A minha resposta então para o problema dos nazgul invisíveis e encarnados (onde raios teria ido parar o corpo deles??) é que devia acontecer com eles o mesmo que acontecia com os elfos que se esvaeciam com o tempo. Só que no caso dos nazgûl isso acontecia por causa dos anéis.
Swanhild,
Pelo que entendi,
(a) É necessário estar encarnado para interagir fisicamente com o mundo físico: para juntar um lápis ou segurar uma espada, por exemplo;
(b) Quem não está encarnado não pode interagir fisicamente com o mundo físico: mas tem a vantagem de, por isso, ser invulnerável.
Mas os Nazgûl tinham um pouco de cada uma dessas características. É estranho, mas realmente parece que eles estavam num meio-termo.
O mais simples a dizer é que se os Nazgûl estavam encarnados, então carregavam seus hröar junto com eles. Afinal, eles empunhavam armas, seguravam objetos e eram invisíveis apenas quando despidos. Além disso, em SDA fica bem claro que Pippin corta um tendão (!) de um Espectro do Anel.
Mas... temos ainda um problema aí: os Nazgûl eram invulneráveis contra armas normais. A sua principal arma era o terror que emanava deles...
De certa forma, então, não é errado dizer que eles eram, de fato, mortos-vivos (desencarnados-encarnados). Eles reuniam características das duas circunstâncias, e isso é algo que eu não consigo explicar sem usar um raciocínio muito acrobático e frágil.
Mas, vamos lá... nunca tive receio de expor as minhas idéias doidas neste Fórum... E esta é uma que estou trabalhando já há algum tempo:
Quando Tolkien explicou a *magia* em sua obra, fez referência a dois tipos: sub-criação e necromancia, mas eu acho que existe um terceiro.
Esse terceiro tipo de magia é o utilizado pelo drûg Aghan no conto *A pedra fiel*, por Sauron no Anel Governante e nas fundações de Barad-dur, e por Morgoth em toda Arda, quando a impregnou com seu espírito. Nesse tipo de *magia*, transmite-se poder para um objeto, e passa-se a compartilhar o destino dele (Contos Inacabados, p. 419).
Talvez seja um tipo de *magia* que se possa fazer tanto com sub-criação como com necromancia. Talvez não seja propriamente um terceiro tipo. Mas o fato é que esse tipo de encantamento tem características bem peculiares...
Em todos esses exemplos, inclusive no de Aghan, o personagem transmite poder a um artefato do mundo físico, transferindo a ele parte de seu poder espiritual, e a partir dali, o tal objeto passa a se comportar como se fosse uma manifestação no mundo físico do seu poder (do seu espírito!) como se fosse um segundo corpo.
Eu acho que é assim que Sauron (em termos) vivia dentro do anel, dentro das fundações de Barad-dur e de seu próprio corpo, ao mesmo tempo.
É assim que Aghan vivia na estátua e em seu próprio corpo, ao mesmo tempo.
É assim que Morgoth vivia em todas as coisas, e em seu corpo ao mesmo tempo.
É assim que os Istari viviam em seus cajados e em seus corpos ao mesmo tempo.
E... é assim que os Nazgûl viviam nos 9 anéis e em seus corpos, ao mesmo tempo, até que não sobrou quase nada de seus hröar originais.
A minha melhor (e mais amalucada) explicação para os Nazgûl estarem encarnados e desencarnados ao mesmo tempo é que eles estavam parcialmente encarnados nos 9 anéis, e parcialmente desencarnados no que se referia aos seus hröar originais.
Eles viveram em seus corpos originais até serem escravizados pelos anéis. Depois disso, seus fëar passaram a viver uma parte no corpo original e uma outra parte dentro dos 9 anéis. Posteriormente, quando seus corpos originais foram totalmente (ou quase totalmente) consumidos pelo calor dos seus espíritos ou destruídos em batalha, ainda assim permaneciam parcialmente encarnados, manifestando-se no mundo físico através dos 9 anéis.
Isso talvez explique porque os Nazgûl podiam continuar usando o pouco que restava de seus corpos originais mesmo depois deles estarem praticamente imprestáveis (tremendamente velhos e feridos).
Talvez explique porque eles sobreviviam a acidentes que provocariam a destruição de qualquer hröa.
Talvez explique o tal tendão que Pippin cortou.
Talvez explique como os Nazgûl podiam reunir ao mesmo tempo características de seres encarnados e de seres desencarnados.
Talvez explique porque eles continuavam dominados pelos anéis mesmo quando não os usavam em seus dedos (quando estavam todos em posse de Sauron).
Talvez explique como o Um Anel parecia ter vontade própria (continha parte da essência espiritual de Sauron).
Talvez até mesmo explique porque os cajados dos magos eram tão importantes para eles (estou inclinado a acreditar que os cajados dos magos eram fánar, que existiam ao mesmo tempo que os hröar em que eles estavam encarnados).
Talvez...
Essa teoria é muito frágil. Eu sei.
Essencialmente, estou afirmando que qualquer manifestação física de um espírito em Arda, através de um objeto constituído por matéria de Arda, pode ser considerada equivalente a um hröa e que quando alguém fazia um encantamento para transferir parte de seus poderes para um objeto estava como que criando um segundo corpo, e se fazendo duplamente encarnado: em si mesmo e no objeto.
Em alguns casos, houve personagens que chegaram ao extremo de estarem multiplamente encarnados: como foi o caso de Sauron e Melkor (eles tinham seus fánar, mas dispersaram parte de seus poderes em objetos do mundo físico, adquirindo múltiplos hröar).
Outros personagens que ficaram na esdrúxula situação de se manifestarem no mundo físico por meio de um fána e de um hröa talvez tenham sido os Istari (que estavam encarnados nos seus hröar, mas também emanavam poder através dos cajados).
E isso tornaria possível a situação de um personagem estar ao mesmo tempo encarnado e desencarnado, de modo que uma parte de seu espírito podia se manifestar no mundo físico e outra não. Foi o que aconteceu com Saruman (quando seu cajado foi partido, e assim ele ficou mais fraco) e com os Nazgûl, à medida em que seus corpos humanos iam perecendo.