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Elizabeth Bishop

Ana Lovejoy

Administrador
Não sei quantos aqui conhecem ou gostam do trabalho dessa figura, mas eu sou uma apaixonada hehe. O mais bacana sobre o trabalho dela é que embora ela seja estrangeira (norte-americana, se eu não me engano), ela viveu muitos anos aqui no Brasil, então escreveu bastante coisa sobre as coisas daqui, mas com a visão de um estrangeiro.

E olha, ela mandava bem pra caramba, tanto que chegou a compor vilanelles lindos (o que é relativamente difícil, porque o poeta acaba se preocupando mais com a forma do que com o sentido do poema em si).

Além disso, tem outra coisa legal sobre a Bishop: ela fez traduções de escritores brasileiros para o Inglês, incluindo a Clarice Lispector que tanta gente aqui do fórum odeia :dente: Ela traduziu Drummond também, olha só como ficou o famoso poema da pedra:

In the middle of the road there was a stone
there was a stone in the middle of the road
there was a stone
in the middle of the road there was a stone.

Never should I forget this event
in the life of my fatigued retinas.
Never should I forget that in the middle of the road
there was a stone
there was a stone in the middle of the road
in the middle of the road there was a stone.

E já que estamos falando da Bishop, e não do Drummond, um link para uma das minhas poesias preferidas dela, chamada "Pink Dog" (com tradução hehe): http://www.algumapoesia.com.br/poesia/poesianet039.htm

Ela é foda :grinlove:
 
Elizabeth Bishop.

elizabeth-bishop-350.jpg



ELIZABETH BISHOP (1911-1979)


Em linhas gerais, Elizabeth Bishop, considerada uma das maiores poetisas do século XX, passou um tempo considerável no Brasil ("cerca de vinte anos (...), quase um terço de sua vida"), no que traduziu e se permeou de nossa cultura ao longo de sua obra. O resto, isto é, tudo, posto a seguir, remetendo-lhes a sites e livros que poderão dar informações muito mais completas que a minha (ou à que eu poderia produzir), pois, de resto e ironicamente, e graças a Deus (ele é brasileiro, afinal), encontrar uma biografia da Bishop sucinta no Brasil é uma coisa realmente difícil.


BIOGRAFIAS NA INTERNET:




BIOGRAFIAS EM LIVROS:



LIVROS:





POEMAS DA AUTORA NA INTERNET:




DIVERSOS:




RESENHAS:




ANÁLISES:

 
Última edição:
Tá, vou dar minha opinião: Elizabeth Bishop é, sem dúvidas, uma das minhas melhores leituras desse ano. A obra dela é muito gostosa de ler, visto que ela tem uma perícia técnica admirável, muito provavelmente fruto do trabalho meticuloso que ela tinha antes de escrever um poema.

Estou lendo as cartas dela e estou terminando o "Poemas Escolhidos" com tradução do Britto (os dois, na verdade, tem tradução dele). As cartas são bem gostosas de ler; achei que a edição ficou bem agradável, apesar de ter cerca de 800 páginas. O final é bem legal também, onde ela dá uma opinião, por exemplo, sobre o Machado de Assis e seu Brás Cubas: ela disse que leu a tradução Epitaph for a Small Winner e disse que a tradução ficou ruim e que, de modo geral, não havia gostado do livro, apesar de reconhecer que o Machado era a coisa mais refinada das nossas letras.

Da Clarice Lispector ela disse que gostava dos contos (tanto que traduziu 4, salvo engano), mas que não gostava de seus romances e de seus ensaios. Provavelmente porque ela queria publicar as traduções dos contos da Clarice e a Clarice simplesmente desapareceu; aí isso deve ter deixado-a um pouco irritada. O Manuel Bandeira ela se refere como sendo "o poeta do modernismo brasileiro"; o João Cabral ela diz que é muito bom também, mas não me lembro de nenhuma denominação especial pra ele. O Drummond ela diz que é seu poeta preferido, e ressalta a sequidão de sua obra. E, por fim, tem o Vinicius, mas não achei muitas referências a ele na obra... Vou pesquisar depois no Índice Onomástico. Mas, num link que coloquei duma entrevista com o Britto, corre a boca miúda que ela ficou uma noite com o poetinha... :hanhan: (se bem que acho que até eu ficava com ele)

Mas de todo modo, só sei que a tradução dela do "Soneto de Intimidade" parece que ficou melhor que o original:

Sonnet of Intimacy

Farm afternoons, there’s much too much blue air.
I go out sometimes, follow the pasture track,
Chewing a blade of sticky grass, chest bare,
In threadbare pajamas of three summers back,

To the little rivulets in the river-bed
For a drink of water, cold and musical,
And if I spot in the brush a glow of red,
A raspberry, spit its blood at the corral.

The smell of cow manure is delicious.
The cattle look at me unenviously
And when there comes a sudden stream and hiss

Accompanied by a look not unmalicious,
All of us, animals, unemotionally
Partake together of a pleasant piss.

Agora sobre os poemas... Ah, aí é lindeza demais, né? Por exemplos, versos como:

Duelo de argúcia entre as alvas agulhas
e o sol. O seu peso o iceberg enfrenta
no palco instável e incerto onde se assenta.

São magníficos. Isso pra não falar naqueloutros de uma simplicidade elegante:

No teu cabelo negro brilham estrelas
cadentes, arredias.
Para onde irão elas
tão cedo, resolutas?

E a tradução do Britto é também magnífica (acho que não tem como não ser). Não entro nem tanto num quesito técnico ou estrutural; falo simplesmente do fato de que ele conseguiu pegar poemas que funcionam muitíssimo bem em língua inglesa e os colocou para funcionar também muitíssimo bem em língua portuguesa. E isso, é claro, com todo aquele quesito de credibilidade dele ser um tradutor renomado, e com louvor, e de ser um poeta que, pondo de lado a avaliação qualitativa da obra em-si, possui um manejo consciente e impressionantemente lúcido de seu arsenal (a métrica, a sonoridade, a rima etc).

Então recomendo demais as duas edições: tanto a das cartas quanto a dos Poemas Escolhidos. Essa última, inclusive, achei bem engraçado que a Cia das Letras colocou a logo do barquinho na capa, o que ficou irônico quando a gente lê um poema como "O Iceberg Imaginário"...
 
Elizabeth Bishop entre índios: "Acompanhando em 1958 visita do escritor britânico Aldous Huxley (1894-1963), Elizabeth Bishop (1911-79) foi a Brasília, então em construção, e conheceu índios em MT. O relato "Uma Nova Capital, Aldous Huxley e Alguns Índios", do qual se extraiu este trecho, está no volume "Prosa", que a Companhia das Letras neste mês."
 
Mais uma tradução pro OneArt, feita pelo André Vallias (famoso por suas traduções de Heine):

bishop.jpg


No facebook do Nelson Ascher, tradução para um poema da Bishop inédito em português,

PARA MANUEL BANDEIRA, COM UM PRESENTE

Eis, páginas abertas, os teus livros.
Desejo, é claro, agradecer-te, embora
não possa me esquecer de que nós dois
falamo-nos bem pouco até agora.

Dois poetas sem par, embaraçados
porque trocar palavras é difícil.
Mas como disse Joe McCarthy: "Nada
ouvi mais inaudito do que isso!"

Tradutor cada qual da língua do outro!
(Um título que julgo merecer.)
O maior, ainda jovem, esculpido
em bronze e já famoso em seu mister,

a quem a fama –e Miss Brasil— sorriram!
É homem de ficar sem dizer nada
quem, galante, verteu Elinor Glyn
numa prosa bem mais sofisticada –

e pôs na boca de Tarzã, que mal
falava, certa graça do latim,
refinando o selvagem de Edgar Burroughs?
É justo que se cale alguém assim?

Não sou, no que me tange, raconteur,
sou fraca em minhas réplicas não raro;
meus amigos, porém, de língua inglesa
receio que dirão que jamais paro:

que falo e falo sempre, às vezes dias
a fio, sem dar sinal de que a conversa
possa cessar, de que me conviria
trocá-la por qualquer coisa diversa.

Conversas e conversas que melaram!
Saibas porém: jamais achei que, para
dizer "Teu livro é bom; eu gostei muito",
damascos sejam a expressão mais clara;

tampouco me parece que a conserva
possa implicar: "Ofuscas teus rivais"...
Não acho não, porém recebe e passa
no pão meus elogios cordiais.

Que fale ao teu estômago de poeta,
Manuel, o doce mudo – docemente.
Aceita uma vez mais minha amizade
e um pote de geléia de presente.

O original:

TO MANUEL BANDEIRA, WITH A PRESENT

Your books are here; their pages cut.
Of course I want to thank you, but
how can I possibly forget
that we have scarcely spoken yet?

Two mighty poets at a loss,
unable to exchange a word,
to quote McCarthy, "It's the most
unheard-of thing I've ever heard!”

Translators of each other's tongue!
(I think that I may make this claim.)
The greater, relatively young,
sculptured in bronze and known to Fame!

Smiled on by Fame and Miss Brazil:
Is this the man to keep so still?
The gallant man who rendered in
more graceful language Elinor Glyn?

Gave lovely Latin things to utter
to Tarzan, who could barely mutter,
and polished Edgar Burrough's brute?
Should such a man as this be mute?

And I, I am no raconteur,
my repartee is often weak,
but English-speaking friends, I fear,
would tell you I can speak,

and speak, and speak, sometimes for days,
not giving any indication
of stopping or of feeling the need
of substitutes for conversation.

0 conversations gone to pot!
— But please believe I've never thought
"Your book is fine; I like it lots,"
Is best expressed by apricots;

"You put all rivals in the shade,"
Is well-implied in marmalade...
I haven't; but accept and spread
these compliments upon your bread,

and, Manuel, may this silent jelly
speak sweetly to your Poet's belly
and once more let me say I am
devoted with a jar of jam.
 

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