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Eleito novo Papa dos cristãos coptas

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A Igreja Copta tem um novo papa! Tawadros II foi o escolhido por uma criança de olhos vendados, que escolheu um papel numa caixa que continha três nomes. O número de cristãos coptas no Egito é de 10 milhões, totalizando 50 milhões ao redor
do mundo. Sua situação naquele país vem se tornando cada vez mais difícil, tendo piorado muito após a queda do presidente Mubarak (que era visto pelo último papa, Shenouda III, como a muralha que impedia o avanço da crueldades das hordas de muçulmanos fanáticos).

Fonte




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Os cristãos coptas do Egito e adjacências nunca viveram uma situação confortável e isenta de perseguições maometanas desde o início do declínio do Império Bizantino, mas com a Primavera Árabe e a exaltação dos novos fundamentalismos (queda de Mubarak), a situação desse reduzido, esquecido e extremamente antigo e tradicional grupo étnico-religioso está novamente em crise, crise de existência.

Apesar de considerar esses ortodoxos como hereges, a Ortodoxia pensa que todos os cristãos devem rezar pela sobrevivência desse povo tão humilde, sofredor e piedoso. Exemplo vivo de mártires, de pessoas que diariamente morrem por sua fé, se recusando a se entregar, a se render a perseguições de séculos.

Senhor, torna fecundo o sacrifício dos teus santos mártires!
 
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alea jacta est... habemus papam?


A escolha é, tipo, na sorte? 8-O
Explique aí, seu Paganus.
 
alea jacta est... habemus papam?


A escolha é, tipo, na sorte? 8-O
Explique aí, seu Paganus.

É uma tradição antiga como o cristianismo. É elaborada uma lista de bispos e uma criança vendada escolhe um nome dentre muitos, de igual valor (pois todos os bispos são sucessores de Pedro, por liderarem Igrejas particulares).

A antiga Igreja de Alexandria foi fundada pelo apóstolo São Marcos, no século I, sendo seus bispos sucessores diretos do apóstolo. Pela importância dessa Igreja e da cidade de Alexandria, seu bispo possuía o título de Patriarca (como os Patriarcas de Roma, Constantinopla, Antioquia e Jerusalém). Além disso possuía o título de Papa (pai), assim como o Patriarca de Roma (Papa e Patriarca de Roma), além do título de Juiz da Ecumene (ecumene = Império Bizantino). Na pentarquia dos 5 patriarcados, ficava em segundo lugar logo após Roma, até ser substituída nesse lugar por Constantinopla pelo cânon 28 do Concílio de Calcedônia, ficando em terceiro. Recuperou seu segundo lugar após a saída de Roma da Ortodoxia em 1054 quando toda a Ortodoxia Oriental cortou sua comunhão com Roma, declarando-a cismática pela falsa supremacia papal (ideia segundo a qual a liderança de Roma seria uma monarquia em vez de uma autoridade relativa e de honra) e herética por causa do filioque e sua adição ilegítima ao Credo de Niceia.

E o que os coptas tem a ver com isso? Ocorre que o Patriarcado de Alexandria se dividiu em dois no Concílio de Calcedônia: aqueles que aceitaram o concílio e a doutrina ortodoxa da existência, em Cristo, das duas naturezas, a divina e a humana (diafisismo), são os alexandrinos gregos, ou bizantinos, que formam a atual Igreja Ortodoxa Grega de Alexandria, que tem como Papa e Patriarca, Teodoro II. Os coptas estão entre aqueles que rejeitaram o concílio por divergências com o Império, e por serem monofisitas (crerem que a natureza divina de Cristo 'absorveu' sua natureza humana). São as Igrejas não-calcedonianas, entre elas os alexandrinos (coptas) que formaram a Igreja Ortodoxa Copta de Alexandria, cujo atual Papa e Patriarca é o recém-entronizado Tawadros II. Os cristãos das Igrejas Ortodoxas Etíope e Síria são também não-calcedonianos. Por isso tanto os alexandrinos ortodoxos (da comunhão ortodoxa à qual pertenço) quanto os coptas alegam ser a Igreja fundada por São Marcos, e seus herdeiros.

A Igreja Copta é uma das mais antigas Igrejas cristãs do mundo.
 
Última edição:
Não sabia que havia tantos coptas assim. Claro que não se compara aos números da IC e da IO, mas não deixa de ser um número significativo.
 
Acho que é informação demais para a minha cabecinha. :hihihi:
 
Notícia velha falando do antigo Papa copta, Shenouda III e da situação dos cristãos árabes no Oriente Médio:

Os últimos anos de Shenouda III dão uma boa mostra das dificuldades e complexidades da situação política, cultural e religiosa do Oriente Médio. O Cristianismo oriental é tema pouco visível, mas é de capital importância para o futuro das sociedades e da convivência cultural e religiosa da região. E o fato que tem ficado cada vez mais patente mesmo para a grande mídia, é que a dicotomia ditadura-democracia não basta para explicar o processo pelo qual passa o Oriente Médio. As ditaduras seculares ou semi-seculares que caíram e estão em risco de cair não eram exatamente pró-cristãs ou defensoras ardorosas das minorias que existem em seus territórios; mas mantinham conflitos religiosos sob algum controle. As democracias populares que supostamente as sucederão são muito mais suscetíveis a surtos e movimentos fundamentalistas ou islamistas sem nenhum respeito por direitos e minorias tradicionais. Para se ter ideia do tipo de mentalidade que pode prevalecer, tenha-se em mente que o grão-mufti da Arábia Saudita afirmou recentemente, sem nenhum receio, que “é necessário destruir todas as igrejas” da Península Árabica.

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Papa Shenouda III faleceu em março desse ano

É por isso que autoridades cristãs, como o próprio Shenouda III, eram ou muito reticentes ou mesmo contrárias às revoltas populares (que, todavia, também uniram cristãos e muçulmanos jovens e esperançosos nas ruas). O patriarca Gregório III Laham (que é líder da Igreja Melquita, uma igreja bizantina árabe em comunhão com Roma, ou seja, parte integrante da Igreja Católica) vê na Síria de Assad, essa mesma que é capaz de brutalidades indizíveis contra manifestantes, um exemplo de convivência religiosa a ser imitado; ele pede que o Ocidente não ajude a mudar o regime, mas ajude o regime a mudar. O patriarca ortodoxo antioqueno é da mesma opinião.

Em certo sentido, a própria existência de cristãos árabes e orientais (que se dividem em quatro grandes grupos institucionais: católicos de vários ritos, ortodoxos, pré-calcedonianos como os coptas – também chamados de ortodoxos, o que às vezes gera confusão – e assírios) é uma refutação da tese do embate civilizacional entre árabes muçulmanos e ocidentais cristãos. Para os governos ocidentais, são um inconveniente, vítimas de violação de direitos por parte (ou pela negligência) de governos aliados, radicalmente contrários à presença estrangeira em seus países e apoiadores da causa palestina. Pelos islamistas, são pintados como uma verdadeira quinta coluna ocidental.

Bom, na MINHA opinião, o texto está muito exato ao relacionar a Primavera Árabe com um Inverno Cristão, porque se trata é de uma Primavera Islâmica mesmo e isso só vai redobrar as perseguições contra os coptas no Egito assim como ocorrerá (e já ocorre) com os cristãos ortodoxos antioquinos e siríacos na Síria (assim como os coptas, os siríacos são não-calcedonianos). Ou seja, por mais que ecumenistas, pacifistas e outros palhaços bradem aqui e acolá, o Islã fundamentalista (cá entre nós, o Islã de forma geral) está cagando pros cristãos. Onde eles puderem se instalar como tradição religiosa e força política, irão criar mais e mais mártires. É com isso que me preocupo.

Mas certas coisas são animadoras:

A política externa particular dos ortodoxos russos


Ellen Barry Do New York Times - O Globo

MOSCOU — Enquanto o Ocidente busca pressionar o Kremlin para ajudar a parar os massacres na Síria, diplomatas de Damasco foram conduzidos ao coração de um dos principais santuários da ortodoxia russa. Em exibição dedicada ao cristianismo sírio numa catedral perto do Kremlin, eles se solidarizaram com uma ansiedade compartilhada: o que aconteceria se Bashar al-Assad fosse deposto?
Está claro que o governo russo é contrário à intervenção na Síria, parceiro de longa data e última base de apoio no Oriente Médio. Menos conhecida é a posição da Igreja Ortodoxa Russa, que teme que as minorias cristãs sejam varridas por uma onda de fundamentalismo islâmico desencadeada pela Primavera Árabe. Este argumento atingiu o auge na Síria, cuja população minoritária de cristãos, de cerca de 10%, tem sido relutante em se juntar à oposição sunita muçulmana contra Assad, temendo a perseguição.

— Alguém disse alguma vez que George Soros era o único cidadão americano que tem sua própria política externa — disse Andrei Zolotov Jr., um dos principais escritores sobre religião e editor-chefe do “Russia Profile”. — Bom, o patriarcado de Moscou é a única entidade russa com sua própria política externa.

Antes das eleições, Vladimir Putin buscou o apoio dos líderes religiosos russos, prometendo dezenas de milhões de dólares para reconstrução de locais de adoração e financiamento estatal para escolas religiosas. Mas o metropolita (arcebispo) Hilarion de Volokolamsk não pediu dinheiro, e sim que Putin prometesse proteger as minorias cristãs no Oriente Médio.

— Então assim será — disse Putin. — Não há dúvida quanto a isso.
O pedido foi um dos que mergulharam profundamente na geopolítica, já que as minorias cristãs estão alinhadas com diversos governos que enfrentaram levantes populares. A tensão era aparente ao redor da visita do patriarca Kirill a Damasco no fim do ano passado. Na época, as Nações Unidas estimavam que 3.500 pessoas tinham sido mortas enquanto as forças do governo tentavam suprimir o levante, e a Liga Árabe havia suspendido a Síria em uma tentativa de aumentar a pressão diplomática.
O metropolita Hilarion de Volokolamsk disse que “alguns analistas tentaram dissuadir o patriarca da visita, dizendo que há desordem na Síria, que o regime Assad está isolado internacionalmente e sob grande pressão”. Ele afirma que “qualquer interpretação da visita do patriarca à Síria como apoio ao regime de Assad é totalmente infundada”. Ainda assim, fotos da procissão do patriarca pelas ruas ao lado de sua contraparte síria mostravam pessoas carregando mastros com o retrato de Assad.
O reverendo Nikolai Balashov, vice-presidente do Conselho do Departamento de Relações Exteriores do Patriarcado de Moscou, disse que a turbulência no Oriente Médio tornou mais importante o envolvimento da igreja:
— Formar uma política externa sem levar em conta o fator religioso pode levar a uma catástrofe e à morte de milhares e milhões.
 
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Eis um dos grandes mistérios históricos para mim: Por que tantas populações cristãs ortodoxas abandonaram esta fé para se converter ao islã?

Há quem diga que o islamismo era uma religião mais "fácil" do que o cristianismo ortodoxo do século VII, repleto de mortificações e penitências. Mas isto não é consenso.

Gostaria de saber a sua opinião sobre o assunto, Paganus.

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O motivo principal foi político, IMO. Havia muito descontentamento entre as populações orientais com o Império e, como sabemos, a Ortodoxia e Império praticamente se confundiam. Então até mesmo a fé ortodoxa confirmada e celebrada nos Concílios Ecumênicos, por serem estes convocados pelo Imperador e terem um caráter muitas vezes imperial, como o é a identidade ortodoxa. Some-se a isso o clima teológico altamente fértil para muitas discussões infindáveis, principalmente sobre a natureza da Trindade, a cristologia etc, e você tem tanto um desgosto diante de dogmas 'imperiais' quanto questionamentos legítimos que nasciam da índole teológica desses povos. A teologia trinitária ortodoxa de Niceia tinha uma 'origem' fortemente capadócia, enquanto que os alexandrinos tinham uma 'preferência' pela divindade de Cristo e os antioquinos, por sua humanidade, e isso explica muito a origem das heresias.

Esse 'anti-imperialismo' acabou abrindo as portas desses povos para acolherem os conquistadores muçulmanos e sua religião, principalmente entre os hereges condenados (o que só reforçava o anti-bizantinismo) condenados nos Concílios de Niceia-Constantinopla, Éfeso-Calcedônia e posteriormente, Niceia II, que condenou o iconoclasmo. O iconoclasmo é interessante porque ele, assim como o arianismo séculos antes, foi adotado e até imposto pelo Império sobre toda a Igreja à custa de inúmeros martírios até sua condenação em Niceia II muito graças à pena do Santo Padre de Damasco, São João Damasceno, que escreveu abundantemente a favor dos ícones e de sua legítima veneração (além da defesa da comunhão dos santos e da intercessão da Mãe de Deus). Talvez a preferência imperial (derrotada aqui, comprovando que a Ortodoxia era sim maior que as vontades pessoais dos Imperadores) pelo iconoclasmo se devesse até por medo de revoltas no Oriente Próximo e quisessem favorecer essas populações.
 
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Ou seja, o islã é uma religião mais "adequada" à índole daqueles povos. Interessante.

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