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Etiqueta marcial

-Failivrin-

Amaterasu
Percebi que no fórum só há um tópico abrangendo as várias artes marciais praticadas pelos usuários, porém, nas páginas que li (ok, eu li só algumas, mas convenhamos, eram muitas xD) há menção ao estilo, kyu, e o interesse em praticar outras artes marciais. E eu gostaria de ir além nesta discussão, falando sobre a etiqueta japonesa utilizada no tatame.

Ao menos no budô, a etiqueta praticada é imprescindível durante os treinos, o respeito pela hierarquia, a reverência prestado ao criador da arte marcial, ou aos ancestrais, além do respeito prestado entre os praticantes .

Gostaria que falassem um pouco mais a respeito dos hábitos e costumes no dojo de vocês.
 
Faz um bocado de tempo e foi breve, mas quando eu fiz Judô o professor incentivava o aluno a cultivar a disciplina e a honra e isso o transformaria em alguém mais educado e refinado (etiqueta).

Eram comportamentos e posturas que se devia assumir antes de se pensar em fazer qualquer coisa. De longe podiam parecer hábitos simples (só pareciam), mas que cresciam dentro da pessoa na forma de perseverança. Ele estimulava que os alunos buscassem estudar as palavras e conceitos japoneses usados na arte e toda vez que uma turma terminava de usar os equipamentos da sala os alunos tinham que pegar um pano e limpar o suor salgado do chão e das coisas antes de organizar o material para os próximos que chegassem.

A filosofia começava antes do tatame e prosseguia depois que a aula terminava, não ficando limitada ao momento do embate.

Havia também meditação. Muitas vezes as pessoas passam uma vida inteira para entender um único passo que as levará a compreender um pouco melhor a meditação correta que é só uma das ferramentas para se entender o papel do espírito e da força do espírito na luta. De forma que o senso de disciplina, de dever, eram importantes. E apesar do pouco tempo essas coisas simples ficaram guardadas em mim. As marcas da vida se guardam na mente e no coração.
 
Última edição:
Por não ser algo corriqueiro à maioria dos iniciantes, a perseverança é algo obrigatório, pois se o hábito não é criado a disciplina não vinga dentro do dojo.
E levar esses pequenos hábitos para a vida é algo muito bom, te torna mais responsável e de certa forma solidário.
 
Curiosamente o combate a ausência de disciplina aparecia em certos momentos. Justamente uma das tarefas diárias dos mais adiantados era fazer com que o bando de garotos inquietos, cheios de energia conseguisse disciplinar a mente a se concentrasse no estudo das lutas. (abordagem de um adversário contra o outro)

Até nos níveis intermediários a meninada se esquecia disso e dispersava em conversas paralelas ao invés de assistirem as lutas de outros. E devia ser duro fazer a gurizada colocar a energia da mente e do espírito no ritmo certo pra não se impressionar na hora errada com as conversas fora de hora. A impressão que eu tinha é que alguns lutadores apesar de serem muito bons enxergam a luta de outros como olhos de tédio, o que era um sinal de indisciplina do olho da mente.

Penso que quando um aluno não consegue evitar a algazarra dos outros ao invés de analisar as abordagens dos lutadores vem da falta de disciplina dos sentidos e da percepção e conseguem derrotar tanto o estado de espírito de um lutador quando um golpe.
 
Primeiro, uma contextualização sobre minha realidade.

O projeto "Aikido na Unesp", que consiste na prática gratuita do aikido, do qual participo, é realizado como projeto de extensão de parceria do Departamento de Educação Física da Faculdade de Ciências (campus de Bauru da Universidade Estadual Paulista, a Unesp) com o Sensei Paulo Henrique Leal (Paulinho), graduado em Licenciatura em Educação Física pela mesma Faculdade, mestre em Educação pela Universidade Federal de Sâo Carlos (UFSCar) e atualmente doutorando também em Educação e também na UFSCar. Daqui a pouco vão entender porque citei os títulos acadêmicos dele.

No âmbito da arte marcial, Paulinho Sensei (san-dan de Aikido Yoshinkan), assim como todos nós que estamos ou os que passaram pelo projeto e não mais estão treinando, somos vinculados ao Konyokan Dojo, localizado em Mogi das Cruzes (SP), pertencente ao nosso Sensei Ossamu Ikeda, roku-dan (sexto dan) da Yoshinkan (em tradução livre, "estilo duro", iniciado por Shodai Sōke Sensei Gozo Shioda, um dos mais famosos discípulos do Ōsensei Morihei Ueshiba), mais de 20 anos dedicados ao Aikido (além de 20 dedicados ao karate, do qual o Sensei acabou trazendo alguns elementos).

Bom, apesar da vinculação com o Sensei Ikeda, tanto formal quanto prática (algumas vezes ao ano são marcados treinos em Mogi, além do próprio Sensei e nossos Senpai de Mogi visitar Bauru pelo menos uma vez por ano), é óbvio que os "caminhos" foram desenvolvidos de forma diferente ao longo dos anos em Bauru e em Mogi, muito em função da formação e da personalidade dos Sensei.

Por um lado o Sensei Ikeda adotou, durante muito tempo (inclusive durante a formação do Sensei Paulo, que é de Mogi e treinava lá desde adolescente), uma postura mais rígida, com hierarquia bem definida, inclusive (como disse antes) com a incorporação do dojo kun (moralidades) do karate (que combina perfeitamente com o aikido também, por sinal); apesar que, com os seminários com Sensei canadenses que foram realizados nos últimos anos, Sensei Ikeda tem adotado estilo mais brando nos treinos.

Sensei Paulo, por outro lado, quando assumiu o projeto em 2006, no penúltimo ano de sua faculdade e com título de sho-dan, passou a colocar mais de sua formação acadêmica no aikido, especialmente a linha pedagógica de Paulo Freire, onde os termos "mestre" e "discípulo", ou "professor" e "aluno", dão lugar a "educador" e "educando", colocando ambos no mesmo nível (inclusive encaixando a dualidade Senpai/Kohai nesta lógica) por entender que tanto um quanto o outro estão aprendendo e se aperfeiçoando, e um necessita do outro (inclusive umzelando pela integridade física do outro); além disso, apenas sentamos de forma hierarquizada em ocasiões especiais (como visitas do Sensei Ikeda, outras visitas como Sensei de outras linhas, demonstrações para mudança de faixa, etc.), no nosso cotidiano é normal sentarmos em círculo para receber instruções, conversar sobre o treino ou recados diversos; mas claro que isso não veio do nada, foi fruto de várias discussões ao longo dos anos entre o Sensei e os Senpai, inclusive sobre o papel do dojo enquanto projeto de extensão de uma universidade pública, o que isso representa, as diferenças para um dojo "tradicional", etc.

Aliás, por conta desta peculiaridade de ser algo gratuito, não cobra-se que os participantes usem dogi nos treinos, apenas recomenda-se que usem roupas leves e confortáveis, porém recomendando que, caso pretendam manter-se no projeto (a evasão é considerável), planejem-se para adquirir dogi quando possível (neste caso o grupo se organiza para encomendar dogis a preço de custo pelos contatos que o Sensei tem). Porém, nas ocasiões especiais, como visitas e demonstrações de troca de faixa (seja para trocar ou apenas para participar do treino), é necessário o uso do dogi.

Percebam que falei "demonstrações" em vez de "exames". Pois é, tanto Sensei Ikeda quanto Sensei Paulo entendem que a avaliação é diária, nos treinos, na postura, no caráter, na amizade, no companheirismo, sendo assim, quando o Kohai/Senpai é indicado para fazer demonstração, já quer dizer que ele subiu de kyu. Mas claro, ninguém quer fazer feio no dia. Nos treinos precedentes ocorrem preparativos, "ensaios" de certa forma, para que tudo saia dentro dos conformes, inclusive as formalidades que normalmente deixamos em segundo plano. Claro que o nervosismo atrapalha e as coisas nunca saem como achamos que deveria, mas é algo legal de se passar ou acompanhar.

Acho que era isso que eu queria compartilhar sobre nossa peculiar etiqueta de dojo. Desculpem se por acaso desviei do assunto, mas queria contextualizar o melhor possível. xD
 
Realmente, a proposta é totalmente diferente do tradicional. Gostaria de saber, o que motiva o sensei Paulo a essa perspectiva? Utilizar o método de Paulo Freire em treinos de aikido.
Por acaso teria a ver com a flexibilidade e adaptação aos modos brasileiros?
 
Creio que só o próprio Paulinho Sensei poderia responder propriamente, mas pelo que lembro das discussões essa perspectiva foi adotada com caráter didático.

Esqueci de mencionar: por conta da elevada carga de afazeres que o Sensei tem atualmente, além de serem afazerem em cidades diferentes e bem afastadas entre si, atualmente tem sido difícil ele vir a Bauru, aí o projeto tem sido tocado pelos Senpai shodan (são 2 restantes atualmente) e orientados por ele à distância. O que facilita é que os dois também tem licenciatura (formados em Biologia), assim eles tem uma boa didática, alinhada com a do Sensei.
 

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