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Escritores e pesquisadores debatem relação entre prêmios e reconhecimento

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Escritores e pesquisadores debatem relação entre prêmios e reconhecimento

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"Dar o prêmio para um determinado escritor significa que uma crítica especializada viu naquela obra relevância o suficiente", afirma a professora Regina Dalcastagnè

Publicação: 20/10/2014 17:40 Atualização: 20/10/2014 17:48

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A professora Regina Dalcastagnè defende que o número de prêmios literários acaba pressionando os autores


Consagração e reconhecimento podem ser vistos como o norte e o auge para muitos escritores. “Gênio? Neste momento / Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,/ E a história não marcará, quem sabe?, nem um”. Álvaro de Campos, autor desses versos, um dos muitos pseudônimos de Fernando Pessoa, questionava sua própria genialidade: “Não sou nada. / Nunca serei nada./ Não posso querer ser nada./ À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”.

Em Tabacaria, Pessoa, ou Campos, talvez o maior poeta da língua portuguesa e um dos maiores da história, abre o poema negando a si mesmo. Uma lenda se instalou em torno do escritor quando, em 1934, concorreu a um prêmio literário com a obra Mensagem e, por não se adequar às regras do concurso, ficou com o segundo lugar, perdendo para o padre Vasco Reis. Assim como Pessoa, outros escritores também conquistaram reconhecimento e sucesso sem a chancela dessas honrarias. Questiona-se, então, até que ponto isso serve para eternizar os escritores.

Regina Dalcastagnè, professora da Universidade de Brasília e doutora em teoria literária, defende que a premiação é uma forma de reconhecimento. “Dar o prêmio para um determinado escritor significa que uma crítica especializada viu naquela obra relevância o suficiente”, afirma. Ao mesmo tempo, ela acredita que existam láureas demais, acontecendo todos os anos, o que gera uma pressão em cima dos escritores para mantê-los produzindo com frequência. “Existe quase uma obrigação de apresentar algo a cada um, dois anos, para não ser esquecido”, explica.

São diversas etapas pelas quais os autores devem passar até chegar à condição de finalistas de prêmios e vencê-los. Escrever, encontrar editoras que os publiquem, inscrever a obra em concursos literários, ser lido por um júri especializado e composto por nomes carimbados do meio literário. Quem irá compor a bancada julgadora, postura como figura pública fora da cena literária, tudo influencia, de alguma maneira, a lógica das premiações.

“Penso que aqui no Brasil, pelo que se pode observar, autores que já estão na mídia, que são mais conhecidos acabam levando os prêmios. Acredito que não é tanto pela obra”, afirma a professora. No entanto, Regina crê que existem outras formas de um autor se tornar notório e ter o nome levado para a posteridade: “É possível que escritores sejam lidos no meio acadêmico, se perpetuem em grupos de estudo, e tenham seus livros lidos e comentados por bastante tempo”.

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Para Ricardo Lísias, o mercado reproduz o que pensa a classe dominante


No Brasil
Ricardo Lísias, autor de livros como Céu dos suicidas e Divórcio, afirma que, no atual momento do Brasil, o “establishment literário” não faz oposição à sociedade brasileira, mas se alinha a ela. “Por exemplo, os Estados Unidos são um país racista e machista. No entanto, lá o establishment literário resiste à própria sociedade americana e se abre para outros grupos que não o socialmente dominante. Aqui, atualmente, isso reproduz a classe dominante”, explica.

Lísias acredita que os prêmios são uma etapa da constituição desse modo de operar vigente no mercado literário nacional. “Eu gostaria de, em primeiro lugar, estabelecer aqui uma diferença: a arte literária se constitui pelos textos, que são autônomos e não dependem do endosso ou da recusa de quem quer que seja. O mercado liga-se, me parece, à noção problemática, claro, de cultura. E muitas vezes sabemos que a cultura vai em caminho contrário à arte”, afirma o escritor.

Ainda de acordo com Lísias, essa classe dominante brasileira “luta até a morte para que outros grupos não tenham sua existência reconhecida. Trata-se de um grupo pequeno que funciona por meio do autorreconhecimento. Não há ligação disso com número de exemplares vendidos, editoras grandes ou pequenas ou maior ou menor visibilidade: ou você é da classe dominante, ou só entra no coquetel se for para servir a champanhe”.

Nem Sartre quis
Um dos maiores nomes da filosofia existencialista, Jean-Paul Sartre chegou a recusar o prêmio Nobel de literatura em 1964, quando disse que não gostaria de ver a própria obra e os leitores condicionados a lê-lo de forma diferente por receber o adendo “vencedor de Nobel” ao lado do nome. Carlos Drummond de Andrade também negou um reconhecimento e recusou indicação para ocupar um posto na Academia Brasileira de Letras.
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Confira abaixo entrevista com o escritor José Rezende Jr. sobre o assunto.

Até que ponto o prêmio pode ou deve ser considerado como reconhecimento? Como ser vencedor do Jabuti influenciou na sua carreira depois?
Guardo meu Jabuti com muito carinho. Mas, em termos práticos, ele não ajudou muito. Funciona como um cartão de visitas junto às editoras, aumenta as chances de seu original ser lido em menos tempo (ou, pelo menos, ser lido). Mas é ilusão pensar que elas (as editoras) irão à sua procura só porque você foi premiado ou que a grande imprensa se interessará pelo que você escreve.

Acredita que escritores que não possuem obras reconhecidas correm o risco de cair no esquecimento ou ostracismo?Você quer dizer obras premiadas?
Não. Há obras premiadas que não sobreviverão ao tempo; outras, sem qualquer prêmio, serão lembradas.

Determinado conteúdo, ou certas ousadias na obra, podem atrapalhar nas disputas por prêmio?
Pode ser que exista um ou outro prêmio mais, digamos, conservador. Mas, de forma geral, acredito que não. Júris costumam ser formados por pessoas que amam ler. E quem ama ler, gosta de ser provocado. Mas, é bom lembrar que há provocações e provocações. A “ousadia” de escrever de trás para a frente, ou de cima para baixo, ou omitindo todas as vogais, por exemplo, não leva a lugar nenhum.

Acredita que o número reduzido de exemplares vendidos influenciam no processo da indicação a prêmios?
Não. Meu livro do Jabuti, Eu perguntei pro velho se ele queria morrer (e outras estórias de amor), teve uma tiragem de apenas 600 exemplares.

Pensa que o peso das editoras ainda influencie consideravelmente na hora de indicações?
Até onde sei, os nomes dos jurados são mantidos em sigilo – a salvo, portanto, de eventuais tentativas de lobby. Falando por mim: tive apenas uma experiência como jurado, e não dei a menor importância ao peso ou tamanho da editora. E ganhei o Jabuti publicando por uma editora pequena, ainda que muito conceituada (7Letras).

Seleções como a Granta representam, de fato, a nova geração de talentos de escritores?
Não. E não gosto do recortes por faixa etária, como fez a Granta. Acho um fetiche bobo.

Com informações de Mateus Vidigal
 
Achei essa resposta do Lísias meio wtf... Quem, o quê e como é esse establishment literário? O que caracteriza um establishment literário é simplesmente a ausência denúncia social?

Nessas horas me parece, embora seja praticamente o critério-mor da modernidade, que a inovação e o trabalho acerca do COMO determinada obra é feita, sejam critérios mais sólidos pra se caracterizar ou não um establishment literário. Claro que aqui devemos considerar uma gama muito ampla de fatores que podem ser trabalhados de forma inventiva e não meramente instrumental por um artista; mas whatever.

Talvez ele esteja se referindo ao establishment essencialmente de uma perspectiva crítica, no que a dissociação a meu ver muito questionável dele dessa coisa do texto como autônomo e não dependente de julgamentos. Não é bem por aí... Acho que houve um exagero ou de alguma maneira ele não se expressou bem. As obras não vagam no espaço. Essa ideia dos clássicos como sendo obras que vencem barreiras possui muita verdade, mas há que se considerar que a dinâmica é muito mais complexa.

Não digo que não haja um establishment e que ele não possa influenciar na construção artística ou na construção de cânones, escalas de reconhecimento, escolhas de publicação etc. Só acho que o Lísias talvez tenha simplificado um pouco a questão...
 
Fico pensando sobre a parte de comprar influenciado pelo nome que foi premiado... Será que daria muito problema se os caras não permitissem publicar livros nas editoras com vários pseudônimos (tipo, mudar o nome "artítisco" a cada prêmio). No mundo da arte se especula que alguns artistas famosos fizeram certas obras secretamente, para obter algum tipo de recompensa diferente da fama do livro... quem sabe.
 
Quando vi no jornal também não entendi muito do que o Lísias disse... Talvez seja questão da edição da reportagem, mas a ideia de que existe um establishment literário no Brasil e de que a função deste seria criticar a sociedade ou a "classe dominante" é tão simplista... Fora a ideia de autonomia do texto, nem entendi essa diferenciação doida entre arte e cultura. Será que ele quis dizer "cultura pop" e arte "verdadeira"?

Sobre o que disse José Rezende Jr, sobre prêmios não garantirem posteridade, basta lembra que ninguém publica, lê ou estuda o Sully Prudhomme, o primeiro nobelizado. E se o Nobel não garante "posteridade" poucos outros prêmios vão poder.

Acho mesmo (e aqui se entra no que disse a Regina) que há uma multiplicação de prêmios hoje, multiplicidade que ajuda os escritores se tornando uma fonte extra de renda (como o Bolaño já até havia satirizado em um conto) e pontos no currículo. Por outro lado os prêmios entraram no sistema do marketing como a cultura hoje em dia parece estar entrando também. Só ver o caso do próprio Nobel, que gera traduções e vendas imediatamente depois. Ou o Man Booker Prize. E sempre se estampam as capas de livro com "ganhador de...". Os prêmios se tornaram marcas e selos de qualidade e até uma bússola para os consumidores, né? Como saber o que comprar e ler? Só olhar alguns prêmios.

Seria bom, claro, ter mais qualidade que quantidade, em especial no Brasil. Só ver o caso do Jabuti que (para mim) perdeu muita credibilidade com aquele prêmio de tradução para Milton Lins, com tantas substituições todo ano etc.
 
Analisar a fundo o real valor, peso e a importância de uma premiação é sempre algo que rende muita discussão, pois assim como o Oscar do Cinema, Grammy na Música e tantos outros prêmios renomados nas mais diversas áreas, nem sempre se pode afirmar que aquele que foi premiado indiscutivelmente foi o melhor. Sempre fica uma margenzinha de contestação e quando surgem várias instituições a fim de conceder um prêmio atuando num mesmo segmento, algumas com critérios de avaliação bem duvidosos a coisa complica ainda mais.
 

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