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Dois textos sobre Livros Digitais, do Sergio Augusto

Zzeugma

Usuário
Texto de 10 de outubro de 2009

http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,o-grande-esforco-para-acabar-com-o-livro,448892,0.htm

[size=large]O grande esforço para acabar com o livro[/size]
O e-book nem pegou e já inventaram o vook, que agrega videoclipes e dramatizações à narrativa. Que chatice..
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No dia em que o novo best seller de Dan Brown chegou às livrarias do Hemisfério Norte, a versão eletrônica vendeu bem mais que a edição impressa. Os corifeus do e-book e a própria Amazon, empório exclusivo do Kindle, o iPod dos livros digitais, só não festejaram a auspiciosa largada por mais tempo e com mais estardalhaço porque, no meio da corrida, a versão impressa de O Símbolo Perdido fez uma ultrapassagem espetacular e fechou a semana com vários corpos de vantagem. Dos primeiros 2 milhões de exemplares vendidos, apenas 100 mil eram e-books. A indústria editorial ainda depende mais de tinta, celulose e cola do que supõe a vã tecnofilia.

Mas ela vai mal das pernas - como, aliás, quase todos os negócios que dependem de papel, gráfica e letras que não sejam de câmbio -, e só os exageradamente otimistas acreditam que a salvação esteja nos e-books. Como eles não responderam por mais de 1,6% dos livros vendidos no primeiro semestre deste ano, melhor esperar sentado. E rezar para que as futuras gerações, seduzidas pelo novo gimmick eletrônico, tenham menos preguiça de ler, maior capacidade de concentração e mais vontade de crescer espiritualmente. Mesmo eletrônico, um livro destina-se, basicamente, à leitura.

Em 19 de novembro faz dois anos que a Amazon lançou o Kindle. A última versão (mais delgada, tela de 15 cm, teclas angulares) custa US$ 259 (R$ 460), um pouco mais em conta do que a versão original (que em junho não saía por menos de US$ 359), ainda assim um hardware caro, um capricho conspícuo. Um iPod não é baratinho, mas armazena e reproduz música, acumula os proveitos de um aparelho de som, de um toca-CDs e de um walkman, ao passo que um e-reader, bem, o homem nunca precisou de um aparelho para ler livros, certo?

Ainda que a leitura digital viabilize algo de fundamental importância - a possibilidade de se navegar qualquer texto, à procura de trechos, palavras, até letras e vírgulas, a remissão total e absoluta - e concretize o sonho de se ter, literalmente, à mão e em qualquer lugar uma biblioteca inteira, seu custo desanima. Um estudo da Forrester Research estimou que o e-reader só será um sucesso avassalador quando custar menos de US$ 100.

O Kindle não é o único artefato de leitura digital de livros e demais impressos disponível na praça. Com ele concorrem, entre outros, o Sony Reader (mais barato: US$ 199) e o holandês iRex (mais caro: US$ 399), mas 45% do mercado já lhe pertencem. Esta semana a Amazon ampliou seus domínios, oferecendo os serviços do seu e-reader para mais de cem países, entre os quais o Brasil.

Mais cedo do que se esperava, portanto, os brasileiros poderão usufruir o que antes era privilégio dos americanos: baixar livros da Amazon em 60 segundos (ao preço médio de US$ 9,99, cerca de R$ 18) e publicações estrangeiras, direto na versão internacional do Kindle, só diferente da americana no que diz respeito à tecnologia de transmissão de dados, aos cuidados da AT&T e seus parceiros internacionais. As primeiras encomendas começarão a ser expedidas de Seattle daqui a oito dias.

Seu catálogo de livros ultrapassa os 300 mil títulos, mais 85 jornais e revistas por assinatura. Todos, por enquanto, em inglês, à exceção do jornal carioca O Globo, o primeiro da América Latina a aderir ao Kindle. As editoras Bloomsbury, Hachette, HarperCollins, Lonely Planet e Simon & Schuster integram o pool montado pela Amazon, que ainda espera a adesão da Random House. Das editoras brasileiras, a primeira a aderir será a Ediouro, que até o fim do ano terá 500 dos seus 10 mil títulos em Kindle, completando o serviço no prazo de um ano.

A eventual consolidação do modo digital de consumir livros como quem acessa um smart phone pode até resultar na redenção do hábito da leitura, especialmente entre os jovens, mas não livrará a indústria editorial da praga da pirataria, da napsterização do livro. Corsário à espreita é o que não falta. Há um site suíço, RapidShare, especializado em baixar literatura de graça na internet; já pegaram nele 102 cópias da versão e-book de O Símbolo Perdido. Os bucaneiros atacam onde dão sopa. Já devem estar de olho no vook.

Vook é a última palavra em e-book, o livro digital com imagens, o book eletrônico televisivo. Um empresário do Vale do Sicílio, Bradley Inman, teve a ideia, a Simon & Schuster perfilhou-a e o híbrido multimídia foi posto recentemente à venda, a US$ 6,99 o "exemplar". Tem texto, videoclips, narrativas ilustradas por dramatizações semelhantes às de uma telessérie e pode ser baixado por qualquer navegador em desktops, laptops, netbooks, smart phones, mas não em e-readers. Ou seja, no Kindle um vook não entra. Faz sentido, pois Inman o criou com o intuito de cobrir as deficiências do e-book, todos enfadonhamente desprovidos de imagens, capas bonita, fontes atraentes e demais encantos gráficos do livro impresso.

A oferta ainda é pobre; a bem dizer, paupérrima. Até agora, só quatro vooks foram lançados: um de dieta e ginástica para mulheres; um guia alimentar para mulheres; um romance água com açúcar de Jude Deveraux; e um thriller curto de Richard Doetsch, intitulado Embassy. A julgar pelos trailers, só os dois primeiros têm alguma utilidade e não ofendem a velha arte de se contar uma história com engenho, imaginação, palavras bem escolhidas e imagens expressivas. Como os bons livros de todo o sempre. Que, além do mais, guardam um cheiro, misto de tinta, cola e míldio, que nenhum e-book é capaz de emular.
 
Este texto é de 10 de abril de 2010

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100410/not_imp536306,0.php
[size=large]A leitura movida a cliques[/size]

Sérgio Augusto - O Estado de S.Paulo

Aderi ao Kindle. A bem dizer, resolvi experimentar o Kindle. Sem gastar um tostão com o leitor eletrônico da Amazon. Ganhei acesso aos livros eletrônicos (e-books) comercializados pela maior livraria virtual do mundo via Kindle for PC. Economizei em torno de R$ 900, que é quanto custa aqui a versão global do mais badalado dos e-readers.

A oferta era irresistível: do site da Amazon.com você baixa, gratuitamente, um software que lhe possibilita ter um Kindle no computador; depois, é só comprar os títulos disponíveis em versão eletrônica, que chegam ao seu computador em questão de minutos. Como não leio na rua e ainda prefiro me distrair em salas de espera com livros impressos, o Kindão (ou seja, meu laptop dotado de Kindle) dá pro gasto. Se não for melhor: sua tela LCD, com tecnologia XBRITE, tem luz própria, um chuá no breu.

Sou bibliófilo juramentado, mas não um ludita - e, acima de tudo, um curioso das chamadas novas tecnologias. Menos avesso à leitura na tela de um computador que a maioria das pessoas, considero uma imensa vantagem a possibilidade de navegação oferecida por qualquer hipertexto. Quantas vezes Machado usa, em Dom Casmurro, a palavra "ciúmes"? Resposta: 14. Tente computá-las e encontrar cada uma delas na versão impressa do romance. Também só na versão e-book de Guerra e Paz posso ir direto, em segundos, ao duelo de Pedro com Dolokhov ou a qualquer outra passagem do caudaloso romance.

Gostei, com reservas, do Kindle for PC. Faltam-lhe alguns recursos do Kindle (opção áudio, mecanismo de busca, anotações e realce), prometidos sine die pela Amazon, mas é possível alterar o tamanho da fonte e marcar páginas, o que ainda é pouco para justificar uma opção pelo livro eletrônico, que, mesmo em sua mais bem acabada encarnação, exagera nas esquisitices.

Páginas sem números, por exemplo. No lugar da numeração tradicional, temos, no rodapé, algo chamado "location". Na versão digital de A History of Histories, de John Burrow, a informação de como Edward Gibbon teve o estalo de historiar a queda e a ascensão do Império Romano (flanando pelo Capitólio, em 15 de outubro de 1764), não fica na página tal, mas na "location 6.335-47".

Comecei minha kindleteca com mais dois ensaios que precisava ler com urgência, Reality Hunger, de David Shields, e You Are Not a Gadget, de Jaron Lanier, seguidos de algumas amostras grátis, para eventual compra, entre as quais o último romance de Don DeLillo, Point Omega. Eis o que mais nos move a recorrer à versão digital de um livro: a pressa de consumi-lo. Se pudesse comprá-lo, impresso, na livraria da esquina ou recebê-lo pelo correio em menos de 24 horas, minha kindleteca teria menos títulos que a mesinha de cabeceira de um BBB - até por ser ínfima a diferença de preços entre os livros e e-books recém-lançados. Solar, o mais novo romance de Ian McEwan, sai por US$ 15.75 em capa dura, e por US$ 14.99 na versão eletrônica.

Há livros baratos e mesmo de graça no acervo Kindle da Amazon, mas lixo, nem de graça, certo? Há clássicos que nada custam, é verdade, pechincha inócua para quem já os leu com lombada e deles não se desfez. O catálogo de e-books da Amazon, praticamente restrito a obras em inglês, tem muitos furos. Nada de Nabokov, Greene, Bellow, Salinger, Pynchon, Edmund Wilson, Mary McCarthy, Gore Vidal. De John Cheever, só uma modesta seleta de oito contos. De J. M. Coetzee, seu último romance, Summertime: Fiction, e olhe lá.

Duvido que o livro, o maior artefato civilizador inventado pelo homem, esteja com os dias contados. Não tenho como provar sua imperecibilidade, mas como seus tecnófilos coveiros tampouco têm como provar a inevitabilidade de sua obsolescência, fiquemos no concreto: o livro tem 550 anos de serventia e seu avatar eletrônico, menos de 20 anos de experimento e alguns meses de modismo. Frívolo modismo, em muitos casos. Gente que não tinha o hábito de ler - gostar de ler, eis a questão - não modificará seus hábitos motivada, exclusivamente, pelo Kindle.

Assim como o CD não acabou com o vinil, o cinema não acabou com o teatro, nem a TV com o cinema, por que duvidar que algo tão prático e entranhado em nossas vidas como o livro impresso possa desaparecer para sempre? Seu desaparecimento seria inevitável sobretudo por razões econômicas, já que as crescentes despesas com papel, impressão, encadernação e distribuição tendem a inviabilizar a produção do livro tal como o conhecemos. Ocorre que os gastos com todos aqueles itens devoram apenas 20% de seu preço de capa.

Das notórias vantagens do livro eletrônico (suas páginas não viram à nossa revelia, ao sabor do vento; se um é roubado, compra-se outro e baixam-se de novo os títulos já adquiridos, etc.), nenhuma é mais enaltecida que a sua portabilidade e sua capacidade de armazenamento. Num Kindle, cabe uma biblioteca inteira. Mas quantos tomos somos capazes de devorar num feriado ou nas férias?

A despeito do enorme potencial do livro eletrônico, seu sucesso ainda é, et pour cause, relativo. Caro, ele responde por apenas 5% do mercado de livros e o grosso de sua freguesia pertence à geração baby boomer (gente na faixa dos 46-64 anos). A clientela mais jovem talvez estivesse esperando pelo iPad, o superKindle que a Apple afinal lançou no sábado passado e cuja variedade de recursos deixa no chinelo todos os leitores eletrônicos existentes no mercado.

O iPad é um misto de e-reader com notebook, TV e celular inteligente, e suporta imagens em cores, ao contrário do Kindle e similares, monocromáticos e monocórdios. Até luditas enrustidos gostaram do brinquedo, mas ainda é prematuro proclamar Steve Jobs como o Gutenberg do novo milênio.
 
Bem interessantes os textos, mas, infelizmente, discordo de todos os que acham que o livro em papel não será suplantado pelo digital. Pode não ser, ainda, com essa geração de e-readers, mas é algo inexorável.

Vamos aproveitar enquanto podemos, pois, em algum futuro, um livro em papel será um artigo de luxo ou de colecionador; e vai custar ainda mais do que atualmente em razão das tiragens menores.
 
Não vai ser substituído, as duas tecnologias irão coexistir como coexistem diversos elementos do nosso mundo apontados pelo cara nos textos.

Não vejo o livro no seu formato mais tradicional sumindo e não sendo mais consultado ou utilizado.
 
Pescaldo disse:
Não vai ser substituído, as duas tecnologias irão coexistir como coexistem diversos elementos do nosso mundo apontados pelo cara nos textos.

Não vejo o livro no seu formato mais tradicional sumindo e não sendo mais consultado ou utilizado.

Báh concordo contigo, acredito na coexistência deles e que a argumentação dos textos está bastante coerente com a realidade.
 
Leitura e conteúdo não devem mudar muito. Ou se mudarem, mudarão por critérios de mercado, conjunturas sociais, este tipo de coisa... Quem já lê bastante, deverá continuar lendo bastante. Quem não lê, continuará não lendo.


O que realmente deve mudar é a acessibilidade aos livros. Será que o fato de ter todo um mundo disponível pra ler, assim, rápido, bastando baixar do google, significa que vc lerá mais ou menos? Afinal já não existem sites com obras cujos direitos autorais expiraram...? Quantos destes vc já foi ler?

Minha experiência particular com relação a Histórias em Quadrinhos baixadas me dizem que provavelmente lerei menos. Por não confiar nas editoras, comecei a baixar histórias pela rede... Qdo não eram traduzidas (por uns doidos), acabava baixando o original ou versões em espanhol ou coisa parecida.

Com o tempo, acumulei um monte de coisa. Mas não leio. Ou melhor li pouco. Li aquelas séries que acompanhei à medida que iam sendo traduzidas, mas nada muito longo ou extenso. Em parte, pelo meio ser desfavorável. Coisa que estes "livros eletrônicos" prometem sanar. Mas em grande parte por ter que ler num meio que oferece além da tela de leitura do micro, vídeos do YouTube, outros filmes pra baixar, notícias, trailers, história, redes sociais, msn, etc etc etc. É muito "desconcentrante" ficar no micro.

Um outro detalhe que me ocorreu: pode ser um problema pessoal MEU, mas eu preciso VER pra lembrar que o arquivo existe, que o livro está lá na estante. Qdo faço arrumações na minha estante, descubro livros que deixei de ler simplesmente por terem ficado fora de vista. Ter um monte de arquivozinhos numa pasta não me parece o melhor meio de chamar atenção...

Mas existem vantagens: espaço em casa, por exemplo. Peso na mochila. Livros técnicos, enciclopédias e manuais seriam atualizados "sozinhos".
 
Zzeugma disse:
Um outro detalhe que me ocorreu: pode ser um problema pessoal MEU, mas eu preciso VER pra lembrar que o arquivo existe, que o livro está lá na estante. Qdo faço arrumações na minha estante, descubro livros que deixei de ler simplesmente por terem ficado fora de vista. Ter um monte de arquivozinhos numa pasta não me parece o melhor meio de chamar atenção...

Me irmano contigo, até esqueço de alguns ótimos textos que tenho arquivados para ler porque eles não estão me espreitando da estante. :sim:

estrelinhas coloridas...
 

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