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Notícias Elitização da Flip prejudica Paraty

Fúria da cidade

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ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA

Há muito não se via uma Flip tão esvaziada. Pousadas tinham vagas sobrando e não foi difícil conseguir mesas em restaurantes. Se para o turista que veio à Flip 2016 a experiência pode ter sido agradável, para o comércio de Paraty foi uma tragédia. De vendedores de água de coco a donos das pousadas mais chiques, todos reclamaram muito.

Há vários fatores que ajudam a explicar o esvaziamento: a crise econômica, os preços extorsivos cobrados por pousadas e restaurantes em edições recentes, e problemas crônicos do turismo local (um deles, a falta de acessibilidade para cadeirantes, muitíssimo bem descrito pelo jornalista Jairo Marques em coluna publicada no sábado, 2/7).

Mas como explicar o sucesso do Bourbon, um festival de jazz e blues ocorrido em maio? Isso mostra que a programação da Flip simplesmente não agradou ao público em geral.

Embora o evento contasse com nomes importantes, como a bielorrussa Svetlana Aleksiévitch, o norueguês Karl Ove Knausgård e o escocês Irvine Welsh, não havia um escritor mais popular, capaz de atrair um público mais amplo. Quase não há espaço para as literaturas policial, fantástica e de terror e, consequentemente, há poucos jovens na plateia.

Ninguém está dizendo que a Flip precisa baixar o nível de qualidade dos convidados ou chamar celebridades para atrair multidões, mas o evento precisa entender que tem uma responsabilidade com a cidade e que programações excludentes e elitistas prejudicam a economia local, que sempre dependeu muito do evento.

Só para fazer uma analogia literária, pode-se dizer que a organização da Flip habita o universo da ficção, um mundinho irreal de coquetéis e tapinhas nas costas, enquanto Paraty vive a não ficção, em que decisões erradas têm consequências reais, como o fechamento de pousadas e demissões de funcionários.

Fonte

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Já tive a oportunidade de ter ido lá, ainda que bem rapidamente em 2 oportunidades (2011 e 2014) e até manifestei aqui em um tópico o quanto já achava a Flip um evento de altos e baixos, agradando em alguns, mas decepcionando muito em outros como exposto nessa notícia.

Mas infelizmente seu custo-benefício está ficando cada mais comprometido, coisa que eu já tinha percebido indo três anos depois e a bela e linda cidade de Paraty na época da realização do evento tem se tornado uma opção muito cara e não havendo espaço mais amplo para outros tipos de literatura. Assim fica difícil o evento se manter atraente. É uma pena!
 
É, complicado isso daí mesmo... A literatura jovem já possui um público consolidado. Esse público no qual a Flip aposta (digamos um perfil universitário-cult) é um perfil até rentável, mas não dá pra fazer um evento desses dependendo só de um tipo de público. A Flip precisa se diversificar, sem dúvidas. Eu tenho vontade de algum dia ir à Flip, mas qndo penso no número de livros que eu compraria com a grana da passagem, pousada e sólidos comestíveis... Nah.
 
minha opinião não será das mais populares, mas vá lá: eu ainda acho que o tchan da flip são os gringos. a maior parte dos nomes brasileiros chamados para o evento é arroz de festa de eventos acadêmicos/literários no país. ninguém paga passagem, hospedagem, alimentação com preço abusivo de paraty para ver um sujeito que pode ver de graça na livraria/universidade mais próxima. então não é sobre chamar nomes mais populares, é de chamar gente que você só verá na flip. mas não que eu tenha acabado de inventar a roda, né. é óbvio que quem faz a programação sabe disso, só que aí bate no orçamento. talvez partir para uma programação mais enxuta? menos mesas, mas com nomes mais difíceis de encontrar em outros eventos?
 
A questão de Paraty ser um lugar cult e/ou elitista, é que não bastasse antes do surgimento da Flip atrair escritores e poetas, atrai também pintores, escultores, músicos, atores, cineastas entre outros ligados as artes tanto daqui quanto de fora, com vários gringos que até investiram bem comprando imóveis e/ou pontos comerciais na cidade (que o digam os franceses que formaram um belo mini reduto). Sem falar que a família Marinho é dona de várias grandes propriedades tanto lá como no seu entorno, que vez ou outra são usados como locação pra filmes e novelas.

Por mais que seja bem bacaninha ver uma roda de escritores no charmoso centro histórico de uma cidade bem antiga que respira cultura e arte em vários lugares e tem uma natureza exuberante ao redor com ilhas, praias e cachoeiras belas, acho que é bem mais negócio enfrentar o ar condicionado e um cenário não tão atraente de um edifício fechado, mas de algum outro evento similar como uma Bienal do Livro por exemplo.
 
Última edição:
Pra mim e pra minha mãe que moramos bem longe de Paraty, gastar uma grana só pra ir no evento se torna fora de cogitação, mesmo que sempre quisemos ir. Mas chegar no evento dura, por conta dos gastos da viagem em si, não adianta nada...

Acho uma boa ideia diversificar mais os tipos de autores para chamar público, mas com cautela... Não cometer o mesmo erro que a Bienal do Livro SP em 2014, que chamou montes de autores teens internacionais que atraíram uma multidão tão grande que o evento virou uma baderna insuportável... e adolescente, sabe como é, né... Acha que todo evento é igual a Anime Friends, pra zuar...
As pessoas estavam recomendando na internet a quem não tinha ido ainda e pretendia ir DESISTIR, porque estava insuportável. Pura perda de tempo.
Eu mesma fui uma das que desistiu.
Fui em 2012 e foi excelente... voltei pra casa carregada de livros. Tão carregada que os parentes tiveram que ajudar, rs
Mas em 2014 não havia condições... A organização não pesquisou direito e não se preparou adequadamente para o tipo de público que estava atraindo. E, pior, acabaram descaracterizando o evento.

Autores mais diversificados, sim... "Mais populares", não necessariamente... pode ser um tiro no pé.
 
Uma crítica do Andreazza sobre a Flip 2016:

A festa da firma
por Carlos Andreazza

A Flip fala muito pouco do (ao) Brasil real, mas é possível propor uma reflexão sobre o Brasil dos senhores da cultura a partir do que se passa em Paraty uma vez por ano

É dramático que a repetição de palavras de ordem e a imposição de agendas político-partidárias sejam confundidas com a livre discussão de ideias. Mas é assim que a coisa vai. Baterei muito nesta tecla: a ocupação — a corrupção — da linguagem sempre precede; uma das explicações para a ruína da vida pública brasileira. Escrevo isso enquanto penso na programação oficial da Flip.

A festa literária — é verdade — fala muito pouco do (ao) Brasil real, mas é possível propor uma reflexão sobre o Brasil dos senhores da cultura a partir do que se passa em Paraty uma vez por ano. Porque ali se reúne a suposta elite intelectual do país. Porque ali, na Tenda dos Autores, não há o mais mínimo espaço para o contraditório. E porque ali, no entanto, a maioria dos presentes está certa de travar o mais franco e plural debate público já havido na Terra.

Esta é uma miséria brasileira: as pessoas pensam — acreditam mesmo — estar discutindo a valer, dialogando e enfrentando questões prementes, quando, porém, nada mais fazem do que pregar para convertidos, afastar o divergente e interditar o debate. Nunca uma cidade brasileira — das mais caras — terá reunido tantos golpeados e oprimidos quanto Paraty em 2016, destino da romaria de brancos manifestantes, todos seguros de representar os desejos e os interesses do povo brasileiro — que, desempregado e endividado graças ao governo popular, mais uma vez não pôde comparecer.

“Fora Temer!” Eis o resumo da finada Flip. Pouca literatura terá sido mais aplaudida na Tenda dos Senhores, de modo que, em apuros, havendo somente seus próprios escritos para por meio dos quais brilhar, o “Fora Temer!” logo se tornaria a muleta de escritores em busca de glória. O curioso é que não havia, em Paraty, quem fosse a favor do presidente interino. Ainda assim, bradar “Fora Temer!” não só era senha para o aplauso e o pertencimento progressista como — juro — manifestação de extrema coragem.

No palco em que se transtorna a velha cidade, a intelligentsia pátria faz desfilar — sempre em defesa da democracia — o teatro da opressão contra a individualidade e o dissenso. Alguma atividade paralela resiste, investe na dissonância, em literatura mais que em política-eleitoral, e até oferece algum vislumbre de pluralidade. Mas a presença de indivíduos — de seres autônomos, de ideias outras — não é mesmo o forte da convenção. Abundam papéis a preencher, isto sim; a existência individual validada apenas se cumpridas as exigências do script. Tudo muito bem ensaiado.

Viu-se, por exemplo, gente graúda reagir energicamente a uma doidaraça que, numa mesa urgente sobre sexo, convicta de que fiel a seu roteiro, mostrou a calcinha à plateia e o dedo médio aos jornalistas — um escândalo, o suprassumo da divergência, a cota-controvérsia da semana. O gringo cujo livro transforma um traficante assassino em Robin Hood, entretanto, é autoridade inquestionável na hora de propagandear o fracasso da tal “guerra às drogas” no Brasil. (Estamos em 2016, mas, homenageada Ana Cristina Cesar, aquela tinha de ser também, claro, uma jornada de atitude, ora, de retrocesso ao século XIX, cinco românticos dias de elogio ao suicídio — contra o que tampouco se levantou um incômodo sequer.)

Encenações como essas são terríveis sobretudo porque desqualificam, por método, todo o genuíno momento de independência, de expressão da liberdade, de consciência individual — e assim se enterrou aquela que terá sido das únicas falas verdadeiras na festa da firma, certamente das poucas capazes de provocar o debate na plenária, o confronto de ideias: “Sou egoísta, não quero ser a voz da Síria. Juro por Deus que não há sociedade mais doente que a culta e intelectual e os que trabalham com direitos humanos. Quero viver minha vida.”

A declaração é do poeta sírio Abud Said. Um caso exemplar. Ele não sabia, mas fora convidado à Flip para representar um tipo. Em Paraty, não seria — não poderia ser — nem Abud nem poeta. E, no entanto, queria falar sobre poesia. O leitor avalie: ele estava num evento literário — foi o que lhe contaram — e pretendia ler e discutir versos. Não disse que a ditadura de seu país é boa. Mas apenas que não queria tratar de política e que tinha pavor da patrulha dos controladores da solidariedade. Foi xingado de babaca, vaiado, amaldiçoado. Era sírio. O sírio. Só sírio. Tinha, pois, de falar sobre a Síria — especificamente: sobre a tirania na Síria e sobre como a arte é perseguida no país.

Poucos ali, no comitê, estavam interessados em enfrentar as consequências de desbravar à vera o tanto que há na expressão de Said. O negócio era empastelá-lo. O “babaca” fora longe demais em seus improvisos. Até em Deus falou. Nem um “Fora Temer!” o salvaria. Nem o suicídio. Nem uma selfie com Gregório Duvivier.
 
Devo admitir... Não deixa de ser verdade que eventos literários sejam também territórios aonde se dispute a guerra pela independência. Sabe-se que no Brasil os eventos culturais já dispararam interesses na população.

A França e seu envolvimento na Síria, bem como Nova Iorque localizada na região das 13 colônias, historicamente ambas atacadas por mega ações do terrorismo lideraram o apoio a um tipo de processo de independência no mundo que é inimigo do que é defendido pelos movimentos islâmicos. E dentro desse contexto o Brasil tem a própria independência enfraquecida não sendo um território ideal para debates livres mas sim uma área de atrito e conflito civil aberto.

O núcleo cultural brasileiro, que leva tempo para reagir (quando reage), diante da onda política assume posição passiva, paneleira, populista, volúvel, dentre outras gentilezas e mimos adequados ao universo da economia do sexo. Cabe ainda dizer que em parte porque a própria mão de obra não é muito melhor e concentra uma população muitas vezes intelectualmente promíscua que é utilizada mais por desespero que pelas razões prescritas pelas regras de mercado.

Estão confortáveis achando que o terrorismo não pode piorar, que sempre vai ter grupo oficial assumindo isso e aquilo, heh, é o típo de pensamento que vê a cultura nacional dissociada da guerra de balas e fuzis do dia a dia e não aproveita os convidados da forma certa.
 
É preciso dar o braço a torcer e reconhecer que o Andreazza tocou num ponto importante. Eu também gostaria de ver mais diversidade ideológica na Flip, o que, nós sabemos bem, acaba refletindo em diversidade de poéticas (formas de fazer artístico) também diversas. Ñ acompanhei a fundo o que falaram da Ana C. na Flip, mas o pouco que li parece que foi bem insatisfatório, algo ainda muito próximo da hagiografia (um modo de crítica literária muito comum qndo o assunto são os marginais, seja a Ana C., Cacaso, Leminski...). E falo isso pq gosto da obra dela. De verdade.
 

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