A poesia movida pelo Mote e pela Glosa é muito presente nos Cancioneiros, tendo sido largamente usada por vários poetas etc etc.
Funciona assim, usando um exemplo de Fernando Pessoa:
O mote é uma sequência de versos, compostos ou pelo poeta ou retirados de um ou outro poema qualquer (se assim forem, obrigatoriamente deveremos usar a denominação "Mote Alheio" e indicar o autor entre colchetes) e que serão o tema ou a base do tema pra glosa.
A glosa, por sua vez, é o desenvolvimento do mote. A glosa é pura imaginação, onde o poeta ou pode estender a ideia do mote, ou tentar criar algo contrário, explorar novos sentidos... O importante é que a glosa possua a mesma métrica do mote ou de cada (ou do) verso do mote.
Como assim?
Outro exemplo e nós entenderemos, desta vez de Luís de Camões (Camões não indica o autor do mote, exceto em alguns raros casos -- mas isto está proibido de ser feito aqui!):
Como puderam perceber, ao contrário de Pessoa, Camões valeu-se apenas do último verso do Mote e o repetiu em todas as estrofes. Esta ordenação de que versos do mote se irá usar é de liberdade do autor, assim como a ordem em que esses versos vão aparecer ou sua repetição. Por exemplo, se um mote tem 4 versos e eu crio 8 estrofes na glosa, eu posso, por exemplo, repetir 3 vezes o 2º verso nas 3 primeiras estrofes da glosa e, depois, jogar o 1º verso na 4ª estrofe, o 3º na 5ª, 6ª e 7ª estrofes e o 4º na 8ª estrofe.
Outro aspecto interessante é que eu também não sou obrigado a colocar o verso do mote de forma exatamente igual. Outro exemplo, também de Camões:
Onde podemos perceber que nas duas primeiras estrofes o poeta repetiu apenas o "d'amores".
Sendo assim, o mote pode apenas ser com métrica fixa? Teoricamente, sim; mas podemos fazer assim, para tentar abrir mais a coisa: você pode citar trechos de poemas em versos livres, mas a Glosa deverá ser encaixada da seguinte maneira:
Se o mote possui dois versos, um de 5 sílabas e outro de 16; caso o poeta queira desenvolver uma glosa em cima desses dois versos, e o fizer em duas estrofes, cada uma baseada em um dos versos do mote, então a estrofe baseada no primeiro verso deverá ter 5 sílabas e a estrofe baseada no segundo verso deverá ter 16.
Entendido?
Funcionará assim: você desenvolverá uma glosa baseada no mote proposto pela pessoa de cima e, após desenvolvido a glosa, deverá postar um mote pra outra pessoa desenvolver. Apenas peço, pois somos pessoas de bom coração, indicar o nome do autor do mote ou de seu trecho se ele for alheio.
Vamos lá? Eu começo:
Funciona assim, usando um exemplo de Fernando Pessoa:
MOTE (Alheio):
Teus olhos, contas escuras,
São duas Avé-Marias
Do rosário de amarguras,
Que eu rezo todos os dias.
[Augusto Gil]
GLOSA:
Quando a dor me amargurar,
Quando sentir penas duras,
Só me podem consolar
Teus olhos, contas escuras.
Deles só brotam amores,
Não há sombra d'ironias,
Esses olhos sedutores
São duas Avé-Marias.
Se acaso a ira os vem turvar,
Fazem-me sofrer torturas
E as contas todas rezar
Do rosário d'amarguras.
Ou se os alaga a aflição,
Peço p'ra ti alegrias
Numa fervente oração
Que eu rezo todos os dias.
O mote é uma sequência de versos, compostos ou pelo poeta ou retirados de um ou outro poema qualquer (se assim forem, obrigatoriamente deveremos usar a denominação "Mote Alheio" e indicar o autor entre colchetes) e que serão o tema ou a base do tema pra glosa.
A glosa, por sua vez, é o desenvolvimento do mote. A glosa é pura imaginação, onde o poeta ou pode estender a ideia do mote, ou tentar criar algo contrário, explorar novos sentidos... O importante é que a glosa possua a mesma métrica do mote ou de cada (ou do) verso do mote.
Como assim?
Outro exemplo e nós entenderemos, desta vez de Luís de Camões (Camões não indica o autor do mote, exceto em alguns raros casos -- mas isto está proibido de ser feito aqui!):
MOTE (alheio):
Verdes são os campos
de côr de limão:
assi são os olhos
do meu coração.
GLOSA:
Campo, que te estendes
com verdura bela;
ovelhas, que nela
vosso pasto tendes;
d'ervas vos mantendes
que traz o Verão,
e eu das lembranças
do meu coração.
Gado, que pasceis,
co contentamento,
vosso mantimento
não no entendeis:
isso que comeis
não são ervas, não:
são graças dos olhos
do meu coração.
Como puderam perceber, ao contrário de Pessoa, Camões valeu-se apenas do último verso do Mote e o repetiu em todas as estrofes. Esta ordenação de que versos do mote se irá usar é de liberdade do autor, assim como a ordem em que esses versos vão aparecer ou sua repetição. Por exemplo, se um mote tem 4 versos e eu crio 8 estrofes na glosa, eu posso, por exemplo, repetir 3 vezes o 2º verso nas 3 primeiras estrofes da glosa e, depois, jogar o 1º verso na 4ª estrofe, o 3º na 5ª, 6ª e 7ª estrofes e o 4º na 8ª estrofe.
Outro aspecto interessante é que eu também não sou obrigado a colocar o verso do mote de forma exatamente igual. Outro exemplo, também de Camões:
MOTE (alheio):
Verdes são as hortas
com rosas e flores;
moças que as regam
matam-me d'amores.
GLOSA:
Entre estes penedos
que aqui parecem,
verdes ervas crescem,
altos arvoredos.
Vai destes rochedos
água com que as flores
d'outras águas são regadas
que matam d'amores.
Co a água que cai
daquela espessura,
outra se mestura
que dos olhos sai:
toda junta vai
regar brancas flores,
onde há outros olhos
que matam d'amores.
Celestes jardins,
as flores, estrelas,
horteloas delas
são uns Serafins.
Rosas e jasmins
de diversas cores;
Anjos que as negam
matam-me d'amores.
Onde podemos perceber que nas duas primeiras estrofes o poeta repetiu apenas o "d'amores".
Sendo assim, o mote pode apenas ser com métrica fixa? Teoricamente, sim; mas podemos fazer assim, para tentar abrir mais a coisa: você pode citar trechos de poemas em versos livres, mas a Glosa deverá ser encaixada da seguinte maneira:
Se o mote possui dois versos, um de 5 sílabas e outro de 16; caso o poeta queira desenvolver uma glosa em cima desses dois versos, e o fizer em duas estrofes, cada uma baseada em um dos versos do mote, então a estrofe baseada no primeiro verso deverá ter 5 sílabas e a estrofe baseada no segundo verso deverá ter 16.
Entendido?
Funcionará assim: você desenvolverá uma glosa baseada no mote proposto pela pessoa de cima e, após desenvolvido a glosa, deverá postar um mote pra outra pessoa desenvolver. Apenas peço, pois somos pessoas de bom coração, indicar o nome do autor do mote ou de seu trecho se ele for alheio.
Vamos lá? Eu começo:
MOTE (alheio):
O dia doze de março
Foi alegre, alvissareiro,
Porém para o sertanejo
Tornou-se quase agoureiro,
A polícia protestou
Quando Lampião entrou
Na cidade de Juazeiro
[João Martins de Athayde]
O Mote pode ser chamado de "Moto" e a Glosa de "Volta(s)".