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Ele criou luva revolucionária para músico, mas não lucra nada com invenções

Fúria da cidade

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Uma das luvas que Bira criou para que o maestro João Carlos Martins voltasse a tocar piano

Dentro de uma escola de desenho localizada a poucos metros do Paço Municipal de Sumaré, uma típica cidade média do interior paulista, fica o escritório/oficina/centro de inovação onde foram criadas e produzidas as luvas que possibilitaram o maestro João Carlos Martins a voltar a praticar a atividade que o tornou famoso em todo o mundo: tocar piano.

Ali, entre desenhos, pinturas, protótipos, computadores e uma impressora 3D, o designer de produtos Ubiratã Bizarro Costa, o Bira, 55, transforma em realidade as mais desafiadoras ideias que surgem em sua cabeça. Como a da tal luva "biônica", que o inventor prefere chamar de luva extensora, feita de neoprene, hastes de aço mola e uma placa de fibra de carbono.

Em uma noite de domingo, assistindo ao Fantástico, da TV Globo, Bira conheceu a história do maestro que estava definitivamente se aposentando como pianista, já que, com muitas dificuldades, só conseguia tocar utilizando os polegares. Tocado por aquela história, o designer decidiu fazer uma luva que pudesse fazer o músico voltar a tocar piano de alguma maneira. O inventor usou diversos vídeos de Martins ao piano para tentar entender o funcionamento das mãos do maestro. Assim, criou o primeiro protótipo da luva.

Após uma participação de Martins em um concerto em Sumaré, Bira entregou as luvas ao maestro. Foi um fiasco. Elas não funcionaram, mas deixaram o músico intrigado. Martins convidou Bira a visitar seu apartamento. Foi só então que o designer pode entender o que se passava com as mãos do pianista. Depois de uma cirurgia realizada em 2018, que enfim acabou com uma dor persistente que sentia desde 1965, o maestro conseguia fechar os dedos, mas não tinha forças para abri-los.

Bira voltou para casa determinado a fazer um novo protótipo. Já na terceira versão, Martins conseguiu voltar ao piano para tocar uma música usando quase todos seus dedos. O problema é que parte da luva era feita de plástico e, com a força usada pelo maestro para conseguir tocar, se quebrou. Hoje, dezenas de protótipos depois, o músico já consegue utilizar todos os dez dedos da mão.

"O maestro me disse que eu ainda vou ganhar muito dinheiro com essas luvas. Ele contou que pianistas que sofrem de distonia focal (um distúrbio muscular que costuma afetar músicos profissionais) vão querer comprar minhas luvas", disse Bira.

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Bira em sua oficina de design, em Sumaré
Imagem: Thiago Varella/ UOL

Nenhum centavo pelas invenções



Sim, ganhar dinheiro é um dos objetivos do designer, mas ele afirma que, até hoje, suas invenções não lhe deram nenhum centavo. No caso das luvas, o maestro João Carlos Martins até quis pagar Bira, já que, a invenção, neste caso, foi praticamente um milagre para o músico, já conformado em nunca mais tocar piano. Mas a ideia do designer é outra. Ele quer fazer uma parceria com alguma indústria que produziria as luvas em larga escala.

"Eu não sou fábrica. Tudo o que faço são protótipos. Mas nunca consigo encontrar fabricantes para minhas criações. As empresas não sabem bem o que os designers fazem. Acham que o que eu faço é muito caro. Mas eu preciso de uma indústria para fabricar o que crio, na forma de uma parceria, de um contrato de royalties, sei lá, algo assim", desabafou.

No caso das luvas extensoras, Bira gasta cerca de R$ 500 por protótipo. Em larga escala, o preço cairia bem. Até porque, ele afirma que trabalha usando a filosofia do minimalismo. O designer sempre utiliza o mínimo de peças, de maneira simples, acessível e, sobretudo, barata.

Enquanto não ganha dinheiro com suas invenções, Bira sustenta a família com suas duas escolas de desenho. Uma funciona na própria oficina de design e a outra em Americana, cidade próxima a Sumaré. Hoje, ele vive apenas com a mulher, Silvia, já que as duas filhas do casal já são adultas e formadas.

Silvia afirma que não se incomoda com as ideias do marido e que, apesar de ainda não darem dinheiro, ela jamais o desencorajaria. "Ele morreria", disse.

Voluntário desconhecido no restaurante

Como dá aulas somente de noite, o designer tem as manhãs e as tardes para se dedicar às suas criações. E Bira fala delas com uma empolgação quase juvenil. No campo da acessibilidade, além das luvas, o inventor criou um exoesqueleto de baixo custo para paraplégicos e uma scooter montada sobre um hooverboard também voltada a pessoas com problemas de movimentação nas pernas.


Novamente, a ideia das invenções surgiu depois que Bira viu na TV uma reportagem sobre exoesqueletos e de como são extremamente caros. O designer passou anos pesquisando uma maneira de fazer um exoesqueleto mais simples e, consequentemente, mais barato. E conseguiu.

Para testar o equipamento, chegou a abordar, em um restaurante, um cadeirante que ele nunca tinha visto na vida. E, mesmo meio desconfiado, o sujeito topou ir até o escritório de Bira testar o exoesqueleto.
Hoje, tanto o exoesqueleto quando a scooter estão à espera de alguém que resolva fazer uma parceria para produzi-los em larga escala.

Proposta para a Fórmula 1

Outra paixão de Bira que também o inspira muito é o automobilismo. Fã de Fórmula 1, decidiu bolar uma maneira de proteger os cockpits dos carros depois do acidente sofrido pelo piloto brasileiro Felipe Massa, em 2009, quando foi atingido por uma mola durante um treino para o GP da Hungria.

Depois de muito estudar, Bira criou o PCP F1, ou o protetor de cockpits para Fórmula 1. Empolgado, encasquetou que deveria mostrar seu projeto a alguém da FIA, a Federação Internacional de Automobilismo, responsável por regulamentar o automobilismo no mundo. Mandou suas ideias por e-mail para Charlie Whiting, na época diretor do departamento técnico da Fórmula 1 e um dos homens-forte da categoria.

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Carro de Fórmula 1 com halo protegendo o cockpit do piloto fica na mesa de trabalho de Bira
Imagem: Thiago Varella/ UOL

Para sua surpresa, Bira recebeu uma resposta e foi convidado a apresentar seu projeto na sede da FIA, em Paris. Em 2012, embarcou para a França onde apresentou três modelos diferentes. Anos depois, a Fórmula 1 introduziu o halo, um sistema muito parecido com aqueles bolados por Bira.

Pelo menos para o designer brasileiro, ficou a amizade com Whiting, com quem se encontrava anualmente no GP Brasil de Fórmula 1 até 2018, já que, no ano passado, o britânico foi encontrado morto durante a etapa da Austrália, vítima de uma embolia pulmonar.

Para Bira, todas essas histórias mostram que ele é muito mais do que um "professor Pardal", expressão que ele não gosta muito. "Parece que faço algo meio mambembe. E, não, eu estudo muito. Sei o que estou fazendo", disse.

Apesar de não ter feito faculdade, Bira fez diversos cursos técnicos, tem experiência de anos como designer gráfico e de produtos e orgulha-se de ter devolvido a carreira de um dos maiores intérpretes de Bach de todos os tempos, o pianista e maestro João Carlos Martins. De fato, esse é um prêmio único.

https://www.uol.com.br/tilt/noticia...a-musico-mas-nao-lucra-nada-com-invencoes.htm
 
Mui excelente! Pena que às vezes é tão difícil achar alguém disposto a financiar esse tipo de projeto.
 
Então cada vez mais acredito e não tenho dúvidas que definitivamente não faltam pessoas dedicadas, altamente capacitadas com soluções e invenções revolucionárias capazes de resolver muitas coisas, seja na área eletroeletônica, informática, química, biológica, entre outras, mas que colocar em prática é sempre uma eterna dificuldade, seja por falta total de interesse (proposital ou não) ou quando este colide com interesses comerciais de fabricantes que não desejam ver sua própria tecnologia tornar-se obsoleta, entre outras coisas...
 
Ah, pessoas com boas ideias é o que não falta, mas o difícil é achar alguém pra financiar a coisa. Uma verdade brutal da vida é que nem todo mundo que tem algum talento consegue necessariamente ser bem-sucedido; muitas vezes faltam coisas que estão simplesmente além do alcance da pessoa.
 

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