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Degustação

JLM

mata o branquelo detta walker
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Ela continuava sem entender mesmo após terem lhe explicado o que era umami. Mas não queria passar por ignorante, afinal era a primeira vez que conseguia uma reserva naquele restaurante caríssimo, que vivia sempre lotado.

- Quer dizer que eu tenho isso na minha língua?

- Sim.

- E foram os japoneses quem inventaram?

- Não, senhorita, os japoneses apenas descobriram e deram o nome, que traduzido significa delicioso ou saboroso. Todas as pessoas já nascem com as papilas gustativas na língua capazes de identificar o gosto.

- E é isso que eu vou experimentar?

- Não propriamente, senhorita, pois é necessário certo treino e experiência para reconhecer o umami em um prato. O que a senhora está experimentando é uma outra descoberta japonesa, o fugu.

- É outro gosto?

- Na verdade é um peixe, conhecido por aqui como baiacu.

- E o que o baiacu tem a ver com o umami?

- Basicamente é uma teoria gastronômica, senhorita. Eu pretendia explicar mais tarde, quando o prato chegasse, mas como ele já deve estar quase pronto, faço agora. Os japoneses possuem uma culinária única, peculiar e muitas vezes perigosa. Muitas descobertas gastronômicas feitas pelos cozinheiros orientais envolvem o realce de pratos já conhecidos a partir de ingredientes adicionais externos. Para reconhecer o gosto umami é preciso mais habilidade e treino do gourmet que propriamente do cozinheiro. Mas há outros tipos de realce, estes mais fáceis de serem alcançados. Por exemplo, o fugu é um peixe extremamente venenoso. O seu veneno é dez vezes mais mortífero que o cianeto. Qualquer erro mínimo na preparação pode matar envenenado quem experimenta o prato. O cozinheiro precisa ser extremamente hábil e metódico.

- E o cozinheiro de vocês é habilidoso?

- Isso eu não posso lhe informar, senhorita, pois perderia o realce do seu prato. Os especialistas dizem que o medo diante da morte faz com que o corpo libere alguns hormônios em seu organismo, como a dopamina, a endorfina e a adrenalina, que fazem com que a experiência de saborear um fugu seja muito mais prazerosa por causa disso. O seu próprio corpo produz os ingredientes finais para o peixe, os hormônios do medo. Mas eis que o seu prato chegou… Bom apetite!

- Eu não quero mais experimentar isso, não quero me arriscar…

- Entendo, mas agora a senhorita vai ter que comer tudo – e, retirando um revólver do colete o encosta na cabeça da moça – ou então eu lhe estouro os miolos aqui mesmo.

- Você está louco?!? Por que está fazendo isso comigo?

- A hora de fazer perguntas passou, agora coma – e engatilhando a arma, com um sonoro clique, ameaçou – coma ou serei obrigado a matá-la.

A jovem olhou ao redor, buscando qualquer auxílio nos ocupantes das outras mesas. Mas estes simplesmente a olhavam sérios, parecendo incomodados com a sua recusa diante do prato. Sem alternativa, teve de resignar-se a comer o peixe. O coração acelerado, as mãos suando, a respiração irregular, o calor subindo em seu corpo, cada sentido se intensificava a cada porção que comia. As primeiras garfadas foram mais difíceis de engolir. Porém, após alguns minutos uma sensação de bem estar dominou o seu corpo. Começou a sorrir enquanto enfiava mais e mais pedaços de peixe na boca e os engolia inteiros. Gargalhava com a boca cheia deixando cair algumas migalhas ao redor. O garçom lhe parecia estranho, os olhos e orelhas alongados, o cano da arma em suas mãos parecia mais curto que os seus dedos... Tudo começou a girar e por fim sentiu a cabeça pesada tombar sobre a mesa.

- Senhores e senhoras, como puderam observar, a senhorita acaba de passar por todos os sintomas que mostram que os hormônios do medo atuaram em seu corpo até ela perder os sentidos. Como todos estão cientes, ela não morreu envenenada, apenas sentiu as alucinações provocadas por uma pequena dose da toxina do fugu aspergida no molho e desmaiou. Agora vamos ao prato principal da noite, pelo qual os senhores pagaram tão caro: churrasco mal passado de carne vermelha impregnado com altas doses de dopamina, endorfina e adrenalina. Somente peço para terem um pouco mais de paciência e aguardarem os nossos cozinheiros prepararem o prato. Enquanto isso, sugiro que saboreiem a nossa reserva especial de Lafite Rothschild, importada especialmente para esta noite, que os garçons já estão servindo em vossas mesas…
 
legal!
devo dizer bizarro também:rolleyes:
o texto anda muito bem, dirige o interesse do leitor até o fim... bem legal mesmo!
E a parte que
Mas estes simplesmente a olhavam sérios, parecendo incomodados com a sua recusa diante do prato.
me lembrou vagamente O bebê de Rosemary, vagamente... não sei porque(é claro que cada história é diferente, porém os personagens a olhando esperando que algo macabro acontecesse, lembrou:seila:):dente:
 
vlwz, gabriel. se vc achou bizarro, experimente olhar p a foto e imaginar se mostra oq ela comeu ou oq os demais comeram, hehehehe.
 
Hahahahaahahha.... e os ricos se divertem! Lembrou "O Albergue", Eli Roth, isso dos caras pagando por uma iguaria.

Muito bom o JM tirando uma de "O Massacre da serra elétrica".
 
Poderia ser “O suhisman da serra elétrica”, não?

pois é necessário certo treino e experiência para reconhecer o umami em um prato.”

Acho que reconheci um pedaço de queijo no prato, mas por hora vou ficar com o franguinho com quiabo preparado pela vovó.É bem mais em conta $.:hahano:
 

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