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[Desafio] Motes e Glosas

Mavericco

I am fire and air.
Usuário Premium
A poesia movida pelo Mote e pela Glosa é muito presente nos Cancioneiros, tendo sido largamente usada por vários poetas etc etc.

Funciona assim, usando um exemplo de Fernando Pessoa:

MOTE (Alheio):
Teus olhos, contas escuras,
São duas Avé-Marias
Do rosário de amarguras,
Que eu rezo todos os dias.

[Augusto Gil]


GLOSA:
Quando a dor me amargurar,
Quando sentir penas duras,
Só me podem consolar
Teus olhos, contas escuras.

Deles só brotam amores,
Não há sombra d'ironias,
Esses olhos sedutores
São duas Avé-Marias.

Se acaso a ira os vem turvar,
Fazem-me sofrer torturas
E as contas todas rezar
Do rosário d'amarguras.

Ou se os alaga a aflição,
Peço p'ra ti alegrias
Numa fervente oração
Que eu rezo todos os dias.

O mote é uma sequência de versos, compostos ou pelo poeta ou retirados de um ou outro poema qualquer (se assim forem, obrigatoriamente deveremos usar a denominação "Mote Alheio" e indicar o autor entre colchetes) e que serão o tema ou a base do tema pra glosa.

A glosa, por sua vez, é o desenvolvimento do mote. A glosa é pura imaginação, onde o poeta ou pode estender a ideia do mote, ou tentar criar algo contrário, explorar novos sentidos... O importante é que a glosa possua a mesma métrica do mote ou de cada (ou do) verso do mote.

Como assim?

Outro exemplo e nós entenderemos, desta vez de Luís de Camões (Camões não indica o autor do mote, exceto em alguns raros casos -- mas isto está proibido de ser feito aqui!):

MOTE (alheio):
Verdes são os campos
de côr de limão:
assi são os olhos
do meu coração.


GLOSA:
Campo, que te estendes
com verdura bela;
ovelhas, que nela
vosso pasto tendes;
d'ervas vos mantendes
que traz o Verão,
e eu das lembranças
do meu coração.

Gado, que pasceis,
co contentamento,
vosso mantimento
não no entendeis:
isso que comeis
não são ervas, não:
são graças dos olhos
do meu coração.

Como puderam perceber, ao contrário de Pessoa, Camões valeu-se apenas do último verso do Mote e o repetiu em todas as estrofes. Esta ordenação de que versos do mote se irá usar é de liberdade do autor, assim como a ordem em que esses versos vão aparecer ou sua repetição. Por exemplo, se um mote tem 4 versos e eu crio 8 estrofes na glosa, eu posso, por exemplo, repetir 3 vezes o 2º verso nas 3 primeiras estrofes da glosa e, depois, jogar o 1º verso na 4ª estrofe, o 3º na 5ª, 6ª e 7ª estrofes e o 4º na 8ª estrofe.

Outro aspecto interessante é que eu também não sou obrigado a colocar o verso do mote de forma exatamente igual. Outro exemplo, também de Camões:

MOTE (alheio):
Verdes são as hortas
com rosas e flores;
moças que as regam
matam-me d'amores.


GLOSA:
Entre estes penedos
que aqui parecem,
verdes ervas crescem,
altos arvoredos.
Vai destes rochedos
água com que as flores
d'outras águas são regadas
que matam d'amores.

Co a água que cai
daquela espessura,
outra se mestura
que dos olhos sai:
toda junta vai
regar brancas flores,
onde há outros olhos
que matam d'amores.

Celestes jardins,
as flores, estrelas,
horteloas delas
são uns Serafins.
Rosas e jasmins
de diversas cores;
Anjos que as negam
matam-me d'amores.

Onde podemos perceber que nas duas primeiras estrofes o poeta repetiu apenas o "d'amores".

Sendo assim, o mote pode apenas ser com métrica fixa? Teoricamente, sim; mas podemos fazer assim, para tentar abrir mais a coisa: você pode citar trechos de poemas em versos livres, mas a Glosa deverá ser encaixada da seguinte maneira:

Se o mote possui dois versos, um de 5 sílabas e outro de 16; caso o poeta queira desenvolver uma glosa em cima desses dois versos, e o fizer em duas estrofes, cada uma baseada em um dos versos do mote, então a estrofe baseada no primeiro verso deverá ter 5 sílabas e a estrofe baseada no segundo verso deverá ter 16.

Entendido?

Funcionará assim: você desenvolverá uma glosa baseada no mote proposto pela pessoa de cima e, após desenvolvido a glosa, deverá postar um mote pra outra pessoa desenvolver. Apenas peço, pois somos pessoas de bom coração, indicar o nome do autor do mote ou de seu trecho se ele for alheio.

Vamos lá? Eu começo:

MOTE (alheio):
O dia doze de março
Foi alegre, alvissareiro,
Porém para o sertanejo
Tornou-se quase agoureiro,
A polícia protestou
Quando Lampião entrou
Na cidade de Juazeiro

[João Martins de Athayde]

O Mote pode ser chamado de "Moto" e a Glosa de "Volta(s)".
 
A roda dos dedos juntos
Enrolaste a fita a rir.
Corações não são assuntos
E falar não é sentir.


[Fernando Pessoa]


Glosa

O giro dos sonhos vagos
Impávido sobre nós
Onírica cidade atroz
E falar não é sentir

O giro da noite fugaz
O brilho de estrelas
A poesia da negra noite
E falar não é sentir

O giro do rei deposto
Cavaleiro sem trono
Um reino sem esperança
E falar não é sentir

Ricardo Campos

”A glosa é pura imaginação, onde o poeta oupode estender a ideia do mote, ou tentar criar algo contrário, explorar novossentidos... “

Mote


As flores amarelas...
Estes espinhos, sem dor
As mulheres as colhem
Em seus longos vestidos


[Ricardo Campos]


Mavericco vc é o árbitro do jogo, confere aí.
 
Lembrando que isso é um bom treinamento.Fiz uma oficina poética que tinha uns desafios interessantes, muito parecidos com esse.
 
Apesar de você ter usado o mote da minha assinatura, que na verdade é do Fernando Pessoa (e não o do Athayde -- e muito menos meu XD ), e não o que eu tinha sugerido, é isso mesmo! :sim:

Agora, pra não deixar o Desafio morrer, vou continuar:

MOTE (Alheio):

As flores amarelas...
Estes espinhos, sem dor
As mulheres as colhem
Em seus longos vestidos

[Ricardo Campos]

GLOSA:

Andar por estes campos
E ver as cousas delas...
Seus perfumes, seus grampos...
As flores amarelas...

Ai, como tudo dói!
Ver que ainda amor
Me fere com, pois sói,
Estes espinhos, sem dor...

Os peitos são ceifeiras
Que, de se ceifar, tolhem
Esp'ranças que, agoureiras,
As mulheres as colhem.

Mas vós, minhas Senhoras,
Que aos meus vãos latidos
Não atendeis, nestas horas,
Em seus longos vestidos!...

O que me resta é ter,
Pois lavouras tão belas,
Não os risos ou o ser:
[Mas] As flores amarelas!

_______________________________________________________

O próximo poeta deverá que glosar...

Louvado seja Amor em meu tormento,
pois para passatempo seu tomou
este meu tão cansado sofrimento!

[Luís de Camões]
 
Desculpe pela confusão Mavericco.Mas é interessante esse desafio.Vou dar o crédito ao Pessoa lá...hehehehehe.
 

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