Sendo o assunto a educação infantil, acho que o critério de oferta-demanda meio frágil.
As crianças são propriedade dos pais?
Em tempo: postei mais como provocação mesmo. Não sei mt bem o q pensar sobre o tema. Por um lado, deveria ser óbvio que os pais são os principais interessado no bem-estar dos próprios filhos, mas, por outro lado, também é óbvio que existem maus pais. Uma criança pode ser vítima de maus pais, mesmo que fora do aspecto físico, mas sim psicológico? Acho que sim né...
Eu botei uma observação no post anterior, mas a sua resposta foi meio dúbia. Assim como vc não sabe qual é o software correto de valores sociais, ao mesmo tempo vc diz q as crianças não são propriedade dos pais - só que tb diz q os pais tem o direito de passar seus valores para seus filhos (o que eu concordo). E se forem valores neonazistas?
Você quer discutir teórica ou pragmaticamente? Na prática os pais ensinarão até neonazismo, se for o valor deles, você gostando ou não. Até porque será feito, na pior das hipóteses, no segredo do lar. Tem como evitar?
Na teoria, sei lá. Não estou nem um pouco a fim disso agora. Você pode fazer as honras e iniciar esse caminho.
É por isso mesmo que é importante a educação escolar, aquela oferecida pela própria sociedade civil - em muitos casos através do Estado - e que visa a formar o jovem que, a partir de certa idade, será aceito por essa mesma sociedade com uma série de direitos e responsabilidades à mesma altura. Tal ajuda a dissuadir os possíveis efeitos deletérios de valores familiares ou intra-grupo que fossem contra a ordem social vigente do Estado de Direito - seja nazifacismo, seja fundamentalismo religioso, etc. E também impulsiona a exposição de possíveis fendas que possam estar se formando em certa comunidade.
Certamente medidas como a escolarização compulsória tolhem um pouco da liberdade do indivíduo, a priori. Contudo, é a própria sobrevivência continuada do Estado de Direito que é capaz de salvaguardar todas as outras liberdades individuais e sociais - econômica, de ir e vir, política, religiosa, de livre organização, de expressão, dentre outras. O anarquismo é inviável. E para a própria sustentação dos valores republicanos é que se faz necessário que uma parte da educação não provenha da família ou por mero arbítrio dela. Não vejo como doutrinação, mas como uma transmissão ao futuro cidadão de princípios que, ele querendo ou não, vão estar presentes na vida dele enquanto adulto. Ele inclusive aprenderá sobre quais são as instâncias que o permitirão defender sua própria visão de mundo, em caso de discordância, e como recorrer a elas.
De modo algum isso anula completamente o direito parental de educar os filhos conforme o que se julgue correto. Uma parte inalienável da educação vem dos costumes familiares e do exemplo que só os pais podem transmitir, dados os laços afetivos naturais. Da mesma forma, organizações sociais fundadas voluntariamente, como igrejas, clubes, entidades beeficentes, sindicatos, escolas de princesa e empresas ainda existirão e continuarão a repassar seus valores para seus integrantes e, mais que isso, a divulgá-los para toda a comunidade, proporcionando à mesma a oportunidade da reflexão para a contínua reforma de seus valores. Acaba que todo sistema moral é proselitista.
É o equilíbrio entre as duas instâncias, pública e privada, que fia a atmosfera liberal que a maioria de nós preza tanto hoje em dia. De outra forma restaria, num dos extremos, a sociedade patriarcal conservadora e, no outro, o autoritarismo, totalitário ou não.