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"Eru, o mal"?

Sorry, nenhuma cultura da Terra vale o sacrifício de bebês. E, aliás, não depende do sacrifício de bebês para existir também. Esse é o típico caso em que não intervir é criminoso. Não se trata meramente de um padrão ocidental de moralidade. Trata-se de um dano objetivo e irreversível a uma criança inocente.

E, de novo, categorias orientais não vem ao caso aqui. Eru é a visão de Tolkien sobre o Deus judaico-cristão ocidental, que sempre foi considerado o Supremo Bem, sem traços de mal como suposto “equilíbrio“.

Abraços,
 
Se formos discutir Tolkien baseado unicamente no Deus judaico-cristão, é melhor irmos para uma comunidade religiosa. Temos que usá-lo como exemplo, mas muito em O Silmarillion favorece ou não essa visão. O trecho que eu citei ao menos é evidência que o mal de Melkor é instrumento de Eru, então talvez não seja tão mal assim. Não se trata em justificar ou não atos maldosos quaisquer, e sim refletir o que é o mal em si dentro do legendário. Genocídios não deixam de ser algo mal dentro da perspectiva humana, moral, ética, etc - a questão é repensar a idéia de mal e o quão desejosa ela é para Eru. Se Eru a deseja, se a rejeita, etc. Pela minha interpretação da obra o mal só é algo necessário para a criação do Bem, tão necessário como o bem. Em Arda Curada, mal e bem perderiam sentido, só existiria o Bem.

Também vale mencionar que o Deus judaico-cristão tem características distintas dentro das religiões (cristianismo, judaísmo, islamismo), da cristandade, e dentro do próprio catolicismo (Aquino, Agostinho).

E vale lembrar também que Eru fez um genocídio em Númenor, matou inocentes, etc. Isto mostra que a idéia de bem e Bem da obra pode ser contra a nossa idéia de bem.
 
Eu nunca entendi o fato de que o Tudo é imóvel. O Tudo não poderia mover-se internamente? Não pode haver movimento do Tudo para outro local, pois só há Tudo, mas partes do Tudo poderiam se mover. Desse movimento interno do Tudo proviria a criação - que é, afinal de contas, indício da mobilidade. Se não a criação, ao menos o pensamento.

Uma coisa que eu nunca entendi, foi a necessidade de criação. Se Deus/Eru é perfeito, ou seja, completo, pra quê criar? Pra quê criar o mundo em 7 dias ou Ainur para cantar? Pra mim entra em contradição com a premissa de que Deus/Eru é perfeito.

Pensando assim, isso faz realmente sentido. O mal seria esse instrumento através do qual Eru também pode criar coisas maravilhosas. Em outras palavras, "os fins justificariam os meios" :mrgreen: Mas não sei se Eru seria assim tão maquiavélico.


Isso de o mal ter de ser reprovado e evitado a todo o custo é algo inerente à nossa cultura. Para nós, o "bem é bom e o mal é mau", e pronto, não tem mais discussão! Qualquer um que defenda algo que seja mau é perveso, tirano, etc. Agora, querer tornar nossa visão de bem e mal uma verdade absoluta é que é algo perigoso pra mim.
Por exemplo, há tribos indígenas brasileiras que assassinam recém-nascidos que sejam gêmeos por acreditarem que eles são "demoníacos", trazem má sorte, etc. Para nós, o infanticídio é algo terrível! Eu particularmente o recrimino com todas as minhas forças, porquê realmente acho errado, mas, quem somos nós pra dizer que isso é absolutamente errado? Para os indígenas que matam seus bebês, isso é correto e não fazê-lo é que seria mau. Quem está com a razão? Se dissermos que somos nós, estaremos reduzindo toda a cultura e crença alheia a uma simples "subversão do espírito humano", que deve ser imediatamente eliminada, reduzida a pó. Por acaso seriam as nossas crenças as mais corretas ou superiores existentes nesse mundo para que possamos fazer esse julgamento? Aliás, mesmo que pudessem ser, a quem cabe julgar algo assim e reduzir os outros seres-humanos a simples caricaturas de animais?

Obviamente que tudo isso é um grande dilema. E é mais óbvio ainda que, talvez, ele nunca possa ser resolvido.

Minha opinião pessoal também vai por esse lado, penso também que o bem e o mal são bem relativos, mas acho importante dizer que a obra de Tolkien vai por outro lado.

Se formos discutir Tolkien baseado unicamente no Deus judaico-cristão, é melhor irmos para uma comunidade religiosa. Temos que usá-lo como exemplo, mas muito em O Silmarillion favorece ou não essa visão. O trecho que eu citei ao menos é evidência que o mal de Melkor é instrumento de Eru, então talvez não seja tão mal assim. Não se trata em justificar ou não atos maldosos quaisquer, e sim refletir o que é o mal em si dentro do legendário. Genocídios não deixam de ser algo mal dentro da perspectiva humana, moral, ética, etc - a questão é repensar a idéia de mal e o quão desejosa ela é para Eru. Se Eru a deseja, se a rejeita, etc. Pela minha interpretação da obra o mal só é algo necessário para a criação do Bem, tão necessário como o bem. Em Arda Curada, mal e bem perderiam sentido, só existiria o Bem.

Também vale mencionar que o Deus judaico-cristão tem características distintas dentro das religiões (cristianismo, judaísmo, islamismo), da cristandade, e dentro do próprio catolicismo (Aquino, Agostinho).

E vale lembrar também que Eru fez um genocídio em Númenor, matou inocentes, etc. Isto mostra que a idéia de bem e Bem da obra pode ser contra a nossa idéia de bem.

Quanto ao trecho que vc citou, acho que poderia ser explicado mais ou menos da seguinte forma: Eru não aprovou o mal de Melkor, ele apenas aproveitou que o mal já estava feito e fez algo bom daquilo, o que mostra uma característica do Bem perfeito. Eru é a suprema fonte do pensamento de Melkor, não porque a maldade de Melkor, que surgiu através de Eru, tem sua suprema fonte em Eru, mas porque a existência do livre-arbítrio tem suprema fonte em Eru. Mas sei lá, ainda me parece meio contraditório. Tipo, se encararmos Deus/Eru como uma entidade perfeita e onipotente, isso gera algumas contradições, ou pelo menos, aparentes contradições. Tipo, se Deus/Eru é tudo, então o mal também está contido nele? Se não está contido, então Ele não é tudo?

E o trecho sobre Númenor também é estranho, assim como as ações de Deus no Antigo Testamento. Não consigo ver como castigos severos possam ser ações boas.
 
Sorry, nenhuma cultura da Terra vale o sacrifício de bebês. E, aliás, não depende do sacrifício de bebês para existir também. Esse é o típico caso em que não intervir é criminoso. Não se trata meramente de um padrão ocidental de moralidade. Trata-se de um dano objetivo e irreversível a uma criança inocente.
Não, a nossa cultura não precisa desse tipo de sacrifício para existir, já a deles, sim. Da mesma maneira que alguém que mata ou rouba em nossa sociedade é excluído dela, pais que não sacrificam seus filhos gêmeos dentre essas culturas indígenas são excluídos. O não-assassinato, para os índios, significa que foi jogada uma terrível maldição sobre a tribo, e eles se dedicam, a partir de então, a tentar destruir essa maldição antes que ela os destrua. O simbólico/mítico/religioso é tão importante na cultura dele quanto na nossa. Se entre nós há inúmeras guerras e destruição por causa de religião, guerras que são capazes de destruir dizimar povo/culturas inteiras, como é que podemos dizer que eles não são dependentes do infanticídio para poderem perpetuar suas crenças?

E, além do mais, a ênfase à vida o apego a ela é outra carcterística puramente cultural. Achar que todos merecem a vida porquê ela é "boa", necessária e um bem inviolável é algo bem tipicamente ocidental. Não é em todos os lugares do globo que a coisa é assim... mais uma vez, quem está com a razão? E eu citei o exemplo dos bebês como poderia ter citado outros também, menos ou mais dramáticos dependendo do caso, mas todos eles nos levariam a essas perguntas fundamentais: há alguém com a razão? E, se há, por quê esse alguém tem, necessariamente, de sermos nós?


EDIT. Só pra esclarecer, eu não tô defendendo uma cultura certa ou errada, nem dizendo que devemos proteger a cultura a todo o custo e esquecer de todo o resto, dos homens, meio-ambiente, etc. O que eu tô querendo dizer aqui é que não há uma cultura correta, que não há nada de absoluto nesse mundo, portanto, se formos defender algo que achamos correto porquê achamos correto, tudo bem, mas o que não vale é justificarmos essa defesa dizendo que "ah, a coisa que eu defendo é um direito universal e eterno, blá blá blá". Enfim :mrgreen:
 
Última edição:
Se formos discutir Tolkien baseado unicamente no Deus judaico-cristão, é melhor irmos para uma comunidade religiosa.

Nada disso. O que estou dizendo é para não misturarmos maçãs com bananas. Temos de usar a moldura correta para tratar a personalidade de Eru, que para todos os efeitos É o Deus da teologia judaico-cristã. Não é o irmão gêmeo dele. Não é nem uma reformulação dele. É ELE. Palavras do próprio Tolkien. Sorry. :mrgreen:

Sobre genocídio: a justificativa é simples. Todo mundo em Númenor, fora Elendil e seus homens, compactuava com a política insana de Ar-Pharazôn. Portanto, era culpado. Se a rainha Tar-Míriel realmente queria resistir ao rei, deveria ter dado um jeito de fugir com os homens de Elendil, mas não o fez. É meio como a mulher de Lot transformada em sal no Gênesis.

Abraços,
 
Ah, e Caranthir, respeito a sua opinião, mas é indiscutível que algumas visões sobre como o mundo deve ser são melhores que outras. São menos opressivas, mais compassivas, mais racionais. É claro que existe margem pra controvérsia, mas qualquer cultura que defenda o sofrimento de inocentes por QUALQUER motivo é objetivamente pior do que outra que não o faça. Pare de jogar fora a luz da razão.

Abraço,
 
Eu entendi Luthien :lol:
Acho que como qualquer ser Eru também tem seu lado bom e seu lado mal, mas isso não significa que esses lados irão despertar um dia, ficando um sobre o outro. Eru é um ser perfeito, o criador de tudo, acho que seu lado bom e ruim estão em perfeita harmonia, sem causar nenhum incomodo. Talvez por isso ele tenha criado Manwë bom, e Melkor mal. Talvez sem intenção de te-los criados diferentes. E talvez assim também, ele saiba distiguir o bem do mal!!
Muito Obrigada!!!:joy:
tipo Ying e Yang???
Então ele é um cara que tem equilibrio!!!:D
Obrigada(de novo)!!!!!
bjusususu

:D
 
Ah, e Caranthir, respeito a sua opinião, mas é indiscutível que algumas visões sobre como o mundo deve ser são melhores que outras. São menos opressivas, mais compassivas, mais racionais. É claro que existe margem pra controvérsia, mas qualquer cultura que defenda o sofrimento de inocentes por QUALQUER motivo é objetivamente pior do que outra que não o faça. Pare de jogar fora a luz da razão.
Cisne, não estou jogando fora a luz da razão. Não existe nada nesse mundo que é melhor que algo "porque é, e pronto!" Isso é uma grande viagem etnocêntrica... minha cultura ocidental não é melhor que uma cultura maori ou aborígene só porquê meu povo é mais "racional" que o deles. Racionalidade é o que? Ser politizado, ter automóveis, morar em casas e apartamentos, seguir a Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão? Achar que somos superiores a outros povos por causa dessas coisas, mais do que ser irracional, é ser preconceituoso.

E insisto, quando falamos que a vida deve ser protegida, é nossa cultura falando, pois nós aprendemos a valorizar a vida desde que nascemos! Por exemplo, nós procuramos a todo o custo evitar a dor, mas entre outros povos ela é valorizada e em muitos rituais (de passagem de fase da vida, etc.) ela é buscada e honrada. Isso soa para nós como algo muito grotesco, mas é errado e devemos, por causa disso, levar a morfina aos povos desavisados? Por mais que não concordemos (e eu particularmente não concordo em matar bebês, fazer cortes no rosto quando se faz aniversário, etc., antes que pensem que sou um aspirante a Hitler :mrgreen:), devemos respeitar. Por mais que não respeitemos, devemos nos conter.

Claro que eu sei que, para nós, não dá pra deixar as pessoas morrerem pra lá e não fazer nada. Só que o que deve ser feito deve ser bem discutido e pensado à luz do respeito aos costumes alheios, não da "defesa dos inocentes" ou sei lá o quê.
 
Me metendo na conversa eu acho que existem valores que são fundamentas em qualquer cultura. O direito a vida é um deles. E outros. Por exemplo, tem culturas que consideram normal fazer extirpação de clitóris em meninas novas, pois alegam que a mulher não tem direito ao prazer sexual. Isso é uma coisa que ninguém pode aceitar. Pois se aceitarmos, estaremos compactuando com a barbárie.
 
Acho que tem limites pro respeito intercultural. E isso não quer dizer etnocentrismo. Quer dizer, simplesmente, colocar as coisas nos devidos lugares.

Eu sou totalmente a favor da manutenção das culturas nativas como elas sempre foram e querem continuar a ser. Se alguém quer VOLUNTARIAMENTE passar por um rito de passagem doloroso, fine with me. Se alguém acha que assar e comer o avô recém-falecido DE CAUSAS NATURAIS é um ato de amor, não sou eu quem vai impedir. Acho o modo de vida ocidental uma bosta em vários quesitos, e jamais gostaria que ele virasse o padrão único do mundo. Se uma cultura considera o homossexualismo imoral, ela pode fazê-lo, desde que não mate, torture, prenda ou limite os direitos dos homossexuais.

Agora, não dá pra confundir isso com tortura de crianças pequenos, sacrifício humano, mutilação de adolescentes indefesas sem anestesia e higiene, guerras tribais etc. Essas coisas são o mal de forma OBJETIVA. E têm de ser impedidas a qualquer custo. Só não vê quem não quer.

Abraços,
 
Agora, não dá pra confundir isso com tortura de crianças pequenos, sacrifício humano, mutilação de adolescentes indefesas sem anestesia e higiene, guerras tribais etc. Essas coisas são o mal de forma OBJETIVA. E têm de ser impedidas a qualquer custo. Só não vê quem não quer.

Abraços,
Eu concordo com você.

Mas dá o que pensar não é? Naquela tribo em que as mulheres são mutiladas em seus órgãos reprodutores ele não fazem por mal. E sim porque é o que eles acham que é certo. AS próprias mulheres acham isso.
É horroroso, banal, animalesco. Mas em algum momento da vida deles, em comunidade, aquilo foi acordado como sendo o certo a fazer.
Mas não significa que não possa mudar.
A própria tribo "evoluiu" muito com o convivo e proximidade com outras tribos e cultura e algumas de suas mulheres passar a não concordar com isso.
Eu penso que da mesma forma que essa "lei" foi criada ela possa ser extinta.
 
O problema é justamente esse, essa noção de barbárie é própria da nossa cultura, ela não existe nas outras! Para eles aquilo é socialmente/culturalmente acordado. Pô, que é errado pra nós que alguém pratique atos desses, sacrificar, mutilar, etc., claro que é, e eu também acho errado aos olhos da minha cultura, mas vamos nós lá dar uma de mais evoluídos e baixar o cacete em quem faz isso? Pera aí, a coisa não funciona assim. Primeiro que, ao contrário do que o Mené disse, isso de cultura mais evoluída que outra é passado, nenhum antropólogo ou estudioso da área pensa assim desde o início do século passado. Porquê? É bem simples: porquê pra uma cultura ser mais "evoluída" que a outra, temos que ter, primeiro, uma escala evolutiva e, portanto, situar uma na ponta e outra no início dessa escala, o que é antropologicamente falando uma das coisas mais bizarras que podem ser feitas. Tipo: "a cultura maia é superior a inca por causa disso, disso e disso!" WTF? Eles podem até ser mais desenvolvidos tecnologicamente, mas dizer que são superiores? Isso é muito ariano, não? :mrgreen:

Em primeiro lugar, acredito que deve haver entre todos os homens, independentemente de sua cultura, a liberdade de cada um decidir as coisas por si quando puder fazê-lo. No nosso caso, por exemplo, se nós, brasileiros, deixarmos de votar em um número X de eleições, teremos alguns de nossos direitos (crédito, abertura de empresas, etc.) cassados. Isso é algo inerente à nossa cultura política, e não podemos simplesmente decidir deixar as eleições de lado porquê isso implica em não podermos fazer algumas outras coisas. Não há liberdade, portanto, para um brasileiro escolher mandar as eleições pra p.q.p., etc. (esse é um exemplo bem banal, mas foi o primeiro que me veio à cabeça =P). Do mesmo modo, não há liberdade no caso, por exemplo, das meninas mutiladas. Isso é um erro! O quê, mutilar as crianças? Não. O erro reside em, caso isso for ocorrer, não dar chance às meninas de optarem por permitirem ou não que isso aconteça. Se elas permitirem, então tudo bem, é um acordo sócio-cultural entre membros de um povo, etc.

Não podemos condenar um povo por causa de suas crenças. Se vivêssemos entre os índios que matam seus filhos gêmeos, xingaríamos até a morte aqueles que defendem a posição contrária, de que os bebês devem sobreviver. Se na sociedade ocidental tivéssemos o costumer de tirar o clitóris das meninas quando essas entrassem na puberdade, não aceitaríamos opiniões opostas. Portanto, o que condiciona a maior parte da nossa vida e muitas de nossas opiniões/opções é a cultura na qual vivemos. Se é certo ou errado matar/sacrificar/mutilar/exilar, culturalmente falando, não é, pois não há um povo mais certo ou mais errado que outro. O que pode ser considerado universalmente errado é não dar liberdade aos homens/mulheres/crianças, porquê os valores de um povo pertencem à sua cultura, podendo ser alienados, mas a liberdade dos homens está entranhada neles, e é um bem do qual apenas cada um dos indivíduos pode abrir mão.
 
Última edição:
Temos de usar a moldura correta para tratar a personalidade de Eru, que para todos os efeitos É o Deus da teologia judaico-cristã. Não é o irmão gêmeo dele. Não é nem uma reformulação dele. É ELE. Palavras do próprio Tolkien.

Entendo sua posição, mas acho que você talvez esteja levando a sério demais essa posição do Tolkien, que sequer foi colocada nas obras - posição que ele nunca chegou a desenvolver com clareza. Estamos discutindo Eru, e para discutir Eru é preciso analisá-lo dentro das obras, não apenas fora dela. Se não passa a ser uma discussão bíblica. O que eu quero dizer é que a análise individual de O Silmarillion é mais importante que a análise bíblica baseada em uma posição de Tolkien, que mais me parece uma posição pessoal dele do que uma posição dele como autor, afinal, como autor, esse quesito foi pouco desenvolvido.

Em As Crônicas de Nárnia, por exemplo, Aslam é notadamente Jesus Cristo, mas nem por isso eu posso pegar qualquer parte da Bíblia onde participa Jesus e dizer que Aslam faria o mesmo. O Aslam dos livros, por exemplo, aceita que povos adorem outros deuses (isso é representado em A Última Batalha), desde que façam em nomes desses deuses coisas boas. Para a Bíblia esse tipo de coisa não é possível, e Jesus está de acordo com ela.

Sem falar que, de novo, o termo "Deus judaico-cristão" é muito vago, diversificado e também contraditório, especialmente na questão a respeito do livre-arbítrio e destino. Teólogos cristãos tiveram diferentes posições a respeito disso. A própria Bíblia é cheia de contradições a respeito disso. Etc. Por isso para mim a informação "Eru é o Deus cristão" é de pouca clareza.

Sobre genocídio: a justificativa é simples. Todo mundo em Númenor, fora Elendil e seus homens, compactuava com a política insana de Ar-Pharazôn. Portanto, era culpado. Se a rainha Tar-Míriel realmente queria resistir ao rei, deveria ter dado um jeito de fugir com os homens de Elendil, mas não o fez. É meio como a mulher de Lot transformada em sal no Gênesis.

Isso pode ser válido sob a ótica cristã, mas para mim não faz nenhum sentido. A rainha não fez mal algum para ninguém, não merecia ser condenada a morte. E fugindo de Númenor não estaria resistindo de nenhuma forma ao rei, e ficando não estaria colaborando. Também não tem culpa as crianças que morreram, especialmente aquelas que não tinham noção do que estava ocorrendo. Ou os cidadãos de regimes militares que não tomaram parte de alugma resistência, mas também não apoiaram o regime. Etc.

Uma coisa que eu nunca entendi, foi a necessidade de criação. Se Deus/Eru é perfeito, ou seja, completo, pra quê criar? Pra quê criar o mundo em 7 dias ou Ainur para cantar? Pra mim entra em contradição com a premissa de que Deus/Eru é perfeito.

Para mim também isso é contraditório no Deus cristão. Num deus panteísta isso é amenizado, afinal ele não cria o Universo, e sim é uno com o Universo. Isso não significa que o universo físico não tenha um início no tempo, mas o Universo, o Todo, é eterno e além do tempo.

Quanto ao trecho que vc citou, acho que poderia ser explicado mais ou menos da seguinte forma: Eru não aprovou o mal de Melkor, ele apenas aproveitou que o mal já estava feito e fez algo bom daquilo, o que mostra uma característica do Bem perfeito. Eru é a suprema fonte do pensamento de Melkor, não porque a maldade de Melkor, que surgiu através de Eru, tem sua suprema fonte em Eru, mas porque a existência do livre-arbítrio tem suprema fonte em Eru. Mas sei lá, ainda me parece meio contraditório. Tipo, se encararmos Deus/Eru como uma entidade perfeita e onipotente, isso gera algumas contradições, ou pelo menos, aparentes contradições. Tipo, se Deus/Eru é tudo, então o mal também está contido nele? Se não está contido, então Ele não é tudo?

Mas repare que Eru afirma que tudo que é tocado tem Nele a sua "suprema fonte". Isto não me parece algo como ele simplesmente ter aprovado o livre-arbítrio de Melkor. Ele é a causa de tudo isso.

E sim, o mal tem que surgir de algum lugar. Mesmo se aceitarmos que o mal é simples "ausência de bem", esta ausência deve ter surgida de alguma forma, do contrário o bem estaria homogêneo entre os ainur, e não ausente em uns e concentrado em outros.

E pelo que me pareceu Melkor nunca escolhera ser mal, e sim fora invadido por sentimentos maldosos, quase como se fosse algo inerente nele pronto para ser despertado. Eru, como onisciente, sabe que Melkor não seria forte para lidar com esses sentimentos. Essas forças vêm da criação de Melkor e do que ele viveu antes da canção - não me parece que ele teve vivências significativamente diferentes para causar isso, então creio que esse mal veio sobretudo de sua natureza inerente desde sua criação.

E concordo com o Caranthir a respeito do que foi dito. Creio que pode até existir uma Justiça ideal, tal qual defendia Platão, mas dificilmente a nossa visão dessa Justiça não seria interferida por nossas vivências pessoais, regionais, etc.
 
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Gurizada ta legal o papo, então vou deixar registrado minha opinião quanto ao fato de Eru ser o mal.
Como Deriel afirmou, Eru é completo, perfeito o tudo em si. Ele é o Deus Judáico-Cristão, pq Tolkien o descreveu assim e pelo fato do professor ser Cristão e acreditar nesta visão divina. Porém podemos notar uma coisa. Em diversas passagens do Silmarillion Eru é referido como o "UM". Isso significa que ele era apenas ele, o único "ser" existente. Durante a criação (os motivos que levaram ele a criar são inescrutáveis pelo mesmo motivo de tentarmos imaginar o que um ser perfeito e completo pensa, é muito difícil) ele criou os Ainur. Eles foram criados com mentes independentes da sua, portanto com livre-arbítrio. Se Eru de qualquer forma interferisse na mente de qualquer dos Ainur para indicar formas de desenvolver o pensamento e/ou fazer escolhas morais ele não estaria criando seres independentes dele, apenas extensões de si, não é cabível pois Eru já é completo em si. Portanto os Ainur que tinham personalidade e capacidade intelectiva diversa de seu criador, podendo tomar decisões por si só, vide o exemplo da segunda música que os Ainur cantaram.
O Mal é uma escolha Moral, logo se alguém é Mal ou não é uma escolha sua e de sua capacidade intelectual. Como Eru é tudo, e pelo que o professor colocou Eru é bom. Então Eru fez a escolha Moral de ser bom, isso não exclui o fato de Eru, por saber tudo, também saber do Mal, mas dizer que o mal esta contido nele é ir um pouco longe demais. O Mal não é uma habilidade, um "poder" que se tem. Poder inato é o que os Ainur tem e este é amoral, ou seja, eles o usarão conforme sua convicções de bem e mal. Logo se o Mal é apenas uma escolha moral, os Ainu tinham mente independente e a capacidade de escolher, é possível, como o fez, Melkor decidir por ser Mal.
Quanto a fala em que Eru afirma que tudo é um instrumento de sua vontade, inclusive Melkor, eu interpreto da forma que não são as atitudes de Melkor um instrumento de Eru, mas sim o poder de Melko. Todo o poder dos Ainur (inclusive o de Melkor) provém de Eru, logo tudo que se faz se faz porque Eru assim o permite. Porém Eru não interfere nas atitudes maldosas de Melkor pela mesma razão que eu coloquei a princípio, de ser um ser diferenciado, de não interferir nas mentes dos outros, para que estes não sejam apenas extensões de si, mas de existência diferente. Acho que este é o maior sinal de bondade que Eru poderia ter, o de permitir que, mesmo com todo o mal de Melkor, este continuasse independente e com seu poder.
Desculpem se me enrolei!
Claro essa é a minha opinião, estou aberto a pontos de vista diferentes.:joinha:
 
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Eu concordo com o Imrahil no fato de que manisfestações culturais ( se e´que podem ser chamdas assim ) tem uma limite. Mas concordo com o Caranthir no fato de que tudo é subjetivo. Para mim não existe uma verdade absoluta, tudo depede dos "olhos" de cada um para o mundo. Aí concordo com o Imrahil novamente, não está nas nossas mãos, obrigar pessoas a abidcarem de suas culturas e valores.
 
Acho que vou criar um grupo chamado "Eru YingYang My A**" - EYMA :g: Sei que tá na moda esse lance oriental de metades opostas e tudo mais, mas simplesmente não se aplica quando do "estudo" do personagem Eru
 
Enquanto mantiverem a discussão, comparando Eru a Deus, isso vai longe... Entendo, que n'algum lugar, confesso que não sei, alguém encontrou algo a respeito dessa comparação e a propagou.

Esperava que essa discussão saisse dessa comparação religiosa, mas me parece que gostam de continuar debatendo sobre o personagem em cima de um tema que sempre, e repito, sempre dá confusão.

Pena, pois encaro as Obras sem comparação a outras coisas ou personagens fora delas.
 
Última edição:
Enquanto mantiverem a discussão, comparando Eru a Deus, isso vai longe... Entendo, que n'algum lugar, confesso que não sei, alguém encontrou algo a respeito dessa comparação e a propagou.

Esperava que essa discussão saisse dessa comparação religiosa, mas me parece que gostam de continuar debatendo sobre o personagem em cima de um tema que sempre, e repito, sempre dá confusão.

Pena, pois encaro as Obras sem comparação a outras coisas ou personagens fora delas.

O próprio Tolkien admitia essa comparação entre Eru Iluvatar e o Deus cristão.
 
Eru é o Deus do cristianismo, os Ainur são os anjos, Melkor é Lúcifer, Frodo é Jesus Cristo, etc.
 
Talvez fosse necessário abrir um tópico que tratasse da discussão sobre as diferenças entre Eru x Deus. Seria interessante
 

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