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[Discussão] Gente pobre, Fiódor Dostoiévski

Além da @Molly Bloom, do @Giuseppe e eu, quem mais vai participar da leitura do primeiro romance de Dostoiévski?
Aparentemente eu também...Li as 3 primeiras cartas e estou achando deveras interessante...A ver a continuidade mas
eu não entendi o relacionamento deles ainda,sei que deve ficar mais claro mas por enquanto ainda não percebo se são somente amigos ou amantes..Mas isso só minha opinião do que?10 primeiras páginas?Mais observações do que reclamações...

Ah e sendo o primeiro livro epistolar que leio me surpreendeu a curiosidade que é despertada e as perguntas que são feitas como já falaram...Espero que continue assim...
 
Última edição:
pois é, também li as 3 primeiras cartas e tive a sua sensação @G. Asaph
Pelo visto tem um passado que ainda não sabemos!

outra coisa interessante
Pq ele não pode visitar ela se não os vizinhos vão dizer alguma coisa?
será que são/foram casados? pelo visto moram os 2 em aluguel em algum cortiço :think:
 
É interessante notar que Dostóievski baila entre a miséria e os sentimentos (não necessariamente o amor romântico) em quase todos os períodos da narrativa. Pelo menos no contemplado na primeira semana, as relações de afeto estão intrinsecamente presentes em todos os personagens, mesmo que chagados pela condição social que os afligia.

As primeiras cartas, na medida em que são lidas, realmente surpreendem, pela falta de caráter romantico entre os dois personagens – a radiografia presente nas missivas não se trata de sentimentos individuais, mas de memórias coletivas (a casa em que se mora, os detalhes da vida urbana, etc.)

Também pode se observar uma diferença creio eu gritante entre a forma como Varvara escreve e como Makar o faz – a primeira, o prática de uma maneira simples, leve e até fluida, enquanto que o homem, mais velho, às vezes se traveste de tecnicalidades e especificidades, elemento que com certeza estavam transcritos no original. O curioso não é isso; é observar que um autor com 24 anos e em seu primeiro romance consegue simular tão bem duas formas de escrever distintas.

No entanto, nos escritos que Varvara entrega a Makar contando da sua vida pregressa, o autor resgata até com maior fervor o que esboçava nas cartas. Varvara vivia uma condição de vida melhor – mas, curioso que aí se revela o único rosto do ódio: o pai que vendo sua condição financeira derrocar, destila toda a culpa na filha e na esposa.

Depois que o pai morre (e aí, pela primeira vez, a morte assume contornos de conectividade com a miséria humana), as relações demoram para se reestabelecer: o amigo intelectual de Varvara e seu respectivo pai nutrem uma boa relação social com as duas, que logo se transforma em amizade; a miséria das condições não os impedem de se ajudar, cognitiva e financeiramente!

Aí, como no início, a relação que se presumiria como afetiva-romântica não deslancha; Dostóievski mais uma vez brinca com o leitor, e logo a morte do amigo que sofria com tuberculose, novamente, coloca a miséria como elemento principal.

No fim desse período, Varvara vê-se rodeada com a morte iminente da mãe: de fato, a miséria dos personagens (e a condição da Rússia no período contemplado) impedem uma realização plena dos sentimentos – desde o impedimento de Varvara e Makar de verem-se no início, passando pela morte do pai, do amigo e talvez da mãe, culminando na iminência da solidão.
 
Terminei a primeira parte do cronograma, com a triste narrativa de Várvara, onde ficamos conhecendo o despertar do seu primeiro amor.
 
Eu tinha marcado o trecho onde era pra parar mas acabei me passando e lendo até o fim. :rolleyes: Ler no Kindle tem dessas. Vou esperar o dia 23/02 para fazer uns comentários porque não lembro exatamente o que seria spoiler nessa 3ª semana.
 
Parece que os personagens nessa segunda parte se comportam numa espécie de negação da miséria e dos panoramas financeiros e sociais que os cercam.

Os dois personagens principais tentam a todo custo sair da vida que levam, e isso é resgatado inclusive em mais um flashback — eles tentam emprestar dinheiro, arranjar empregos, rememoram antigas paixões — mas tudo isso é feito paralelamente à miséria que vivenciam, mesmo que o desejo seja oposto. Ou, ainda, mesmo com o anseio de se mudar de vida, a melancolia os paralisa.

Enfim, a conferir o desfecho....
 
Eu lamentavelmente não pude acompanhá-los. Tentei.
Cheguei a pegar o livro, separei-o, mas entre ele e mim se intrometeu a vida...
E a vida, como sabe o Joseph Climber, a vida é uma caixinha de surpresas.
Agradeço ao convite do Spartaco e a confiança em que eu pudesse contribuir à discussão, mas desta vez não deu.
Precisava oficializar isso logo e aceitar minha derrota para não ficar sofrendo de ansiedade aqui rs. :dente:
Boa leitura a todos!
 
Acho que vou atrasar um pouquinho a leitura das últimas partes; ainda mais pelo fato de estar compartilhando a leitura deste com 2001, em inglês :timido:
 
pela data todos já deveríamos ter terminado a obra, então não preciso marcar spoilers..
interessante a cena em que a "Vossa Excelência" doa 100 rublos para nosso herói. O difícil aqui pra mim é conseguir contextualizar os valores e sua capacidade de compra.. em outra cena 10 kopeks são suficientes para ajudar uma família.. kopeks seriam centavos ou frações do rublo? alguém sabe?
Enfim, com os 100 rublos ele consegue ter uma melhora na vida.. parece que imediata, pois não demonstra ter planejamento, veremos se esses 100 rublos serão derretidos ou bem aproveitados.. já vi que ele deu alguma coisa para Barbara que prontamente devolveu metade..

deveras interessante também a miséria e a forma de moradia desses russos que mesmo sendo funcionários públicos não conseguem uma vida digna..
 
Livro encerrado.
As últimas cartas são sufocantes, você quer saber o desfecho, e bom o desfecho foi ruim(?) para ambos?
Não dá pra saber mas parece que a Barbara se ferrou em um casamento machista e o Makar perdeu o amor que não entendi se já foi ou não consumido..

opiniões sobre o desfecho de vocês?
 
Nessa ultima parte o autor ferra mesmo com o Makar né – ele passa de uma certa reticência social do início a, uma vez "dando as caras pra sociedade", ser inundado por um agravamento da miséria: que já não é mais somente financeira, mas social, romântica (no final), enfim...

A parte que ele recebe o dinheiro da Excelência é a mais humilhante. Tanto a construção da cena, os tratamentos formais, o que se passa depois, formam uma espécie de clímax para todas as penúrias que o personagem então estava passando.

Eu achei o final encerrado de forma abrupta. Talvez seja um jogo do autor que o livro inteira tinha tratado de temas densos de forma efêmera, embora em si, seja bem construído: Varvara, que até então dispensava uma companhia mais próxima de quem quer que seja, e cuja vida fora deficitária de uma figura masculina, vê-se permeada por um casamento que, pela sociedade da época, seria machista, consumando, assim, o desespero interno que a rondava desde menina.

Makar, por sua vez, vê-se inundado pela mais completa solidão. Dostóievski já aborda, nesse romance, temas que seriam caros na sua obra. Enfim, a solidão, o torpor e a miséria são status quo dos personagens e inerentes ao homem – mesmo na iminência de bodas ou em relativa bonança financeira, está lá, acompanhando os personagens, como monstros que, uma vez despertados, não conseguem fenecer.
 
No final das contas, mudei completamente de ideia sobre as personagens. No início, olhei-os com desconfiança. Mas, realmente, mais umas páginas e não houve dúvidas da miséria daquelas personagens. Se no início, é perceptível um distanciamento entre os dois - M. tenta se manter cordial com V., sem pressioná-la talvez a ficar com um homem mais velho e pobre, pois sabe da sua condição (ele inclusive ajuda ela a comprar as roupas necessárias para a viagem etc.) -; ao final, na última carta, toda essa posição se desfaz, quando ele se dá conta de que a está perdendo. Essa última carta, que nem sabemos se chega ao conhecimento de V. - o que deixa tudo ainda mais triste - é um pedido desesperado.

Outro aspecto que me chama a atenção é justamente essa consciência da miséria que M. tem de si. Na carta de 1 de agosto, ele comenta como o homem pobre é visto na sociedade: um indivíduo plano, sem vaidades, sem nada a não ser talvez uma preocupação com o que comer. Já na carta de 5 de setembro, M. comenta como a pobreza pode endurecer o coração de um homem ao falar sobre um menino pedinte. Esse saber de si faz com que M. se sinta constantemente humilhado, envergonha-se no trabalho por suas condições (suas vestimentas desgastadas - que lembram, inclusive, o capote, símbolo da obra do Gógol - e suas botas!) e, como disse acima, talvez não se sinta no direito pleno de amar V., não pode tirá-la daquela situação, somente cuidá-la de longe.
 
Fui procurar meus considerandos finais aqui no post e não encontrei. Acho que eu tinha deixado pra concluir depois e acabei perdendo o prazo do autosave, ô raiva! 😤 Depois se der na telha reescrevo.
 

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