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Diário Literário: eu narro, tu narras, ele narra... nós narramos.

Melian

Período composto por insubordinação.
Primeiro passo: POR FAVOR, LEIAM A PROPOSTA DO TÓPICO ANTES DE POSTAREM.
Segundo passo: Não é um tópico para você falar sobre os livros que leu, quais livros que está lendo, etc.
Terceiro passo: Tenham, sempre, o primeiro e o segundo passo em mente.
Quarto passo: Esse é um reforço do passo anterior.
Quinto passo: Releia, atentamente, os quatro passos anteriores.

É o seguinte, há algum tempo quero criar um tópico "livre" aqui no Literatura. Um tópico que passa pelo subjetivismo, mas que não fica só nele. Essa ideia foi amadurecendo, depois que vi, no tópico que fala sobre literatura infantil, a Fernanda falando que não conseguiria estudar literatura porque, mineiramente, viajaria demais. Pois bem, esse é um tópico para viajarmos, um tópico para exercermos o nosso lado de narradores, de contadores de histórias. Vejam, como exemplo, o texto abaixo, postado pelo Pips em sua coluna no Meia Palavra:

Toda vez que estou em um ônibus, trem, táxi ou caminhando pela rua mesmo, reparo nas minúcias das pessoas que dividem os mesmos espaços em pé, sentados e andando – e do nada uma voz melancólica (quase taciturna) narra o que penso sobre cada uma: o jeito de se vestir, os movimentos histéricos das mãos, os fones de ouvidos gigantes, o toque do celular, o livro que lê, a maneira que evitam olhar para cada novo indivíduo. Não obstante, esse narrador cria um pano de fundo, uma história de vida para explicar o porquê de tal personagem estar presente na minha frente – ou do lado.


A última dessas aventuras foi durante o diário trajeto que faço até o trabalho, pegando o 856R (Lapa/Socorro) que me deixa no bairro do Itaim. Todos os dias faço o mesmo ritual: entro e procuro assento na escada das portas que só se abrem quando o ônibus passa pelo corredor exclusivo – o que não acontece nesse trajeto, pois apenas a porta do fundo é utilizada, e começo a ler. Depois de dois ou três pontos, nunca estou atento, uma menina entra, todos os dias, com as maçãs do rosto levemente vermelhas, um pouco por causa do blush e um pouco natural, magra, piercing no nariz, cílios demasiadamente longos e lábios bem finos. À primeira vista tinha certeza de que era judia, só que não teria a cara de pau para puxar esse assunto, mesmo porque eu tenho uma curiosidade ímpar sobre o judaísmo e o hebraico – como já flertei com o Alcorão (que ganhei do Sheik Jihad Hassan Hammadeh, com quem fiz uma péssima piada quando ele assinou o livro sagrado: “poxa, queria que o autor original assinasse”, ele deu um leve sorriso, em uma palestra) ou mesmo com a Bíblia (e ainda afirmo que o Antigo testamento é épico).


Aquela menina olhou para mim num dia de calor em São Paulo (eu estava de camiseta e calça jeans com um rasgo entre as pernas), enquanto eu secava o suor com as costas da mão, e lançou um leve sorriso, lá pelo quarto dia em que compartilhamos o mesmo ônibus, o qual não saquei bem o que significava: um aceno comum de pessoas que se esbarram em lugares mundanos ou uma segunda intenção? Voltei meus olhos para Ilustrado, de Miguel Syjuco, sem esboçar a mínima reação – uma amostra da minha arcada dentária ou um leve consentimento com a cabeça. O narrador de mim mesmo, aquele caçador de analogias e metapensamentos, observou um pequeno detalhe no antebraço, o lugar preferido de jogadores de futebol para colocar que Deus é fiel ou o nome de seus filhos, da menina: uma tatuagem. E não uma tatuagem qualquer, eram duas palavras da primeira frase do “El malé rachamim”, uma prece judaica, Menuchá nechoná. Nessa hora a voz caiu num deleite: me lembrou que a única forma de eu conhecer aquele título em particular era por ter tatuado no pulso “Uma paz” em hebraico, inspirado no título “Uma certa paz”, de Amós Oz. A nota inicial no romance de Oz é justamente para explicar o título original Menuchá nechoná (“paz correta” ou “descanso correto”).


Pedi para um amigo judeu escrever, e ele fez mais do que isso, escreveu em letra de forma e cursiva (a mesma forma no antebraço da garota). Arrependi-me. Não queria tatuar uma prece e, sim, uma lembrança de um livro que gosto muito, por mais que o significado real destoasse um pouco do pretendido anteriormente (ainda me policio para não tatuar uma amarelinha ou “o diabo na rua no meio do redemoinho”). De onde essa menina tirou aquela frase? Realmente seria judia e tinha perdido um ente querido e, decidida, eternizou o “descanso correto” no seu antebraço? Ela percebeu que a minha tatuagem, à vista enquanto eu secava o suor, teria uma mínima relação com a sua ou por claramente ser escrita em hebraico? Meu narrador a fotografou trajando uma calça xadrez, um allstar branco de couro, uma camiseta com a gola esgarçada, no Centro da Cultura Judaica com o livro de Amós Oz em hebraico. Chocada com a história de Ionathan, e sua abertura fenomenal: “Um dia um homem se levanta e muda de um lugar para outro. O que ele deixa atrás de si fica para trás e só lhe vê as costas”; caminhando para uma aula de culinária. Prato do dia: Charosset (Pessach está chegando). Ela, talvez se chamasse Sara, ou qualquer outro nome com a letra S (Samantha, Samara, Shirah) e talvez estivesse lá apenas para almoçar no GERSTEIN CAFÉ & DELI.


Provavelmente a homenagem dela fosse mais fiel, bem mais fiel, ao grande escritor Israelense ou a prece. Pouco importa. Encontrar uma frase que não seja em Kanji numa moça de mais ou menos 22 anos era uma coincidência longe da cretinice e uma ótima desculpa para receber um sorriso. Pena que meu narrador onisciente tenha esquecido de premeditar que, se lançasse um olhar de aprovação, convite, chamamento, convocação ou apelo, eu teria descoberto como fazer um delicioso Krupinick ou uma amiga goy para conversar sobre a literatura judaica de Imre Kertész ou A.B. Yenoshua. Falando sobre as palavras mais bonitas do hebraico e iídiche. Na verdade, a voz em tom de escárnio – da melhor maneira, daqueles narradores que adoram matar seus personagens ao final de uma história banalmente existencialista e, se pudesse, faria o ônibus capotar em plena Faria Lima -, ela só tenha visto a minha calça rasgada e sorriu pela vergonha, o que as bochechas rubras disfarçariam, e nem deu bola para a minha tatuagem co-relacionada.
Fonte:
http://blog.meiapalavra.com.br/2011/08/03/gatos-empoleirados-o-narrador-e-o-metapensamento/

Como tenho (quase) certeza de que vocês não leram o texto do Pips, vou tentar explicar a proposta do tópico: é para narrarmos o mundo ao nosso redor, o nosso dia-a-dia, as impressões fortes que as pessoas nos causam a ponto de, intimamente, imaginarmos toda uma história para aquela pessoa, mesmo que não tenhamos a menor ideia da vida dessa pessoa. Pode ser alguém que encontramos na fila do supermercado, no ônibus, na fila de banco, na fila do cinema, etc.

Se a pessoa está usando uma camisa de time, por exemplo, quais seriam as suposições que faríamos a respeito dela? Primeiro, nosso cérebro está condicionado, mesmo que eu não tenha falado, a pensar que a pessoa com camisa de time que citei, é um homem. Certo? (eu não conto, eu sei, porque eu sou uma mulher que adora futebol e, portanto, imaginaria, de boa, uma mulher que, assim como eu, usa camisa de time). Mas a questão aqui é a seguinte: VAMOS TRANSCREVER ESSES PENSAMENTOS 'BOBOS'? Sei lá, alguma coisa que te incomodou, e você criou mil teorias a respeito daquilo? Nós somos essencialmente narradores. Vamos, pegando emprestada a expressão da Fernanda, "viajar mineiramente", vamos registrar isso, de algum modo.

Exemplo (real): dia desses, no ônibus, vi uma adolescente com fone de ouvido. E ela estava se movimentando de uma forma que me fez começar a fazer suposições sobre as músicas que ela estava ouvindo. Como ela inclinava, lentamente, a cabeça, eu percebi que parecia ser uma música mais calma. Pelas roupas que ela usava, e pelos seus traços, percebi que sua idade não era muita, eu tentei imaginar que música calma chamaria sua atenção. Dois minutos depois, me vi em uma encruzilhada: eu não gostava das mesmas músicas que todo mundo gosta, quando eu era adolescente. Então, logo eu quis me projetar na garota, e imaginei que ela estivesse ouvindo Pato Fu. E, naquele momento, mesmo que não fosse, meu pensamento se referia a ela como "a menina que está ouvindo Pato Fu". Minhas análises foram interrompidas quando a menina desceu do ônibus, mas aí ela já não era mais uma passageira qualquer do ônibus, ela seria, para sempre, ou até a próxima vez que eu a encontrasse no ônibus, A MENINA QUE ESTAVA OUVINDO PATO FU.
 
Adorei a proposta do tópico!
Eu também viajo bastante imaginando coisas sobre a vida, personalidade e gostos de pessoas que eu vejo na rua.
Assim que eu lembrar de uma "viagem" minha eu posto aqui.
 
Hoje me peguei pensando em interação. Sim, tudo a ver com o Valimon. Um pouco mais além talvez. Fiquei pensando muito em como pessoas podem jogar uma rotina de trabalho inteira, de estudos, de concentração e meditações em uma reunião aparentemente fútil de pessoas tão diferentes com o fim de jogar, sem nenhum objetivo a não ser o de vencerem o outro. Parei pra pensar e isso me pareceu idiota. Então deixei de pensar, e só senti. Sentimento... Quantas vezes fazemos esse admirável exercício? Deixar de pensar, começar a sentir... senti muita vida, vidas que se abstém de certas coisas 'importantes', se unem em um local na internet e se acabam em diversão, em descomprometimento. ENfim, não sabia bem, mas sabia que era felicidade. Felicidade de estar ali com aquelas pessoas, interagindo com aquelas pessoas, brincar desse jeito.

Pode-se argumentar que todo jogo é assim, que isso é natural da internet mas... não sei, tem algo maior aí. Há uma vida enorme que pulsa, uma entrega a um outro que já conhecemos, uma dissolução do eu acompanhada de uma auto-reflexão importante. É uma coisa que começa na Valinor e vai além, ela une corações e almas em uma frivolidade tão gostosa, tão suave, tão doce. Não sei se me faço entender. Só sinto que todos sentem o que eu sinto. E isso aquece.
 
O ônibus costuma ser um lugar bem curioso. Antigamente eu me perguntava o porquê de as garotas sentarem perto de mim no ônibus. Com o passar do tempo eu fui percebendo que na realidade, quando eu procurava um lugar para sentar eu me impunha a condição de que fosse um lugar tranqüilo e que eu escolhia um lugar pacífico e procurava me comportar e fazer gestos de modo a reforçar a atmosfera pacífica do lugar que me sentava (um tipo de mimetização).

Acabei entendendo que as garotas (mais que os homens) tendem a procurar lugares pacíficos também para sentar e ocorria meio que uma competição silenciosa entre pessoas que tinham os mesmos gostos. Foi algo muito curioso que me ocorreu. :)
 
Sempre me ponho a reparar em ambas as pessoas que andam de ônibus, talvez o assunto esteja clichê e ônibus já tenha seu ponto batido neste tópico, a verdade incontestável, é que em meio ao trajeto de minutos e segundos que tenho de casa a escola e de escola a casa, é o primeiro pensamento a me conquistar a mente, pedindo sua hora em falar, quando nesse momento, mostram-lhe um lugar sem julgamentos para desabafar.

Pedem passagem a falar de si, a rotina matutina, programar o despertador, e mais os cinco alarmes para o caso de eu não acordar com os anteriores, e por sina sempre levantar somente com o último, e dai, seguindo o que meramente sempre se passa, levantar, botar uniforme, fazer café, chamar gurizada que também vai na aula, pegar jornal, e reparar todo dia que meu irmão não penteou o cabelo.
Parada pertinho de casa...da pra reparar o caminho, e sempre naquele aroma que me reconquista toda manhã, aquela sabiá na área que estufa o peito sempre, antes de gorjear alto, trinos as vezes suaves, mas em primaveras duradouras, saem cantadas alegradas e vantajosas aos ouvintes.

O Bus chega, reparo naqueles rostos sonolentos, alguns alegres e vibrantes em plena manhã, um esbanjo de energia que me pergunto se é possível mantê-la o dia inteiro. Observar em como cada face olha de relance quem está para subir, como um simples aceno de que quem chega existe.

Me deparo com a mesma singular e momentânea sensação, repassa a ideia de todo dia uma rotina parecer anterior, quando na verdade nunca é a mesma.
Como...Sei exatamente que quando passar pela primeira fila a vovó que terças e quintas vai no bailinho, sorri para mim, com aquele perfume forte de flores, doce e sútil, inundando minha visão do olfato, a ponto de fazer-me imaginar o quão ele representa uma autoconfiança própria em quem o usa, como se dissesse a mim que ela é bonita e sabe disso.
Passo a roleta, de soslaio vejo aquele meu lugar preferido...preferido por ter aquele encosto de borracha no lado direito e posso encostar a cabeça no canto, tirar um cochilo quando a madrugada foi puxada pelos trabalhos.

Ao sentar, de viés, aquela olhadela em redor, reparo nas tias, as diaristas, que sempre de modo assustador as vejo de sorriso estampado e alegres, em conversas paralelas e desconexas que oprimem qualquer som alheio. Alegres,sim, e as rugas de cansaço, e talvez algumas olheiras de uma noite que se passou com um filho em maus momentos, ou em uma dor aguda sabe-se lá por trabalho excessivo. O final do olhar reparativo, em comum a todos os dias, aquele pensamento reaviva na memória.
Será ilusão minha?

Sentada no banco, ônibus parecem perder o tempo, alusão minha? Mas como em caminho de interior paisagem é de se observar, em chuva, ou sol, dias de geada ou neve, aqueles olhares perdidos nos descampados e campos ondulados e irregulares, os morros magníficos que se erguem em nosso redor, formando aquilo que chamam de vale dos Sinos.
Ônibus parecem ter um bônus, quando olhar afora, o tempo parece cansado, e faz-se quieto,todos parecem olhar o horizonte, quando em real nada veem, observam ao longe e me pergunto, talvez estejam "olhando", mas vejo o olhar vago, perdido, quem sabe em pensamentos, olhando sem ver, reparando em um vazio, que na verdade está cheio, cheio de tudo, uma hipnose, sim, parecem, olham o nada, e parecem enxergar alguma coisa.

O Assombroso é ver que quando de repente o ponto de algum vivente chega, este como em um estalar de dedos, sai de seu transe momentâneo como quem simplesmente estava "vendo" os minutos correrem, mas se agora o perguntassem se viu algo, seria capaz de relatar o trajeto inteiro, num relatório pré-definido em dias de outros tempos, mas que agora, já não se renovam, portanto, ele não diria que viu o novo ternero do compadre ali na esquerda, que nasceu essa semana, ou aquele cavalo crioulo, lindo como alazão, que cresce e brilha mais a cada dia que o vejo, a cabana do fazendeiro que cedeu com o último vento forte, mas que só serve de depósito pro boiadeiro.

Por isso penso, uma hipnose na certa, um transe despercebido, que parece tomar conta de quem entra na linha do horizonte em caminho corrido a um destino pré-estabelecido neste novo dia de trabalho dentro de um ônibus em puro movimento, entre paradas e arrancadas, em um ritmo continuo. A mulher da roupa rosa, e cabelo ondulado, já com tom da velhice, que olha ao longe nas entrecortadas da conversa com a pessoa ao lado, o interessante momento, em que um novo integrante desse estranho ônibus com bônus de viagem, o vivente procura um lugar, não freqüentaste a rotina desse caminho sempre, então não tem o preferido lugar reservado, ele ao longe observa o cupincha e se desloca, e o novo, logo atrás, batido de sempre, colega de aula, senta ao lado da senhora de rosa e cabelo já na velhice, e com o sorriso dos sem o que falar, senta e acaba fisgado pelo horizonte também perdido nesse ônibus.

Dura esse lampejo nos pequenos momentos, antes de entrar no meu livro, e casualmente quando pareço precisar de fôlego na história que leio...Nestes momentos de segundos, vejo esses perdidos não verem nada no além, esperarem o próximo entrar e o último sair.

Será isso para todos? Fico imaginando o que imaginam os que não foram pegos pelo Horizonte, e me pergunto se perdem-se dentro do ônibus, em acentos, em roupas coloridas das Tias, no tênis do guri que se faz rico, naquele mulambo que ta de meia pilcha.

By Arringa Hrívë ^^
 
Última edição:
Ontem, enquanto procurava um livro, acabei esbarrando no "Quantas madrugadas tem a noite?", do Ondjaki. Como gosto muito da capa desse livro, fiquei, por um tempo, olhando para ela, e me lembrei de uma coisa: o livro é dedicado a João Vêncio. Aí começa, realmente, o que quero falar. Aí está o link que fez com que eu voltasse alguns anos no tempo...

Um dos meus primeiros contatos com a Literatura Africana aconteceu por causa de um certo Luandino Vieira. Lembro que, naquela época (algum dia de 2007), eu tinha acabado de ser convidada para fazer parte de uma pesquisa sobre "Memória nos países africanos de língua portuguesa". Foi a minha iniciação científica. Eu estava bem verdinha, tudo era muito novo para mim. Aí, de cara, tive de ler "João Vêncio e seus amores", do José Luandino Vieira. Esse romance foi escrito enquanto Luandino estava preso (sim, ele foi preso político). Inicialmente, tive uma certa dificuldade com a escrita dele, e lembro de ter falado, por várias vezes, "mas, gente, esse cara é o Guimarães Rosa de Angola". E ao falar isso, embora não compreendesse a dimensão da fala, eu acabava por situar o Luandino em um precioso campo: o do trabalho com a linguagem. Mais tarde, fui começando a compreender a opção estética do trabalho do Luandino, por meio de falas dele, que ouvi, ao longo dos anos. Ele sempre falou muito de uma inquietação causada pelo fato de que os angolanos pensavam em Quimbumdo e tinham de falar em Português. Na verdade, trata-se de um Português diferenciado, que carrega, em si, as marcas angolanas. E esse Português foi o escolhido pelo Luandino para povoar os seus textos literários.

A pessoa não precisa entender de produção e recepção textuais, não precisa conhecer as teorias referentes à estética da recepção para compreender que os textos de Luandino mostram que ele bebeu, e muito, de Guimarães Rosa. Em novembro do ano passado, no VI Encontro de Professores de Literatura Africana, tive a felicidade de conhecer o Luandino. E posso dizer: o meu amor pelo Luandino aumentou, se fortaleceu. Que ser humano fantástico, meu Deus. Que pessoa íntegra. No coquetel de abertura do encontro, eu, e mais alguns amigos do mestrado, estávamos loucos para tirarmos fotos com ele, mas somos tímidos. Aí recorremos à principal organizadora do Encontro, e ela nos levou até ele, toda sorridente: "essas moças e esses rapazes são seus fãs, querem uma foto, mas estão com vergonha". Ele sorriu, e veio em nossa direção. (não sei na máquina de quem ficaram as fotos, estávamos todos meio altinhos :lol: ). Tirou as fotos e ainda conversou com a gente. Falou da ligação que tinha com a escrita de Guimarães Rosa, e disse que queria visitar a casa ('museu') do Guimarães, antes de voltar para Angola.

Foi assim que eu conheci um dos Guimarães Rosa angolanos. Há outros, sim, há. Boaventura Cardoso, por exemplo, é outro. Mas o meu Guimarães Rosa angolano sempre será o Luandino Vieira. Ainda não conhecem esse maravilhoso escritor? Ler "Luuanda" pode ser uma ótima oportunidade para conhecê-lo.
 
Esses dias tive muito o que pensar e sentir em decorrência de uma conversa. Pensei sobre a necessidade constante que eu tenho sobre a aprovação das pessoas ao meu redor, e pensei em como tal aprovação é desnecessária e patética. Pensei também em como as pessoas tem de ser fieis ao que pregam, e como os esforços que não forem nessa direção são inuteis. Não se pode viver em fragmentos, querendo viver em instâncias diversas como se fôssemos uma multidão de seres. Por mais dividida que seja a personalidade, o homem é uno, é um só. Não pode titubear, viver mudando conforme o vento e as opiniões dos homens. Isso só dá gastrite e arrependimento.

Foi pensando nisso enquanto caminhava pelo calçadão da praia, sentindo o vento bater no rosto, o sol a escaldar minhas costas e o povo a caminhar indiferentemente aos problemas uns dos outros, que eu tive um grande insight: "Tu te tornas responsável por quem és a partir do momento em que escolhes, em que aceitas ser tal e qual és, e não um outro" Deve ser filosofia velha, talvez até besteirol, enfim, não sei o alcance disso. Só sei que isso penetrou o meu espírito de forma extremamente aguda naquela hora. Eu não posso viver em um estado de permanente indecisão, dúvidas constantes, essa indefinição de mil homens em um único corpo. Isso desgasta, irrita mais que esse sol, e o espírito é tão mais frágil que minha pele! Mas não posso crer que assumir uma outra identidade irá me pacificar além de uma mera calmaria, fora que é falso, é mesquinho e ridículo.

Aí você continua andando, vê as pessoas andando, indo e vindo, e se pergunta quantas delas vivem algo que não é seu, sem questionar, ou quantos desistiram de se encontrar, quantos e quais vivem tão divididos e perplexos perante a vida. Percebe então como os mendigos devem ser felizes. Será mesmo? Alguém é feliz? Talvez a felicidade não exista. Então eu sigo andando até me ver de frente a uma grande estátua de São Francisco de Assis. Reparo no olhar sereno, na pose ereta, firme e singela, as roupas simples, os animaizinhos em volta e em frente a ele a Igreja em sua homenagem. Como ele era feliz!

Aí vejo os frades ao longe, com seus hábitos surrados, o sorriso estampado em seus rostos, a calma, a paz que transmite para qualquer um que desce do bonde da vida cotidiana por um instante e se extasia com tal abnegação, tal sacrifício, com tal entrega e vê como são felizes. E eu descubro o que quero, como quero. Ainda não descobri quem eu sou, mas já sei o que eu quero: quero aquela paz, aquela força serena que destroi todas as cadeias do mundo, e isso é um excelente começo. Saber onde seus pés te levam...
 
Seria tal texto desconexo se em real só quisesse eu falar em palavras?
Ressinto não narrar... mas histórias fazem meu passado, e neste momento clama-me um presente, vigoroso e enérgico, julga ter direito a falar e não nego-lhe o espaço.
Espereis que não desagrade, quando apenas ouço o que me dizem essa grafia de símbolos maravilhosos!!!

Me vejo melhor agora, para falar do nada e o nada tem sim parecido algo conciso. Seria equivocado afirmar que me comando, quando enfim o coração esta assumindo o controle, me deixando a deriva, sem papéis a desempenhar que não apenas breve observadora. Seriamente, sinto a ele me pulsar as cores na visão, me assaltar os sentidos à forma mais incomum.
Apaixonei-me pelo dia, pela hora, ar de primavera, sol de quase verão, aromas de meia estação e um dia de espanto o qual me pegou de repente em felicidade extraordinária, arrebatando barreiras de um antigo inverno, aquecendo-me.
Digo a mim que me não foi abordado um consentimento, quando em nota ele me diz ter sempre estado presente, apenas apartado, limitado a fagulhas na labareda oculta por um novo amigo! Parece-me estar digno de ser reclamado, e não subjugado a meras entranhas numa profunda timidez... Maresias descontroladas fez-lhe perder o rumo, ou tal mapa perdeu-se e ele já me tenta a eras regressar sem um Cruzeiro do Sul para brilhar a noite!
Ensino agora, algo que me foi passado, talvez de modo arrecadado, coletado e observado, manter-te-ei no canto recôndito do "meu teatro", no camarote da vida, para assistires e veres se deves interceptar ou apoiar, verás de cima, o que passeis e dirás se me devo seguir sem medo, e eu acatarei, pois que lhe confio a existência!

By Arringa Hrívë
 
Última edição:
Gosto de ser surpreendida. E quando falo sobre livros, gosto que tanto o enredo quanto a técnica literária utilizada para seu desenvolvimento me surpreendam. Meus autores favoritos conseguem me surpreender com coisas inusitadas. Eles arrancam lágrimas e sorrisos da minha alma. E eu saio de algumas leituras mais devastada do que entrei. Porque é isso o que importa, ser surpreendida. No ano passado, comprei os dois tomos (sim, na primeira edição, era livro-térreo e um livro-primeiro andar. Se, um dia, eu conseguir achar a primeira edição em um sebo, serei uma pessoa mais feliz) de "Último round", do Cortázar. Eu sou fã confessa do Cortázar. Acho que O jogo da amarelinha seja um dos livros mais fantásticos do mundo, etc. Mas, por mais que eu seja impulsiva, e compulsiva, até, quando se trata de livros, não comecei a devorar "Último round" assim que comprei. Deixei os dois tomos guardados, porque eu estava esperando o momento em que eu precisaria de Cortázar. Porque eu acredito que seja assim. Não se lê Cortázar porque os outros dizem que você precisa ler. Você lê Cortázar porque precisa de Cortázar.

E ontem foi o dia. Eu tinha consulta médica, e sempre que vou ao posto médico, levo um livro para ler, enquanto espero para ser atendida. Já reli A hora da estrela umas três vezes no posto. Mas, aí, eu não quis levar nenhum livro que eu já comecei a ler. Eu queria uma coisa nova, uma coisa que eu tivesse a certeza de que embora o meu corpo estivesse no hospital, a minha mente não estaria. Eu me perco e me acho nos estilo de colagem adotado pelo Cortázar. Ele tem uma técnica fotográfica de escrita, e tudo fica muito visual, muito presente... Durante o tempo em que esperava para ser atendida, li 58 páginas. E, se não me controlar, vou engolir o primeiro tomo em algumas horas, mas eu estou brincando de gato e rato, estou escondendo o livro de mim, porque está gostoso saborear essa sensação do "por ler"... eu desejo ler, mas acho que desejo mais o desejo de ler. Estou me sentindo como a protagonista de Felicidade Clandestina... e eu agradeço ao Cortázar por, mais uma vez, me surpreender.
 
Última edição por um moderador:
Tínhamos uma vaga ideia de como proceder naquele tempo, uma sensação sempre presente de estar caminhando mesmo quando parávamos, como se o mundo andasse e seguisse sua história independente de nossas atividades. Com os adultos ocorre o contrário. Pensamos em seguir então, não por obrigação ou lazer, mas porque temos de fazê-lo e o engraçado é vermos hoje como as crianças seguem em frente ignorando todos os condicionamentos, tem mesmo que fazer o certo e isso é algo prazeroso de se fazer. Fazer o bem não custa nada e faz bem à gente. Viver é coisa simples.

A criança vivia de forma simples, porque não se preocupava com obrigações e não questionava os fundamentos de nada, nem exigia muito detalhamento. Fazia por ser divertido. E nada de frívolo aqui, não, senhor! Viver nos era precioso porque toda nossa vontade e instinto se recreava nessa atividade, nesse viver descompromissado. Assim éramos. A gente sabia o que queria mas não como chegaria lá, e isso não nos preocupava. Éramos pardais, cuidados pelo Pai do Céu, que nos dava o céu e o alimento. Nossa ousadia era ter objetivo. Será? Ou era termos linguagem própria?

Venho desejando de novo essa alegria, esse amor pelo mundo que não acaba, pelo mundo que está ali. Saber que aquelas árvores estão no mesmo lugar, que o sol se põe e nasce da mesma forma, que as casas e as ruas do meu bairro são as mesmas... saber isso tudo me alivia. Mas eu não sou mais o mesmo. A saudade não nega o mundo que passou por mim, os mundos que me atropelaram a absorveram, as tragédias e alegrias imensas que me sobrevieram, as pessoas que me transformaram e intensificaram em mim o desejo de viver.

Mas ainda tenho saudade daquele amor, daquele carinho pelas árvores, do quintal de casa, das calçadas quebradas e quentes dos dias quentes de verão, verão que não cessa. E é tudo muito infantil. Até aquelas tranças negras não são tão importantes aqui, são apenas parte desse quadro bonito e sereno, quadro da minha infância.
 
Segui apenas as dúvidas. A razão sempre busca sobrepujar o emocional pensante.
Fui humana quando deveria ser eu mesma comandando o que sentia...


Vida, me responda, não costumo lhe cobrar favores, não lhe devo promessas...
Eram as noites mais insônes, as madrugadas encantadoras e intermináveis, e eu pensava nele.
Dia Claro, dia escuro, estava aqui.
Me aquecia a alma sua presença, mesmo que estando longe.
Responda se foi confusão? Corações não mentem, mas a mim, o meu parece ter orquestrado uma tregédia...

Gritai aos ouvidos do mundo, olhai nos olhos que povoam este forte pulsante, fites diretamente e, nessa mais singela sinceridade já forjada pelos Deuses, não digas que tal peça trilha nos passos de Shakespeare...
Foi ou é? Aqui ou lá? True or false?

Apenas a sensação de um tempo...
Uma Era! Three-minutes são three-hours.
Quem diga que o não saber não mais existe nesse mundo de sabichões engana-se,
Intolerantes de uma época urgida de experiências tolas...
 
Última edição:
E aí eu tenho vontade de escrever. E isso é estranho porque não sei escrever. Não tenho estilo, copio a escrita de algum poeta ou filósofo que me atrai, modifico minhas palavras, rearranjo as sentenças, e não tenho muito cuidado no texto. Ele não é fino, embora talvez seja belo. Ele é desarrumado e inconstante, ele foge e escorre pelas minhas mãos como água que se tenta segurar. Meu texto é tosco, feio e meio ridículo. Tem baixa auto-estima também. E baixa imunidade. Ele não suporta críticas: seus olhos se arregalam, começa a tremer, suas bases desmoronam, chora, fica a uma canto, amuado, silencioso, cheio de tristeza e zanga. Sabe-se lá como fazer pra reconquistá-lo, para arrumá-lo, fazê-lo ver que os erros fazem parte da vida e bla bla bla, toda aquele papo de auto-ajuda que não ajuda ninguém.

Meu pobre texto sofre da inabilidade do escritor. Ele se desloca pela página sem rumo e sem esperança, ele anseia o amor e teme sofrer a mínima reprimenda, teme ser censurado por amar tanto. Sabe ser despejado assim? Como um monte de merda sobre uma latrina fétida? Ele é assim, o pobre. Despeja-se, derrama-se como um monte de porcaria sobre a página, me leva junto com ele e nós nos identificamos, meu texto e eu. Somos a mesma coisa, uma coisa só, toda misturada e una, maravilhosa em sua unidade confusa e pseudo-hipostática. Nós somos a mesma massa de sentimentos infantis e contraditórios, a mesma e sempre mutante bipolaridade que alterna estados de euforia irracional e tristeza tremendamente racional. Temos uma relação de amor e ódio com a razão, com o racionalismo, eu e meu texto.

Leio filosofia, sei fazer filosofia mas não sei escrever sobre ela, meu texto é coisa pseudo-filosófica sempre. Nele não há lógica, não há constância, não há reflexão nem pensamentos profundos. Existe só um amontoado de estados de espírito, de canetadas soltas, de meias-verdades, argumentos frágeis e uns fios patéticos amarrando um sistema ou outro que invento quando o tédio bate á porta, ou seja, sempre.

Que coisa, que coisa mais aleatória esse post! Que bostinha de texto incompreensível, que tensão frouxa e açucarada há aqui, como você consegue escrever esse tipo de patifaria, esse tipo de sistematização esdrúxula de sentimentos? E isso é escrever?

Eu ainda não sei como me justificar aqui... Queria tanto que essas censuras não partissem de mim mesmo, da minha exigência absurda de clareza, de objetividade e racionalidade. Exigir isso do meu espírito? Isso é demais, meu Deus, é pedir demais alguma fidelidade, alguma confiabilidade do meu espírito. Ele navega pelos mares turbulentos da consciência, isso é fato, mas esse navio.... o navio é mais turbulento que o mar, ele é habitado por legiões de demônios.

E eu só finjo ser otimista. Nada há de novo debaixo desse sol niilista. E eu preciso classificar, claro, que preciso classificar! Tentar alguma ordem, algum sentido, algo que não me empurre para o abismo. Preciso de algo em que me segurar, um penhasco, uma beirada de rocha, um fiapo de ideia, de teologia, de razão.

Mas eu não creio em nada disso não, senhores. Não tenho fé nenhuma.
 
A vida nos ensina muitas coisas, talvez as principais sejam a desconfiança, o desespero, a desmedida, o ódio. Viver é portanto esquecer, esquecer as pessoas que te fazem mal, as experiências malfadadas, o cheiro da podridão que exala a sociedade, a 'boa sociedade'. Esquecer é uma bênção, um dom que poucos possuem. Ainda assim é um dom subestimado.

Tenho muito medo de esquecer de esquecer, de perder esse dom, obscurecê-lo, confiná-lo nalgum buraco escuro da minha alma e alimentar outros sentimentos, crescer no odiar, no amar, na profundidade doentia dos impulsos. Eu sou um bom esquecedor, não que eu apenas me livre do rancor, não, isso não é algo ativo em mim, um 'esquecer consciente', é um desleixo no lembrar, o esquecimento mais passivo, quase uma moça delicada que é incapaz de pensar em ofensas porque isso ofende seu gosto. E assim entendo onde está a fraqueza da minha alma. Falta de seriedade.

Por que tudo em mim é assim? Esse choro constante, tristezas que voltam novas e férteis, sentimentos contraditórios, por que essa volúpia, essa fragilidade na eleição de ideais? Por que esse sentimentalismo de moça virgem, essa dificuldade de conviver com o duro, com o sofrimento, e, pior, essa impossibilidade de encarar a mentira, a traição e a intriga? Por que? Eis a espada de dois gumes que é o esquecimento: ele te impede de sofrer e de crescer. Não há maturidade sem um pouco de rancor e decepção, sem ranger de dentes.
 
Pagz disse:
Por que esse sentimentalismo de moça virgem, essa dificuldade de conviver com o duro
essa dificuldade de conviver com o duro.

essa dificuldade de conviver com o duro.

essa dificuldade de conviver com o duro.

essa dificuldade de conviver com o duro.

essa dificuldade de conviver com o duro.

essa dificuldade de conviver com o duro.

:rofl:
 
Tô descansando um pouco (aí aproveitei pra te trollar XD). Virei a noite dissertando, e dissertei até meio-dia, aí fui pro médico. Acabei de chegar, tenho de descansar por uma meia-hora, já que hoje vou virar a noite de novo. E nem posso beber café.
 
Tal é a sensação inconstante.
Pediria com as nobrezas à língua e ditaduras de toda a etiqueta, das quais ainda me faço humilde entendedora, mas confesso-te, enfastiei-me das noites e de sua falta e nada mais me ocorre a mente que falar e discorrer de um nada...
Cá apenas rogo que não ultrajes com injurias um conjunto desordenado de palavras, sem lapidar o entrave desse muro que apenas ergo por ideias!

Ela, a noite, ela grita morbidez, quem lhe acalenta explicar algo de teoria que diga, é esse ar carregado de agosto; um calor de um inverno prematuro e ainda escuro...
Risca-me a alma os símbolos da grafia e qual mais o lugar eu despejaria orações incompletas?
Não desejo a cerimônia de compreensão, busco o espaço onde revelar um turbilhão... Perguntar quais estes, trata-se de questão inútil, pois que pouco ou menos o sei...
Apenas fisgo à mente as perdidas sílabas, estas somente vem a formar algo.

Dizem-me que palavas incertas, as noites indormes bem sabem como endereçar sentido.
Enderece pois o sentido de ideias, tais são elas e sua presença em mim, que eu me pergunto se tão únicas elas realmente sejam.
Sim, pois que na noite indorme, varões da antiga filosofia povoam a mente do pobre estudante de afinco e veio-me, quão únicas podem ser as coisas?
Quão único em um mundo de passados 7 bilhões de indivíduos pode restar o individual?
Valho-me das conjecturas para sustentar algo de sólido. De tantos ou mais, quais as proporções de possibilidade de um mesmo nascimento em mesmo dia, data, segundo, hora?
Quantos mais nasceram em dito momento, pai aos nervos, a expectativa estagnada em positivismo, não seriam estas sempre mesmas situações?
Quão semelhante senão espelhada os movimentos próprios do ancião?; este que trazia o primogênito do centésimo a esse mundo, estes aparatos da prática deveras não seriam os mesmos, pois de quantas maneiras podem-se fazer as mesmas coisas?

Quão únicos podem nascer 7 bilhões de seres semelhantes?
Qual mais a ilusão senão alusão de procurar em algo compacto a divisão?
A alusão a encontrar-se para não perder-se em vários? Ilusão da diferença física quando enfim não encontra o seu diferencial próprio...

Ao fim, nada mais que dizer, apenas lembrar na disparada das emoções que somos a própria diferença que buscamos.
Bem sabido Dr. Newton quando saltava-lhe da barreira dos dentes "O que sabemos é uma gota e o que ignoramos é um oceano..."

Em pensar na magnânima parte que se ignora!
 
Tô dando um UP no tópico porque sei que o pessoal do Meia gostará dele.
 
Gosto de ser surpreendida. E quando falo sobre livros, gosto que tanto o enredo quanto a técnica literária utilizada para seu desenvolvimento me surpreendam. Meus autores favoritos conseguem me surpreender com coisas inusitadas. Eles arrancam lágrimas e sorrisos da minha alma. E eu saio de algumas leituras mais devastada do que entrei. Porque é isso o que importa, ser surpreendida. No ano passado, comprei os dois tomos (sim, na primeira edição, era livro-térreo e um livro-primeiro andar. Se, um dia, eu conseguir achar a primeira edição em um sebo, serei uma pessoa mais feliz) de "Último round", do Cortázar. Eu sou fã confessa do Cortázar. Acho que O jogo da amarelinha seja um dos livros mais fantásticos do mundo, etc. Mas, por mais que eu seja impulsiva, e compulsiva, até, quando se trata de livros, não comecei a devorar "Último round" assim que comprei. Deixei os dois tomos guardados, porque eu estava esperando o momento em que eu precisaria de Cortázar. Porque eu acredito que seja assim. Não se lê Cortázar porque os outros dizem que você precisa ler. Você lê Cortázar porque precisa de Cortázar.

E ontem foi o dia. Eu tinha consulta médica, e sempre que vou ao posto médico, levo um livro para ler, enquanto espero para ser atendida. Já reli A hora da estrela umas três vezes no posto. Mas, aí, eu não quis levar nenhum livro que eu já comecei a ler. Eu queria uma coisa nova, uma coisa que eu tivesse a certeza de que embora o meu corpo estivesse no hospital, a minha mente não estaria. Eu me perco e me acho nos estilo de colagem adotado pelo Cortázar. Ele tem uma técnica fotográfica de escrita, e tudo fica muito visual, muito presente... Durante o tempo em que esperava para ser atendida, li 58 páginas. E, se não me controlar, vou engolir o primeiro tomo em algumas horas, mas eu estou brincando de gato e rato, estou escondendo o livro de mim, porque está gostoso saborear essa sensação do "por ler"... eu desejo ler, mas acho que desejo mais o desejo de ler. Estou me sentindo como a protagonista de Felicidade Clandestina... e eu agradeço ao Cortázar por, mais uma vez, me surpreender.

Como eu já disse, "não se lê Cortázar porque os outros dizem que você precisa ler. Você lê Cortázar porque precisa de Cortázar". Hoje, eu preciso ler Cortázar. Acordei com uma saudade não sei de que nem de quem. Tentei buscar, no pensamento, mas nada conseguia saciar a saudade. Olhei para os meus livros e, quando vi O jogo da amarelinha, pensei: estou com saudade de reler Cortázar e ser relida por sua obra.
 
"Mulheres na tensão pré menstrual, estudantes mortos de fome na fila da lanchonete no intervalo da faculdade, pessoas que acordaram de mau-humor. E o que eu tenho com isso? Tudo. Fui na lanchonete depois de ter chego na faculdade bem cedo pra uma consulta médica, em plena tpm pra comprar "pelo amor de Deus um chocolatinho".
Empurra-empurra (intervalo da aula), a moça começa a servir torta de limão em vez do bolo ultra açucarado de chocolate que eu pedi.
- Moça, para, não é esse que quero.
Não me ouvindo, continuando a me ignorar, continuo dizendo, dessa vez apontando o bolo na vitrine:
- Moçaaaaa! É o de chocolate! DE CHOCOLATE CHOCOLATE-CHOCOLATE-CHOCOLATE!!!!!!
Uma segunda "moça" então a avisa que a garota tá falando que não é a horrível sem açúcar torta de limão que ela quer, então olha pra mim e diz:
- Calma, ela se enganou mas já está pegando seu (lindo doce maravilhoso acalmador de nervos da tpm) bolo de chocolate.
E então eu fiquei pensando o que seria do mundo sem essas pessoas que acalmam os nervos das mulheres de tpm, dos estudantes famintos e das pessoas mau-humoradas."
 

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