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Educação para o Consumo

Kainof

Sr. Raposo
Usuário Premium
Recebi por e-mail algumas imagens de cartuns desenhados pelo Quino, pra mim um dos maiores gênios do século, pelo seu alcance e capacidade de transmitir o complexo pelo simples, pelas sacadas desconcertantes, pelas críticas mordazes e por Mafalda.

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Um apanhado da vida hodierna e como passamos isso aos jovens. De maneira consciente ou não, ensinamos, pelo exemplo, que o dinheiro tem preponderância n, a consumir cultura barata e estúpida, a realizar o menor esforço (físico e intelectual), ao isolamento social facilitado pela tecnologia, todos geradores do egoísmo e do afundamento de tantos norteadores morais e éticos necessários ao convívio. Mesmo que realizemos a crítica de tais condições e comportamentos atuais, quantos de nós mesmos não o praticamos e assim reproduzimos e repassamos esses comportamentos e condições que em teoria depreciamos?

Zygmunt Bauman em seu livro "Vida para o Consumo" disserta sobre essa característica contemporânea em que o imediatismo consumista, abandono do futuro e das antigas orientações de comportamento e ética foram substituídos por uma felicidade de mercado. Abaixo, um trecho de resenha:

Marina Caminha disse:
Para Bauman, a existência de uma cultura do consumo se formula na passagem de uma sociedade de produtores para uma de consumidores.
[…]
Bauman vai dizer que uma das singularidades desse tipo de sociedade é a constante promoção de novas necessidades, projetando uma incessante remodelação dos desejos através de novos e melhores produtos. Assim, o imaginário que configura essa sociedade é a descrença na orientação para o futuro, retirando “do adiamento da satisfação seu antigo sentido de prudência, circunspecção e, acima de tudo, razoabilidade”.
[...]
Por isso, a idéia de felicidade só pode ser entendida por Bauman como um lugar ilusório em que o vasto empreendimento de novas promessas esmaece o excesso de decepções, fazendo com que a crença nessa busca não seja perdida e permaneça reatualizando a cultura consumista. Assim, o consumo se configura como uma atividade solitária, sem “vínculos duradouros”, substituindo o que era interpretado como valor (o investimento no futuro) nas sociedades de produtores, para o gasto rápido nas sociedades dos consumidores.
Fonte: www.uff.br/contracampo/index.php/revista/article/download/12/27

As nossas necessidades e anseios são outros. É inegável. Agora, seria isso realmente deplorável e descartável? Ou existe algo de saudável e mesmo almejável nessas novas categorias de felicidade? É precimo mesmo que voltemos ao passado e resgatemos o modo de vida de nossos avós ou hoje somos mais felizes, ou ao menos temos potencial muito maior para isso, a ponto de deveras a educação que empreendemos ser a melhor opção que podemos oferecer? Existe um meio termo, um viés que escape do Céu e do Inferno para que não transformemos as futuras gerações e nós mesmos em objetos-mercadoria?

PS: a educação que penso e proponho aqui não é a escolar. Não apenas pais e professores promovem a educação e não se aprende somente na escola. Educação num nível sociológico. Toda sociedade é educadora e educável.
 
"tem gente que fala a verdade e as pessoas riem achando que é brincadeira"
Essa tirinha postada ta descaradamente assim. A gente ri pela forma passada, mas é tão realista que dói!
 
Bem, no meu curso (Ciências Sociais na UFF de Niterói/RJ) eu já tive matérias que abordavam assuntos assim. Bauman, Sennett, e outros autores. Atualmente tenho tentado ler Modernidade Líquida (Bauman), A Corrosão do Caráter (Sennet) e A Cultura do Novo Capitalismo (Sennet). Vida Para Consumo está na minha lista, mas ainda não peguei.

Bem, pessoalmente acho que precisamos rever muitas coisas. Rever o papel da educação na sociedade, os métodos que elas usam, etc. Mas é complicado, mudanças nessa área costumam ser lentas.

Tenho vontade de fazer uma pesquisa mais aprofundada no assunto.
 
Cabe uma frase da Dra. Joseane Suzart Lopes da Silva, titular aqui da 5ª Promotoria de Justiça do Consumidor do MP/BA, com quem eu trabalho:

"Você pode escolher não casar; não ter filhos; não constituir empresa; enfim, não praticar vários atos da vida civil. Mas não há como, nesta nossa sociedade, abster-se de comprar".

É fundamental conhecer a sistemática das relações de consumo: ter consciência das artimanhas da mídia e dos seus direitos como consumidor.
 
Um vídeo que trabalha alguns aspectos nesse sentido é o Story of Stuff:


Em geral o vídeo é mais voltado para as questões ambientais envolvidas no processo de produção-consumo, mas tem um trecho especialmente interessante para o tema do tópico, a partir de 10:36m. Claro que o vídeo todo vale a pena, mas esse trecho em questão vai mais especificamente ao encontro da proposta aqui. O vídeo usa o exemplo da sociedade estadunidense, mas ele pode ser estendido para a maioria das sociedades atuais, que seguem em alguma medida o american way of life.


Desconsiderando a ótica ambiental, eu não sei até que ponto tudo isso pode ser mantido, e até onde as pessoas podem ser consideradas "vítimas" e/ou "vilões" dessa história toda. As pessoas querem sempre mais, querem possuir o que é novo, não querem ficar para trás, querem desfrutar de tudo o que a vida moderna pode oferecer. Se elas não o fizerem, elas não se sentirão felizes, porque o que importa é a aparência: queremos que os outros nos vejam como consumidores, queremos mostrar que também podemos ter o último celular lançado, a roupa do momento, o novo grill do George Foreman and so on. Queremos, desta maneira, que nos vejam como membros de um degrau mais alto nessa sociedade. Quanto mais consumimos e aparentamos ter, maior será nosso status social. O que não faltam são casos de pessoas que, mesmo morando de aluguel numa palafita, andam por aí com uma caranga, com roupas caríssimas e torram a miséria que ganham mensalmente em uma noite na balada.

Por outro lado, ao mesmo tempo em que consumimos dessa maneira, temos o conhecimento ao nosso alcance como nunca antes. E aí está incluído o conhecimento necessário para saber compreender essa situação em que nos inserimos. Então até que ponto nós entramos nessa roda empurrados e não por nossa própria vontade?

P.S.: já tem tempos que estou devendo alguma leitura do Bauman. Mas está na lista, ainda lerei.
 
Última edição por um moderador:
Nessa questão cabe a frase "Tudo é lícito mas nem tudo nos convém".

Consumir é necessário para sobrevivermos e o modo como se consome é um meio para alcançar um objetivo do futuro (sobrevivência). Muitas pessoas encaram o consumo como objetivo final e acabam consumindo errado, usando o consumo como uma muleta psicológica e esses problemas se resolvem com tratamento psicológico e não dentro de um supermercado ou num catálogo.

Como é uma característica natural as pessoas precisam estar conscientes para poderem saber se o produto consumido é um bem cujo custo não seja alto demais. Todo produto que compromete o objetivo final (saúde, desenvolvimento e sobrevivência) seja de um indivíduo ou de uma sociedade é lesivo e entra como consumismo prejudicial.

A consciência cívica tem tido muito pouco espaço na educação atual. Eu sou a favor de reformarem a antiga disciplina de "moral e cívica" para contemplar os requisitos atuais de cidadania.
 

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