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DRM, O elefante na sala

Ana Lovejoy

Administrador
Dia desses estávamos conversando sobre isso em outro tópico, e agora acabei de ler este texto bem informativo então compartilho com vocês:

No meio editorial, quando se fala em DRM, a chance de se ver no meio de um debate acalorado é grande. De um lado está o direito de autores, editores e livrarias de serem pagos por seu trabalho e, para garantir isso, de receber alguma proteção contra cópias gratuitas e ilimitadas de seus livros. De outro, o direito do leitor de usufruir plenamente de um produto que foi comprado e, portanto, lhe pertence. Qual seria a maneira mais justa de resolver a questão?

Vamos começar do começo: o DRM – em inglês, Digital Rights Management, ou Gerenciamento de Direitos Digitais – é um tipo de proteção eletrônica aplicado a conteúdos digitais (músicas, filmes, livros, games etc.) para evitar o uso indevido dos arquivos. No caso específico dos e-books, o DRM busca garantir que apenas o comprador do livro tenha acesso a ele, limitando a capacidade de copiar, imprimir e compartilhar o conteúdo e proporcionando ao autor, à editora e à livraria uma certa segurança contra possíveis downloads ilegais.



E eu com isso?

Ok, essa é a definição oficial. Na prática, o que o DRM muda na vida do leitor? A princípio, se o sistema funcionar bem, nada: se eu quiser simplesmente baixar um livro no meu Kindle e começar a lê-lo imediatamente, posso fazer isso com um clique, sem nem ao menos saber da existência do DRM. Os problemas começam quando quero fazer algo a mais com o arquivo comprado, como emprestá-lo a um amigo, compartilhar um trecho ou lê-lo num dispositivo associado a outra livraria. Neste caso, fico refém das possibilidades oferecidas (ou não) pela loja. Talvez a parte mais essencial desta questão seja a da interoperabilidade: como cada livraria opta por um sistema diferente de DRM, em muitos casos e-books comprados numa loja não podem ser lidos no aplicativo ou e-reader de outra. Isto significa que um leitor que resolva trocar seu Kindle por um Kobo não poderá usá-lo para ler os e-books que já comprou na Amazon; um leitor que resolva trocar seu iPad por um tablet Android não terá acesso à sua biblioteca comprada pela iBooks Store.

Olhando a questão sob a perspectiva das editoras, embora o DRM represente certo nível de segurança, ele também traz alguns problemas. Para começar, a necessidade de aplicar o DRM aos arquivos dificulta que a própria editora venda e-books através de seu site: se desenvolver uma estrutura de venda direta (incluindo não apenas a parte técnica, mas também a de atendimento e suporte ao leitor) já não é simples ou barato, a tecnologia necessária para aplicação do DRM representa um custo ainda maior. Para utilizar o DRM da Adobe, por exemplo, é preciso adquirir uma licença do Adobe Content Server, que custa US$10 mil no primeiro ano e US$1500 por manutenção nos anos seguintes, além de uma taxa de US$0.22 por transação. Ou seja: em geral, a editora precisará dos serviços de uma distribuidora se quiser vender e-books diretamente a seus leitores – ou mesmo se quiser enviar cópias de seus livros digitais a autores, blogueiros e jornalistas, por exemplo, uma prática corriqueira no mundo dos impressos.

Uma outra complicação é que a aplicação do DRM pelas livrarias pode modificar os arquivos que são entregues a elas. Isto significa que um ePub que funciona perfeitamente ao ser testado pela equipe da editora pode apresentar defeitos depois de passar pelo sistema da loja. O grande problema é que, em boa parte das livrarias, eu, editora, jamais saberei que o problema existe a menos que eu compre o livro ou – o que é ainda mais grave – que um leitor o perceba e entre em contato.



Digital Rights ou Restrictions?

É por essas e outras limitações que há tantos opositores do DRM, não apenas no meio editorial, mas em todos os mercados que lidam com este tipo de problema em relação a conteúdos digitais. Talvez o exemplo mais famoso seja a campanha Defective by Design, que considera este tipo de proteção “uma ameaça à inovação, à privacidade e à liberdade dos usuários de computador”. Mas, então, quais seriam as alternativas?

Em primeiro lugar, é preciso ressaltar que o DRM não é infalível: alguém determinado a retirar esta proteção do e-book – seja para poder lê-lo em outro dispositivo, compartilhá-lo com um amigo ou disponibilizá-lo para download em seu próprio site – pode aprender a fazê-lo com uma simples busca no Google. (Quem teria mais dificuldades para fazer isso? Justamente o usuário menos familiarizado com tecnologia, para quem qualquer problema – como uma limitação inesperada causada pelo DRM – pode ser frustrante o suficiente para deixá-lo desconfiado em relação aos e-books.) Assim, já que a segurança representada pelo DRM não é tão forte, algumas editoras optaram por eliminar esta proteção: é o caso do Tor, selo da Macmillan que começou a vender seus e-books sem DRM através de uma loja própria em meados de 2012. Um ano depois, o resultado: respostas entusiasmadas de autores e leitores, nenhum impacto sobre a pirataria. Um outro exemplo, que considero ainda mais interessante, é o da O’Reilly: ao comprar um livro digital no site da editora, o leitor tem acesso a ele não apenas sem DRM, mas também em diversos formatos (ePub, Mobi, PDF e DAISY, quando disponível). Vale observar que ambas são editoras de nicho, voltadas a públicos (e autores) familiarizados com tecnologia; para empresas maiores, o abandono do DRM tende a ser mais complicado.



Um meio-termo possível

Outra alternativa é a marca d’água digital (também chamada de “DRM social”), usada pelo Pottermore: cada cópia vendida é marcada com algumas informações pessoais do comprador, o que não impede, mas inibe o compartilhamento do arquivo em sites piratas. Dois meses depois do lançamento do Pottermore, o então CEO Charlie Redmayne declarou que a pirataria havia disparado nos primeiros dias; mas, em seguida, leitores passaram a se opor a esta prática, já que ela punia um comportamento desejado pelos próprios leitores (isto é, a disponibilização de e-books sem DRM). Uma vez que a situação se estabilizou, a pirataria passou a ser 25% menor do que antes, quando os títulos estavam disponíveis apenas em papel. Porém, a situação do Pottermore é especial por dois motivos: a comunidade de leitores de Harry Potter é forte o suficiente para apoiar a marca, e o site tinha tanto o apoio da autora quanto a capacidade de investimento necessária para abraçar o DRM social, que também exige uma tecnologia que tem custo elevado para ser implementada.

Neste contexto, qual seria a solução? Um DRM menos intrusivo, que não atrapalhe o leitor comum, parece ficar no meio do caminho entre duas posições extremas – a liberdade total do consumidor ou o controle absoluto do que se pode ou não fazer com o arquivo. O interesse de empresas poderosas em manter leitores ligados a suas próprias plataformas faz com que seja difícil imaginar um mundo completamente sem DRM – embora algumas livrarias, hoje, já ofereçam a possibilidade de não utilizá-lo. À medida que o medo da pirataria diminui – o que acredito que seja uma tendência, mas isso já é assunto para outro post – e que os leitores se tornam cada vez mais familiarizados com a tecnologia, a menos que os sistemas de DRM se tornem realmente imperceptíveis, a pressão contra eles tende a se tornar cada vez maior.

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