Primula
Moda, mediana, média...
Página de inspiração: Escaping Hades...
http://www.escapinghades.com
Mito: Hades é conhecido pelo rapto de Perséfone, forçando-a a casar-se com ele.
O relato seguinte é deveras comum e banal, e servirá como ponto de partida. Nem venham em dizer que estupradores merecem ser castrados, que vão virar mocinha na cadeia, etc..
*****
Meu nome é Lis, e atualmente sou uma veterana da Ohio. Farei 23 anos em dezembro de 2002, e farão sete anos que aconteceu comigo, em junho de 2002. Eu digo isso pois minha vida terminou e começou há seis anos atrás, na véspera de meu primeiro ano colegial terminar. Eu fui estuprada por alguem em que pensava poder confiar.
Aqueles entre vocês que já foram estuprados podem entender esse negócio de morte figurada. Você não mais é a pessoa que foi antes de ser estuprada - aquela pessoa se foi. Você foi transformada na pessoa que foi estuprada - a pessoa que tem medo do escuro, que tem pesadelos e flashbacks, e batalhas de depressão.
Entender a pessoa que eu fui antes de ser estuprada é uma tarefa muito difícil para mim. Ela é uma sombra agora, transformada não apenas pelo tempo, mas pelo medo do estupro. Quando eu olho para trás, para ela, a primeira coisa que quero fazer é ficar brava com ela - por ser ingênua, por ser jovem, por confiar tão facilmente. Várias vezes, durante quatro anos, eu a odiei - a culpei por ser estuprada e a amaldiçoei pelos problemas que encontrei depois que fui violentada. Mas quando sou justa comigo mesma, posso vislumbrar um pouco da pessoa que eu fui.
O eu "anterior"
Eu vivi numa pequena cidade ao sul de Boston por toda a minha vida. Sou a filha mais velha de três, com um irmão e uma irmã mais novos. Durante meu processo de crescimento, eu estava sempre ao lado das meninas mais novas. Quando elas se interessaram pelos meninos, eu ainda estava interessada em cavalos e "jogos de faz-de-conta". No meu 9o. ano, eu só tinha um vago interesse no sexo oposto, e passava a maior parte de meu tempo com minha melhor amiga, fazendo projetos de arte e continuando a viver no mundo de uma criança.
Ao final do 9o. ano, eu fiquei gamada por um calouro do colégio, que era um jogador de futebol americano muito popular. Depois de um tempo começamos a conversar pelo telefone - coisas bestas. Eu nem mesmo consigo lembrar agora o que foi dito, mas ele conversava comigo e eu estava lisonjeada.
Uma noite, lá pela meia-noite, ele perguntou se eu gostaria de sair para uma caminhada com ele (ele vivia só umas três quadras pra baixo). Eu fiquei extasiada por ele me querer fazer algo comigo, então eu saltei de minha janela (já passava de minha hora de dormir, e meus pais não me deixariam sair, por isso eu saí de fininho) e andei até o fim da rua onde ele me encontrou. Ele sugeriu irmos até o playground do prezinho e "conversar". E lá fomos nós.
O playground foi desenhado especialmente para parecer com um navio. Tinha duas seções largas para o barco, ambas dom dois andares, rampas, cordas, etc.. Nós subimos ao segundo andar de uma das seções e sentamos no tubo laranja para conversar. Não me lembro o que conversamos.
Terrivelmente fora do controle
Depois de um tempo, ele inclinou-se sobre mim e começou a me beijar. Eu aceitei a princípio, mas quando ele começou a colocar seu peso sobre mim, eu me afastei e tentei recomeçar o diálogo de novo. Ele voltou a me beijar e desta vez me empurrou contra o chão. Eu disse para ele parar - e foi quando as coisas começar a girar totalmente fora de controle.
Ele não parou apesar de eu dizer "não" várias vezes, apesar de lutar contra ele, ele me estuprou. Eu não lembro como ele tirou meus shorts, e às vezes eu ainda fico furiosa comigo mesma por não ser forte o bastante para lutar contra ele, mas ele venceu.
Depois que terminou, ele jogou minhas roupas pra mim e disse para me vestir. Ele tinha ejaculado em meu estômago e ainda posso me lembrar ele dizendo "essa coisa gruda em tudo. Use seus shorts para se limpar."
Ele disse para eu parar de chorar várias vezes. Então ele disse que queria me "abraçar"e ele não me deixou ir até que ele "me abraçou" pelo que parecia ser uma eternidade. Então ele disse que precisava ir para casa e se foi.
Ele disse para todo mundo que com minha permissão
Assim como eu. Eu fiz essa realidade alternativa para mim mesma, na qual eu tive algum controle e fiz eu acreditar que eu dera permissão. Eu não acho que a palavra "estupro" estava em meu vocabulário na época. E certamente não me ocorreu que um crime havia sido cometido enquanto eu voltava para casa, ou quando eu tomei um banho, ou no dia seguinte quando eu fiquei em casa (não fui pra escola) chorando na cama. Eu estava tão envergonhada e sentia como se tivesse feito algo ruim - e eu estava com medo de dizer aos meus pais porque eu fiz algo proibido na hora - eu sai de fininho sem permissão deles. Por isso eu não disse para ninguém. Eu mantive segredo e não disse uma palavra por três anos.
Ele, por outro lado, disse para as pessoas que fizemos sexo consensual. Quando eu penso sobre isso agora, isso foi uma coisa burra de se falar, porque pela lei ele também cometeu pedofilia - eu era menor de idade e ele tinha 19 anos. Mas ninguém pensou dessa forma - eles só me rotularam como "vaca" e atormentaram-me por vários anos.
As pessoas me disseram que ele falou "F*der ela é como f*der uma saco de feijões". Ainda não tenho certeza o que isso quer dizer, mas na época me machucou muito. As crianças que não gostavam de mim usavam ele contra mim - tudo que precisavam era mencionar o nome dele, e eu não tinha outra escolha senão deixar a sala. A escola tornou-se o inferno.
Minha vida meu inferno
Parei de comer e comecei a usar comida como uma arma contra mim mesma. Eu me sentia bem se pudesse ficar o dia inteiro sem comer. Eu fiquei perigosamente magra e às vezes, eu me forçava a vomitar porque sentia-me culpada por ter comido no dia. De novo, eu não sabia o que estava acontecendo comigo na época - anorexia - nem sabia que muitos sobreviventes de violência sexual desenvolvem desordens de alimentaçào numa tentativa de controlar alguma coisa de suas vidas, ou punir a si mesmos porque eles acreditam que o que aconteceu foi culpa deles.
Quando eu estava no 11o. ano, eu era miserável, magra e não via razões para viver. No final do 11o. ano, eu peguei mono, e porque eu estava tão fraca, meu corpo não conseguia lutar contra a doença. Eu terminei no hospital e perdi dois meses de escola.
Durante o verão antes de meu ano colegial avançado, minha melhor amiga (que se mudara para Virginia um ano antes) me perguntou se eu queria passar esse ano em Virginia e ficar com a família dela. Eu decidi que era uma boa chance - elees tinham uma escola maior, e eu poderia conhecer muita gente e experimentar novas coisas, e não seria conhecida como vaca.
Apesar de sentir falta de minha família, eu acredito que o ano que passei em Virginia me salvou. Eu comecei a comer de novo. Eu estava muito mais feliz, e fui na realidade capaz de falar a algumas pessoas sobre o que eu passei.
Curando
Quando eu fui para a faculdade, eu comecei meu processo de cura. Eu comecei escrevendo todos os meus sentimentos num diário e falando com outros sobreviventes pela internet.
Eu também comprei um livro After Silence: Rape and My Journey Back de Nancy Venable Rainn, e comecei a ler a estória dela. Eu também comecei meu diário online. Meu próximo passo era encontrar ajuda em minha faculdade. Eu encontrei um membro do grupo de apoio às vítimas de violência sexual chamado "Espaço Seguro" e me encontrava sempre com ela. Ela me levou a uma clínica para fazer um teste de HIV (eu estava com medo depois do estupro, de ter contraído o vírus da AIDS), que deu negativo, e ela me encorajou a juntar-me ao grupo, o que fiz na última primavera.
No outono de 1999, eu comecei o treinamento para o Espaço Seguro. Eu esperava que fosse um trabalho muito difícil, porque para eu mesma foi difícil falar o que aconteceu comigo. Não foi tão duro assim como eu pensei, porque eu nunca tive de realmente aconselhar outros sobreviventes. Meu envolvimento era somente com tarefas administrativas.
Na primavera de 2000 eu fui transferida da Union College para uma faculdade diferente. Eu me uni o Centro de Crises Pós-Estupro aqui e comecei a treinar com eles em poucas semanas. Eu terei contato mais direto com sobreviventes do que eu tive no Espaço Seguro, então eu espero que seja mais difícil, mas não estou preocupada. Eu sinto-me forte o bastante agora para fazer isso.
Me curar não mais me parece ser uma tarefa impossivelmente grande - somente uma difícil, mas eu sinto-me melhor toda vez que eu raspo fora uma parte da barreira da mulher que foi estuprada e da garota que ela foi antes
Update: Junho, 2000
Sobrevivi mais um aniversário. Aconteceu muita coisa desde que escrevi aqui pela última vez. Eu comecei a fazer terapia e a lidar com vários aspectos relacionados ao meu estupro. Eu acho que eu finalmente comecei a me curar do estupro propriamente dito, e este é somente uam consequencia do que eu deixei para fazer depois.
Eu estava pensando hoje sobre o segundo ano, o ano anterior à construção do playground onde eu fui estuprada. Nós tinhamos um playground velho lá, com estas duas estruturas metálicas idênticas, do tipo selva. Uma era para garotas e outra para os meninos. Nenhum dos dois tinha permissão de entrar na "zona de segurança" do outro.
Um dia de feriado escolar, eu estava brincando ali, quando um menino da minha classe veio e me ameaçou - não lembro o que ele disse, mas eu lembro que fiquei com medo. É minha primeira memória real de ter medo de um menino. E o que eu lembro claramente é ver a professora encarregada durante o recesso do parque, uma mulher, fitando-a com os olhos pedindo ajuda. Ela não fez nada, na verdade, era como se ela fosse cega ao que estava acontecendo. Então eu me virei e corri o mais rápido que pude para a selva das meninas. Eu subi no topo e então estava segura.
Acho que o que eu preciso lidar agora é com o sentimento de ser traída pelas mulheres em geral. Por que as garotas de minha classe não me apoiararm quando eu atormentada pelos meus colegas de classe? Por que as mulheres desprezam as vítimas de estupro como "choronas" ou dizem a suas amigas sobreviventes para "dar a volta por cima"?
Eu estou num novo estágio de me curar, e um passo mais próximo de minha recuperação.
http://www.escapinghades.com
Mito: Hades é conhecido pelo rapto de Perséfone, forçando-a a casar-se com ele.
O relato seguinte é deveras comum e banal, e servirá como ponto de partida. Nem venham em dizer que estupradores merecem ser castrados, que vão virar mocinha na cadeia, etc..
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Meu nome é Lis, e atualmente sou uma veterana da Ohio. Farei 23 anos em dezembro de 2002, e farão sete anos que aconteceu comigo, em junho de 2002. Eu digo isso pois minha vida terminou e começou há seis anos atrás, na véspera de meu primeiro ano colegial terminar. Eu fui estuprada por alguem em que pensava poder confiar.
Aqueles entre vocês que já foram estuprados podem entender esse negócio de morte figurada. Você não mais é a pessoa que foi antes de ser estuprada - aquela pessoa se foi. Você foi transformada na pessoa que foi estuprada - a pessoa que tem medo do escuro, que tem pesadelos e flashbacks, e batalhas de depressão.
Entender a pessoa que eu fui antes de ser estuprada é uma tarefa muito difícil para mim. Ela é uma sombra agora, transformada não apenas pelo tempo, mas pelo medo do estupro. Quando eu olho para trás, para ela, a primeira coisa que quero fazer é ficar brava com ela - por ser ingênua, por ser jovem, por confiar tão facilmente. Várias vezes, durante quatro anos, eu a odiei - a culpei por ser estuprada e a amaldiçoei pelos problemas que encontrei depois que fui violentada. Mas quando sou justa comigo mesma, posso vislumbrar um pouco da pessoa que eu fui.
O eu "anterior"
Eu vivi numa pequena cidade ao sul de Boston por toda a minha vida. Sou a filha mais velha de três, com um irmão e uma irmã mais novos. Durante meu processo de crescimento, eu estava sempre ao lado das meninas mais novas. Quando elas se interessaram pelos meninos, eu ainda estava interessada em cavalos e "jogos de faz-de-conta". No meu 9o. ano, eu só tinha um vago interesse no sexo oposto, e passava a maior parte de meu tempo com minha melhor amiga, fazendo projetos de arte e continuando a viver no mundo de uma criança.
Ao final do 9o. ano, eu fiquei gamada por um calouro do colégio, que era um jogador de futebol americano muito popular. Depois de um tempo começamos a conversar pelo telefone - coisas bestas. Eu nem mesmo consigo lembrar agora o que foi dito, mas ele conversava comigo e eu estava lisonjeada.
Uma noite, lá pela meia-noite, ele perguntou se eu gostaria de sair para uma caminhada com ele (ele vivia só umas três quadras pra baixo). Eu fiquei extasiada por ele me querer fazer algo comigo, então eu saltei de minha janela (já passava de minha hora de dormir, e meus pais não me deixariam sair, por isso eu saí de fininho) e andei até o fim da rua onde ele me encontrou. Ele sugeriu irmos até o playground do prezinho e "conversar". E lá fomos nós.
O playground foi desenhado especialmente para parecer com um navio. Tinha duas seções largas para o barco, ambas dom dois andares, rampas, cordas, etc.. Nós subimos ao segundo andar de uma das seções e sentamos no tubo laranja para conversar. Não me lembro o que conversamos.
Terrivelmente fora do controle
Depois de um tempo, ele inclinou-se sobre mim e começou a me beijar. Eu aceitei a princípio, mas quando ele começou a colocar seu peso sobre mim, eu me afastei e tentei recomeçar o diálogo de novo. Ele voltou a me beijar e desta vez me empurrou contra o chão. Eu disse para ele parar - e foi quando as coisas começar a girar totalmente fora de controle.
Ele não parou apesar de eu dizer "não" várias vezes, apesar de lutar contra ele, ele me estuprou. Eu não lembro como ele tirou meus shorts, e às vezes eu ainda fico furiosa comigo mesma por não ser forte o bastante para lutar contra ele, mas ele venceu.
Depois que terminou, ele jogou minhas roupas pra mim e disse para me vestir. Ele tinha ejaculado em meu estômago e ainda posso me lembrar ele dizendo "essa coisa gruda em tudo. Use seus shorts para se limpar."
Ele disse para eu parar de chorar várias vezes. Então ele disse que queria me "abraçar"e ele não me deixou ir até que ele "me abraçou" pelo que parecia ser uma eternidade. Então ele disse que precisava ir para casa e se foi.
Ele disse para todo mundo que com minha permissão
Assim como eu. Eu fiz essa realidade alternativa para mim mesma, na qual eu tive algum controle e fiz eu acreditar que eu dera permissão. Eu não acho que a palavra "estupro" estava em meu vocabulário na época. E certamente não me ocorreu que um crime havia sido cometido enquanto eu voltava para casa, ou quando eu tomei um banho, ou no dia seguinte quando eu fiquei em casa (não fui pra escola) chorando na cama. Eu estava tão envergonhada e sentia como se tivesse feito algo ruim - e eu estava com medo de dizer aos meus pais porque eu fiz algo proibido na hora - eu sai de fininho sem permissão deles. Por isso eu não disse para ninguém. Eu mantive segredo e não disse uma palavra por três anos.
Ele, por outro lado, disse para as pessoas que fizemos sexo consensual. Quando eu penso sobre isso agora, isso foi uma coisa burra de se falar, porque pela lei ele também cometeu pedofilia - eu era menor de idade e ele tinha 19 anos. Mas ninguém pensou dessa forma - eles só me rotularam como "vaca" e atormentaram-me por vários anos.
As pessoas me disseram que ele falou "F*der ela é como f*der uma saco de feijões". Ainda não tenho certeza o que isso quer dizer, mas na época me machucou muito. As crianças que não gostavam de mim usavam ele contra mim - tudo que precisavam era mencionar o nome dele, e eu não tinha outra escolha senão deixar a sala. A escola tornou-se o inferno.
Minha vida meu inferno
Parei de comer e comecei a usar comida como uma arma contra mim mesma. Eu me sentia bem se pudesse ficar o dia inteiro sem comer. Eu fiquei perigosamente magra e às vezes, eu me forçava a vomitar porque sentia-me culpada por ter comido no dia. De novo, eu não sabia o que estava acontecendo comigo na época - anorexia - nem sabia que muitos sobreviventes de violência sexual desenvolvem desordens de alimentaçào numa tentativa de controlar alguma coisa de suas vidas, ou punir a si mesmos porque eles acreditam que o que aconteceu foi culpa deles.
Quando eu estava no 11o. ano, eu era miserável, magra e não via razões para viver. No final do 11o. ano, eu peguei mono, e porque eu estava tão fraca, meu corpo não conseguia lutar contra a doença. Eu terminei no hospital e perdi dois meses de escola.
Durante o verão antes de meu ano colegial avançado, minha melhor amiga (que se mudara para Virginia um ano antes) me perguntou se eu queria passar esse ano em Virginia e ficar com a família dela. Eu decidi que era uma boa chance - elees tinham uma escola maior, e eu poderia conhecer muita gente e experimentar novas coisas, e não seria conhecida como vaca.
Apesar de sentir falta de minha família, eu acredito que o ano que passei em Virginia me salvou. Eu comecei a comer de novo. Eu estava muito mais feliz, e fui na realidade capaz de falar a algumas pessoas sobre o que eu passei.
Curando
Quando eu fui para a faculdade, eu comecei meu processo de cura. Eu comecei escrevendo todos os meus sentimentos num diário e falando com outros sobreviventes pela internet.
Eu também comprei um livro After Silence: Rape and My Journey Back de Nancy Venable Rainn, e comecei a ler a estória dela. Eu também comecei meu diário online. Meu próximo passo era encontrar ajuda em minha faculdade. Eu encontrei um membro do grupo de apoio às vítimas de violência sexual chamado "Espaço Seguro" e me encontrava sempre com ela. Ela me levou a uma clínica para fazer um teste de HIV (eu estava com medo depois do estupro, de ter contraído o vírus da AIDS), que deu negativo, e ela me encorajou a juntar-me ao grupo, o que fiz na última primavera.
No outono de 1999, eu comecei o treinamento para o Espaço Seguro. Eu esperava que fosse um trabalho muito difícil, porque para eu mesma foi difícil falar o que aconteceu comigo. Não foi tão duro assim como eu pensei, porque eu nunca tive de realmente aconselhar outros sobreviventes. Meu envolvimento era somente com tarefas administrativas.
Na primavera de 2000 eu fui transferida da Union College para uma faculdade diferente. Eu me uni o Centro de Crises Pós-Estupro aqui e comecei a treinar com eles em poucas semanas. Eu terei contato mais direto com sobreviventes do que eu tive no Espaço Seguro, então eu espero que seja mais difícil, mas não estou preocupada. Eu sinto-me forte o bastante agora para fazer isso.
Me curar não mais me parece ser uma tarefa impossivelmente grande - somente uma difícil, mas eu sinto-me melhor toda vez que eu raspo fora uma parte da barreira da mulher que foi estuprada e da garota que ela foi antes
Update: Junho, 2000
Sobrevivi mais um aniversário. Aconteceu muita coisa desde que escrevi aqui pela última vez. Eu comecei a fazer terapia e a lidar com vários aspectos relacionados ao meu estupro. Eu acho que eu finalmente comecei a me curar do estupro propriamente dito, e este é somente uam consequencia do que eu deixei para fazer depois.
Eu estava pensando hoje sobre o segundo ano, o ano anterior à construção do playground onde eu fui estuprada. Nós tinhamos um playground velho lá, com estas duas estruturas metálicas idênticas, do tipo selva. Uma era para garotas e outra para os meninos. Nenhum dos dois tinha permissão de entrar na "zona de segurança" do outro.
Um dia de feriado escolar, eu estava brincando ali, quando um menino da minha classe veio e me ameaçou - não lembro o que ele disse, mas eu lembro que fiquei com medo. É minha primeira memória real de ter medo de um menino. E o que eu lembro claramente é ver a professora encarregada durante o recesso do parque, uma mulher, fitando-a com os olhos pedindo ajuda. Ela não fez nada, na verdade, era como se ela fosse cega ao que estava acontecendo. Então eu me virei e corri o mais rápido que pude para a selva das meninas. Eu subi no topo e então estava segura.
Acho que o que eu preciso lidar agora é com o sentimento de ser traída pelas mulheres em geral. Por que as garotas de minha classe não me apoiararm quando eu atormentada pelos meus colegas de classe? Por que as mulheres desprezam as vítimas de estupro como "choronas" ou dizem a suas amigas sobreviventes para "dar a volta por cima"?
Eu estou num novo estágio de me curar, e um passo mais próximo de minha recuperação.