Re: Éowyn como Dernhelm
Isso! Sou um apaixonado pela Éowyn, gosto muito de sua história também, que para mim, é uma história de superação, de buscar os seus próprios limites, de quebrar barreiras internas e externas.
Acho formidável quando o Príncipe de Dol Amroth está prestando homenagem ao Rei Théoden, já caído, e percebe Éowyn no Campo de Batalha, quando pergunta a algum soldado: "Será que até mesmo as mulheres dos rohirrim vieram em nosso auxílio?". Genial.
Éowyn recebe ordens diretas do rei para ficar na capital e cuidar dos assuntos administrativos daquele povo, o que para sua mente espartana não passava de uma prisão sendo até um insulto não poder participar da Batalha dos Campos de Pelennor. Sobre o nome de Dernhelm ela parte então no éored de Elfhelm para a batalha e a morte, levando consigo outro que como ela, foi impedido de lutar, o hobbit Merry. Sensacional.
Para mim, no livro, essa cena ficou muito melhor que no filme, que nos mostra logo de cara que Dernhelm é na verdade a princesa Éowyn.
No livro, quando o Rei Théoden está caído depois da investida do nazgûl, e todos os cavaleiros de sua casa jazem ao seu redor ou então foram levados para longe devido a loucura de seus cavalos, pois é isso o que provoca uma investida do Rei-Bruxo de Angmar, a loucura e a morte. Ainda assim, ainda existe um cavaleiro para proteger o rei, cena essa absurdamente linda, como Dernhelm grita para si mesmo para não fraquejar e continuar firme perante a essência do mal que está a sua frente, ele diz:
"Homem do Rei! Homem do Rei! Você deve ficar ao lado dele. O senhor será como um pai para você foi isso o que você disse."
Enquanto, segundo o professor, "sua vontade não respondia, e o corpo tremia. Não ousava abrir os olhos, nem olhar para cima". Mas eu acrescento, ainda assim, ela estava lá, presente e firme, até o fim de todas as coisas, pois para ela era mais fácil enfrentar o demônio em pessoa, que abandonar seu rei.
Vou colocar aqui todo o trecho do enfrentamento de Dernhelm ao rei-bruxo porque é simplesmente genial.
"_ Vá embora, criatura asquerosa, senhor das aves carniceiras! Deixe os mortos em paz!
Uma voz fria respondeu:
_Não te intrometas entre o nazgûl e sua presa! Ou ele te matará na tua hora. Vai levar-te embora para as casas de lamentação, além de toda a escuridão, onde tua carne será devorada, e tua mente murcha será desnudada diante do Olho Sem Pálpebra."
Reparem, quão amedontrador são as palavras do Rei-Bruxo, como se não bastasse a sua presença, ele diz coisas que faria qualquer pessoa sã fugir como um louco por dias. Mas notem a reação de Dernhelm:
"Uma espada tiniu ao ser sacada. - Faça o que quiser; vou impedi-lo se conseguir.
_Impedir-me? Tu és tolo. Nenhum homem mortal pode me impedir!
Então Merry ouviu o mais estranho som de todos os sons daquela hora. Parecia que Dernhelm estava rindo, e sua voz cristalina era como aço."
Olha que bonito e terrível é a descrição do som da risada de Dernhelm nesse momento. Eu morreria de medo, mas o oponente dela era o Rei-bruxo e ele não sente medo, mas ele sente dúvida, e por um segundo seu coração foi consumido por ela, como diz o professor:
"_ Mas não sou um homem mortal! Você está olhando para uma mulher. Sou Éowyn, filha de Éomund. Você está se interpondo entre mim e meu senhor, que também é meu parente. Suma daqui, se não for imortal! Pois seja vivo, ou morto-vivo obscuro, vou golpeá-lo se tocar nele."
Meu deus que mulher é essa? Por Durin!
"A criatura alada gritou contra ela, mas o Espectro do Anel não respondeu e ficou em silêncio, como se tomado por uma dúvida repentina."
Ho, ho!
Merry então observa aquela que chamara de Dernhelm:
"Mas o elmo de seu segredo lhe caíra da cabeça, e os cabelo claros, libertos de seus laços, reluziam num ouro pálido sobre os ombros. Os olhos cinzentos como o mar eram duros e cruéis, e apesar disso haviam lágrimas em suas faces."
Acho interessante como o professor coloca a palavra "faces" e não "face", de fato não é uma pessoa que ficou para denfender o rei, mas duas, Éowyn e Dernhelm, como Tolkien diz a seguir, e ambos têm lágrimas em suas faces. Talvez por medo e terror do seu oponente, mas também, pela coragem de enfrentá-lo, de estar ali, de pé, diante todo o mal, mandando-o dar as costas e ir embora, ou talvez encontrar a morte na lâmina de sua espada.
"Segurava uma espada na mão e erguia o escudo contra o horror dos olhos do inimigo.
Era Éowyn, e também Dernhelm. Pois na mente de Merry de repente surgiu, como um clarão, a imagem do rosto que ele vira na cavalgada, partindo do Templo da Colina: o rosto de alguém que vai em busca da morte, sem qualquer esperança."
Muito legal, muito bonito e emocionante, mais uma cena que foi legal no filme, mas que não chega aos pés da mesma cena, em grandiosidade e comoção, no livro. É justamente a cena que comove o hobbit à ousadia de atacar tal inimigo.
"...e de repente a coragem de sua raça, de inflamação lenta, despertou. Cerrou a mão. Ela não deveria morrer, tão bela, tão desesperada! Pelo menos não morreira sozinha, sem ajuda.
... o hobbit mal ousava se mexer, aterrorizado com a possibilidade de aqueles olhos mortais recaíssem sobre ele. Devagar, devagar, começou a se arrastar... mas o Capitão Negro, cheio de dúvidas e intenções com a mulher à diante dele, não deu ao hobbit mais atenção que daria a um verme."
Olha que bonito. Nesse momento então a montaria do Rei-bruxo bate suas asas e o professor diz que o vento produzido era nojento. Olha a reação de Éowyn/Dernhelm frente a tamanho perigo:
"Mesmo assim ela não recuou: donzela dos rohirrim, filha de reis, esbelta e ao mesmo tempo como uma lâmina de aço, belas mas terrível. Desferiu um golpe rápido, habilidoso e fatal. Cortou fora o pescoço esticado e a cabeça decepada caiu como uma pedra."
Uma lição de coragem e sangue frio para fazer o que é preciso fazer quando o momento chegar.
Depois que o Rei-bruxo quebra seu braço com a maça, e está prestes a matá-la Merry chega perto o suficiente para atravessar sua espada o tendão de seu "forte joelho". Então...
"... cambaleando, esforçando-se para se levantar, com suas últimas forças ela enfiou a espada sobre a coroa e o manto, quando os grandes ombros se curvaram diante dela. A espada se estilhaçou faiscando em mil fragmentos. A coroa rolou para o chão estrepitosamente. Éowyn caiu para a frente, sobre o corpo de seu inimigo. Mas eis que o manto e a couraça estavam vazios. Jaziam agora disformes no chão, rasgados e amontoados; e um grito subiu estremecendo o ar, e foi sumindo num gemido chiado, passando com o vento, feito a voz fraca e sem corpo, que morreu e foi engolida, e nunca mais foi ouvida naquela era deste mundo."
É interessante que Éowyn foi com tudo mesmo, foi seu último golpe, ela colocou todo o peso de seu corpo nesse golpe, tanto que acabou caindo para cima de seu oponente, uma vez que já não tinha equilíbrio devido o golpe.
Enfim, é muito bonito, é muito apaixonante, meu coração tem uma relação direta com esta história. A continuação desses fatos também são dignos de um post tão grande quanto esse, que é quando Merry se aproxima do rei e escuta dele suas últimas palavras. Quando Théoden nomeia Éomer o rei pedindo que entregassem seu estandarte para ele dizendo "Salve o Rei das Terras dos Cavaleiros!" e lamenta não poder ver Éowyn antes de partir, sem saber que ela jazia ao seu lado. Enlouquecido Éomer organiza os rohirrim para a batalha que está para começar. Muito emocionante.
Mas eu já falei demais nesse post, deixou esse assunto para um outro. Obrigado pela paciência e pela audiência de quem conseguiu terminar este meu post que, para mim, é mais uma homenagem e prova de amor a esse livro que tanto me contagia e me completa com sua intensidade.
Os trechos citados estão entre as páginas 106 e 108 d'O Retorno do Rei. É muito bonito para quem quiser relembrar na íntegra.