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[eregion3] O ultimo reino[L]

EduAC

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Gostaria de compartilhar mais uma das minhas historias de fantasia. Ela ainda tá incompleta, e eu ainda não tenho muita ideia de como dar continuação a ela.

Autor: Eduardo de Almeida Carvalho (eregion3)
Genero: Fantasia
Titulo: O ultimo reino
Capitulo Um: A proposta
Era um mercenário ambicioso. Queria muitas fortunas conquistar. Não se deixava levar por coisas fúteis como honra e valentia. O que valia para ele era o que podia conquistar e que faria para conseguir isso.
Vagava sozinho pelo mundo. Era apenas acompanhado pela sua espada. Seu coração duro era seu guia na vastidão desconhecida de terra. Procurava riqueza, portanto ia pra onde consegui-la era mais fácil.
O mundo tão pouco conhecia sobre ele, sobre sua história e sobre seus mistérios. Era difícil de pensar como tudo naquela imensidão veio a existir. Bom, pra falar a verdade já ficava cansado só de pensar. Achava melhor deixar as coisas como elas são sem remexer muito. No entanto apesar do seu desconhecimento em grande parte das coisas do mundo, uma sabia ao certo. Tudo hoje não era igual ao passado. Tudo havia mudado há tempos atrás, mudado pra pior. Lembra ainda de quando era criança e seus pais lhe haviam contado isso.
Bem, mas isso pouco importa, não ligava mesmo. O importante era agora chegar ao seu objetivo que era atravessar as montanhas. Já estava bem alto no lado ocidental. Agora era só questão de chegar a passagem que o levaria para o lado oriental. Na planície onde teria negócios a tratar.
O tempo piorava. Ventava forte e começava a nevar. Os flocos caiam rodopiando a sua frente pela estrada e no abismo lá em baixo. Procurando se proteger do vento e da nevasca. Seus pés se arrastavam pelo chão branco. Seria extremamente cansativa a viagem, mas só deus sabe quanto de dinheiro ganharia se atravessasse as montanhas e chegasse ao outro lado.
Enroscou-se na capa e cobriu a cabeça também. Encurvado sobre sob o cair da tempestade avançava. Ia lentamente subindo a trilha sinuosa que ia circundando a encosta da montanha até desaparecer lá bem distante próxima ao pico numa passagem escondida sobre a grande gigante de pedra. Ao lado esquerdo da estrada estava um grande vazio, um abismo que tinha como seu fundo o planalto frio e chuvoso de Farlet.
Fora nas terras de Farlet ha vinte anos atrás que nascera. Muito tempo se passou depois desse fato e com certeza sua vida não era a mesma. A passos lentos fazia mais uma curva na estrada. Ela era ladeada por grandes paredões da montanha cheios agora de neve e em seu meio o abismo quieto e silencioso e mortal. Vento batia nas paredes e fazia uns barulhos esquisitos parecidos com gemidos de fantasmas.
Sentiu um frio na espinha, mas continuou em seus passos lentos. Tremendo de frio saiu daquela curva. Olhou para o céu e viu o sol morrer no horizonte perdido. O dia ia acabando com seu tradicional brilho vermelho. E sentia-se desolado ali naquele lugar gelado e perigoso.
A noite chegava e o frio aumentava. Embrenhava em outra curva agora sob a terrível e escura sombra da montanha. Tinha muito cuidado ao caminhar ali, pois a escuridão era muito grande e podia sem perceber pisar no vazio do abismo e cair para a morte certa.
Sopro gelado do vento continuava batendo e fazendo os sons esquisitos. Apertou-se na sua capa e continuou. Por dentro tremia de medo, assustado com aqueles sons estranhos. Queria logo chegar a passagem e ir para o outro lado da montanha, mas provavelmente ainda faltavam algumas horas de difícil caminhada naquele breu e frio assustador.
No entanto era assim mesmo se quisesse ganhar uma boa grana teria que sofrer aquilo tudo. Terminou mais essa curva e agora seguia por mais uma reta. Nela de um lado estava a parede da montanha e do outro o abismo. Agora ficava mais difícil de andar, pois o chão ficava mais pesado com o grande volume de neve que caia. Toda vez que pisava seu pé afundava no solo fofo branco. Tinha que fazer uma força muito grande pra tira-lo para poder dar mais um passo adiante. Isso o fazia ficar muito cansado. Seus músculos da perna latejavam de dor. Era como se a montanha não quisesse que atravessasse pro outro lado.
Mas não a impediria de chegar ao seu objetivo. Iria para as planícies e conseguiria a grana que tanto almejava. A reta de novo entrava em mais uma curva e depois dela havia mais outra e em seguida a estrada subia em direção a passagem. Finalmente estava quase lá. Terminou aquela curva e foi para a ultima. Vento rugiu mais alto e a tempestade aumentou de novo. Parecia que o céu iria cair em sua cabeça. Agora não consegui enxergar quase nada a sua frente, a maior parte do que via era o branco da neve a sua frente. Ainda assim continuou a passos de tartaruga e por fim venceu a ultima curva.
Só faltava a ladeira que subia rumo à passagem. Ela era longa e íngreme e a trilha estava indistinguível em meio à neve. Por sorte sabia exatamente em que direção devia seguir para chegar a travessia. Com neve até a cintura e as pernas já geladas e dormentes avançou. Trôpego e quase desmaiando chegou à passagem. Ela era uma pequena caverna em linha reta que se estendia até o outro lado da montanha. Perto do desespero entrou nela e fora do alcance da neve deitou se tremendo numa convulsão de frio e procurou dormir. Nem se preocupou em acender o fogo, ficou apenas encolhido na posição fetal e dormiu.
As horas passaram rápidas e o novo dia chegou. A luz entrava tímida pela pelos buracos da caverna e iluminavam apenas parcialmente o seu corpo. Ainda se sentindo cansado acordou. Tirou da mochila o pão da viagem que carregava e comeu um bom pedaço. Levantou e avançou rumo à direção oriental da montanha.
Saiu na abertura oriental. A luz do sol iluminou sua visão. Fazia um dia aberto e sem nuvem nenhuma no céu. A estrada seguia dali descendo em curvas sobre os vales verdes da montanha. Sentia-se aliviado por ter chegado ao outro lado. Parecia que pouco o separava do seu destino final.
Começou a andar pela estrada. Sentia o ar refrescante dos bosques bater em seu rosto. Fazia um confortável calor. Seguia relaxado pela primeira ladeira e dobrava na primeira curva. Entrava agora num grande vale de bosques fechados formado por uma imensa ravina. O caminho ia escavado com os dois lados de barrancos de terra e raízes de arvores.
Continuou tranqüilo e saiu daquele entrou em uma nova ladeira ladeada por uma alameda de carvalhos. A primavera chegava e as flores começavam a desabrochar. Essa era a estação bela do ano. O clima ameno, as flores e as paixões. Era tudo lindo pelo menos era o que ele achava. Entretanto esse momento não era para admirar a paisagem e sim andar. Tinha que chegar a taverna Tronco Velho o quanto antes e para chegar lá tinha que seguir em frente e não ficar olhando belas flores.
Duas horas levou a mais descendo ladeiras e andando por belos vales até chegar as planícies. Ela era de uma grande extensão e se perdia além do horizonte. Dominada por uma pradaria abundante de abetos e bétulas. A estrada por ela agora seguia reta sem nenhuma curva por quilômetros e mais quilômetros. Lá na distancia podia divisar o povoado. Ali devia ficar a taverna Tronco velho.
Seu coração batia mais rápido agora com a possibilidade iminente de realizar o negocio que lhe renderia algumas moedas de ouro. Caminhava levemente feliz. Esperava que o serviço que tivesse que fazer não fosse muito difícil, mas não importava a dificuldade o que realmente importava era ganhar o dinheiro no final.
Mais uma hora de um tranqüilo caminho e chegou ao povoado. Um lugar humilde e pequeno. Tinha apenas umas dez casas e edifícios. Já pro final do vilarejo ficava a taverna Tronco velho. Era uma construção de madeira de três andares, levemente conservada. Deu grande sorriso e foi em direção ao Tronco velho. Aquele era uma taverna exclusivamente construída pra viajantes, uma vez visto que o povo dali quase não a utilizava e também simplesmente porquê não existia muitas pessoas ali. No passado o Tronco velho já foi mais freqüentado na época que viajar não era tão perigoso e também não havia tanta incerteza como hoje. Atualmente estava meio largado as moscas, poucos iam ali e alias poucos não passavam por ali. Era raro um viajante circular por aquelas terras de planície. Havia um grande temor sobre esse local.
Caminhou a passos decididos para a taverna. Tinha certeza que depois desse negocio sua vida não seria a mesma. Atravessou o portal e adentrou no recinto. O lugar estava praticamente vazio. Havia apenas duas pessoas. Uma sentada perto do balcão e outra um pouco mais afastada. Esse primeiro já era bem idoso e usava roupas de mago o que levava a crer que era mago, já o segundo que estava em um canto escuro. Bebendo sua cerveja a goles lentos.
Olhou para os dois e pensou, qual seria aquele que trataria de negócios. Não havia como saber, tinha sido apenas informado que teria encontra-lo ali naquela taverna. Sem a certeza de saber quem era ao certo foi para o Balcão e se sentou. Bateu com o punho três vezes na madeira. Da porta atrás do balcão apareceu uma garota que não deveria ter mais que quatorze anos. Ela tinha cabelos negros e em seus olhos ainda se percebia o sinal da inocência. Era uma maldade deixa uma garota ainda adolescente trabalhar num lugar como aquele.
Ela olhando com uma expressão de assustada. Perguntou:
- Pois não senhor, quer alguma coisa?
- Quero sim. Uma caneca de cerveja e um petisco qualquer. Sei lá, o que tem ai pra comer?
- Temos a carne de um novilho que matamos essa manhã, fora isso tem carne de porco salgada de dois dias atrás, o que vai querer?
- Eu fico com a carne do novilho, me vê um pouco dela junto com a cerveja.- pediu ele a garçonete.
Ela assentiu com a cabeça e voltou a entrar na porta atrás do balcão. Enquanto isso a duvida consumia ele. Qual daqueles dois seria o seu negociante? Deu uma rápida olhada para as mesas. O velho parecia dormir sentado e o outro continuava a beber sua cerveja calmamente escondido nas sombras. Os dois nem parecia notar a sua presença, mas como saberia com quem negociaria?
Ainda confuso comeu sua carne saboreando a cerveja. Agora a jovem garçonete estava também sentada ali perto do lado de dentro do balcão. Apoiava a cabeça no braço e observava perdida, a paisagem triste do lugar. Ele concordava com a sensação que a garota parecia demonstrar. Devia ser mesmo um saco trabalhar ali, isso além de perigoso, pois fica imaginando o quanto de conversa fiada que deve ter ouvido. Bom, mas isso era problema dela e não dele. Continuou a comer em silencio enquanto decidia o que ia fazer. Terminou a carne que por sinal estava ótima e bebeu o ultimo gole da cerveja.
Quando relaxava um pouco após a ótima refeição mais uma pessoa entrou na taverna. Ele vestia uma longa capa negra e estava com o capuz sobre o rosto de modo que só deixava aparecer o queixo com o cavanhaque. Ele veio andando em sua direção e num rápido giro se sentou ao seu lado.
- Desculpe pelo atraso, tive problemas pra chegar aqui.- Falou o estranho a ele.
- Ah é você então, estava aqui numa seria duvida pra saber qual dos dois ali sentados nas mesas era no caso você. Entretanto ainda bem que apareceu antes que fizesse uma besteira.
- Ainda bem mesmo, mas vamos ao que interessa. Você veio aqui por causa da proposta que lhe fiz.
- Sim exatamente. No entanto quero saber o tenho de fazer e quanto vai me pagar?
- Ah, isso é simples você tem que apenas me acompanhar em uma jornada até o final e eu lhe pagarei 50 moedas de ouro.
- Só isso. Porquê me escolheu eu nem sou um dos melhores mercenários de Farlet e nem das planícies de Gharon. Tem tantos outros que você poderia levar junto consigo.
- Eu sei disso, mas você foi o único até agora que parou pra ouvir o que tenho a dizer.- afirmou o estranho.
- Pra onde você pretende ir? Porquê tantos se negariam se a oferta é tão alta assim?
- Isso porquê pretendo atravessar as planícies de fogo e chegar aos vales das sombras.
Não acreditou nas palavras que ouviu. Não podia ser. Aquele homem era louco. As planícies de fogo e os Vales das sombras eram morte certa. Nunca tinha ouvido falar de alguém que os tenha conseguido atravessar e retornar com vida.
- Você é louco, qual a razão de querer ir a esses lugares?
- Isso é problema meu. O que importa é se vai aceitar minha oferta ou não?
Estava numa encruzilhada. O dinheiro que ele oferecia era muito grande, mas a tarefa era impossível. De que adiantaria receber tanto assim pra morrer com tudo, não havia sentido. Entretanto não podia perder essa oportunidade. Com esse dinheiro todo seria um homem rico e não haveria mais labutações de fome e frio na floresta. Finalmente poderia deixar de ser um andarilho sem destino. Podia aceitar a oferta dele e não segui-lo até o final ou podia até mata-lo pra ficar com as moedas de ouro. Claro isso seria a sua ultima alternativa. Pensando bem devia aceitar era tudo questão de trapacear no final.
- Quer saber eu aceito sua proposta sim.- Afirmou com todas as letras.
- Ótimo vai ser bom ter um companheiro nessa viagem. Disse o estranho.
Mas o estranho não era tolo, por baixo da sombra de seu capuz seus olhos miravam desconfiados para seu futuro companheiro de viagem.
- Então amanhã partiremos. Iremos para o norte em direção a Vila Verde. – Falou o estranho.
- Tudo bem então, o encontro amanhã aonde?
- Na praça do vilarejo.
Com uma reverencia da cabeça o estranho partiu. Repetiu o giro e foi andando rumo a saída. Deu meia dúzia de passos e sumiu pela porta de da taverna. Estava agora novamente sozinho sentado. Seus braços estavam apoiados no Balcão. Pensando seus olhos pararam sobre o anel de ouro em seu dedo. Ele era a única lembrança de seu passado. A única herança que seus pais haviam deixado. Mortos na guerra não eram nada mais do que um incomodo peso na memória. Virara-se a vida toda sozinho sem ajuda deles, não sabia ainda porque carregava aquele anel no dedo. Talvez fosse por encargo de consciência ou medo do passado, mas verdade era que aquele anel não representava nada mais pra ele. No passado talvez quando era criança significasse uma tola esperança de retorno dos pais. Entretanto os anos de labutação mostraram que eles estavam nada mais que mortos e enterrados.
Agora com esse negocio sua vida dava um novo passo. Poderia reconstruir o que há muito havia sido destruído. Daria finalmente adeus aos anos de labutação. Deixaria de viver na floresta e teria uma casa. Com um pouco de sorte teria amigos e quem sabe uma esposa e final até filhos. Poderia ter a vida com que tanto sonhara.
Perdido em pensamentos não notou aproximação da garota garçonete. Ainda olhava perdido para seu anel. Só foi perceber ela quando estava exatamente a sua frente. Levantou os olhos e mirou seu rosto. Havia uma expressão de vergonha.
- Vamos fale logo o que quer? – falou de repente do nada.
A ainda menina meio encabulada começou a falar gaguejando um pouco.
- É... bem....eu não pude deixar de notar o senhor conversando com o homem da capa preta. Parecia que pretendiam partir em breve para um lugar distante.
- Sim e daí, qual o problema?
- É... nenhum senhor.... é que eu queria saber se podia ir junto com vocês? – indagou a garota surpreendentemente.
- Que?!
- Não irei com vocês por todo o caminho só irei até Vila Verde para casa de meus avós.
- Ficou louca garota. Você nem me conhece, como poderia ir em viagem comigo.
- Por favor senhor eu lhe peço do fundo do meu coração. Desde que meus pais morreram meu tio passou a cuidar de mim – Ela fez uma pausa e começou a chorar baixinho. As lagrimas caiam dos seus olhos aos borbotões. – O senhor não sabe o quanto eu tenho sofrido. Ele me maltrata todos os dias, me obriga a trabalhar aqui e...- Com grande soluço de choro ela continuou. – Ele se aproveita de mim!
Imaginou com nojo a cena. Seu estomago embrulhou, teve pena da garota, entretanto não podia fazer nada por ela. Não podia leva-la consigo numa jornada maluca em busca dos Vales das sombras. Com um sinal negativo da cabeça ele se levantou e foi embora. Sentia muito; mas nada podia fazer, a vida tinha sido dura com ele também. Infelizmente a garota tinha que aprender a se virar.
Saiu da taverna e foi para um canto da planície de baixo da sombra de uma bétula. Ali armou seu pequeno acampamento. Ficou até o dia seguinte. Perto da meia noite dormiu e acordou com o nascer do sol. Fazia ainda o frio da manhã e nevoa pairava no ar ao redor. Arrumou suas coisas e foi em direção ao povoado. Chegou a passos lentos a praça. Sob bruma reconheceu um vulto ali parado. Esperava que fosse o sujeito de ontem, mas ao chegar perto percebeu que era a jovem garçonete. Ela usava uma longa capa verde musgo e parecia assustada e nervosa ao mesmo tempo. Levou um susto com a aproximação dele.
- O que faz aqui? Eu não disse que não podia vir. – esbravejou.
- Desculpe, mas eu não posso ficar mais aqui, eu não agüento mais estou desesperada.
- Não pode vir comigo, minha jornada é muito perigosa você apenas morreria se viesse comigo.
- Prefiro a morte do que ficar aqui e alias meu tio me matará de qualquer jeito se descobrir que estou fugindo.
- Não sabe o que a espera se vier comigo.
As palavras dele sumiram com o barulho da porta, distante a alguns metros, da taverna sendo escancarada. Uma voz rouca veio gritando alto.
- Cadê você sua vadia, vai pagar pelo que fez a mim.
A jovem assustada pegou o braço dele e começou a puxar.
- Vamos rápido temos que sair daqui. É ele, vai me matar. – Falou a garota em pânico.
- Calma eu sei um lugar onde a gente pode se esconder.
Pegou a mão da garota e a foi levando junto com ele. Correram pra fora da praça em direção ao campo. O tio ensandecido continuou a gritar.
- Estou vendo você sua vadia e seu amiguinho, mas não tem problema vou matar os dois e botar suas cabeças empalhadas no meu quarto.
A garota soltou um grito de horror ao ouvir aquilo. Agora estava correndo no gramado do campo. A nevoa branca e impenetrável seguia a sua frente turvando o caminho. O homem atrás deles continuava em seus gritos ensandecidos.
- Pode gritar a vontade, você dessa vez não vai escapar. Sua hora chegou!
Continuaram em corrida desesperada. Até que chegaram a um amontoado de pedras cheias de limo e verdes. Entre as duas maiores havia um pequeno espaço onde uma pessoa magra podia entrar.
- É aqui. Entre ai nesse espaço e deixa que eu cuido do seu tio. – falou parando de correr e apontando para o pequeno espaço.
- Mas é aqui? É tão pequeno posso ficar presa.
- Rápido! É isso ou morrer.
A garota obedeceu a ordem e entrou no buraco. Ele ficou parado a olhar ela desaparecer na escuridão. Assim que ela sumiu uma ira levantou-se em seu coração. Sacou a espada a bainha e avançou. Sabia que seria tarefa fácil, mas mesmo assim não aliviaria. Tinha certeza que aquele homem não era páreo para ele.
Logo o vulto do homem surgiu em meio à neblina. Era um velho de meia idade com as costas curvadas e a pernas arqueadas. Avançou sem medo. O tio da garota tentou golpeá-lo com um cutelo. Ele defendeu e girou os braços o velho para baixo. Com a mão esquerda deu um soco bem no meio do nariz dele. O velho vacilou e foi para atrás sob o impacto do golpe. Nesse momento armou a espada e com uma estocada só encravou a espada no peito dele. A lamina o atravessou e saiu pelo outro lado. O velho soltou um gemido alto de dor e caiu no chão se contorcendo. Dificilmente ele morreria o golpe não havia sido no lado do coração. Devia ter perfurado o pulmão, mas ele ainda tinha outro. Recolheu a espada e voltou pra buscar a garota.
 
Gostei da ideia inicial e como sempre, vou estar esperando pela continuação. Gostei do personagem principal, ele tem uma personalidade meio ambígua, neh? Ao mesmo tempo que quer se fazer de durão, não é isso o que ele é exatamente. Vou aguardar. :yep:
 
Capitulo 2

Acabou a garota indo com eles para vila Verde. Ela havia dito a eles que ficaria na casa de uns parentes que moravam ali. Um dia já havia passado desde que tinha vindo com eles e de certa forma estava animada com isso. Percebia-se nela um sorriso e um animo para caminhar e comer e acampar. Ela era completamente diferente da garota entediada e triste na taverna.
Vila Verde ficava a seis dias do povoado da onde tinham partido. Era um caminho meio complicado. A trilha que levava pra lá estava coberta de mato e em alguns lugares completamente desaparecida. Ficava difícil saber em que direção seguir. Felizmente o homem de capa negra que se chamava Bentor sabia muito bem andar por ali. Já ele Gartan nunca desde que nascera tinha tomado aquele caminho. Poucas vezes tinha saído de Farlet. E pior ainda Romena a ex-garçonete que nunca tinha saído do povoado de tronco velho.
O lugar para onde iam foi conhecido durante muitos anos como capital do comercio até a guerra chegar e gerar o grande terror nas planícies e praticamente abandonar todas as estradas e trilhas que circulavam por ali. Pessoas que circulavam por aquelas bandas eram tomadas como corajosas, o que ele, Bentor e Romena estavam fazendo muitos poucos tinham coragem pra empreender. Principalmente depois que o dragão passou a habitar as montanhas que separavam as planícies de Farlet. Vila verde depois sofrer seguidos saques e praticamente ter seu comercio falido virou uma cidade de refugiados e de mercenários. Apesar de seu comercio externo estar praticamente falido o interno continua resistindo e é esse o principal motivo que ainda faz a cidade resistir e não desaparecer como outras que hoje são apenas ruínas.
O caminho que seguiam continuava reto. Bentor ia indicando a direção certa a seguir. Enquanto isso à direita deles as montanhas continuavam imponentes e silenciosas. Nos atuais tempos elas eram motivo do grande terror nas planícies. A sombra de terror que causava nos habitantes dali era terrível. Desde que Alcanan III perdeu a guerra pra as hordas negras de Maldur. O dragão veio habitar essa região. Após a guerra ele a recebeu de presente do Senhor de Maldur e desde então vem mantendo seu regime de terror. A cada dia escolhe uma aldeia e exige sacrifícios humanos pra satisfazer sua fome senão destrói a aldeia toda e devora todos os seus habitantes. Mas felizmente isso nada tinha a ver com eles. Seu destino era bem longe dali nas planícies de fogo e nos vales das sombras.
Agora se aproximavam de uma região arborizada. Um pequeno bosque na verdade. Composto também de abetos e bétulas. Como era primavera nas plantas que ficavam no chão começava a nascer pequenos botões de flores. Algumas eram brancas e outras num leve tom rosa.
Enquanto andavam Romena parou e ficou a admira-lás. Seus olhos brilhavam, parecia que nunca tinha visto nada igual. Gartan parou e a olhou surpreso.
- Que foi nunca viu às flores nascerem na primavera?
- Não, meu tio não deixava eu sair muito da taverna.- disse a garota ainda admirando as flores – É tão bonito, nunca pensei que houvesse coisas tão lindas assim no mundo.
- Ah! Que isso, você acha muito bonito. É tão comum na primavera.
- Você quer dizer que toda primavera acontece isso?
- Sim.- falou Gartan espantando-se com o desconhecimento da garota.
- Não acredito que uma coisa tão linda assim aconteça todo ano.
- Você é estranha Romena. Tem que andar por ai e ver mais a coisas da natureza, tenho certeza que vai cair o queixo quando ver.- falou ainda olhando para a cara de surpresa dela e continuou – Quer saber venha cá Romena.
A garota veio sorrindo quase que saltitando de felicidade. Gartan olhou bem pro rosto dela assim que ela se aproximou. Abaixo-se e pegou uma flor e colocou em seus cabelos.
- De agora em diante eu só vou chamar você de senhorita Flor.
Quando ele falou isso a garota sorriu de orelha a orelha.
- Então quer dizer que me acha tão linda quanto uma flor.- falou ela toda feliz.
- Eu não disse isso! – contra afirmou Gartan um pouco enrubescido.
- Eu detesto interromper esse momento romântico, mas temos uma viagem a fazer e não sei se vocês lembram nós estamos num lugar extremamente perigoso.
Bentor estava sentado num galho de arvore de pernas cruzadas olhando pra eles de forma irônica. Dessa vez não só Gartan ficou de cara vermelha, mas também Romena. Bentor deu um sorrisinho ainda mais irônico que o olhar e desceu da arvore. Eles continuaram a caminhada durante o resto do dia. O clima entre Gartan e Romena ainda ficou um pouco na hora que pararam pra almoçar, mas logo passou.
Assim ao final do dia pararam pra acampar. Estavam numa clareira ainda naquele mesmo bosque. Bentor haviam feito uma fogueira que crepitava no meio deles. Ele mesmo assava umas lingüiças no fogo enquanto isso Gartan estava deitado com a cabeça apoiada nas mãos observando as estrelas. Aproximando-se de Gartan Romena começou a falar:
- Gartan você conheceu muitos lugares bonitos?
- Eu? – Ele ainda distraído observando as estrelas – Bom, eu já dei umas andanças por ai, principalmente nos planaltos de Farlet e vi muitos lugares bonitos sim principalmente as cachoeiras de Jafölen. Mas o porque da pergunta?
- É depois que eu me livrei do meu tio me deu uma vontade de viajar o mundo. Conhecer o que há ai fora.
- Eu acho que não seria uma boa idéia, porque hoje andar pra lá e pra cá está muito perigoso. O que estamos fazendo aqui parados nessa clareira e uma coisa totalmente fora do comum. Viajar por essas planícies é muito perigoso, principalmente quando há um dragão habitando as montanhas próximas daqui.
- Ah, não vai me dizer que não gosta de viajar. E alem do mais qualquer perigo é melhor do que o meu tio. Depois que sai daquela taverna não tenho mais medo de nada.- agora ela parou e olhou para olhos de Gartan e ficou um pouco vermelha – Um dia ainda tem que me levar pra ver a cachoeiras de Jafölen.
- Talvez algum dia daqui a muito tempo ti levo lá, logo esquecerá as flores da primavera.
- Vou esperar ansiosamente esse dia – disse ela sorrindo, mas uma vez de orelha a orelha.
Bentor observava isso tudo de longe. Já sabia como ia acabar essa história toda, afinal de contas isso parecia estar escrito nas estrelas. Era apenas uma questão de tempo. Isso se houvesse tempo, pois havia uma grande chance de não retornarem do lugar para onde iam. Ainda tinha mais, ele sabia que haviam criaturas inimigas próximas. Provavelmente goblins em busca de vitimas. A sorte deles é que não sabiam que estavam ali, mas se a conversa do casal continuasse animada do jeito que estava logo saberiam e seria uma dor cabeça para dar conta de todos eles. Por isso Bentor saiu da onde se localizava e foi até o casalzinho e lhes falou:
- Acho que vocês deviam conversar mais baixo, pois temos companhia.
- Que? Como assim que tipo de companhia? – indagou Gartan confuso.
- Goblins há alguns metros daqui, no bosque.
- Caramba goblins por aqui, já não chega o dragão – Romena.
- Os goblins são servos do dragão e nos devemos fazer silencio agora se você não quer que eles nos achem – Bentor.
Gartan foi silenciosamente até a fogueira e a apagou. Sacou a espada e foi para perto de Romena. Para caso deles os descobrirem estaria perto pra protege-la. Enquanto isso Bentor subiu numa arvore e armou o arco para atirar a qualquer movimento.
De repente passos surgiram na floresta. Eles eram abafados e leves bem característico dos goblins. Conversavam alto não se importando com quem pudesse escuta-los.
- Eu sei que o mestre disse ta, não precisa me lembrar. - falou um dos goblins a conversar.
- Sei que você sabe, mas não entende a gravidade. Se não encontrarmos logo ele fará nossas cabeças de decoração.- disse uma outra voz mais aguda.
- Não se preocupe logo o acharemos. Hei vocês dois ai! Andem mais rápido seus molengas.
Gartan ouviu a conversa dos dois goblins e ficou se perguntando “que diabo de objeto eles estavam procurando”. Continuou em silencio esperando os passos se distanciarem. Lentamente os passos foram se silenciando.
Olhou então para cima onde estava Bentor e ele fez um sinal de positivo e desceu da arvore.
- Mas que diabos estavam procurando?
- Não sei, mas parece que o senhor de Maldur estava bastante irritado por ter perdido algo.- respondeu Bentor.
- Quem é esse senhor de Maldur e onde fica esse lugar?
- Bom, Maldur era uma província do Reino que se rebelou anos atrás e hoje domina todo o reino. – Respondeu Gartan olhando para Romena.
- Então essa foi à guerra que teve há alguns anos atrás que tantas pessoas falam.
- Aham, e o ultimo feudo do reino cair foi exatamente esse na qual estamos que na época pertencia a Alcanan III.
- Poxa que terrível e agora aconteceu com todo o reino?
- Basicamente o que você vê no seu dia-a-dia, violência, prostituição, assaltantes, traidores e toda a sorte de malfeitores. Hoje são poucos os lugares que você pode andar sem desconfiar que vai ser apunhalado pelas costas.
- Mas não existe um jeito tudo voltar a como era antes? – indagou esperançosa Romena.
- Não, não existe ninguém capaz no reino de desafiar o poder do Senhor de Maldur.
- Então como vai a acabar o domínio de Maldur?
- Não sei – Bentor – Chega de fala dessas coisas terríveis e vamos começar a andar porquê quem sabe pode aparecer um goblin e nos pegar de calça na mão.
Gartan pegou as lingüiças que ainda assavam nas brasas da fogueria e ofereceu uma a Romena, ela sorrindo aceitou. Então eles foram andando atrás de Bentor pela escura floresta.
Bentor desconfiava em sua cabeça, porquê os goblins não haviam atacado eles. Ele tinha certeza que os haviam notado na clareira, mas então porquê os ignoravam. Será que aquilo que procuravam era tão importante assim. Passava acreditar que era, estranho, os goblins tem tanto apreço pela carne humana que a não deixariam de lado assim. É realmente estranho mesmo.
Continuaram a caminhar pela noite adentro. Ainda pela madrugada saíram do bosque e retornaram ao campo. A lua brilhava prateada no alto do céu como se fosse um sorriso cínico de deboche.
O que eles fariam agora, provavelmente continuariam seguindo em seu tortuoso caminho. Como era de noite não conseguiam enxergar a trilha que se seguia na sua frente. Talvez somente Bentor a visse, pois este possuía sentidos especiais. Há aproximadamente trinta anos atrás tinha nascido na aldeia Hasret nas terras de Farruat e como era sabido por todos no Reino quem nascia naquelas bandas era sempre especial. Na maioria das vezes tinham sentidos mais aguçados, no entanto aconteciam casos mais graves ou mais surpreendentes. Ninguém sabia a origem desses ocorridos nessa região, ainda era um grande mistério como muitas coisas no Reino eram.
Bentor subiu no alto de um pequeno outeiro e observou as redondezas. Lá mais distante deles perto de um outro bosque e já quase chegando nas altas colinas que depois logo atrás destas emergiam as montanhas estavam pequenas luzes de um acampamento.
- O que vê? - Indagou Gartan vendo apenas um brilho distante daquilo que eram as fogueiras.
- Vejo perto da base das altas colinas às luzes dos acampamentos goblins. Estão suficientemente distantes da gente para não nos perceber. Eles estão andando rápido. Parece que essa sua busca é muito importante que eles não podem perder tempo.
- Estranho nunca vi goblins andando tão rápido – afirmou coçando a cabeça Gartan – Agora não entendo como consegue ver que estão perto das colinas, Bentor, eu não consigo enxergar nada disso. Está muito escuro.
- Meus sentidos são mais aguçados do que de pessoas normais, eu nasci em Farruat.
- Ah ta. Nunca entendi porquê isso acontece lá.
- Nem eu.
Nesse momento de silencio entre os dois é que Romena alcançou o topo do outeiro. Olhou bem para o par ali parado e disse:
- finalmente eu consegui, nossa – suspirou- achei que nunca ia conseguir.
Ele e Bentor riram. Com certeza ainda havia muito que ensinar a ela sobre viagens, mas indiscutivelmente percebia que ela tinha o potencial, pois quando a deixaram esperando para subir e observar sobre o outeiro ela podia bem ter ficado lá e ter esperado ao invés de ter ido atrás deles. Era engraçado constatar isso, pois quando aquela menina o implorara na taverna pra vir com ele não imaginava que tivesse tanta fibra dentro de si, pelo contrario a olhava até com ar de desdém e por enquanto ela superava todas as expectativas. Começava achar que o destino dela não era definitivamente naquela taverna.
Ela se aproximou dos dois e olhou a paisagem. Como Gartan apenas percebeu as luzinhas lá longe no meio do escuro. Quando perguntou a Bentor o que era aquilo e ele a respondeu que eram os acampamentos goblins e esses eram provavelmente aqueles que tinham estado na floresta perto deles. Sentiu-se aliviada, talvez a distancia os protegesse daquelas terríveis criaturas. Nisso ela continuou observando quase que hipnotizada perdida em pensamentos.
Enquanto isso Gartan também pensava. Depois que chegassem a vila Verde que caminho tomariam. Não sabia que direção seguir para ir para as planícies e os vales das sombras, alias nem sabia se isso ficava no Reino mesmo e se não ficasse achava que sua tarefa ia ser um pouco mais complicada. Pelo que ouvira falar aqueles que chegavam perto das fronteiras eram muito corajosos e aqueles que as atravessavam eram mais ainda. Ainda não tinha conhecido ninguém que houvesse feito isso. Só há uns dois anos atrás havia conhecido uma mercenária com a qual tivera um caso que tinha estado na região fronteiriça. Ela o tinha dito que lá era uma espécie de circo dos horrores e que não era qualquer um que suportava aquilo. Agora ficava imaginando o que tinha além do Reino. Nunca ouvira falar de nenhuma região fora do Reino e sinceramente nunca esperava ouvir.
Depois de um tempo os três voltaram para o acampamento e ascenderam a fogueira. Agora tinha certeza que não corriam risco nenhum, afinal os goblins estavam longe atrás dos seus negócios. E eles com sorte também continuariam atrás dos seus.
Todos foram dormir aliviados entorno da fogueira menos Bentor que ficou acordado confabulando consigo. Silenciosamente pra não acordar os outros dois, puxou um cachimbo e tornou a subir o outeiro. Fumando e olhando perdido a escuridão pensou sobre o caminho a seguir depois de Vila Verde. Com certeza tinham que ir para o palácio das águas; não gostava da idéia, mas sem duvida tinham uma coisa essencial que havia de pegar lá.
Bentor temia a idéia de ter de ir ao palácio das águas como todos os outros que tivessem que tomar esse destino temeriam. E de fato a fama do lugar não ajudava a aliviar esse sentimento. A reputação do lugar não era nada boa, nem era muito por causa de seu passado que sem a menor sombra de duvida havia sido glorioso. O palácio das águas tinha sido o lar dos reis e a sede de seu poder. Há muito tempo atrás segundo a lenda os reis que tinha vindo do mar o construíram e decidiram ali fazer sua morada e continuou assim por muito tempo até a segunda civil quando este foi abandonado e substituído pela cidade de Garens. Ninguém sabe o que levou os reis mudarem de lugar, no entanto se tem conhecimento que todos os tesouros que possuíam lá haviam deixado lá mesmo. Isso durante muito tempo foi atrativo para muitos aventureiros, mas todos o que foram até lá nenhum retornou com vida. Nem mesmo o próprio Maldur aquele mesmo que deu nome a terra que dominava a todos no reino, nem ele mesmo o terrível ousou a pisar no palácio das águas. Especulava-se que demônios e monstros habitavam ali, ninguém tinha certeza. Apesar disso tudo aquele parecia ser o destino deles. Havia uma coisa lá nesse lugar terrível que sem possui-lo nunca conseguiriam chegar ao vale das sombras.
Bentor continuou a pensar no escuro. Será mesmo que havia um jeito de driblar tudo o que tinha no palácio das águas e pegar aquilo que tanto precisavam. Temia que não conseguissem e ai seu plano estaria pra sempre fadado ao fracasso até mesmo porquê ele e Gartan estariam mortos. Para eles sairem vivos do palácio das águas significava vitória ao menos que fossem estúpidos de saírem de lá vivos e esquecerem daquilo que procuravam. Não devia pensar tanto nessas possibilidades vindouras, ainda tinham muitas coisas pela frente até chegar lá. Portanto continuou fumando na escuridão, mas agora não pensava mais nessas coisas e assim apenas assistia a fumaça subir ao céu a cada baforada sua.
Enquanto isso no acampamento Gartan dormia enrolado em sua capa. Sonhos negros o assaltavam novamente. Voltava a sua infância. A cabana a perto do riacho em Farlet. Tinha apenas cinco anos de idade. Brincava com seu pequeno bonequinho de madeira esculpido por seu pai quando tinha quatro anos de idade. Era um cavalheiro que enfrentava monstros e demônios cavalgando pelo mundo desconhecido. O tempo ali era bom, o céu estava aberto e não tinha uma qualquer nuvem a manchar o azul celeste. Sua mãe enquanto isso cantava feliz na cozinha preparando o almoço e seu pai havia saido pro bosque buscar lenha.
No momento em que brincava com cavalheiro imaginário de brinquedo. Ouviu o barulho de pés correndo e cascos galopando. Eles foram aumentando até pararem e começarem novamente, mas dessa vez somente o barulho de pés e entravam pela casa. Nesse momento sua mãe parou de cantar e começou a gritar e ele soube que era para correr. Então parou sua brincadeira nos fundos da casa e correu. Correu tudo que suas pernas podiam. Desceu escorregando o barranco da margem do riacho, atravessou suas águas geladas. Enquanto isso lá na sua casa os gritos de mãe pararam. No instante soube o que tinha acontecido. Suas lagrimas logo começaram a correr pelos seus olhos. Mesmo assim não parou sua corrida. Subiu a margem oposta do riacho e entrou no mato que vinha depois. Ele vinha até sua cintura e suas perninhas afundavam completamente nele. Não parou ainda assim. Os bosques ficavam a uns dois quilômetros seguindo em linha reta. Ali era o lugar em que seu pai estava. Ele com certeza saberia o que fazer e que ele pudesse ainda salvar a mamãe. Foi correndo com suas perninhas sem ligar para o cansaço.
Continuou em sua marcha desesperada. Não olhava para frente apenas para o chão para ver se não tinha nenhum bicho ou nada no mato. De repente bateu em cheio numa barreira. Olhou para ver o que tinha batido e reconheceu de imediato. Era seu pai.
- Gartan que bom em ver você. – Falou ele o pegando e dando um abraço que quase quebrou suas costelas.
- Papai a mamãe....- tentou dizer ainda chorando.
- Eu sei filho, mas papai vai te levar pra um lugar seguro e depois vou ajudar mamãe ta. – Disse isso voltando pro bosque com o pequeno Gartan no colo.
Entrou correndo no Bosque a busca de um lugar para colocar seu filho em segurança. Olhou para todos os lados e viu arvores sem a possibilidade de o botar em cima delas. Foi andando perdido e desesperado. Gartan sentia o peito de seu pai subir e descer rapidamente. Ele sabia que ele queria ir rapidamente atrás de sua mãe, mas não podia o deixar ali desprotegido.
Então numa fração de segundo olhou pro chão e viu aquilo que devia ser uma toca de uma loba e seus filhotes. Sem pensar duas vezes falou:
- Filho o papai vai coloca-lo dentro dessa toca e já volta pra busca-lo. Não tenha medo rapidinho eu já voltarei.
Então colocou Gartan no chão e o mandou rastejar para dentro da toca que cabia no maximo alguém do seu pequeno tamanho. Ele entrou e o pai disse:

- Filho fique tranqüilo que vai acabar tudo bem, voltarei aqui com a sua mãe e iremos para um lugar seguro.
Dizendo isso partiu. Nunca mais voltou nem ele e nem a mamãe. Ficou ali dias a fio chorando. O cenário foi apagando com passar do tempo e acordou.
Quando abriu os olhos levou um susto ao ver o rosto de Romena olhando espantado pra ele. Enxugou as lagrimas e virou o rosto e falou:
- Que foi? Nunca me viu dormir.
- Não é que você estava gritando e chorando enquanto dormia fiquei preocupada com você. – afirmou Romena olhando pra ele.
- Não precisa se preocupar isso são apenas mazelas de um andarilho.
- Então ta.
De repente olhou para Bentor esperando receber um olhar de reprovação, mas ele apenas desviou o olhar na hora. Isso significou para Gartan que ele entendia como se sentia. Ficou mais aliviado ao constatar isso.
Só Romena que passou a olhar mais interessada do que antes. O dia já tinha amanhecido a faz tempo e estava na hora de andarem. Eles antes ainda comeram um pouco e começaram sua jornada para Vila Verde. Parecia que os goblins já tinham partido. Isso era bom para eles porquê tinha caminho livre pela frente. O dia foi tranqüilo passaram pelos prados entre o bosque em que estava e o que vinha a seguir. Também atravessaram ele e no final da tarde chegaram a um novo campo aberto todo ondulado de pequenos montículos verdes e salpicado aqui e acolá de pequenas arvores que não conhecia o nome mais que se parecia muito com maquis no entanto mais acostumadas a clima mais úmidos e frios.
Já de noite acamparam de baixo dessa arvore. Sob a luz da fogueira cantaram alegremente algumas canções, comeram e depois dormiram. A noite passou tranqüila também sem pesadelos com o passado.
A manhã do dia seguinte chegou quente e cheia de esperanças pra eles. Eles levantaram e tomaram o desjejum sabendo que depois de amanhã chegariam a Vila Verde. O que significava pra eles descanso, afinal, já estavam a vários dias sem dormir numa cama descente principalmente Gartan que estava dormindo ao relento a uns dois ou três anos. A ultima vez que dormira em uma cama foi quando estava na Aldeia Dasgrur em Farlet.
Caminharam a manhã inteira e parte da tarde por aqueles prados verdejantes. No meio da tarde quando desciam um montículo avistaram a um ou dois quilômetros a frente uma pequena aldeia. A partir dali o caminho que estava cheio de mato passava ser claro como estrada de terra batida.
- Hoje finalmente poderemos dormir numa cama de verdade – afirmou Romena.
- É um alivio pra costas sem duvida – falou Gartan.
Romena riu e Bentor também. Avançaram descontraídos e contentes para a aldeia. Chegaram lá em menos de meia hora, o lugar era umas seis ou sete casas. Algumas pessoas andavam pela rua e ruelas da aldeia. Elas olharam com surpresa quando os viram chegando, pois já fazia muito tempo que nenhum viajante vinha das bandas do sul pra aquele povoado. Ali era a ultima habitação humana antes da própria aldeia de Tronco Velho. Viajantes só iam pra essa aldeia vindos do norte de vila verde ou outro lugar depois da cidade.
Havia uma pequena estalagem ali no centro do povoado. Era bem simples e pequena. Tinha dois andares e devia ter no maximo quatro ou cinco quartos e Bentor tinha certeza que não ficava cheia. Bom mais isso era outro problema. Agora era hora de ir pra ela e beber uma boa cerveja e dormir um pouco ou muito quem sabe.
Os três avançaram em direção a estalagem ignorando os olhares surpresos dos moradores. Entraram no lugar que com certeza estava mais cheio que a Tronco velho. Devia ter umas dez pessoas, essa quantidade já impressionou. Bentor achava que aquele numero devia ser o Maximo que enchia aquela taverna.
Havia um grupo de cinco homens bebendo juntos alegres e em uma mesa ao lado uma jovem mulher de cabelos prateados provavelmente vinda Farruat que usava roupas muito coladas ao corpo, parecia ser uma prostituta ou uma mercenária como Gartan. O jovem já olhou interessado para ela. Ainda tinham mais quatro outras pessoas que bebiam espalhadas pela taverna todas elas sem exceção tomavam sua cerveja caladas.
Os três foram até o balcão e Bentor chamou garçom ou responsável por ali.
- Hei será que alguém aqui pode nos atender!
De uma porta dos fundos atrás do balcão surgiu um homem barrigudo e calvo já lá pros quarenta de idade.
- Pois não?- perguntou ele.
- Queremos dois quartos – falou Bentor.
- Sinto muito senhor, mas só temos disponível um quarto, todos os outros estão ocupados.
- Então ficamos com esse quarto mesmo. – Falou isso colocando duas moedas de bronze no balcão.
O careca pegou as moedas e lhes entregou a chave do quarto. O homem sumiu de novo na porta dos fundos e Bentor bateu no balcão. O homem com uma cara de tédio saiu de novo da porta dos fundos e perguntou:
- Que foi?
- Não acabamos nossos pedidos. Queremos três canecos de cerveja.
- Só isso ou mais alguma coisa.
- Não por enquanto só isso mesmo.
- Então aguardem um pouco enquanto vou encher as canecas. - Falou ele indo pegar os canecos e enche-los.
Os três foram se sentar numa mesa pra esperar a cerveja. Enquanto aguardavam o calvo Gartan ficava admirando a beleza da mulher de cabelos prateados. Como era bela, aqueles cabelos sedosos, os olhos verdes claros e suas curvas. ah! Suas curvas sim sensacionais. Antes de irem embora dali tinha que falar com ela.
Mais alguns minutos e o homem trouxe a cerveja. Três canecos cheios até a boca de liquido dourado tanto apreciado por eles. Os colocou na mesa e foi embora. Cada um puxou para si uma caneca para beber. Gartan assim que pegou a sua se levantou.
- Aonde vai? – Indagou Romena.
- Vou ali rapidinho e já volto. – respondeu já caminhando na direção da mesa da mulher.
Romena emburrada virou a cara irritada. Enquanto isso Gartan chegava na mesa da mulher, puxava uma cadeira e se sentava ao seu lado.
- Olá. – Disse ele.
Ela olhou com desdém pra ele até focalizar seus olhos. Os vendo ficou interessada naquele jovem mercenário.
Naquela mesma noite não dormiu com Bentor e Romena no quarto alocado e sim no junto da mulher de cabelos prateados chamada de Laliel.
 

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