Acompanhei a conversa dos dois amigos sobre Eru = Deus cristão, e mesmo com tamnhas semelhanças aqui colocadas por Gabriel, a respeito da onisciência de Eru, o uso de comparações bíblicas, e tudo mais, creio que nesse ponto seria interessante levarmos em consideração a Carta de número 131 - A Milton Waldman. Nesta temos Tolkien negando sua intenção de recriar de forma mítica uma mitologia já existente, mas sim de tentar criar um novo mito, um novo mito criacionista, um novo mito sobre a Terra em si.
Tendo em vista isso, podemos também relacionar o fato de que a maioria das partes bíblicas seriam breves cópias de mitos pre-existentes de tribos próximas dos hebreus. Mas não é esse o fato de maior valor.
Em todo mito criacionista existem semelhanças, o homem sempre tenta representar o desconhecido com uma paradoxal semelhança.
Tolkien cria um ambiente mítico diferente em grande (senão em toda) parte do ambiente mítico hebreu. Obviamente não é irrelevante o fato de Tolkien em suas obras colocar sua interpretação de mitos pre-existentes inconscientemente, sendo ele cristão.
Mas sua vontade não era de recriar a bíblia de forma mítica, e sendo assim devemos sempre tentar ver o que há de novo em seu mito, sem estar ligado sempre a comparações e alusões, pois se assim fizermos iremos desconsiderar muitos mitos pre-existentes por semelhanças, e mesmo plágios, como no caso hebreu, onde a parte que vem a tratar do dilúvio e da arca, é nada mais que uma versão plagiada de um mito mesopotâmico.
Assim como disse Gabriel, também sendo ateu, não consigo ver com bons olhos a questão livre arbítrio e onisciência, pois são incompatíveis.
Mas a esse dilema o tópico não se atem, então também não atemo-nos a ele.
A questão original, Eru = Deus cristão, creio
eu que não. Pois assim como foi dito, não era a vontade de Tolkien recriar mitos, mas sim criar um mito (anglicano) que trata-se de seu povo, de sua língua, uma construção mítica elaborada, e assim o fez. Sendo essa sua vontade, e sendo ela tão vívida em sua obras, na ambientação, nas línguas, e em muitas outras partes, não vejo o porque de tentar ver Eru como o deus cristão, sendo que o próprio mito cristão recebeu influências, mudanças, plagiou outras crenças, e nem por isso as pessoas o tratam como um mito "influênciado", mas como "o mito" verdadeiro [alguém deveria lhes dizer que não há verdade absoluta]. Espero que não entendam mal esta parte, não desejo de forma alguma que as obras sigam esse caminho de imposição e carnifícina assim como foi com o cristianismo, não
; que apenas seja vista por seu conteúdo e beleza mítica.
Abraços.