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De volta ao papel e às canetas-tinteiro

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Calib

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DE VOLTA AO PAPEL E ÀS CANETAS-TINTEIRO
14 SETEMBRO, 2016
RODRIGO GURGEL


Tenho a mania terrível de ir na contramão do meu tempo. Na verdade, não é terrível, mas salutar. Há formas de pensar, valores, livros, comportamentos, hábitos que, hoje, começam a ser esquecidos, mas não perderam sua importância. Podem inclusive estar completamente esquecidos por alguns, mas continuam emitindo sinais inquestionáveis de que, se recuperados, têm o poder de melhorar nossa vida.

Sou um aficionado da tecnologia. Um novo software — que esteja ligado, de alguma forma, à escrita ou à leitura — sempre me atrai. E, graças à tecnologia, meu trabalho se tornou, nos últimos anos, menos cansativo, pois pude suprimir etapas que me faziam perder tempo — como copiar, para um arquivo Word, as anotações com que sempre preencho os livros que leio. Leitores de e-books tornaram-se não só úteis, mas indispensáveis.

Entretanto, a onipresença do teclado me incomodava. O distanciamento de uma forma de escrita que me obrigasse a desenhar as palavras pareceu-me, a partir de certo momento, uma perda estética — ainda mais para mim, que sempre apreciei as canetas-tinteiro, a textura dos diferentes papéis, o odor e as cores das tintas. Havia uma perda sensorial que me perturbava.

O que era uma impressão vaga, desconforto impreciso, ganhou corpo quando li o estudo de Pam A. Mueller e Daniel M. Oppenheimer a respeito de como tomar notas em laptops resulta num processamento mais superficial das ideias. No primeiro momento, desconfiei do estudo — não seria mais uma conclusão apocalíptica? Depois, refletindo, comparando as conclusões dos pesquisadores ao que tantos escritores afirmam, comecei a questionar meu julgamento: não, concluí, voltar a escrever com canetas-tinteiro não se tratava apenas de nostalgia, ainda que esse sentimento estivesse presente.

caneta-tinteiro-1160x1401.jpg


A única forma de descobrir os efeitos da escrita à mão seria voltar aos velhos instrumentos — e quando decidi fazê-lo, percebi que, sim, eu desenvolvia as ideias com mais facilidade, com maior rapidez. O texto brotava com uma celeridade que eu havia esquecido.

Pode parecer pedante, mas reutilizar a caneta-tinteiro, ver o desenho das letras no papel, alimenta uma espécie de prazer. Tudo me parece mais real, mais vivo. Estou conectado ao meu próprio eu de uma forma mais clara, mais intensa. A própria cadência da mão sobre o papel, desenhando os sinais que me acompanham desde a infância, quando minha mãe ensinou-me a escrever em pedaços de papel polvilhados de farinha, tudo me torna mais produtivo, mais próximo da minha índole. A escrita deixou ser um ofício, ofício de que me orgulho, para ser também uma forma de aconchego.

Estou convencido de que as canetas e o papel trouxeram-me uma conexão parcialmente perdida entre meus pensamentos e a linguagem, a elaboração do texto. Escrever à mão talvez produza outros tipos de sinapses. Ou talvez eu esteja apenas sonhando. Mas meus escritos, com certeza, agora refletem melhor minha personalidade.
 
Estou convencido de que as canetas e o papel trouxeram-me uma conexão parcialmente perdida entre meus pensamentos e a linguagem, a elaboração do texto. Escrever à mão talvez produza outros tipos de sinapses. Ou talvez eu esteja apenas sonhando. Mas meus escritos, com certeza, agora refletem melhor minha personalidade.
Só o fato das letras serem realmente suas, já reforçam esse reflexo.
 
Escrita em papel tem duas coisas que acho bem relevantes.

A primeira delas é a sua personalidade na forma gráfica como você escreve ficando a sua "marca registrada".
A segunda é sua desenvoltura, pois quem tem boa desenvoltura no papel desenvolve bem o texto sem precisar antes rascunhar muito e assim dificilmente comete borrões, riscos em palavras escritas erradas graficamente ou que estejam fora do contexto, pois no papel não tem tecla pra voltar e apagar.

Enfim, o papel tem características diferenciadas e uma "magia" própria.
 
Experimentação pessoal é um dos se não o maior fator para se usar alguma coisa. Mas a sociedade de massa tem falseado demais as relações humanas com o mundo e com a tecnologia.

Para ilustrar essa força, outro dia um europeu comentou pra mim que eles viviam oprimidos sob a lei de Janteloven e para entender aquela região eu fui atrás de um mapa com as diferença entre os diversos sistemas legais civis no mundo e como eles servem como diferentes caminhos de reconhecimento entre as pessoas. (https://en.wikipedia.org/wiki/Civil_law_(legal_system)

Naquele país a mentalidade coletiva dentro do sistema que chamam de dugnad, no que pese as vantagens, pode também forçar o cidadão a ter que escolher entre ou lei ou a arte e a viver num tipo de esmagamento psicológico da autoestima e do empreendedorismo sobrevivendo na base de uma rotulagem que apaga a experiência individual.

Nem todos entendem que a experiência pessoal precede em prioridade ao conhecimento sendo que dele deriva a lei e a arte humana. Parte do conhecimento é transferível e dá para compartilhar com as pessoas, outra parte é intransferível, subjetiva e pessoal.

De meu lado sei bem como é sentir essa vontade de rebelião na vida. Não é incomum os relatos de como os escritores passam momentos de fúria tórrida porque palavras são mesmo como pedras e precisam literalmente de esforço físico e envolvimento pessoal para entendê-las.

Lembro que há uns 15 anos me deu vontade de me meter com textos para escrever um conto de sci-fantasy por prazer de começar a descrever um mundo desde o zero e fui em fontes atualizadas de futurismo na internet mas a literatura sobre cibernética definitivamente é insuficiente. Havia montes de algoritmos e teorias de sistemas, mas a metafísica dos conceitos não estava presente. Havia mãos e vozes, mas não havia cérebro.

É certo que quando leio outros autores como Tolkien assumo que desde o amanhecer dos tempos o homem luta contra as forças da natureza, e as pessoas de sucesso ainda hoje dizem "tem que ter paixão", "salve sua alma com tudo que tiver".

Sou da opinião que não é a toa que falam tanto isso porque ninguém foi desculpado de deixar o campo de guerra contra a natureza não importa quão confortável seja o marketing dos produtos de massa. A natureza não pergunta se a pessoa quer ser forte, e se a pessoa é boa de sobrevivência ela pode ser ainda simplesmente um medíocre patife se não melhorar a si mesmo.

De fato, quando vejo a jornada do trabalho desses autores percebo que ao invés da pessoa se acuar diante das opções ela deve reconhecer que existem forças de ordem e desordem e que vai se equilibrar entre elas até o fim da vida.

A "musa da tecnologia" não me seria adequada nem me importaria se desejosas e nuas (conforme elas costumam se mostrar para o olho aguçado do artista que é para provocar!) uma delas aparecesse nos sonhos. O que eu queria na época era referência capaz de produzir boas memórias e histórias, e para mim seria ainda grotesco ficar com olhos meramente gananciosos para com a mãe das Musas, a esposa de Zeus, Mnemosyne.

Então estaria vedado participar de um amor bandido, ilegítimo e extra-conjugal com os próprios desejos, e a Zeus que ficasse com sua esposa, afinal, Gaia poderia vir a ter outras filhas em outras versões e eu não precisaria me contentar com uma idéia limitada criada por outro ou com musas que teriam uma legião de amantes, porque não?

Atualmente penso que se ignore o cinismo de Diógenes e dos tecnocratas atuais partidários dele, o negócio é Cícero e que cada coisa tenha sua vez com paciência, energia e tempo.
 
caramba, não sei escrever a mão mais. Esses dias tive que escrever umas 5 linhas e foi penoso.
 
Escrever no papel parece que me deixa mais próxima do conteúdo que está ali. Sempre que preciso resumir coisas, fazer anotações, preciso de um papel. Tenho agenda de tarefas no celular e no computador, mas nada como fazer uma listinha no papel e marcar como feito.

Quanto à literatura, o papel e a caneta são muito mais românticos do que um teclado e um monitor. Ainda que escrever no pc seja muito mais rápido, perde todo o charme.
 
Escrever a mão é um contato maior consigo mesmo, é como dizer: "vai lá, corpo, cria uma extensão de si mesmo com seus movimentos!"
Acho que o lance do movimento é tudo. Eu atribuo mais significado ao "a" se o faço como ele é ao invés de apertar uma tecla.
Sem contar que digitar ouvindo aquele "tic, tic, tic" é meio irritante, prefiro grafite rasgando papel hahahaha
 
Eu gosto de escrever à mão, mas caneta-tinteiro é muito trabalhosa, ainda prefiro os velhos e bons lápis de desenho (4B e 5B que são bem macios e não cansam o punho).
 
Quando se trata de escrever a mão, se eu for colocar a minha preferência com precisão é em folha pautada com lapiseira de grafite 0,7 mm.
Mas quando se trata de algo que não deve ser facilmente apagado, procuro a caneta de escrita mais macia possível.
 

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