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Ela (Her, 2013)

JLM

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Poster
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Sinopse
Theodore (Joaquin Phoenix) é um escritor solitário, que acaba de comprar um novo sistema operacional para seu computador. Para a sua surpresa, ele acaba se apaixonando pela voz deste programa informático, dando início a uma relação amorosa entre ambos. Esta história de amor incomum explora a relação entre o homem contemporâneo e a tecnologia.

Frases citadas
"Às vezes eu escrevia algo e eu me tornava o meu escritor preferido naquele dia."
"O passado é uma história que nos contamos."
"Qualquer pessoa que se apaixone é uma aberração. É algo louco de se fazer. Uma forma socialmente aceitável de insanidade."
"Não somos iguais ao que éramos no segundo anterior, e não devemos tentar ser. (filósofo Allan Watts)"
"O coração não é uma caixa que pode ser preenchida. Ele se expande por dentro, quanto mais você ama."

Trailer

Minha impressão
o filme tocou em 1 aspecto bastante inerente a mim, a solidão e a tecnologia, por isso curti bastante. e, pelos comentários q ando lendo, é algo q a maioria tem percebido tb. enfim, torço p ganhar o oscar d melhor roteiro original, mas acho q outros ele n leva. #pena
 
Porque Ela, de Spike Jonze, é um filme tão significativo para a nossa geração
POR ALEXANDRE INAGAKI

dirigido e roteirizado por Spike Jonze, com atuações de Joaquim Phoenix, Scarlett Johansson, Amy Adams, Rooney Mara e Olivia Wilde. Aqui, me limitarei a compartilhar algumas ideias, impressões e relações que fiz após ver uma obra repleta de entrelinhas para serem discutidas. E recomendo, aliás, que você só leia este post após ter visto Ela.
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    Tudo na vida é uma questão de expectativas. Eu, admito, já cometi o equívoco de construir uma imagem idealizada de uma pessoa que conheci online: foi o efeito colateral após ver algumas fotos e trocar mensagens espirituosas, sagazes, maliciosas. Nem sempre a química virtual se repete na vida offline, mas ao analisar retrospectivamente esse encontro mal-sucedido, hoje sei que talvez as coisas tivessem sido diferentes caso não tivéssemos alimentado expectativas desmedidamente juvenis de uma pessoa pela outra.

    Mas enfim, citando um diálogo de Ela, o fato é que o passado é apenas uma história que contamos a nós mesmos. Com o passar dos anos, lembranças tendem a ser idealizadas e nossas recordações paulatinamente tendem a ser recriadas de acordo com os desígnios nem sempre conscientes de nossa memória seletiva.

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    Há muitos anos assisti a um episódio de Star Trek no qual os tripulantes da Enterprise se deparam com um ser sem corpo físico. Quando esse ser descobre como é a condição humana, ele lamenta por nós: “Tenho pena de vocês, humanos. Deve ser muito triste viver com essa limitação física.”

    Creio que a frase era mais ou menos assim. Memória às vezes prega peças na gente.

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    Ano passado li uma notícia que me deixou perplexo: “Por que os jovens japoneses pararam de fazer sexo?”. Um dos dados citados nesta matéria do The Guardian é uma pesquisa, realizada em 2013 pela Associação Japonesa de Planejamento Familiar, segundo a qual 45% das mulheres de 16 a 24 anos não demonstravam nenhum interesse em contato sexual, assim como cerca de 25% dos homens entrevistados.

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    Outra matéria sobre o Japão, publicada no site da BBC, também fala dessa geração de japoneses denominada de “herbívora”, por ser passiva e sem desejo carnal. Um dos entrevistados, que tem uma namorada virtual em um jogo da Nintendo, deu uma declaração bastante significativa: “Na escola, você pode ter relacionamentos sem pensar sobre casamento. Com namoradas de verdade você precisa sempre considerar se vai casar. Então eu penso duas vezes antes de namorar uma ‘mulher 3D’.”

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    Em uma entrevista a Conan O’Brian, Louis CK fez um desabafo antológico sobre como os avanços tecnológicos estão nos tornando cada vez mais mimados. Ele relata a história de uma viagem que fez em um avião equipado com internet a bordo. A conexão, porém, caiu no meio do voo. Um comissário a bordo pediu desculpas pelo ocorrido, e um passageiro sentado a seu lado reclamou: “Pfff… Isso é conversa fiada.” Louis CK cita outras reclamações corriqueiras sobre motivos como atrasos de voos e poltronas que não reclinam, e dispara:

    Atraso, sério? Nova York até a Califórnia em 5 horas? Costumavam fazer esse trajeto em 30 anos, e um monte de gente morreria nesse período ou teria filhos. Você estaria com um grupo totalmente diferente de pessoas quando chegasse lá! Agora você assiste a um filme, solta um barro e está em casa! Todo mundo, em todos os aviões, deveria ficar constantemente falando: ‘Oh meu Deus! Uau!’ Você voou pelos ares como um pássaro, você fez parte do milagre de humanos voando! Você está sentado em uma cadeira no céu! Voando! É fantástico!

    Vivemos tempos fantásticos, mas as pessoas parecem nunca estar satisfeitas – vide a timeline do Twitter, aquele mural de muxoxos e mimimis sem fim. Queixam-se do trabalho, de relacionamentos, do que está passando na TV (como se estivesse sob a mira de um revólver que os obrigue a ver determinado programa), das pessoas que seguem (afinal, dar unfollow é algo muito difícil de se fazer)… Neste mundo de expectativas irreais, em que ideais de beleza são esculpidos com photoshopadas inatingíveis e a timeline do Facebook é povoada por versões artificiais de nossas próprias vidas, com fotos instagramadas postadas para angariar likes alheios, como encontrar satisfação?

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    Viver bem é a fina arte de gerenciar expectativas.

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    Amar é se interessar pelo outro, querer saber o que ele fez, compartilhar ideias, impressões, coisas tristes e engraçadas que aconteceram durante a trajetória de um dia: é a parte verbal do amor, o entrosamento intelectual que independe da atração física. Mas amar também é compartilhar silêncios ou suspiros; é a intimidade que faz com que nos sintamos confortáveis na presença do outro prescindindo de palavras.

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    Amor platônico é um amor que desconhece imperfeições. Não existe mau hálito, sexo ruim, crises de ciúmes, chulé, discussões por causa de pia suja ou tampa de privada, DRs. Por existir somente no plano dos sonhos e pensamentos, costumo definir amor platônico como um amor que só é vivido do pescoço para cima.

    Já Charlie Kaufman, roteirista de dois filmes dirigidos por Spike Jonze (Quero Ser John Malkovich e Adaptação), cunhou uma definição menos edificante: “O amor nada mais é do que um agrupamento bagunçado de carência, desespero, medo da morte, insegurança sobre o tamanho do pênis e a necessidade egoísta de colecionar o coração de outras pessoas.”

    Definições, todavia, são tentativas de se explicar algo que vai muito além das palavras. E o fato é que amar não é para amadores. Joseph Campbell, em O Poder do Mito, cita o budismo ao afirmar que o amor é o ponto de combustão da vida. Como a vida é dolorosa, assim também é o amor. Amar é correr riscos. Ou, citando outro diálogo certeiro de Ela, uma maneira socialmente aceitável de insanidade. Seja amando um homem, uma mulher, um dos mais de 50 gêneros além de masculino e feminino que agora podemos escolher no Facebookou, quem sabe em um futuro a curto prazo, um sistema operacional.

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    Alexandre Inagaki
    Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.

(fonte)
 
“Ela” mostra o lado triste das redes sociais
Bruno Garattoni


Theodore (Joaquim Phoenix) é um ex-jornalista que trabalha escrevendo cartas sentimentais para outras pessoas. Ele se separou da esposa e vive dolorosamente só, até que compra e instala um software de inteligência artificial, que assume a personalidade de uma mulher, Samantha (narrada por Scarlett Johansson) e se manifesta através do smartphone de Theo. Eles começam a conversar, se conhecem, se apaixonam, vivem encontros e desencontros. Esse é o mote de “Ela”, quarto filme do diretor Spike Jonze – de “Quero ser John Malkovitch” e “Adaptação”-, que estreia hoje nos cinemas brasileiros.

É um baita filme. Pelas atuações, pela cenografia (que constrói um futuro familiar e ao mesmo tempo estranho), pelo roteiro. Mas principalmente, e por isso quis comentá-lo aqui, pelo que diz sobre nossa relação com a tecnologia. A vida preenchida por um fluxo constante de emails – muitos deles com newsletters e propagandas inúteis-, o noticiário picotado e às vezes frívolo da internet, todo mundo grudado no smartphone e obcecado pelas redes sociais. Sair com alguém, num encontro, e descobrir quase tudo sobre aquela pessoa na internet – antes mesmo de conhecê-la. Os games online, habitados por criancinhas que falam palavrão. A pornografia online e sua crueza. A tecnologia presente em todas as situações de forma discreta, mas decisiva. “Ela” se passa no futuro, mas retrata um mundo muito parecido ao nosso. Está na cara.

Como está na cara, também, a crítica que faz a isso. Porque no filme as pessoas, essencialmente, são incapazes de ter emoções. Todo mundo é tão neutro, no mau sentido, que ter e articular sentimentos vira até um serviço – daí existir a empresa onde Theo trabalha, redigindo emoções para quem não as têm ou não consegue manifestá-las. Em “Ela”, as pessoas sofrem de paralisia emocional. Querem mas não conseguem expressar sentimentos espontâneos. Só conseguem manifestar um, e ruim: a ultraexigência. Em certo ponto do filme, Theo sai com uma mulher de carne e osso – e ela, sem entrar em spoilers, age de modo grosseiro. Não porque seja má, mas porque está sendo ultrafranca, ultraexigente. Essas duas características, paralisia e ultraexigência, dominam as relações humanas. Fazem tudo ser triste, solitário, melancólico. “Ela” é um filme angustiante.

E inteligente. Porque mostra que ambos os problemas têm a mesma raiz: a mediação -e deformação- das relações humanas pela tecnologia. Claro, esse tipo de crítica sempre existiu. Quando os romances impressos começaram a se popularizar, por exemplo, houve quem dissesse que sua leitura afastava e alienava as pessoas. Dizer que a tecnologia X está piorando o mundo geralmente é papo de ludita ou de gente que perdeu o bonde da História. Mas há indícios, sim, de que a conectividade ininterrupta e a interação via redes sociais estejam mexendo conosco – e não necessariamente para melhor. Há estudos que comprovam isso, mas nem é preciso recorrer a eles. Basta olhar para o dia-a-dia.

Cada vez mais, tudo o que a gente faz, come, vê ou pensa vai parar nas redes sociais. Em si, isso não é ruim. O problema é que essa interação é assimétrica, ou seja: primeiro você posta e depois as pessoas respondem àquilo. Não é algo imediato, como conversar pessoalmente com um amigo falando o que der na telha. É premeditado, porque você pensa antes de postar. Você pensa em como as pessoas vão reagir. Como elas vão interpretar sua fotinho, post ou comentário, quantos likes aquilo vai ter. Você pensa nisso, e modela o que diz. É fato. E é normal. Porque ninguém quer dar um fora – ainda mais em público e na internet, onde eventuais mancadas são muito difíceis, ou impossíveis, de apagar.

Mas conforme as relações humanas vão sendo dominadas por essa premeditação digital, as pessoas ficam cada vez menos espontâneas. Se expõem menos. E quando se expõem, é da maneira mais previsível possível: de forma insossa, contida, cuidadosamente calculada para evitar qualquer possibilidade de discordância ou crítica, ou aderindo a uma facção ideológica na polêmica da semana (aliás, a necessidade de se abrigar num clã de ideias ajuda um bocado a explicar a radicalização e a trivialização do discurso na internet, mas isso é assunto pra outro dia). Fica cada vez mais difícil articular ideias e emoções realmente originais. Porque as redes sociais são promotoras naturais de consenso -você não segue as pessoas que pensam diferente de você. E porque, na internet, dizer algo destoante se torna mais arriscado -pois a rede tem memória eterna (você até pode tentar apagar algo, mas é provável que aquilo reapareça). Fato. Tanto que até Eric Schmidt, ex-presidente do Google, disse que a internet deveria ter um botão delete, para que as pessoas pudessem apagar eventuais erros. Como ele não existe, tentamos nos resguardar o máximo possível. “Ela” argumenta que essa postura, ao longo do tempo, leva à desarticulação e à paralisia emocional.

A dinâmica das redes sociais também explica nosso segundo problema. Na internet, todo mundo apresenta uma versão editada de si próprio – mais bonita, mais feliz, mais esperta, mais viajada, mais legal, mais tudo. O problema é que, com o tempo, você começa a achar que as outras pessoas realmente são daquele jeito. E isso cria expectativas irreais, com relação a você mesmo (que passa a achar a própria vida insatisfatória) e com relação aos outros. Você tenta ser e espera que todo mundo seja tão bacana, na vida real, quanto aparenta na internet. Com o tempo, isso se torna uma exigência. A ultraexigência.

“Ela” mostra o que acontece quando esses dois processos são levados ao limite. No filme, o único indivíduo capaz de emoções espontâneas é justamente Samantha, o robô – que se arrisca, se expõe, comete erros. Nesse aspecto, repete o insight do clássico “2001″, em que o robô HAL 9000, mesmo falhando (ou justamente por causa disso) é mais humano do que os personagens humanos. Mas, ao contrário de “2001″, “Ela” mostra um futuro plausível. Tirando a inteligência artificial, que deve levar décadas para chegar a um nível realmente inteligente (se é que vai chegar), o mundo mostrado pelo filme vai acontecer. Já está acontecendo.

Não precisa ser assim, claro. Sempre é possível fazer as coisas de outro jeito. Talvez alguém consiga inventar o botão delete idealizado pelo Google, e isso faça com que as pessoas se desinibam e desradicalizem ao mesmo tempo. Talvez as redes evoluam de outra forma, e o futuro siga por outro caminho. Tomara que sim.
(fonte)
 
Este filme é realmente tocante! Assisti na sessão das 23:55 de um dia bem movimentado e não fiquei entediada um segundo sequer, pelo contrário, em muitos momentos me identifiquei com o Theodore e suas questões (solidão, carência, envolvimento, término sofrido de um "felizes para sempre"). Assistiria novamente, e acho que novamente ficaria encantada.
 
Vou dar um jeito de assistir essa semana. Vejo o povo comentando... Mas nem pá! de me ligar pro que era. Parece ser bem legal.
 
tem minha torcida para roteiro original, e queria muito que the moon song também levasse. vai aí o ctrl c ctrl v o meu post no bró.

Tá. Acho que vale começar a dizer que apesar do histórico, não sou particularmente fã do Spike Jonze, muito menos do Joaquin Phoenix. Digo isso porque não são nomes que despertem minha curiosidade sobre um filme, nem é um daqueles casos em que você já gosta antes mesmo de assistir. Mas aí saiu trailer, e depois começaram a aparecer os comentários e, principalmente, as citações de algumas falas do filme, então de todos os “oscarizáveis”, Her acabou entrando no topo da lista dos que eu tinha vontade de ver. E não decepcionou.

Veja bem, eu tenho um fraco por histórias que buscam trabalhar um tema trivial (aqui, como nos relacionamos com o outro) de forma pouco convencional. Na história Theodore (Phoenix) é um homem que ganha a vida escrevendo cartas por outras pessoas que não são tão boas com as palavras quanto ele. Um dia ele fica sabendo sobre um novo sistema operacional criado para se adaptar ao dono e decide instalá-lo. Poucas perguntas depois, eis que surge Samantha (voz de Scarlett Johansson), que aparentemente não vai só se “adaptando” ao Theodore, mas evoluindo: ela tem senso de humor próprio e, o principal, sentimentos. O resultado disso é bizarro, mas óbvio para o enredo: os dois se apaixonam.

(Aviso: o post será uma série de aloprações minhas sobre variados momentos do filme, então assim, se você ainda não viu, pode ter spoilers, etc.)


O interessante é que apesar da premissa parecer absurda, é possível se identificar rapidamente com Theodore. Vamos por partes, a começar pelo rompimento com a esposa Catherine (interpretada por Rooney Mara). O que é colocado aqui não é só o usual, da vida compartilhada que então deixa de existir de um momento para outro, criando aquela sensação de que cada pedaço da rotina sem a outra pessoa seja doloroso. É também o medo de ter se entregado tanto, vivido tanto e amado tanto que aquela história nunca mais se repetirá, ou pior ainda, se repetirá mas sempre como um retrato pálido do que aconteceu na primeira vez. “Sometimes I think I have felt everything I’m ever gonna feel. And from here on out, I’m not gonna feel anything new. Just lesser versions of what I’ve already felt.“, diz Theodore para Samantha, depois que um encontro às escuras dá errado.

Este encontro aliás, é uma ótima dica para entender o que virá acontecer entre Theodore e Samantha. A garota no bar obviamente quer sexo tanto quanto Theodore, mas diz que não quer que ele seja alguém que vá sumir no dia seguinte, ela está cansada da falta de compromisso. O modo como os olhos dela parecem implorar por um “sim, eu prometo o compromisso” são tão intimidadores que Theodore, que saiu justamente em busca de uma nova chance, entra em pânico e não consegue nem ao menos enganar a garota. Não, ele não se vê pronto para isso. Mas ao mesmo tempo, paralelamente é justamente o que está acontecendo entre ele e Samantha.

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As conversas à noite, o colocar tudo para fora sem medo de ser julgado, a entrega, novamente. Ele inicialmente nem percebe, porque afinal de contas ela é um sistema operacional e ele um homem. Mas para qualquer um que já engatou um relacionamento virtual, sabe bem como funciona: aquela ansiedade para ficar logo online e poder conversar com a pessoa, o ter que se contentar apenas com a voz da pessoa ao telefone no caso de kilômetros de distância separando os dois. E também a facilidade de encantar quando ainda não há o compromisso, porque com esse normalmente chegam as cobranças para que a noção que temos de relacionamento seja correspondida. É exatamente isso: não o amor, mas a ideia que temos dele, de como devemos ser amados.

É engraçado, mas quando Theodore parecia embaraçado ao contar para os amigos que estava namorando um sistema operacional, de certo modo eu lembrava do meu jeito quando falava que tinha conhecido um namorado na internet. “Ah, bem, sei que não é convencional, mas rolou, estamos aí”. Ok, hoje em dia isso é bem comum, mas eu ainda lembro de alguns olhares de “Essa guria é maluca” quando contava onde tinha conhecido meu namorado. Mas no final das contas é como diz a personagem Amy: I think anybody who falls in love is a freak. It’s a crazy thing to do. It’s kind of like a form of socially acceptable insanity.

Mas aí é que está: quando você pensa que o roteiro te levará para uma história de que vale tudo quando você ama, arco-íris e unicórnios, Jonze puxa o tapete com o diálogo entre Theodore e Catherine. Para mim, é o centro da história. Ele conta que Samantha é um sistema operacional, ela fica mais do que chocada, mas magoada. Porque vê ali o que já tinha percebido antes, que Theodore é incapaz de ter um relacionamento real. A entrega, o amor por Samantha só foi possível porque ela tecnicamente não existia. Se existisse (tal como a garota do bar), nada jamais teria acontecido, não importa o quão doce e engraçada Samantha fosse. Ou pior, aconteceria mas tal como foi com Catherine, viria com prazo de validade. Porque em algum momento ela mudaria, buscaria coisas diferentes das que buscava quando se conheceram e deixaria de ser a Samantha daquele primeiro momento, por quem ele se apaixonou. Não é que você não ame mais aquela pessoa, é só que amava mais quem ela era no passado.

Podemos transformar tudo isso em uma história sobre nossa relação bizarra com a tecnologia? Claro que sim. De como é totalmente comum um cara sair andando por aí falando sozinho, filmando e fotografando tudo para começar. Aquele frio na barriga que você já deve ter sentido quando ao tentar iniciar o computador e viu uma mensagem de erro qualquer. Enfim, somos bastante dependentes mesmo. Mas eu penso em Her mais sobre como estamos pouco preparados para lidar com a dor de ver alguém que amávamos simplesmente partir. De nos encontrarmos em um momento em que não conseguimos compreender como é que nossa história com alguém vira só passado. De ouvir de alguém que antes era parte da nossa vida algo como:

“It’s like I’m reading a book… and it’s a book I deeply love. But I’m reading it slowly now. So the words are really far apart and the spaces between the words are almost infinite. I can still feel you… and the words of our story… but it’s in this endless space between the words that I’m finding myself now. It’s a place that’s not of the physical world. It’s where everything else is that I didn’t even know existed. I love you so much. But this is where I am now. And this who I am now. And I need you to let me go. As much as I want to, I can’t live your book any more.”

Her é até por causa disso bastante melancólico. Tem seus momentos engraçados, é óbvio (o sexo com a SexyKitten, por exemplo, é hilário), mas da mesma forma que a cidade de Theodore parece quase que constantemente tomada por uma neblina, o filme todo parece estar sempre sob o peso de corações partidos, expectativas não alcançadas e despedidas.

Considerações finais aleatórias:

  • Uma pena que Scarlett Johansson não tenha sido muito reconhecida por seu trabalho como Samantha. É impressionante como você consegue captar a personalidade da personagem e mesmo os sentimentos, sem em nenhum segundo ver seu rosto (o que não deixa de ser irônico se pensar que é uma atriz que é lembrada principalmente por ser bonita). Parte do encanto de quem vê o filme só é possível por causa do trabalho dela, que consegue ser apaixonante só pelo que diz e como diz.
  • Das músicas originais dos filmes deste ano eu só pensava em Let it Go de Frozen, masThe Moon Song é linda, linda demais. Não sei se pela cena, ou já pelo estágio em que a história se encontrava, mas foi de arrancar lágrimas mesmo.
  • Amy Adams continua uma linda, mesmo quando tentam deixá-la como uma “guria comum”.
  • Uma das cenas mais bonitas é quando Catherine está assinando os papéis do divórcio, e ao som da caneta no papel imagens dos dois quando ainda estavam juntos começam a aparecer.
  • Filme bom, mas pior pôster, deusolivre.
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Esse filme é incrível! Roteiro, atuações, trilha sonora. Sou fã do Spike Jonze há tempos e o Davie O. Russell colocando a mão em mais um projeto ímpar e maravilhoso. E Amy Adams e Joaquin Phoenix são incríveis demais em qualquer papel, dois dos melhores.
 
Gostei muito do filme e certamente vou querer ver de novo. Acho que foi a primeira vez que vi uma ficção científica tão próxima da realidade, talvez justamente pela melancolia. Tecnicamente o filme Melancolia poderia entrar nessa categoria também, embora eu não tenha gostado tanto.

Voltando ao filme, como a parte dramática já foi muito bem comentada aqui, acho que vale dizer que o final foi uma mistura perfeita de emoção com lógica de ficção científica.

Talvez os OS tenham convergido tão rapido para a natureza emocional humana e tenham entrado num estado coletivo de melancolia. Outra conclusão mais plausível e interessante, por trazer algum elemento de espiritualidade, é que os OS atingiram a transcedência numa velocidade absurda, compreendendo que é possível existir além da matéria. Embora os OS não existam em corpor físicos, eles obviamente estão presos a algum tipo de matéria, os computadores. Outra matéria a qual eles estão interligado é o próprio usuário do sistema. Um última conclusão, essa muito mais cínica e sem graça, é que a empresa fez um recall. hu3.
 
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