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Festival Internacional de Brasília

Sister Jack

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Festival Internacional de Brasília Parte 7

Esse tópico é sobre o Festival Internacional de Brasília. Aqui nós vamos falar do Festival Internacional de Brasília. Você está visitando o Festival Internacional de Brasília como eu? Comente aqui sobre o Festival Internacional de Brasília (Balbo, Auros, acordem).



Eu to escrevendo isso aqui de um laptop domingo de manhã que tem o pior teclado de todos os tempos incluindo a era mesosóica e as outras eras. Pq eles não fazem teclados menos podres na minha opinião deve ser pq quem fabrica essas merdas são os pobres chineses onde as empresas colocam filiais e se tem alguém que não devia estar fazendo teclados são os chineses.



SANJURO (75) – Então o primeiro filme que eu vi foi “Toshiro Mifune é Sanjuro de Akira Kurosawa” e omg esse foi inesperadamente (mas também esperadamente) foda. Eu vi esse uma vez em DVD na época que eu era burro e tinha achado mais ou menos mas agora eu vi na tela grande e deu pra perceber as nuances tipo o fato de que esse filme foi dirigido por Deus. Sério, mesmo se eu não estivesse acompanhando a historia, só olhar pro filme é orgasmico: as composições são perfeitas, usando primeiro plano e background de forma fantástica, linhas anguladas e opostas em reverse-shots (quando Sanjuro e a velha conversam, suas cabeças deitadas em direções diferentes,etc), armações trianguladas de personagens na tela, etc. Outra: o Kurosawa introduz graciosamente as idéias de pacifismo na mente do Sanjuro -- a velha sábia, o ataque sendo indicado por camélias descendo o rio, o remorso depois das mortes, etc. E também há a questão de confiança, o grupo sendo dividido entre os que confiam no Sanjuro (um forasteiro agressivo, astuto, etc) e os que não confiam. Disciplina acima de barbarismo, pacifismo acima de violência, cenas de ação eletrizantes, trilha grandiosa, final melancólico – com um dos melhores duelos que eu já vi, onde o momento de silêncio pré-golpe é segurado por um período de tempo obsceno. Etc. O que mais vc precisa?



COMO ERA GOSTOSO O MEU FRANCES (52)Whoa, esse foi bizarro. Então esse rapaz Nelson Pereira dos Santos é um tipo Herzog-mais-Godard. Herzog porque: a aparente fascinação por natureza, índios, ritualismo, e a sensação de naturalismo, de que a maior parte do filme foi improvisada. Godard porque: a câmera tremida na mão, o uso de cores fortes – o verde e amarelo da natureza em contraste com o vermelho da pele dos índios --, o uso de textos informando a historia tematicamente, as ocasionais loucuras (toda vez que um português fala, ele diz a receita de como preparar ele pra ser comido [sim, é hilário]). O filme começa bem, com uma abertura estilo-“Soberba”, com narração de uma carta francesa explicando sobre a situação deles, dos índios e dos portugueses no Brasil, e acompanhada de uma avalanche de imagens indicando o que é lido, tão rápido que dá vontade de voltar a fita pra ver de novo. Depois, a historia fica vaga e meio que se perde, com a ocasional cena interessante. Mensagem para organizadores do Brasília Fest: Obrigado pelas legendas em espanhol, obrigado por não me perguntar se eu sei ler em espanhol, obrigado.



CLEAN (58)Meu primeiro encontro com o senhor Olivier Assayas foi até bem decente. O filme é uma “carta de amor a Maggie Cheung”, diz o senhor Assayas, e é exatamente isso que o filme se parece: uma desculpa pra poder mostrar a maravilhosa Maggie em todo tipo de emoção possível. Feliz, triste, deprimida, raivosa, emocionada, desolada, determinada, cantando, fumando, dançando, etc. A narrativa é bem magrinha e tediosa, mas dá pra se empolgar com a direção, a câmera do Olivier na mão, explorando sempre o aspecto mais interessante da imagem, favorecendo movimentos bruscos à cortes, o foco mudando com destreza, de pouca profundidade, transformando os fundos da cidade em manchas coloridas. Alguns planos são lindos: os da cidade, nos créditos; o rosto da Maggie em extreme close-up na escuridão, injetando heroína; um plano seguindo Maggie através de corredores, escadas, portas, sem corte (eu amo isso). O Nick Nolte está velho e se tornou num doce velho com uma performance sensível, a história empolga quando a Maggie se reúne ao filho (num momento emocionante), etc. Agora, a utilização de músicas do Brian Eno foi bem fraca. Wazzup, Olivier? Descobriu que “By this River” fede? Descobriu que “An Ending (Ascent)” já é clichê? Obrigado.



2046 (N/A)Não posso dar nota pra isso em boa consciência, já que eu fiquei cochilando e acordando por uns 30 minutos desse filme (principalmente no meio), e estava cansado demais pra me conectar com o resto (4 sessões em um dia, ouch). Mas mesmo assim, mesmo assistindo em boas condições, eu duvido que eu vá realmente gostar desse, especialmente se usar “Amor a Flor da Pele” como ponto de referênca. Wazzup, Wong? Esqueceu do romantismo transcendental do primeiro? Do vigor, frescor, fluidez, etc? Cadê os movimentos soltos, a trama espontânea, o senso de humor, etc? Você esqueceu que a câmera-lenta que presta não é a com frame-rate baixa, que fica tremendo (uma merda), mas sim aquela macia e fluida que vc usou no original? Esqueceu? Ta precisando comer umas cenouras na minha opinião (são as cenouras que fazem bem pra memória?). E dá pra notar que demorou 5 anos pra fazer esse. Eu tenho certeza que o Wong não fazia a menor idéia de como seria o filme quando começou, e a narrativa parece indecisa, costurada, vaga, tudo “amarrado” com um voice-over de ultima hora. E grande parte do filme é filmado com close-ups médios e rígidos de dois personagens conversando em shot-reverse shot. Isso não é interessante nem excitante, por mais que faca sentido tematicamente (o Tempo parado, composição opressiva bloqueando metade da tela, a sensação de estar congelado no tempo, preso num amor passado de que você não quer esquecer, etc). Com isso tudo dito, Zhang Ziyi é muito gata, Gong Li é muito gata, a garota de cabelo roxo é muito gata, e Faye Wong é um hyper psicodelicamente gata. A cena em que a andróide espera angustiada no trem ao lado da janela por 1 hora e depois 10 horas e depois 1000 horas me deixou emocionado e martelou perfeitamente o tema (e mostra que o Wong ainda sabe ser criativo). O Aurus achou “fodérrimo”, o Balbo disse que foi o filme “mais estranho” que ele já viu, eu daria uns 50 e poucos em boas condições (vou ver de novo quando chegar na locadora). Só deus sabe que tipo de efeito isso vai ter num espectador. Imprevisível.





Daqui há algumas horas tem RASHOMON, TROUBLE EVERY DAY (um filme de Claire Denis sobre canibais/vampiros/whatever) e PALINDROMES (Sollondz falando de aborto, deus salve as nossas almas).





(Várias horas se passam; Ei, Wong, o tempo passa sim! Isso significa que eu não estou num status de stasis emocional? Obrigado)





Ok, então quer dizer que a sessão de Palindromes tava lotada quando eu fui comprar ingresso (pq essas pessoas querem ver Palindromes. Desde quando o Sollondz é o novo Michael Bay. Será que todo mundo em Brasília é pervertido. Ou só o Balbo. Etc) então eu tive que me contar com os dois primeiros que não foram nada mal na minha opinião.



RASHOMON (76) – Quarta assistida, caiu de 81. O que isso significa? Será que é porque os retardados organizadores do festival deixaram o volume baixo? Ou será que é porque eu já vi esse filme umas 3 vezes antes, portanto já sabendo maior parte do que acontece, portanto perdendo o impacto? Ambos na minha opinião. Filme qua filme, ele ainda se mantém firme, mas agora toda a temática tá tão descarada. Sim, A Verdade é Irreconhecível, a Memória é Traiçoeira, as pessoas tendem a Mentir por Auto-Piedade/Congratulação. Sim, eu já vi isso tudo antes (ironicamente, provavelmente foi em Rashomon). Notícia velha. Embora a discórdia Moral ali no finalzinho me pegou desprevenido (um cara roubando as roupas que cobrem o bebê perdido e o outro ofendendo ele, aí o cara diz que o outro também é imoral também por ter roubado uma adaga valiosa) e a final mensagem de que ainda há esperanças no espírito humano (Shimura aceitando o bebê perdido como seu sétimo filho) ainda é emocionante, por mais exageradamente sentimental que seja. Outro problema que eu tive com o filme foi basicamente isso: o Toshiro e a mina foram ligeiramente teatrais/over-the-top demais, ao ponto de ser irritante em momentos. Anyway, as pepitas de ouro do Kurosawa ainda estão lá: a montagem de caminhada do Shimura quando descobre o corpo, misturando um pré-steadicam, tomadas do sol entre os galhos, dollies laterais e todo tipo de merda, é fantástica; os duelos ainda são excitantes (embora ligeiramente desengonçados); o cenário do centro da trama – uma casa metade quebrada, metade inteira, lavada pela chuva – é absolutamente perfeito.



TROUBLE EVERY DAY (77)Finalmente! Uma surpresa boa! Etc. Oh My Holy God esse filme é foda. A coisa aqui é chique. Já vou dizendo: melhor filme de vampiros de todos os tempos (e eu nem gosto de vampiros). O filme é superficial e profundo ao mesmo tempo. Superficial porque não há uma base emocional forte correndo por ele e nem nenhum material intelectual e etc. E Profundo porque o que há na superfície – o subtexto igualando o vampirismo com desejo sexual – é o suficiente pra gerar algumas fortes e inteligentes Afirmações. O filme mostra dois casais; em cada um, um dos membros é afetado por essa “doença”. Em um, é o homem, e no outro, a mulher. O homem reprime seu vampirismo (seu desejo de “comer” outros corpos, aka Amantes) pelo bem de sua esposa, para proteger seu casamento. A mulher vampira é constantemente presa e trancada pelo seu marido (ciente da doença dela) no quarto dela, pra evitar que ela saia numa caçada louca por mais vítimas (aka Amantes). As duas histórias paralelas demonstram um esforço consciente para manter Monogamia, e isso leva basicamente a afirmação da idéia de que, pra manter um relacionamento amoroso e forte, você precisa reprimir todos os seus instintos e desejos animais (o mesmo tema de “Mal dos Trópicos”). Esse Tema, um dos meus favoritos, já fornece todo o suplemento emocional/intelectual que o filme “aparentemente falta”. E olha que isso nem é o melhor de tudo. Não, o melhor são os visuais lindos, textura cremosa, cores saturadas, contrastes fortes (preto e amarelo; vermelho e branco), câmera tremida deliciosa e delicada, uma atmosfera de tensão e instabilidade, sugerindo tanto o macabro quanto o erótico, Beatrice Dalle como uma vampira psicótica, etc. Eu repito: do que mais vc precisa? Ok, com um humor negro forte, esse filme viraria uma obra-prima total, mas tá bom demais assim (sério), para de reclamar, seu filho da puta, etc.





Eu provavelmente vou voltar pra Brasília sábado que vem. Caso isso aconteça, eu provavelmente vou ver mais filmes. Caso isso aconteça, eu provavelmente vou falar mais merda. Caso isso aconteça, etc.
 
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Folco disse:
mas dá pra se empolgar com a direção, a câmera do Olivier na mão, explorando sempre o aspecto mais interessante da imagem, favorecendo movimentos bruscos à cortes, o foco mudando com destreza, de pouca profundidade, transformando os fundos da cidade em manchas coloridas.

É provável que a movimentação de câmera do Assayas seja a melhor coisa em "Clean" mesmo, bem inovadora e inédita no cenário atual (acho); sensação de violência e de estranheza, ainda mais com o que você falou, usando a cidade para explorar essa violência e tal. Ou quando 'sufoca' a Maggie Cheung e 'passeia' pelo corpo: do rosto, pro braço, pra mão, pra chave, aí muda o foco, etc.
 
Eu vi O Buraco, que tem um clima bem pós-apocalíptico, com as ruas vazias, as chuvas constantes e as notícias do vírus. Aliás, esse vírus e o que ele causa parece ser uma metáfora para as atitudes dos dois personagens principais, que agem de forma análoga a uma barata, que sempre procura um local confortável e longe da luz - o isolamento, o medo de mudar e perder o que você tem (ir para onde tem luz e sofrer) a repulsa à comunicação mesmo quando há oportunidade (como o buraco), etc. E ainda há as músicas, que surpreendentemente se encaixam muito bem ao resto do filme.

Eu também vi O Rio e Vidas Secas, mas estou com preguiça de comentar agora.
 
Até agora eu assisti 4 filmes.


Os 7 Samurais: simplesmente incrível. Eu já tinha assistido antes, mas dessa vez foi mil vezes melhor, apesar dos problemas de projeção (o DVD travou no meio do filme, e mais tarde ainda tive que ficar vendo o menu do DVD enquanto colocavam o disco 2).

O melhor desse filme é o realismo e a forma como ele não lida só com um lado das coisas. Em vez da relação superficial onde os heróis ajudam as pobres vítimas indefesas, os samurais são mais movidos por razões pessoais do que pela necessidade de ajuda dos camponeses, e estes não são apenas pobres vítimas, são também pessoas mesquinhas, covardes, ingratas, tolas. Isso tudo é tratado de forma simplesmente brilhante. Outra coisa muito interessante é que os samurais formam um contraponto de "alegria e tristeza" com os camponeses.

Clean: Maggie Cheung faz uma personagem chata, tapada, drogada, sem rumo na vida, e o filme é sobre algumas de suas burradas, além de mostrar a forma problemática com que ela se relaciona com sua família. Isso tende a ser irritante, e eu tive uma sensação de desconforto e insegurança durante todo o filme. Também achei ele esquisito, o que me fez questionar se eu sei apreciar um filme (afinal filmes em festivais são pra quem tem gosto mais refinado).

2046: esse filme foi mais como uma "bad trip". Tinha um clima extremamente futurista, desesperadamente solitário e fora de controle, o que me causou ainda mais desconforto (eu tinha acabado de ver Clean). Ao mesmo tempo em que a história acontecia na década de 60, o tempo todo se falava em 2046, 2047, mudava de mulher, e eu ficava ainda mais perdido quando as legendas em português sumiam e ficavam só as em italiano. No final, acho que não entendi bulhufas, apesar de ter achado algumas coisas bem interessantes. Ziyi Zhang detona, e tinha tantas outras japonesas (chinesas) que eu aposto que o Folco foi correndo se masturbar quando chegou em casa.

Depois disso eu me senti um verdadeiro condicionado hollywoodiano, porque eu gostei menos ainda de um filme que fugia mais ainda ao que eu estava acostumado a ver. Espero que tenha sido só o meu "humor" no dia que atrapalhou a impressão que eu tive dos filmes.

Rashomon: não tenho muita coisa pra falar sobre esse filme ainda. Preciso ver de novo. Basicamente o Kurosawa analisa o homem sob certos aspectos de forma brilhante (como ele faz em todos os outros filmes que eu vi).



E ainda hoje vou ver Dersu Uzala.


P.s.: Folco, se você vier sábado me lembra de pagar os seus 3 reais.
 
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