Swanhild:
Não, eu não tenho acesso aos HoMe em espanhol. Nem sei se a série já foi totalmente vertida para qualquer outra língua que não o inglês. Essa versão do Athrabeth é um texto isolado, traduzido por um tal de Pablo Ginés a partir do vol. X (Morgoth's Ring). Particularmente, eu não gosto das versões em espanhol da obra de Tolkien. Eu tenho também o Las aventuras de Tom Bombadil e não consigo deixar de rir quando leio estrofes como:
El viejo Tom Bombadil era um alegre sujeto;
De chaqueta azul brillante y botas amarillas;
Llevaba en su alto sombrero una pluma de ala de cisne.
Vivía bajo la colina, donde el Tornasauce
Corría desde su fuente herbosa hasta la cañada.
Imediatamente me vem à cabeça a imagem de um Tom com bigodão, sombreiro largo e pele queimada pelo sol mexicano. Ou então, o que é ainda pior, as frases ganham ritmo e impostação de poesia argentina (aquelas de tertúlia, que se declamam entre um tango e outro).
E ainda por cima, se as traduções para o português às vezes já trazem complicações (como o famoso Celegorm *the fair*, traduzido como *o louro*), morro de medo de me apoiar em traduções para idiomas com os quais não tenho familiaridade (que é o caso do espanhol).
Foi por isso que eu pedi desculpas por citar o Athrabeth em espanhol. Se eu tivesse o texto em inglês teria colado o texto no idioma original.
Concordo que os Ainur *sejam* espíritos.
Já quanto à lista de Barbárvore...
What are you, I wonder? I cannot place you. You do not seem to come in the old lists that I learned when I was young. But that was a long, long time ago, and they may have made new lists. Let me see! Let me see! How did it go?
Learn now the lore of Living Creatures!
First name the four, the free peoples:
Eldest of all, the elf-children;
Dwarf the delver, dark are his houses;
Ent the earthborn, old as mountains;
Man the mortal, master of horses:
Hm, hm, hm.
Beaver the builder, buck the leaper,
Bear bee-hunter, boar the fighter;
Hound is hungry, hare is fearful...
hm, hm.
Eagle in eyrie, ox in pasture,
Hart horn-crowned; hawk is swiftest
Swan the whitest, serpent coldest...
Hoom, hm; hoom, hm, how did it go? Room tum, room tum, roomty toom tum. It was a long list.
Ela está
incompleta! Fangorn não a declama até o final. Essa seria mais uma razão para não dar tanta importância ao fato de que as Águias de Manwë não apareceram nela. Talvez ainda aparecessem até o final...
De qualquer forma, existe uma boa razão para os Valar e Maiar não estarem incluídos nela: É uma lição sobre os *seres viventes*, e os Ainur não eram *seres vivos*, pois não tinham hröar.
Um Maia que estivesse encarnado num hröa poderia entrar na lista dos seres vivos? Eu acho que sim. Acho que deveria entrar. Afinal, se animais irracionais entraram na lista dos seres viventes é porque tinham hröar, e apenas por isso. Os animais comuns certamente não tem alma, no legendarium de Tolkien.
Mas então por que as Águias de Manwë não aparecem na lista de Fangorn, ao lado dos Elfos, Ents, Anões e Homens? Existem duas respostas que eu posso tentar imaginar. Ou as Águias não entram na lista porque não são seres vivos (não tem hröar, mas fánar), ou entram na lista mais adiante, além do ponto onde Barbárvore parou de declamar, e nesse caso teriam hröar, mas não seriam um *povo livre*.
E o que seria um *povo livre*? Isso tem realmente alguma coisa a ver com *livre arbítrio*?
Vejam bem, os orcs certamente eram encarnados. Eles com certeza eram *seres vivos*. Eu, particularmente, acredito que eles tivessem livre arbítrio (embora não vá me utilizar desse argumento aqui). Mas eles não aparecem na lista! Por quê?
Acredito que a lição (*lore*) dos seres viventes não poderia estar completa sem uma referência aos *burárum*. Por mais odiosos que eles fossem, Fangorn não poderia deixá-los fora da lista, uma vez que nela entraram até as serpentes. Os orcs são *seres viventes*. Eles tem hröar! Não poderiam estar fora da lista!!
Ora, então deve haver um lugar para os orcs. Talvez possa haver também um lugar para as Águias de Manwë. Mas então essas criaturas, embora viventes, não seriam *povos livres*...
Talvez as Águias pudessem ficar em algum lugar lá para o final da lista, ao lado dos Magos (Istari). Afinal, Barbárvore conhecia os Magos, e os tratava como uma espécie à parte, mas não os incluiu entre os *povos livres*. Só posso imaginar um motivo: os Istari eram Maiar encarnados (usavam hröar), mas continuavam *à serviço* dos Valar.
No Silmarillion fica muito claro que as Águias dos Senhores do Oeste não deixam nem por um momento de estar *à serviço* na Terra-média. Elas tinham missões. Viviam trocando mensagens com Manwë e recebendo instruções dele, mais ou menos como os dois corvos do deus Odin, da mitologia viking.
Já os Ents foram criados na Terra-média, e nunca receberam instruções de Yavanna. Eles se espalharam pelo Mundo, mas nunca foram a Valinor. Os Pastores de Árvores não estavam *à serviço* dos Senhores do Oeste, como as Águias e os Istari. Talvez nesse sentido é que eles pudessem ser considerados um *povo livre*.
Agora... e os orcs? 1) Eles estavam *à serviço*? 2) De quem? 3) Por que eles não eram um dos *povos livres*?
Acho que se as respostas forem 1) *Sim*; 2) *De Melkor e depois de Sauron e Saruman*; 3) *Porque estavam sempre sob o poder de alguém de outra espécie (Ainur)*; então é possível fechar o raciocínio e expor uma tese mais ou menos robusta:
As Águias de Manwë e os Istari não eram *povos livres* apesar de estarem encarnados em Arda porque estavam sob o poder dos Senhores do Oeste.
Já os Ents, estes além de encarnados, eram um *povo livre* pois uma vez em Arda, encarnados em corpos mortais (hröar) e despidos da maior parte de sua sabedoria anterior à encarnação (como aconteceu com os Istari), não estavam submissos a Yavanna (mais ou menos como os Anões, que não estavam submissos a Aulë, conquanto o venerassem). Os Ents pastoreavam as árvores porque as amavam. Era da natureza deles amá-las. Não era uma missão designada por Yavanna, mas uma tendência natural, mais ou menos equivalente ao talento natural dos Anões para o desenvolvimento das habilidades manuais.