Espreitou por cima do pescoço de um cavalo castanho que estava a seu lado, mas não viu nada porque aquele era o seu olho cego… «Bolas!!», pensou ela. Olhou em frente e parou. Era agora que Carlotta e Christine deviam fazer um dueto. Começaram a cantar, quando, de repente, ouve-se um estrondo e os cavalos assustam-se, ficando incontroláveis; uma trompa da orquestra explodira… Instalou-se uma grande confusão, os cavalos soltaram-se e começaram a correr como loucos pelo palco. Os artistas eram pisados e atropelados pelos enormes animais. Khelly, preocupada com os cavalos, correu a acalmá-los. As cortinas caíram e a confusão cessou um pouco. No entanto, os cavalos, nervosos, empinavam-se e tentavam morder:
-É PAGA PARA TRATAR DELES!! ACALME-OS!! – berrou Christine, lívida, quando o lombo de uma égua ruça se chegou perto dela:
-Minha senhora, faço os possíveis… receio que eles não estejam aptos para trabalhar; quando os cavalos se assustam num lugar, temerão esse local até à morte!! – informou Khelly, segurando firmemente as rédeas dos treze cavalos agitados.

O espectáculo foi cancelado, com a promessa de continuar no dia seguinte. Khelly levou os cavalos para as boxes, nunca mais conseguindo acalmá-los.
Quando os arrumou, disse:
-Fantasma; deixa que te diga que isto não teve piada!! Experimenta levar com um casco em cima para ver se gostas!!
-Não tive intenção de assustá-los… – murmurou uma voz. O dono dessa voz revelou-se, sempre com metade da cara coberta por uma máscara branca e sempre envolto em roupagens negras. Parou à distância de três passos dela:
-Como te chamas, e porque é que usas essa máscara?
-Podes chamar-me Erik… quanto à máscara… não queiras saber. Perdoa-me a explosão… – acrescentou ele. Khelly assentiu:
-Bem, Erik… posso saber o que queres da minha pessoa?
-Sabes cantar?
-De certa maneira… quando não me falha a voz nos agudos! – e começou a trautear uma canção intitulada de Whiskey in the Jar. Porém, na parte mais aguda a voz falhou-lhe… – pronto… desafino sempre!
-Respira mais… ou então adapta essa letra para o teu tom de voz, que é mais grave. – ponderou Erik.

Na noite seguinte, representava-se Parcival novamente. Desta vez a cena com os cavalos correu bem.
Estava Khelly a acariciar uma égua de nome Bonita, aquando um berro no palco chamou a atenção da moça e dos seus cavalos. Foram espreitar e viram um cavalão totalmente preto, um Frisão colossal, correr desvairadamente atrás de Carlotta, que, coitada, ia cantando a sua ária. Mas depressa desistiu; mais quatro cavalos entravam em cena; eram os cavalos dos coches; alguém os desatrelara:
-Vamos aqui apra trás, antes que nos culpem! – murmurou Khelly para os cavalos, que pareciam dispostos a juntar-se à festa. O palco estava um pandemónio, e ouvia-se uma voz de trovão rir e gritar ordens ao ciclópico Frisão, que obedecia prontamente.


ENTRE PRADO E BOSQUE
CAP.III
Quando foi arrumar os corcéis, Khelly virou-se para a parede e perguntou:
-O que fizeste agora, Erik? Tu não sabes o peso de um cavalo de tracção, pois não?!! E se estes fossem atrás, o que fazias?? Olha que eu não quero ficar cega do outro olho!! – pausa silenciosa, onde apenas se ouvia o resfolegar dos cavalos:
-Desta vez não os assustei, e eu quero o meu salário!!! – exclamou Erik, emergindo das sombras – Mas quanto aos olhos tens razão; como é ver o Mundo com um olho?
-É complicado; não tens noção das distâncias, e tens um campo de visão limitado. Parece que ficas com a cabeça a andar à roda… Mas explica-me; como enfiaste ali aquela cavalaria toda?
-Quatro surripiei aos cocheiros da Carlotta e levei para lá pelas traseiras… foi fácil… os animais gostam de mim!!
-E quanto ao outro?
-Dá-me a tua mão… – relutante, Khelly estendeu a mão delgada e pálida a Erik, que a agarrou com uma mão enluvada numa luva de montaria. Puxou-a para dentro de um tunel e tapou a entrada. Tal foi o espanto da rapariga quando viu aqueles corredores que serpenteavam mesmo à sua frente sem ela saber, que nunca mais se lembrou que não desaparelhara Lamorak!

Ela e o Fantasma da Ópera deambularam pelos infidáveis corredores pelo menos durante uma hora, até chegarem a uma pequena claraboia. Lá em cima, um cavalo resfolegava. Passaram a claraboia e foram saír nas traseiras da Ópera, onde o Frisão negro esperava o seu cavaleiro:
-Ele é teu? – perguntou Khelly, enquanto o fantasma a colocava em cima da sela e montava atrás dela:
-Certíssimo!! Apresento-te o Fjord. – e Erik espicaçou o cavalo, que galopou para longe. Contornaram a Ópera por um caminho desconhecido e tomaram um prado como caminho:
-Mas aonde vamos?? Olha que eu tenho que me levantar cedo!! – informou Khelly, virando a cabeça para trás, mas continuando a ver pouco:
-Um passeio a cavalo faz-nos bem a todos… não sabemos se na outra vida há cavalos!! – afirmou Erik. Ora Khelly achou aquela citação interessante, puxou de um bloquinho de notas e de um lápis e escreveu-a – Mas que fazes??
-Este é o meu bloquinho de citações interessantes… - declarou a rapariga. O Fantasma meteu o cavalo a passo e Khelly começou a ler - «Nunca arranques uma pena à galinha, que a galinha arrancar-te-á um bife da perna!», Brian, 24/ 5/ 79… «Faças o que fizeres, nunca começes o dia com o pé esquerdo, pois o dia passa-te rasteiras!», Mike, 25/8/79… «As melhores maçãs são as mais vermelhinhas, a melhor turfa é a mais verdinha, e a melhor irmãnzinha és tu, Khelly!», Brian, 1/ 1/80… «Se tocares tin weastle enquanto cavalgas, ou engoles o tin weaslte, ou engoles um dente partido!», Mike, 2/1/80… e a última citação deles foi «Olha sempre ‘pró lado fixe da vida!», Brian e Mike, 6/6/80… no mês a seguir eles morreram.
-Desculpa a pergunta, mas como é que eles morreram?
-Lobos… se não tivesse sido a teimosia do Mike, o Brian nunca teria morrido… - declarou amargamente a rapariga:
-E o Mike, como é que morreu?
-Caíu escarpa abaixo… não sei se estás a ver, mas ele suícidou-se… não suportava ter o peso da morte do Brian nos ombros…
-Vejo que gostavas mais do Brian… porquê? – e Erik meteu o cavalo a trote em direcção ao bosque:
-O meu irmão Brian, que Deus o tenha em paz, foi quem cuidou de mim… ensinou-me a ler, a escrever, a montar e a tocar tin weastle… era uma exelente pessoa… já o Mike era mais sério, não alinhava muito nas nossas parvoíces…
-A tua mãe? E o teu pai?
-A minha mãe morreu quando eu nasci, e o meu pai morreu quando eu tinha cinco anos… culpava-me pela morte da sua adorada Kitty. Ele deu um tiro na sua própria cabeça de nabo…

Só depois é que Khelly reparou que derramava algumas lágrimas. Erik encostou-a ao seu peito; o seu coração galopava mais que o corcel que o transportava:
-Tens o coração acelerado!! – afirmou Khelly, ainda encostada àquele peito largo e confortável – Josep Boquet disse-me que não tinhas coração, mas acabo de o contradizer…
-Não tenho coração… não tenho alma nem corpo… não tenho olhos ou boca… não tenho voz para te o dizer, mas tenho mãos para guiar este cavalo para te mostrar o sítio onde morro a cada dia que passa… - suspirou o Fantasma. Khelly sacou do bloquinho e escreveu. Erik riu um riso triste; gostava que aquela pessoa que ele tanto queria conhecer não tivesse um passado tão mau:
-Diz-me, meu amigo – como Erik se sentiu leve quando a rapariga disse isto -… porque és assim tão mórbido?
-Nasci assim… - volveu o Fantasma – Acho que o meu destino conseguiu ser mais cruel que o teu!! Ah! ah!! venci o jogo!! Qual é o prémio?
-Tens piada, tu!! – e deu-lhe um beijo na face desmascarada – Aí tens o teu prémio.

O condutor passou a mão na face e travou o cavalo. Lá em baixo, um rio passava. Incitando o cavalo a descer, desmontaram à beira da água. Erik conduziu-a até um portão em ferro, que abriu com uma pequena chave. Fez a rapariga e o cavalo entrarem. Molharam um pouco os pés e voltaram a terra firme numa pequena «praia». Lá mais a cima, um órgão com uma partitura, uns espelhos e umas alavancas:
-Bem vinda a minha casa! – saudou o Fantasma, acariciando o cavalo:
-Mas que giro! – exclamou Khelly, fascinada – E não te molhas?! Quer dizer… isto não vai até lá acima?!
-A única inundação foi à três meses… ia-me destruindo o órgão!
-Erik, viemos fazer o quê?!
-Vim buscar o teu cavalo!
-Heim?! Então, se nós estamos aqui em baixo e o Lamorak lá em cima… à passagens!! Tu utilizas corredores subterrâneos!! Então é por isso que eu nunca te vejo entrar!!
-Certíssimo; espera aqui um pouco que eu já venho. – e ele sumiu-se por um túnel.

Pouco depois galopavam os dois compadres tranquilamente pelo prado. Era meia-noite, mas ninguém se importava:
-Deve ser mau morar ali sozinho, entre prado e bosque! – comentou a rapariga:
-Por vezes… por vezes… entre prado e bosque fica uma casa na lagoa, mas se a lagoa não vem nem de prado nem de bosque, não a podes seguir para me achares… por isso, entre prado e bosque, fica Sul e Norte! – disse Erik, e já Khelly escrevia esta última parte.


NUM FARDO DE PALHA DORME UMA ROSA NEGRA
CAP. IV
No dia seguinte Khelly fazia as coisas praticamente a dormir; não podia sentar-se, senão, adormecia. Esteve o dia inteiro sem saber de Erik.
À noitinha, deitou-se entre a palha, a única cama de que dispunha. Tapou-se com o capotão do cavalo, que de momento não precisava dele. Adormeceu.

Pelo seu corredor secreto, Erik, ensonadíssimo, cambaleava até à saída para os estábulos. Saiu pela porta do costume e procurou por Khelly; não fazia a mínima donde ela dormia, e bem tentou perguntar aos cavalos… mas eles respondiam com um relincho. Até que Lamorak lhe apontou com o focinho um montinho de palha perto da janela, onde um corpo protegido pelo capotão do cavalo descansava.

De mansinho, Erik dirigiu-se ao local indicado e sentou-se ao lado da rapariga. Não resistiu, com a mão trémula, em acariciar-lhe a face e as mãos ásperas de tantas rédeas em que pegava. «Ah, será que se soubesses o que se esconde por detrás desta máscara… nos procurávamos tanto?», pensou ele para consigo.
Encostou-se ao lado dela e fechou os olhos. Adormeceu com a sua mão na mão dela.

Na manhã seguinte, alguém o abanava delicadamente. Abriu preguiçosamente os olhos azuis-acinzentados e deparou-se com Khelly, mesmo à sua frente:
-Erik! são três da manhã, tenho de começar a trabalhar e daqui a um bocado vêm ajudar-me com os cavalos; é perigoso estares aqui!! – volveu ela, energicamente:
-Hum??... à, pois!! Adormeci!!
-Eu sei… vai, vai antes que seja tarde! – e Khelly puxou-o. Erik, lentamente, levantou-se e dirigiu-se à saída. Porém, olhou para trás e pensou; «Devias ter melhor leito para descansar…», e desapareceu nas trevas.


OLHAR NÃO CANSA
CAP.V
Muito concentrado estava Erik nas suas observações; nem reparou na Sr.ª Giry!!:
-Gostaste dela? – indagou a velha senhora:
-Sim… mexeu comigo… somos tão parecidos, e ao mesmo tempo tão diferentes! – suspirou ele, apoiando o queixo na palma da mão. Lá em baixo, Khelly puxava um cenário; tinha força, a rapariga. Erik levantou-se e virou-se para a Sr.ª Giry:
-Acha que lhe devo mostrar quem eu sou? Ela é muito bonita por fora, e parece-me bonita por dentro… o que acha?
-Acho – disse a Sr.ª Giry, com a voz de uma mãe que vai aconselhar o filho a não sair para a rua quando está a chover – que deves seguir o teu coração… – e poisou a mão no coração do Fantasma.

Khelly estava a ler um livro num dos seus raros tempos livres. Erik sentou-se a seu lado e pediu-lhe que fossem para um sítio mais escuro. Ela levantou-se e seguiu-o até ao celeiro:
-Que foi, Erik, meu amigo? – indagou ela:
-Retira-me a máscara… – murmurou Erik. Estranhando o pedido, mas obedecendo, Khelly retirou-lhe a máscara da outra metade da cara. A metade em carne viva apareceu, e os olhos brilhantes de Erik tornaram-se mortiços e baixaram-se em direcção ao chão, depois, concentraram-se na rapariga. Duas lágrimas escorreram dos olhos do Fantasma. Mas para seu espanto, Khelly não recuou e limpou-lhe as lágrimas:
-Erik, mas aonde é que te aleijaste?? Esbarraste contra uma parede?!! Vem comigo, cegueta… vou tratar-te disso! – exclamou ela, animada:
-Khelly… eu sou assim de nascença… é uma deficiência minha, que não pode ser curada… é por isso que uso esta máscara…
-Estava a ver!! Assustaste-me, seu doido!!
-Não… não te mete impressão?!
-Não, Erik… é a beleza interior que importa, não a exterior… e também eu já estive com a cara não muito bonita!! mas eu posso tentar ajudar-te, pelo menos, ver se ganhas pele aí… hoje à noite vem comigo ao cemitério. – pediu Khelly, examinando-o.
O coração de Erik rejubilava de alegria; Khelly gostava dele tal como ele era… oh, sim; ela era especial, não era aquela galinha encharcada da Christine, pobre e mal agradecida.

Antes de se voltar a enfiar dentro das pareces, Erik virou-se para Khelly e murmurou:
-Obrigado… – e sumiu. No seu cantinho, também Khelly começava a sentir um fraquinho pelo temível Fantasma da Ópera…


CARDOS, URTIGAS, E… UM VISITANTE!!
CAP. VI
Era já noitinha quando chegaram ao cemitério. Erik não compreendia como é que uma ida ao cemitério o poderia ajudar, mas estava bastante feliz por duas coisas; a companhia de Khelly e o facto de ter surripiado o seu salário do bolso do Sr. Richard.
Vagueavam pelas sepulturas à procura de cardos e urtigas. Erik reparava que Khelly tremia:
-Frio? – perguntou ele. A rapariga voltou a cabeça para um lado, mas mudou de direcção senão não o conseguia ver:
-Um bocado… pensei que as noites francesas não fossem tão frias como as da minha pátria… bolas! vento frio como a neve!! – e começou a saltitar enquanto o vento soprava. Erik riu-se; os dentes dela batiam como castanholas. O Fantasma abriu a capa e pôs Khelly junto a si; ela era elegante e cabiam os dois perfeitamente:
-Obrigada… – murmurou ela. Quando já tinham as ervas suficientes, acenderam uma fogueira:
-Agora vamos acampar, ou vamos assar o jantar? – indagou Erik, apontando as ervas daninhas. Khelly sorriu e tirou de dentro do alforge de Lamorak um caldeirãozinho:
-A minha tetratetratetratetratetra – avó era Sacerdotisa, isto nos tempos Célticos. Este caldeirão está na parte feminina da família desde a era medieval. Nesta era não foi usado, porque senão ia-se parar à fogueira! – informou ela, juntando água e as ervas ao caldeirão ao lume:
-Vais fazer bruxaria? – perguntou Erik. Tinham as caras tão próximas… o esforço que ele fazia para não a beijar!
-É um bálsamo antigo; presumo que tenhas uma espécie de peste negra aldrabada e…
-Belo diagnóstico!!
-Melhor o do médico charlatão do que o do paciente aldrabão! – e puxou do bloquinho e escreveu - … bom, este é um bálsamo que ajuda a pele a cicatrizar. Talvez ajude… não tenho nada contra a tua cara, a questão não é essa!! Não quero é que te doa… – acrescentou ela, murmurando. Erik acariciou-lhe o braço.

De súbito, uns arbustos mexeram-se e a cabeçorra de Lamorak virou-se para o local de onde provinham os ruídos:
-Não… eu vou lá, Khelly! – disse o Fantasma, levantando-se e sacando da espada. Desapareceu atrás de uns arbustos… ouviu-se um «AU!!», e depois Erik surgiu outra vez, de rosto afogueado e puxando o Persa pela orelha. O ombro do Fantasma tinha um arranhão:
-Esta erva daninha também serve? – indagou Erik, erguendo o daroga pela orelha. Este praguejava em persa:
-Um sarraceno!! Nem pensar; só ervas frescas!! Essa já está queimada, Erik! – exclamou a rapariga, divertida com a situação.

Depois do Persa ter relatado a sua razão para os seguir, Erik concluiu:
-Resumindo; a Christine não se contenta com a sua voz, não se contenta com o repolho do visconde, não se contenta com o facto de nunca mais ver o meu focinho horrível… mas afinal ela quer o quê??!
-Talvez te queira pedir desculpa! – sugeriu o Persa. Khelly, pelo seu lado, estava caladinha e tinha o sobrolho franzido, mas não era de concentração:
-Aqui tens, Erik… bebe e espera a ver os resultados… eu vou indo. – rosnou ela, dando um frasco ao companheiro e montando Lamorak. Espicaçou o cavalo e sumiu-se nas trevas.
«Visitante indesejado!! Cão!! Repolho!! Couve!! Lombardo!! Imbecil do sarraceno!! Raios o partam; o Diabo que o leve!!», pensava Khelly, enquanto galopava…


ERA UMA VEZ UM ERIK…
CAP. VII
No dia seguinte Erik não viu Khelly, muito menos no outro. Desolado e zangado consigo próprio, voltou-se para o seu plano para destruir a cúpula feia da Ópera.

Na tarde do segundo dia de espera, Erik resolveu contar o seu problema à Sr.ª Giry. Infelizmente, quando apareceu no camarim dela, Christine também lá estava. Ia-se embora, mas a jovem viu a sua capa:
-Erik!! Anjo!! – exclamou ela, atirando-se ao pescoço do moço. Foi rudemente repelida e aqueles olhos azuis-acinzentados trespassaram-na:
-Por tua culpa não sei dela!! – vociferou Erik:
-Ela quem? – perguntaram as duas senhoras ao mesmo tempo:
-A Khelly…
-É verdade!! Eu ia dizer-te; ela foi atacada por lobos!! – exclamou, de repente, a mãe Giry:
-O QUÊ?? – berrou o Fantasma:
-Sim, Erik!! Vais ver; o cavalo dela está numa lástima!

Erik correu desvairado até aos estábulos pelo meio das paredes, com a Sr.ª Giry e Christine na peugada.
Chegou-se perto da boxe de Lamorak e olhou bem para o cavalo; uma dentada na perna, um esfolão no pescoço. Sujo de sangue e pó, ninguém quis saber dele. Ainda conservava os arreios, todos babados, devido às tentativas desesperadas que o cavalo tinha feito para comer:
-Lamorak, meu amigo; o que aconteceu? – perguntou Erik, tentando ser simpático. Lamorak virou-lhe as costas, como que a dizer «Magoaste a minha dona, por isso, não te ajudo!» – Lamorak, se me mostrares o caminho, eu vou ajudar a Khelly! – tentou Erik, desesperado. Christine abraçou-o:
-Tem calma; é só seguires as marcas de sangue! – disse ela. Erik sorriu, como se inspirado pelo Espírito Santo e abraçou-a… no mesmo momento em que, a escorrer sangue e suor, totalmente despenteada e à beira de um ataque por falta de ar devido à correria… Khelly aparece nos estábulos, mesmo em frente às três pessoas que ali se encontravam!!
Erik largou imediatamente Christine, que caiu no chão e dirigiu-se, quase a correr, para Khelly, que lhe deu duas lambadas que ecoaram. Os cavalos sobressaltaram-se e viraram as suas atenções para aquele súbito pandemónio:
-Fui atacada ao amanhecer, disse ao Lamorak para fugir e fiquei entregue à minha sorte!! Estava à minha volta uma matilha de dez lobos do tamanho de póneis, esfomeados, que só não me mataram porque trepei a uma árvore!! Deste ontem à noite andei a balançar-me de árvore em árvore, feita uma macaca, quando comecei a correr campo fora!! Corri desde a meia-noite até agora, sem parar, a subir e descer colinas, com aquela corja de bestas diabólicas atrás de mim!! Chego aqui, a contar com descanso, vejo os comedores e os bebedouros vazios, e, claro, Sir Erik a massacrar o meu pobre cavalo e a abraçar a dita «galinha encharcada, pobre e mal agradecida»!! Ah, grande cão; a minha mãe bem me disse que nos homens não se devia confiar, muito menos nos CONTINENTAIS!!! PORQUE RAIO NÃO FIQUEI NA MINHA BEM–AMADA ILHA!!! – e passou pelo assustado Erik, entrando no celeiro e saindo de lá com a comida dos cavalos, que rejubilaram de alegria.

A Sr.ª Giry e Christine resolveram sair dali e deixar Erik e Khelly a sós. Ainda a esfregar a cara dorida, o Fantasma da Ópera chegou-se ao pé de Khelly e perguntou:
-O que é que se passa contigo?
-O que se passa, Erik, é que estou cansada, farta, só quero descansar… mas como podes reparar, ninguém se preocupou comigo!!
-Khelly, quando entraste, eu estava a pedir ao Lamorak que me ajudasse a procurar-te… a Christine disse-me para eu seguir as marcas de sangue do teu cavalo, de certeza que chegava lá!! E eu fiquei feliz… ia poder ajudar-te… mas tens razão, não passo de um cão rafeiro… – e um cristal escorreu-lhe pela metade de cara com uma mão vermelha. Khelly poisou a comida e abraçou Erik, que a tomou nos braços trémulos:
-Desculpa… fiquei nervosa… eu irrito-me facilmente, Erik… – depois reparou no arranhão do ombro dele – Bem… ajuda-me a tratar deles e eu já te trato esse arranhão. - dito e feito; Erik deu-lhe uma ajuda com os corcéis e Khelly tratou-o.

Mas a pobre moça de estrebaria estava tão cansada que acabou por adormecer. O Fantasma da Ópera pegou-a ao colo e, pelo meio das paredes, levou-a até à sua casinha e tentou desesperadamente cuidar dela.
Khelly reacordou e olhou para si; parecia uma múmia mal embalsamada:
-Erik… – murmurou ela. Olhou em volta; estava numa cama num quarto espaçoso, com um armário, muitas velas e uma mesinha de cabeceira negra. Numa jarrinha em cima desta, uma rosa – Onde estás, Erik? Tenho de falar contigo!
-Era uma vez… – começou uma voz doce, que fez Khelly voltar a sentar-se – um Fantasma da Ópera chamado Erik. Um dia, ele conheceu uma moça de estrebaria irlandesa, chamada Khelly, e apaixonou-se. Tornaram-se amigos, até ao dia em que a Khelly chegou, acabada de fugir de um ataque de lobos, e viu o imbecil do Erik abraçado a uma galinha encharcada, pobre e mal agradecida chamada Christine… A Khelly zangou-se, e deu um estalo bem merecido ao parvo do Erik… e o Erik espera poder redimir-se… Continua… – e o Fantasma fechou um livro com um estrondo:
-Como é que acaba a história? – perguntou Khelly, levantando-se:
-Isso dependa da resposta da Khelly…
-Erik; tu és um doce, apesar de teres morto o Buquet (sim, eu sei que foste tu!), mas tens o coração do tamanho de uma montanha… E não é a Khelly que tem de perdoar o Erik; é o Erik que tem de perdoar a Khelly… desculpas-me?
-Eu amo-te… é claro que sim!! – abraçaram-se, as bocas quase a tocar-se… quando uma cauda de cavalo se mete no meio deles – Fjord… - murmurou o Fantasma.



A CÚPULA EXPLODIU!! ACUDAM, QUE FOI O FANTASMA!!
CAP. VIII
As coisas ficaram resolvidas entre Erik e Khelly, mas, para desgosto do Fantasma, não a tinha beijado naquele tão belo momento… e ainda não sabia como havia de explodir a cúpula!!

Entretanto, chegara a Primavera, com aqueles bichinhos coloridos adoráveis e florzinhas cuti-cutis. Tudo isso fascinaria qualquer rapariga que se sabia já comprometida, mas Khelly, desde o nascimento do potrinho da Bonita, não tinha tempo para pensar em grandes romances. Falava com Erik sobre os assuntos mais naturais do mundo; cavalos, lutas de espadas, contava-lhe lendas da sua terra, etc.… Erik também não se queixava da sua sorte com Khelly; podia vê-la quando quisesse, falar-lhe quando quisesse, e de noite divertiam-se com jogos infantis…
Uma noite, Erik resolveu perguntar à rapariga como é que ele havia de explodir a cúpula:
-Mas porque é que a vais explodir, Erik? – indagou ela, surpresa:
-É feia, não dá jeito nenhum, e da colina não se vêem os estábulos… - ripostou ele:
-E quando é que a queres explodir?
-Gostava de a explodir… ora; na Ópera A Flauta Mágica não há cavalos, pois não?
-Negativo!
-Então, fazemos assim; amanhã à noite leva-los lá para fora, e mantêm-nos a uma distância de… ora… um quilómetro do estábulo…
-Já sabes o que vais fazer?
-Exacto… bem, boa-noite… e não te esqueças; acho que amanhã não nos vemos!
Realmente, Erik não se enganara; durante o dia todo eles não se viram.

Então, à hora marcada, Khelly levou todos os cavalos para um sítio seguro, um pouco mais longe do que as indicações dadas por Erik.
Impaciente, Khelly olhava nervosamente para o tecto da Ópera. Finalmente, «BUM!»; uma chama negra e vermelha comeu a cúpula e vários estilhaços voaram, acertando em carros e árvores, que pegaram fogo. Os cavalos dos coches assustaram-se e correram desvairados para longe da Ópera, enquanto os cavalos da dita cuja tentavam fazer o mesmo.
Mas a festa durou pouco, pois os bombeiros chegaram depressa ao local e extinguiram o fogo.

Levava Khelly os cavalos de volta, quando os Srs, Directores vêm ter com ela, fulos:
-Mas onde raio estava com os cavalos? – indagou o Sr. Richard:
-Sir, eu ouvi aquele barulho enorme e apressei-me a tirar-me dali com os cavalos!! Que foi aquilo? Mais alguma trompa?
-Pelo contrário; a cúpula da Ópera explodiu!! Foi certamente o Fantasma!!!
-Como é que pode ter tanta certeza??!
-Quem mais nesta Ópera é um assassino desmiolado, sedento de sangue?
-Mas com que provas é que o acusa? – para esta o Sr. Richard ficou sem palavras…


ONDE FOI O FANTASMA? APANHOU A CAMIONETA?
CAP. IX
Durante dois dias, Khelly não viu Erik. Em vão o chamou, e em vão chamou também Fjord. Preocupada, resolveu ir a casa do Fantasma procurá-lo…

Galopou em Lamorak entre prado e bosque e desceu até ao riozinho. Aproximou-se do portão e chamou por Erik. Respondeu-lhe o relincho agudo de Fjord. Khelly começou a puxar pela cabeça para poder entrar. Pegou num arame que estava caído na margem e abriu a fechadura. Lamorak seguiu-a túnel adentro, tendo Khelly o cuidado de fechar a porta.
Lá dentro, olhou em volta, procurou por todos os lados, mas nada de Erik. Subiu por um túnel, sem saber aonde poderia ir parar, quando se deparou com uma entrada cuja porta estava queimada; tinha ido parar à cúpula…

Passou para o telhado, agora em céu aberto e começou a procurar debaixo dos escombros; ainda ninguém ali tinha ido. Por fim, avistou umas tábuas a mexerem-se e foi investigar; encontrou Erik, todo arranhado e chamuscado:
-‘tão pá?!! Armaste-te em cozinhado? – indagou Khelly, tentando controlar o seu horror. Ajudou Erik a sair dali, e dentro em pouco estavam na casinha deste.
Khelly estava ávida por explicações, e estas não tardaram a vir:
-Quando fui lá acima, consegui sair antes daquilo explodir… mas o fumo enfiou-se dentro dos túneis e eu tive de sair para o meio do incêndio e tentar escapar pelas gárgulas… depois chegaram os bombeiros, e eu enfiei-me outra vez no túnel… quase morri sufocado, e quando os paspalhos dos bombeiros se foram embora atirei-me lá para fora. Veio um ventinho, e tudo o que tinha sobrado da cúpula caiu-me em cima da cabeça… E depois, tu encontraste-me! – acrescentou Erik, inocentemente. Khelly olhou para ele com aquele olhar que as mães às vezes fazem quando descobrem que afinal fomos nós que partimos a jarra, e não o cão. Depois abraçou-o:
-Tu nunca mais faças isto, ok?
-Isso é praticamente impossível… ainda me devem o salário destes últimos dois meses, e eu queria armadilhar as cadeiras!!
-Erik, nós temos de ter uma conversa séria; continuas assim, a correr dum lado para o outro, a fazer metralhices e a arriscar a pele, às vezes desapareces… eu fico preocupada!! Tu não paras sentado; parece que tens bicho carpinteiro!!
-E isso é porque eu ainda não consegui meter um sapo dentro da peruca da Carlotta!!
-Ok, eu desisto! – e Khelly virou-lhe costas:
-Mas desistes do quê??!! Achas que era melhor se eu lhe pusesse um sapo na comida? – mas não obteve resposta, até reparar que estava só com o cavalo – Eu não a entendo… tu entendes, Fjord?

Devido aos seus ferimentos, entre os quais um braço partido, o Fantasma da Ópera resolveu não entrar em acção durante uns dois meses, entre os quais também não conseguiu falar com Khelly.
Farto de não ter ninguém para conversar, foi procurar o Persa, e expôs-lhe os seus problemas todos:
-Não sei aonde irei meter o sapo; não sei quando é que o meu braço está bom; não sei porque é que o Fjord está sempre a tentar abocanhar-me… e não sei porque é que a Khelly está danada comigo!
-É só?
-Muita piada, deveras!
-Quanto ao sapo, mete-o na peruca da Carlotta, quanto ao braço, vai ao médico (sim, e não faças trombas!), quanto ao Fjord, experimenta dar-lhe alguma atenção, e quanto à tua amada (poisa o castiçal!) … bem, talvez se a convidares para uma volta a cavalo, ela se sinta menos excluída!
-Será?!
-Claro; vai falar-lhe, convida-a a sair e resolve as questões!
-Já não nos vemos à meses… ela deve pensar que eu já morri…
-Não a queres perder pois não? (deixa a espada onde ela está!) Então, vai!!

Passados uns minutos, Erik entrava sorrateiramente nos estábulos. E lá estava ela; mais bonita do que ele se lembrava. Não conseguiu evitar um sorriso e caminhou tranquilo para ela:
-Olá! – saudou ele. Khelly sobressaltou-se e arregalou os olhos quando o viu:
-Erik?? Andavam a dizer que tinhas morrido!! Por S. Jorge, tu deixas-me sempre à rasca!
-Tens a noite livre? – e abraçou-a; que saudade daquele cabelo liso!:
-Tenho sim, porquê?
-Queres vir dar uma volta?
-A que horas?


SITUAÇÃO RESOLVIDA (estava a ver que não!)
CAP. X
Aquela noite de Verão estava quente, e o único sítio onde se estava bem era no prado, deitado na relva húmida a observar as estrelas; era exactamente isso que Erik e Khelly faziam:
-Pensei que nunca mais nos íamos ver! – exclamou Erik – Naquele dia… porque é que ficaste assim?
-Erik; nós somos amigos, e eu estava preocupada, tinha medo que te tivesse acontecido alguma coisa… fiquei zangada porque tu não ias ficar em repouso, e possivelmente ias aparecer morto; tens a polícia, a segurança da Ópera e praticamente toda a gente de França à tua procura… Tens a cabeça a 40 mil francos!!
-Ena pá; sou valioso!!
-Oh Erik… não gozes!
-Falando de assuntos sérios; tens namorado?
-Não, não tenho!
-Correcção; não tinhas!
-Hum? – parou para pensar, e depois exclamou – Erik!! Devias perguntar!
-Bah; as mulheres levam tempo a decidir… eu decido por ti, ok?!!
-Tu mandas!! Então, sendo assim; não Erik, eu já tenho namorado!
-E quem é?
-É um moço chato, que não para quieto, que assombra a Ópera de Paris e que se chama Erik! Questão resolvida!
-Não, não está!! Ainda falta uma coisa, Khelly! – volveu o Fantasma, abraçando-a:
-E o que é, Erik? – pensou um pouco, e depois riu-se – Não à dúvida de que és a pessoa mais atrevida que eu já conheci!!
-Então porquê?
-És um autêntico Ghile Mear… mas tens o desaforo de um escocês…
-O que é um Ghile Mear?
-São os gentleman’s irlandeses, mas traduzido à letra significa… – mas Khelly não acabou, pois o Fantasma acabava de a beijar:
-É o que eu digo; as mulheres são demasiado lentas nestas decisões!!







FIM

Espero que tenham gostado!!




 
Ainda não li, mas tenho de dizer aqui que és uma grande admiradora da obra! :mrgreen:

Quero ler primeiro o livro e depois pego nisso aqui. :)
 

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