A questão toda, na verdade, parece restringir-se (como no final das contas tudo em Tolkien) ao uso da linguagem pelas diversas raças e culturas.
Não havia apenas uma linhagem de Orcs. Como Tolkien sugere em um ensaio já traduzido na página da Valinor, haviam várias, geradas por misturas entre diferentes espécies corrompidas.
Mas geralmente, a todas essas espécies os povos livres se referiam indistintamente, usando um termo genérico: Yrch, Glamhoth (horda do alarido em sindarin e raiz das palavras Glamdring e Tol-in-Gaurhoth), burárum (em entês) ou Orc (em westron traduzido para o inglês), por exemplo.
Assim, dizer que os Duendes (Goblins) de O Hobbit são Orcs não é errado. Mas a tradução da Martins Fontes ainda assim falhou, pois simplificou onde havia riqueza vocabular.
Isso porque aqueles Orcs das Montanhas Nevoentas continuam a ser chamados de Duendes (Goblins) por Tolkien na versão em inglês de O Senhor dos Anéis, e não de Orcs, como na versão traduzida da Martins Fontes.
Grishnákh e os orcs vindos com ele do norte (pequenos e atarracados, com pernas curvas e braços longos) são chamados por Tolkien de Duendes (Goblins, em westron, traduzido para o Inglês), várias vezes no capítulo Os Uruk-hai em As Duas Torres (Não adianta procurar na versão em português).
Acontece que eles eram de fato diferentes. Eles eram mais baixos que os Uruk-hai de Mordor e Isengard e menos fortes. Aragorn repara nisso ao procurar por Merry e Pippin em meio à montanha de corpos de Orcs deixada pelos Cavaleiros de Rohan. Há quatro corpos de Duendes lá. Aliás, os próprios Uruks se referiam aos Duendes das Montanhas Nevoentas por um termo pejorativo: na língua negra eles os chamavam de Snaga, que quer dizer escravo.
O termo Snaga está bem explicado no apêndice F de O Senhor dos Anéis. Era uma palavra usada pelos grandes Orcs-guerreiros de Mordor e Isengard para se referir às raças menores de Orcs, dentre as quais aquela proveniente das Montanhas Nevoentas.
Não podemos nos esquecer do valor que Tolkien dava ao uso das palavras. Elas nunca tem um sentido objetivo. Sempre dependem de quem as está usando.
Assim, se Tolkien usou o termo Goblin para se referir aos Orcs das Montanhas Nevoentas é porque Bilbo, Frodo e Sam teriam usado um termo em westron equivalente a Duende para se referir a eles, nas suas narrativas.
Os termos Orc e Goblin não são sinônimos. Os Goblins são uma espécie de Orcs (na visão dos Hobbits).
Não sei quando os tradutores da Martins Fontes cometeram o primeiro erro (Não sei se traduziram antes O Hobbit ou O Senhor dos Anéis), mas dá pra perceber que tentaram disfarçá-lo. Acho que ao invés de repetir o erro na segunda obra traduzida, deveriam ter corrigido a tradução da primeira, nas edições seguintes.