O assunto é atual. Anormal é levar um século para eu responder.
Pescaldo disse:
[...] quanto maior a vendagem de alguma coisa, maior a probabilidade dela ser ruim.
[...] Porém, como bom chato (a.k.a crítico) que eu sou, vou atrás do troço pra ler pra poder falar mal horrores da obra em questão e depois citar trocentos outros autores que já fizeram o que está ali com uma maestria bem superior.
Breno C. disse:
Pescaldo disse:
Também levando em conta que, para Drummond, obras de arte são 10% inspiração e 90% transpiração, podemos concluir que o escritor de verdade é aquele que conhece o íntimo das palavras e sabe trabalhar com elas da forma mais sublime possível, nos levando a sentir e causar certos sentimentos que nunca seriam causados, também fazendo com que nós pensemos sobre outros assuntos que, de outra forma, não seriam trazidos à tona.
Sei lá carinha! Acho que esse papo é meio esteriotipado, porque cada um sente o livro de uma forma diferente, tipo "questão de gosto", saca?
Posso te dar um exemplo claro disso: eu não gosto de Machado de Assis e também não o acho um gênio nem um "senhor" escritor, na verdade acho os livros dele infadonhos e um pouco sem graça, por isso se alguém me pergunta se M. A. faz livros ou obras de arte, vou dizer que ele nem livros faz.
Confesso que precisei de auxílio para ler obras brasileira. Eu estudava comportamento, sem ler uma só obra brasileira, ou que eu percebesse que era brasileira.
Cotidiano? Afasta de mim esse cálice.
Não preciso de títulos, já sou capaz de utilizar alguns adjetivos para a minha teimosia.
Certa vez uma moça pediu-me ajuda com matemática e descobri que ela era bem interessada em obras literárias. Falei que o cotidiano acabava com o meu interesse, e ela disse: Você é tão criativa, é claro que vai conseguir abster-se desse detalhe, para apreciar a obra em si. Estou fazendo um trabalho sobre
Lygia Faguntes Telles - Natal na Barca, quer participar? Seria um bom começo.
Bem, ela liquidou com o meu preconceito. Aprendi sobre simbolismo e as informações intertextuais, ainda, que o tema, muitas vezes, afasta ou aproxima o leitor.
Por isso destaquei o post do Pescaldo e Excluído01, abaixo.
Não ter que escrever e detalhar tudo, lançar mão de uma simbologia... "credo", como aprendi coisas com essa moça. Mas, a semente para que eu a entendesse melhor, veio de
Tieta, uma novela.
Foi a primeira vez que meu preconceito balançou. Uma história cheia de profundidade,
se eu não levasse em conta a fachada.
Nessa época aprendi também os porquês de os primeiros autores brasileiros escreverem como escreviam. Eles precisavam formar o leitor, auxiliar o leitor a compreender o texto. Os poucos que sabiam ler.
Pescaldo disse:
Breno C. disse:
Sei lá carinha! Acho que esse papo é meio esteriotipado, porque cada um sente o livro de uma forma diferente, tipo "questão de gosto", saca?
Posso te dar um exemplo claro disso: eu não gosto de Machado de Assis e também não o acho um gênio nem um "senhor" escritor, na verdade acho os livros dele infadonhos e um pouco sem graça, por isso se alguém me pergunta se M. A. faz livros ou obras de arte, vou dizer que ele nem livros faz.
Boa argumentação, fera.
[..]
"Questão de gosto"? A Estética não quer saber do que você gosta ou não. Machadão é um gênio reconhecido internacionalmente no meio acadêmico, o fato de você não gostar e achar um livro dele enfadonho e sem graça é não perceber as ironias mil que as obras dele têm.
Esse "a arte está nos olhos de quem vê" é falso. Ela é uma ciência e já faz um tempo. Existem formas de análises estruturais que são aplicáveis em diversos livros. Fala sério: "não tive filho para não perpetuar o legado de nossa miséria" ou "Marcela me amou por 13 meses e 11 contos de réis", são construções carregadas de ironia.
Os dois primeiros capítulos de Dom Casmurro rendeu 3 horas de discussão em salas de aula sobre todas as informações intertextuais que Machado utiliza em tudo quanto é livro e em especial naquele livro.
Você pode até não gostar d'Os Lusíadas, mas dizer que é ruim e que Camões nem escreveu algo que preste ali, também não é inteligente. O mesmo vale pra diversas coisas relacionadas às artes.
Não é o "gosto" que define o que é bom ou não é, felizmente.
Exemplão bem claro disso: minha namorada não gosta do Machadão, mas reconhece que o cara é um grande gênio. Na verdade, ela não gosta é dos temas recorrentes em suas obras e admira a escrita ímpar que o cara tem.
Excluído01 disse:
Tenho um preconceito só : literatura brasileira !
Realmente , não suporte ler nenhum livro que a escola pede , nem que eu tenha que tirar zero na prova .
Mas esse preconceito não é de quem lê , e sim do estilo brasileiro . Eu não ligo para o que cada um lê . Livros são de livre escolha
:tchauzim:
Liv disse:
Gente, e o preconceito com gibi/mangá? Dias atrás, eu estava na Feira do livro de Florianópolis com a minha mãe, e vi uma edição de luxo pocket do Hagar, o Horrível por uns 40 reais. Na hora quis comprar e ela disse "Nem pensar! Compra livros de verdade, filha!". Sei lá, mas eu considero livros, gibis, mangás quase a mesma coisa. (exceto que uns tem mais imagens que outros, claro! mas a "idéia" é a mesma.)
Ou será que eu estou errada por pensar assim?
Posso dizer que ouvia meu pai e seus conselhos, e ouvia também meu coração, não deixava meu coração a margem de minhas escolhas.
JLM disse:
eu leio de tudo, até oq não gosto para poder ter "base" pra falar mal depois. já li clássicos, surfistinha, paulo coelho, dan brown, auto-ajuda, best-sellers, literatura gay, e alguns comprovaram ser ruins mesmo, não por pertencerem a tal gênero literário, mas por seus escritores serem ruins mesmo, com erros grosseiros em enredo, estilo e até gramática. até escritores considerados bons já escreveram coisas ruins, eles mesmos admitem.
para mim o grande problema de vc ter preconceito literário é passar ver através dessa lente os leitores daquele gênero: se o cara lê paulo coelho é um coitado, se ela lê bruna surfistinha é uma burrinha, etc.
eu já julguei assim no passado. mas caí na real e vi q toda e qualquer literatura, boa ou ruim, é um passo para q a pessoa leia mais. e lendo mais o senso crítico dela vai melhorar. não vai ser igual ao meu (q bom!), mas vai melhorar. ela pode começar com algo simples, algo q mexa com os seus sentidos e pensamentos, e depois aprofundar-se mais e mais.
alguém ler algo q não gostamos é mais importante q não ler nada.
Essa é a idéia, pessoas capazes de se reconhecerem em alguma leitura, de nomearem suas aspirações e assim que possível devolverem ao mundo alguma reflexão.
Aslan Escreveu:
[...]
Aliás, alguém leu aquele primeiro romance do Augusto Cury, "O Futuro da Humanidade"?
Não li, preconceito. Não conhecia o autor, achei pretencioso o título. Resultado: PERDI DE INCLUIR UMA OBRA QUE PARECE INTERESSANTE PARA UM TRABALHO QUE FIZ. Vai para a minha lista.
Sinopse:
'O futuro da humanidade' conta a trajetória de Marco Polo, um jovem estudante de medicina de espírito livre e aventureiro como o do navegador veneziano do século XIII, em quem seu pai se inspirou ao escolher seu nome. Ao entrar na faculdade cheio de sonhos e expectativas, Marco Polo se vê diante de uma realidade dura e fria; a falta de respeito e sensibilidade dos professores em relação aos pacientes com transtornos psíquicos, que são marginalizados e tratados como se não tivessem identidade. Indignado, o jovem desafia profissionais de renome internacional para provar que os pacientes com problemas psiquiátricos merecem mais atenção, respeito e dedicação - e menos remédios. Acreditando na força do diálogo e da psicologia, ele acaba causando uma verdadeira revolução nas mentes e nos corações das pessoas com quem convive. Uma história de esperança e de luta contra as injustiças, este livro é a saga de um desbravador de sonhos, de um poeta da vida, de um homem disposto a correr todos os riscos em nome daquilo que ama e acredita.
Clover disse:
Quem aqui chegou a ler aqueles romances água com açúcar estilo "Sabrina-Julia-Bianca" e agora não conseguiria ler de novo nem por decreto? :nao:
Eu vi o post do Allison e lembrei que também não tive muitas opções, a biblioteca da escola era paupérrima, meus pais nunca compraram um livro sequer para mim e eu desconhecia a biblioteca Municipal, então lia qualquer coisa que me chegasse até as mãos. Até que um dia ganhei de presente uma caixa com esses romances, acho que tinha uns 40, que eu li em menos de dois meses... Lembro que as histórias eram sempre parecidas: A mocinha pobre que ia trabalhar próximo a um ricaço malvado sem coração e acaba se apaixonando por ele. Ela não admitia nunca, mas quando mais ele pisava, mais ela gamava. Até que o final quando ela decide ir embora de tanto ser esculachada, ele declara - Oh! - o seu amor e do nada ele fica mansinho e dócil (Sr. Darcy fez muitas escolas) rsrsrs.
Então, hoje eu não leria um romance assim, será que é "preconceito literário"?
Depende, sempre que quero entender melhor uma pessoa, leio o que ela lê, as vezes a pedido da pessoa, outras porque acredito que é um tipo de aproximação e de entendimento. Jamais diria a minha sobrinha de 14 anos, que não me interessa um livro que a atrai e jamais faria pouco caso em seus interesses. Apenas meus limites me impedem de experimentar uma leitura, exemplo livros de violência gratuita, já que a encontramos em toda a esquina. Por isso curto spoilers e me preparo com antecedência para ver ou ler algo assim. Nesse instante, ao acabar esse post, vou ver
"Band of Brothers, todos os 10 episódios, me preparei para...
Nanda disse:
Eu tenho o meu, nem seria hipócrita de falar que não, mas eu guardo ele para mim. [...]
Mas até ai, se alguém falar que gosta, eu vou dizer "po, tem tanta coisa melhor pra pessoa ler, ela vai perder tempo lendo justo isso?" (na maioria das vezes penso assim qdo já li o livro e não gostei) mas não vou menosprezar alguém ou achar que a pessoa está em um nível intelectual abaixo do meu. O maior problema do preconceito nesse meio é aquele que vem de "intelectuais" que menosprezam os outros por causa dos livros que leem. Esses pseudo-cults perdidos por ai acham que só Faulkner, Foucault, Kafka, Dostoiévski e afins são merecedores do precioso tempo deles, e denigrem a inteligência de qualquer outra pessoa que pense o contrário. Po eu acho esses escritores fantásticos, eu os leio, entendo, piro junto, mas não vou deixar de ler Twilight, por exemplo, por causa isso.
Nem todo mundo quer ler críticas sobre o mundo, a sociedade e afins, nem todo mundo quer ler sobre guerra. Pelo menos meu preconceito se limita a minha escolha de livros, ao contrario dessa pseudo-elite-intelectual que adora "arrotar" sobre os livros lidos e menosprezar quem lê algo que não é da sua roda social, mas que na realidade não entenderam metade daquilo que foi lido.
(Aproveitando o tópico pra dar uma desbafada, eu nunca sofri preconceito vindo de cult mas já vi "intelectuais" caçoando e criticando pessoas que gosto por causa do gosto literário e isso me tira do sério =/).
Vigiar e Punir - Levei quase um ano com ele sobre a mesa. Desesperada! O foco de estudo: "Poder", como não ler Foucault?
Só, que ele descreve os detalhes sórdidos e mostra que eles não sumiram, apenas estão dissimulados em nossa atualidade. Falei comigo (tá, sou doidinha) durante meses, uma conversa do tipo: "Pesquisadora de araque!?" Até ter peito para encarar colocar a "lente" sobre a maldade.
Ler sobre esses assuntos não me deixou com soberba, apenas deu pra sacar as fugas do inconsciente coletivo, isso está gravado em nossa gênese. Tem muita gente que considera "Conhecimento" = "Instrumentalização para a maldade". Em vez de soberba, deu-me mais tolerância e compreensão. Não sou uma flor de delicadeza e ainda assim tive problemas para fixar minha atenção a toda essa máquina de tortura desgovernada.
Portanto, aos pseudo-intelectuais que conhecemos:
Sorel disse:
Dizendo o óbvio (e sendo direto): preconceito, literário ou não, é uma puta babaquice.
Segregar sempre causa mais danos que benefícios.
Essa mania de categorizar tudo, inventar nomes malucos para o que quer que seja... sei não, hein?
Isso é ótimo do ponto de vista mercadológico. Você compra o produto tendo alguma noção do que vai encontrar pela frente, e isso é bastante útil dentro da livraria. Fora da livraria, o melhor conselho é esquecer a estante em que pegou o livro. Esquecer mesmo. Ler um livro esperando alguma coisa é o maior erro que se pode cometer.
Se o "estereótipo" basta, para que perder tempo lendo!?
Cada livro é um livro. Se eu fosse acreditar que Eça de Queiroz é uma porcaria pq eu odiei o Crime do Padre Amaro, nunca teria lido aquele que é um dos meus livros favoritos (A Cidade e as Serras).
O discurso deve mudar. Em vez de se dizer: "não gosto de [rótulo]", seria mais saudável: "não gostei do livro [nome do livro]".
Todos já passamos por uma fase muito preconceituosa. Ainda bem que passa.
Eu já encontrei um livro bem interessante numa estante de auto-ajuda (Aprender a Viver, do Luc Ferry). É um best-seller (vende bastante, para um livro sobre ""filosofia"" - ênfase nas aspas), considerado auto-ajuda, é um dos tão difamados livros que promovem a "popularização da filosofia"... Tinha tudo para ser uma bosta. Não é. É lúcido, claro, bem escrito e não fala besteiras. Não substitui, de jeito nenhum, a leitura dos autores sobre os quais versa, mas também nunca se propôs a isso. Também não substitui o estudo de filosofia (que é algo complicado e requer tempo, leituras infindas e muita, muita reflexão), mas, de novo, não se propõe a isso.
Esse é um exemplo de livro agradável (lê-se em um ou dois dias) e que, curiosamente, toca bastante no assunto "quebra de preconceitos".
Luc Ferry repete quase que uma vez a cada 10 páginas que a melhor coisa a ser feita se quisermos começar a estudar filosofia é aprender que, para entendermos o mundo, precisamos não só aceitar o ponto de vista dos outros, mas aprender a efetivamente tentar entender o que aquele pensamento tem de bom, porque é aceito, porque é pensado. O velho e bom clichê: aceitar sem preconceitos que aquilo é válido, e só depois de entender do que se trata, emitir uma opinião sobre. E ter em mente, acima de tudo, que essa opinião é pessoal e, como tal, nunca adquire grau de verdade absoluta para qualquer outra pessoa além de vc (o irônico é que o autor do livro é também autor de uma lei muito polêmica na França sobre o uso de véus em escolas públicas...).
editt: ps: que fique claro que o preconceito a que me refiro é o que a Nanda se referiu com:
já vi "intelectuais" caçoando e criticando pessoas que gosto por causa do gosto literário e isso me tira do sério
Cada um que leia o que quiser, que ache o que quiser, que diga o que quiser e que xingue o livro (veja bem, o livro!) que quiser. Tô pouco me fodendo =D
Luc Ferry creio que esteve em Porto Alegre, no seminário
"Fronteiras do Pensamento", foi uma excelente dica, vai pra minha lista.