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Dinossauros em tempos difíceis

Diego-

Usuário
A sobrevivência da espécie (dos escritores) e da cultura é uma boa causa
Minha vocação nasceu com a idéia de que o trabalho literário é uma
responsabilidade que não se limita ao lado artístico: ela está ligada à preocupação moral
e à ação cívica. Até o presente, esses fatores animaram tudo o que escrevi e, por isso,
vão fazendo de mim, nesta época da realidade virtual, um dinossauro que usa calças e
gravata, rodeado de computadores.
[...] Em nossa época se escrevem e publicam muitos livros, mas ninguém à minha
volta - ou quase ninguém, para não discriminar os pobres dinossauros - acredita mais
que a literatura sirva de grande coisa, a não ser para evitar que as pessoas se
aborreçam muito no ônibus ou no metrô, e para que, adaptada para o cinema e a
televisão, a ficção literária - se for sobre marcianos, horror, vampirismo ou crimes
sadomasoquistas, melhor - se torne televisiva ou cinematográfica.
Para sobreviver a literatura tornou-se light - é um erro traduzir essa noção por
“leve”, porque, na verdade, ela significa "irresponsável" e, muitas vezes, idiota.
[...] Se o objetivo é apenas o de entreter e fazer com que os seres humanos passem
momentos agradáveis, perdidos na irrealidade, emancipados da sordidez cotidiana, do
inferno doméstico ou da angústia econômica, em descontraída indolência intelectual,
as ficções da literatura não podem competir com as oferecidas pelas telas, seja de
cinema ou de TV. As ilusões forjadas com a palavra exigem a participação ativa do
leitor, um esforço de imaginação, e, às vezes - quando se trata de literatura moderna -,
complicadas operações de memória, associação e criação, algo de que as imagens do
cinema e da televisão dispensam os espectadores. E, por isso, os espectadores se
tornam cada vez mais preguiçosos, mais alérgicos a um entretenimento que requeira
esforço intelectual.
Digo isso sem a menor intenção beligerante contra os meios audiovisuais, e a
partir de minha condição confessa de apreciador de cinema - vejo dois ou três filmes
por semana - que também desfruta com prazer um bom programa de TV (essa
raridade). Mas, justamente por isso, com o conhecimento de causa necessário para
afirmar que nenhum dos filmes que vi, e me divertiram tanto, me ajudou a compreender
o labirinto da psicologia humana como os romances de Dostoïevski - ou os mecanismos
da vida social como os livros de Tolstoi e de Balzac, ou os abismos e os pontos altos
que podem coexistir no ser humano, como me ensinaram as sagas literárias de um
Thomas Mann, um Faulkner, um Kafka, um Joyce ou um Proust.
As ficções apresentadas nas telas são intensas por seu imediatismo e efêmeras
por seus resultados.
Prendem-nos e nos desencarceram quase de imediato - das ficções
literárias nos tornamos prisioneiros pela vida toda. Dizer que os livros daqueles
escritores entretêm seria injuriá-los, porque, embora seja impossível não ler tais livros
em estado de transe, o importante de sua boa literatura é sempre posterior à leitura -
um efeito deflagrado na memória e no tempo. Ao menos é o que acontece comigo,
porque, sem elas, para o bem ou para o mal, eu não seria como sou, não acreditaria no
que acredito nem teria as dúvidas e as certezas que me fazem viver.
(Mario Vargas Llosa, in: O Estado de S. Paulo, 1996)



Esse texto caiu num simulado que eu fiz ontem, achei excelente.
Comprei semana passada um livro do Mario (Travessuras da Menina Má) e só em dar uma olhada já gostei muito. O que eu queria discutir é já um pouco clichê por aqui, esse amor demasiado das pessoas pela televisão em detrimento dos livros.
Lembro de já ter lido um texto do Verissimo que dizia algo no sentido de que se colocassem a escolha uma tv e um livro para uma criança, ele não teria dúvidas de que a criança correria para o livro, colocaria no chão, subiria em cima para alcançar o controle remoto e enfim ficaria com a tv.
 
Lelo... o autor é Peruano, não brasileiro...e ele estava falando de todo mundo e não só do cidadão médio brasileiroo;;; :P
 
ohsaohsohaoshaohshao

É, ia dizer que o Mário é peruano, ainda assim, apelar para o que é universal é mais fácil nesse caso, joyce, kafka e faulkner transcedem esse bairrismo e podem ser aplicados sem interpretação de falta de patriotismo por parte do autor, na minha opinião.
 
sei lá Lelo, quando leio coisas do povo daqui eles só citam os brasileiros.. (Machado, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa..) vide as discussões da Bienal no Rio...

http://g1.globo.com/Sites/Especiais/0,,16727,00.html
 
Aí acho que entra outro porém, a idéia seria "largue a tv e vá ler um livro", ok. A pessoa larga a tv, e o que ela conhece como opções é Machado de Assis, Lima Barreto, José de Alencar (esse é triste). Acredito que isso seja uma mudança que precisa ser primeiramente pensada do início ao fim, para daí então tentar ser colocada em prática, não que aqueles autores sejam ruim - com exceção do José de Alencar, esse é ruim, sim XD - mas com toda certeza são um péssimo começo, não é assim que se pega gosto pela coisa.
 
Não acho Alencar ruim.

O texto só cita autores tops de linha, ele não faz referência às porcarias gerais que existem aos montes. É difícil chegar de um dia exaustivo de jornada de trabalho de 8 horas seguidas e pegar um Doutor Fausto pra ler, por exemplo. São livros que exigem do leitor e, depois que se já está cansado, é difícil querer colocar a cabeça pra funcionar.

Fiquemos na televisão: no domingo à noite, é mais fácil assistir Fantástico ou Café Filosófico? Aposto na primeira opção, principalmente se o domingo for aquele padrão de relaxamento ("não quero pensar, quero relaxar!").

É mais fácil ler Crime e Castigo ou Crepúsculo? Aposto na segunda opção. Desvalorizam demais a TV e supervalorização demais os livros. Um livro com uma escrita ruim, uma elaboração porca e uma história imbecil será tão nocivo quanto assistir um Fantástico. Por outro lado, um programa que estimule o pensamento crítico é tão proveitoso quanto ler Crime e Castigo.

Ler, de verdade, poucos fazem. Assistir TV, de verdade, também. Ver um filme, de verdade, idem. Acredito que verborragia existe em qualquer lugar.

A única ressalva que eu faço é que o livro é menos passivo que a tela. É necessário um exercício de criatividade, mesmo que mínimo, então ele sai ganhando, mas de bem pouco, da TV.
 

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