• Caro Visitante, por que não gastar alguns segundos e criar uma Conta no Fórum Valinor? Desta forma, além de não ver este aviso novamente, poderá participar de nossa comunidade, inserir suas opiniões e sugestões, fazendo parte deste que é um maiores Fóruns de Discussão do Brasil! Aproveite e cadastre-se já!

Ferreira Gullar

Fernando Giacon

[[[ ÚLTIMO CAPÍTULO ]]]
FERREIRA GULLAR
GE074.157.A.jpg

Resuminho rápido:
Eu não sei quanto a vocês, mas sou fã desse poeta tão cotidiano; e grande maranhense chamado José Ribamar Ferreira! Poeta e critico da arte brasileira. Ganhou vários prêmios, um deles em 2007 como o Nobel de Literatura. Suas crônicas, ensaios, contos e poesias pegam muito do cotidiano, enriquecendo a poesia de uma tal maneira, que sua arte aflora campos à fora. Uma de suas obras que mais me admira é "Dentro da Noite Veloz" onde reune poemas escritos no exílio, e suas experiências no período de ditadura.

A poesia que eu mais gosto dele...
Cantiga para não morrer

Quando você se for embora,
moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.
 
Tinha me esquecido de um poema cotidiano dele:

Não há Vagas

O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

- porque o poema, senhores,
está fechado:
"não há vagas"

Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira


LEGAL NÃO?:uhu:
 
Certa vez declamei uma poesia dele na escola: O Açucar.... E depois a professora fez uma prova onde a interpretação do texto era dessa mesma poesia... me dei bem!!!!
Mas o cara é fera mesmo....
 
É mesmo? uHUha..essa poesia costuma entrar em muitos lugares mesmo...por causa da temática dela...com certeza, o cara além de tudo tem um programa se já viu? Não me lembro o canal...é no canal a cabo...ele manja mto bem com as palavras...se precisa de ver as coisas q ele fala...=DD
 
Gosto bastaante de 'Cantiga para não morrer'! Um dos melhores que
eu li dele, mesmo que não tenha lido muita coisa. Infelizmente não
tive contato com nenhum livro dele, li vários poemas que encontrei
na internet. A Folha vai lançar o livro "Poema Sujo", mas como é o
último, vai demorar pra caramba :/
http://escritores.folha.com.br/ferreira_gullar-biografia.html
 
Eu também adoro a Cantiga para não morrer. Putz, pode crer! O poema sujo é muito famoso. Se a folha fizer isso mesmo, eu vou querer, pois os melhores livros dele, são meios que raros de encontrar. Exceto claro, por essas atualizações de jornais e livros.
 
Pra falar a verdade só fui conhecer o Ferreira Gullar, via Zeca Baleiro.

Mas depois que li alguns poemas do Ferreira gostei muito e procurei ler mais, Cantiga pra Não Morrer também é um dos meus preferidos, tem um livro do Ferreira Gullar na biblioteca da minha escola, vou pega-lo logo, logo... :g:
 
Rogério disse:
Pra falar a verdade só fui conhecer o Ferreira Gullar, via Zeca Baleiro.

Mas depois que li alguns poemas do Ferreira gostei muito e procurei ler mais, Cantiga pra Não Morrer também é um dos meus preferidos, tem um livro do Ferreira Gullar na biblioteca da minha escola, vou pega-lo logo, logo... :g:

Opa demoro, pega lá, tenho certeza de que você não vai se decepcionar! O cara manda muito bem nas palavras, e nas coisas que diz, numa forma bem diferente!
 
A minha preferida dele. :)

O ron-ron do gatinho

O gato é uma maquininha
que a natureza inventou;
tem pêlo, bigode, unhas
e dentro tem um motor.

Mas um motor diferente
desses que tem nos bonecos
porque o motor do gato
não é um motor elétrico.

É um motor afetivo
que bate em seu coração
por isso faz ron-ron
para mostrar gratidão.

No passado se dizia
que esse ron-ron tão doce
era causa de alegria
pra quem sofria de tosse.

Tudo bobagem, despeito,
calúnias contra o bichinho:
esse ron-ron em seu peito
não é doença - é carinho.

Ferreira Gullar
Poema do livro
"Um Gato Chamado Gatinho"
 
Nossa Clara, não conhecia essa poesia dele. Que coisa mais, hmm... vai soar gay isso, mais que FOFO :dente: UHauhHUahuha! Tu percebe como o Ferreira Gullar é?! Ele pega algo simples, comum... e transforma nessa maravilha, por isso que eu o admiro tanto.
 
Clover disse:
A minha preferida dele. :)

O ron-ron do gatinho

O gato é uma maquininha
que a natureza inventou;
tem pêlo, bigode, unhas
e dentro tem um motor.

Mas um motor diferente
desses que tem nos bonecos
porque o motor do gato
não é um motor elétrico.

É um motor afetivo
que bate em seu coração
por isso faz ron-ron
para mostrar gratidão.

No passado se dizia
que esse ron-ron tão doce
era causa de alegria
pra quem sofria de tosse.

Tudo bobagem, despeito,
calúnias contra o bichinho:
esse ron-ron em seu peito
não é doença - é carinho.

Ferreira Gullar
Poema do livro
"Um Gato Chamado Gatinho"

Eu vim aqui só pra postar esse poema :grinlove: Muito fofo, né?
 
"Cantiga para não morrer" virou música do Fagner! Soube por uma amiga que também foi ele que traduziu o "clássico" "Borbulhas de Amor" que o Fagner também canta. Alguém confirma?
 
Adoro Ferreira Gullar :grinlove:
Apesar de achar que a classificação de "maior poeta vivo" tem uma série de ressalvas, entre elas a de que a fase maior da poesia do Gullar provavelmente não será alcançada novamente (isto é, Poema Sujo, Dentro da Noite Veloz), o cara é bom. É excelente. Admiro muito ele, e, apesar de discordar de algumas de suas opiniões pessoais recentes, estas são opiniões do homem e não necessariamente do artista (e Gullar sabe bem diferenciar isso. Aliás, poucos poetas são e foram tão conscientes como ele).

Ainda estou por ler o "Alguma Parte Alguma", mas, pelo pouco que já li, o livro promete. Aliás, e por mais precipitado que isso venha a ser, acho que, dos livros que o Gullar publicou depois do Poema Sujo, este é o mais bem acabado, pois parece encarnar melhor a faceta poética que ele vem adotando: mais filosófica, mesmo que aparentemente com uma redução da parte social. É algo parecido com o que o Drummond apresentou com o Claro Enigma, com a diferença de que, como analisa o Wagner Camilo contra a opinião estabelecida, Drummond não deixou de todo sua veia social (e talvez eu esteja sendo injusto com o Gullar; é possível).

De todo modo:
http://www.curtadoc.tv/curta/index.php?id=999
Um documentário que mostra mais o homem Ferreira Gullar. Muito amor ele esquecendo de entregar o material da Editora Record, né?
 
Última edição:
Que se separe o Gullar animal político de opiniões pessoais que também ultimamente discordo, do Gullar poeta, homem da arte, da poesia e da escrita. Eu sempre separei bem as coisas e, também considero Ferreira Gullar um dos grande poetas da atualidade. Cheguei a ler toda a poesia dele reunida em um livro e todas as fases dele estavam lá,o concretismo, o cordel, o poeta popular etc. Ressalvas sempre vão exisitir quando se trata de qualquer atividade artística. Poema Sujo e Dentro da Noite Veloz ( como bem disse o Mavericco) foi o mel do melhor de Gullar. Ele ( se não estiver enganado) estava exilado na época que publicou e, talvez essa condição adversa tenha provocado o poeta a extrair o melhor da poética do momento. Abços.
 
Exato: ele estava mesmo exilado, e, em entrevistas, ele diz que o escreveu em condições muito adversas, sem saber como seria o dia de amanhã, sem saber sequer se ele viria ou se voltaria a escrever poesia algum dia. Acho que essa condição de exílio é inclusive uma força motriz fundamental para que o poeta consiga escrever obras-primas, isto é, produtos artísticos que se comuniquem com mais universalidade, visto que, quando o artista se sente exilado (seja de fato, seja psicologicamente), ele tende a criar um universo estruturado e coeso, o que, automaticamente, implica em mensagem artística mais coesa e bem acabada. Escuso-me de dar exemplos disso: qualquer poeta com uma obra minimamente aceitável pode se enquadrar perfeitamente nessa linha de raciocínio. No caso do Gullar, a opinião de Carpeaux ao dizer que o Poema Sujo deveria se chamar Poema Nacional ilustra muito bem isso.

De todo modo, um dos poemas que mais me tocam é esse:

Os Mortos.

os mortos vêem o mundo
pelos olhos dos vivos

eventualmente ouvem,
com nossos ouvidos,
certas sinfonias
algum bater de portas,
ventanias

Ausentes
de corpo e alma
misturam o seu ao nosso riso
se de fato
quando vivos
acharam a mesma graça

Para quem quiser entender a dor que esses versos exprimem, favor ver aqui.

Citando um poema do novo livro, dos garimpados até então, aqui vai um que, creio, será da preferência de muitos:

A estrela.

Gatinho, meu amigo
fazes idéia do que seja uma estrela?

Dizem que todo este nosso imenso planeta
coberto de oceanos e montanhas
é menos que um grão de poeira
se comparado a uma delas

Estrelas são explosões nucleares em cadeia
numa sucessão que dura bilhões de anos

O mesmo que a eternidade

Não obstante, Gatinho, confesso
que pouco importa
quanto dura uma estrela

Importa-me quanto duras tu,
querido amigo,
e esses teus olhos azul-safira
com que me fitas

O que acho fabuloso nesse poema é a contraposição entre universo individual e universo cósmico, à maneira do microcosmo e o macrocosmo dos antigos, que no final se reduzem à mesma equação: "Estrelas são explosões nucleares em cadeia / numa sucessão que dura bilhões de anos". Importar-se com o quanto dura um gato não é estar alheio ao que ocorre no restante do mundo, mas, antes, importar-se com o presente para, só assim, podermos nos importar com o passado e com o futuro, visto que são "O mesmo que a eternidade". (E, abrindo um intertexto com o poema anterior, viver o agora é permitir que o passado também tenha a realização de seu desejo mais profundo de continuar a existir)
 
Podemos dizer que a zona de conforto não é muito propícia para a produção de ótimos poemas ( no caso Gullar,) não quer dizer que não tenha feito outros bons na fase atual. Isso para ficarmos no campo da suposição. Uma ligação muito forte com algo poderá ser um entrave para alguns poetas ou, se a situação for extremamente adversa, mas isso funcionou como motivação ( força motriz como bem ressaltou, Mavericco) e não entrave para Gullar.

Ferreira Gullar admite antes de tudo, que a poesia é um chamamento e não aquela coisa de: hoje vou criar um poema e pronto. Um rito meio espiritual? Esse “Os Mortos” é sensacional.


Um instante

Aqui me tenho
Como não me conheço
nem me quis
sem começo
nem fim
aqui me tenho
sem mim
nada lembro
nem sei

à luz presente
sou apenas um bicho
transparente


Ferreira Gullar
 
Última edição:

Valinor 2023

Total arrecadado
R$2.434,79
Termina em:
Back
Topo