Para Moriel e Fringway:
O Dostô é o meu escritor favorito, o maior dos meus ídolos literários. Ouso dizer que ele me impressiona mais profundamente que o Shakespeare, por exemplo. Ele tem uma densidade psicológica tortuosa, inquieta e inquietante, que me "perturbou" intensamente desde que eu li o Crime e Castigo, sem dúvida a obra-prima máxima dele - mais coerente e bem menos mística que Os Irmãos Karamázovi.
O Tchecov também é um dos maiores autores russos, ao lado do Dostô (o melhor na minha opinião, é claro) e do Tolstói (nunca li nada dele). A diferença crucial entre os dois é que Tchecov foi um dos maiores expoentes como contista e dramaturgo na literatura universal, ao passo que o Dostô "abalou as estruturas" literárias como romancista - e Crime e Castigo foi verdadeiramente uma obra revolucionária pela maneira destemida, profunda e inédita com que tratou a capacidade humana de racionalizar o crime, envolvendo suas razões, na época; uma obra-prima ímpar em toda a história da literatura.
O Tchecov escreve de forma mais simples e relativamente despojada, mas com vigor poético e um realismo denso, à maneira dele. E também sabe mesclar um humor - às vezes ácido - com o drama de maneira magistral. Dostô é diferente, claro. Ele tem uma linguagem qua já expressa uma profundidade e uma complexidade humana de forma avassaladora - e sombria. A própria linguagem dele é tão irregular quanto à geografia de São Petersburgo. Ele é sim mais grandioso, poderosamente humano e denso que o Tchecov, a meu ver - ao passo que este talvez tenha um talento maior para o humor e para a apreensão do simples cotidiano. Não vejo nada de teatral e exagerado no meu querido Dostô, não no sentido de "simulado" ou "forçado".