Deriel
Administrador
Estava eu aqui analisando alguns pensamentos fugidios e resolvi colocá-los no papel. Segue eu rascunhão, meio tosco (principalmente no que se refere aos portos da Terra-média) que eu divido com vocês. Infelizmente é bem provável que, como a maioria dos textos que eu comece, esse fique por isso mesmo (com todas as derrapinhas internas que ele tem). O trecho que eu pretendo incluir é um pequeno estudo sobre as áreas de Beleriand que estavam acessíveis na Terceira Era (Tol Morwen, Tol Fuin e Himling) e o impacto da Queda de Númenor na extensão territorial de Lindon (segundo o HoME XII).
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Da Guerra da Ira e da Destruição de Beleriand
Um dos trechos mais obscuros da obra de Tolkien, cuja versão contida nO Silmarillion publicado por Christopher Tolkien data de 1937, é o que fala sobre a Guerra da Ira e a Destruição de Beleriand. Não existem textos mais completos, escritos por Tolkien, que nos auxiliem a ter uma visão do que realmente aconteceu naqueles anos conturbados do final da Primeira Era, quando os exércitos de Valinor invadiram a Terra-média e derrotaram Morgoth. Temos que buscar fontes alternativas de informação, muitas vezes indiretas e, ao buscá-las, pelo menos uma das crenças comuns, a do afundamento de Beleriand, sofre alguns abalos. Mas estou me adiantando, antes de mais nada devemos analisar a Guerra da Ira em si.
O fato que deslanchou a Guerra da Ira é bem conhecido: o pedido de ajuda de Eärendil Meio-Elfo diretamente aos Valar em Aman, à qual ele conseguiu chegar por meio da influência da Silmaril. Sabemos também que Morgoth não esperava ser atacado, ou seja, após a Nirnaeth ele considerava sua vitória completa, como o próprio Silmariilion nos mostra:
"Yet it is said that Morgoth looked not for the assault that came upon himfrom the West; for so great was his pride become that he deemed that none would ever again come with open war against him."
e
"Moreover he thought that he had for ever estranged the Noldor from the Lords of the West,"
Não fica difícil extrapolar e chegar à conclusão de que Morgoth estava confiante de que sua estratégia de se identificar com a matéria de Arda ("O Anel de Morgoth") havia funcionado, assim como Sauron em meados da Segunda Era, e que ninguém ousaria atacá-lo, pois estaria atacando a própria Terra-média.
Alguém poderia alegar que a Guerra da Ira envolveria poucos riscos, pois Morgoth estaria exaurido e Angband quase vazia, uma vez que há apenas sete décadas atrás, na Nirnaeth, é dito que Morgoth esvaziou completamente Angband. Mas a Guerra da Ira durou mais de 5 décadas (de acordo com os Annals) e mesmo os exércitos de Valinor foram rechaçados pela primeira aparição dos dragões alados:
"and so sudden and ruinous was the onset of that dreadful fleet that the host of the Valar was driven back, for the coming of the dragons was with great thunder, and lightning, and a tempest of fire."
Mas Eärendil chega, destrói Ancalagon, o mais poderoso dos dragões alados e a Guerra prossegue para seu inevitável final. É interessante notar que a tarefa de matar Ancalagon aparenetemente trocaria de ombros, se Tolkien tivesse mais tempo de trabalhar em sua mitologia, pois em um dos comentários no texto "Problem of Ros" do HoME 12 é dito que quem mataria Ancalagon seria Túrin, retornando triunfante ao final da Primeira Era. É, de fato Tolkien tinha um carinho especial por esse personagem. O relacionamento desta citação com a dita "Segunda Profecia de Mandos" fica como exercício para os curiosos.
Portanto em meras 7 décadas Morgoth reconstruiu o poder de Angband, possivelmente tornando-se mais poderoso do que nunca, em termos gerais, e mais fraco do que nunca, em termos pessoais. É sabido que os Orcs se reproduziam muito rapidamente então em 70 anos poderíamos talvez ter 5 gerações de Orcs formadas a partir dos sobreviventes da Nirnaeth, além de Balrogs (que parecem ter sobrevivido) e toda uma geração de dragões.
Mas, afinal, quais eram os componentes do Exército de Valinor? Existiram Maiar e mesmo Valar dentro de suas fileiras? Infelizmente não há nada que afirme indubitavelmente que os Valar participaram - ou não - da Guerra da Ira. Através de citações contidas no HoME 10 sabemos com certeza que nem Manwë nem Námo teriam participado da Guerra, mas isso não elimina a possibilidade de todos os demais Valar participando. Vamos gastar alguns parágrafos para avaliar com mais calma as possibilidades.
As afirmações a favor da participação de um ou mais Valar giram em torno do nível de destruição causada a Beleriand e ao nível de poder necessário para a derrota de outro Vala, mesmo um tão exaurido de poderes quanto Morgoth. Existe também dois trechos, ligados que parecem corroborar a presença de Valar na Guerra da Ira: "But at the last the might of Valinor came up out of the West" e "for the host of the Valar were arrayed in forms young and fair and terrible, and the mountains rang beneath their feet."
Afirma-se que "the might of Valinor" não poderiam ser outros a não ser os próprios Valar e que eles seriam, junto aos Maiar, os únicos capazes de fazer "the mountains rang beneath their feet". Sabemos com certeza de que existiam Maiar no Exército de Valinor e também que este era constituído, em sua maioria absoluta, por Vanyar e um punhado de Noldor sob o comando de Finarfin.
Contra a hipótese de Valar na Guerra da Ira temos o fato de Eonwe estar conduzindo o Exército de Valinor ou pelo menos é mostrado como tomando decisões em várias oportunidades, inclusive se abstendo do julgamento de Ainur, afirmanado que não poderia julgar iguais e que estes seriam julgados em Aman, o que parece sugerir que não existiam Valar acessíveis para tomar tais decissões. O fato da guerra ter durado mais de 500 anos e do exército ter sido rechaçado pelos dragões alados também são utilizados para apoiar a tese da não-participação dos Poderes do Oeste na Batalha.
O afundamento de Beleriand parece ser uma afirmação bastante forte pela presença de alguns Valar pois o paralelo com a destruição de Utumno e as alterações causadas no mundo por este fato parecem bastante claras e só os Valar são citados como tendo capacidade de fazer alterações profundas em Arda, como criar cadeias de montanhas (ou destruí-las). Mas é interessante notar que não temos detalhes da destruição de Beleriand, além do afundamento em si. Afinal, nos mapas da Terceira Era ela simplesmente não está mais lá.
Vale a pena suplantarmos a visão geral ("Beleriand afundou") e tentar validar e verificar alternativas, possibilidades e detalhes. Com que velocidade teria ocorrido o afundamento? Toda ela afundou? O que aconteceu com os moradores de lá? E, mais importante de tudo: teria realmente afundado?
Vamos analisar o que sabemos na esperança de juntarmos os caquinhos e conseguirmos montar um mosaico mais ou menos claro da situação. Sabemos com certeza que o desaparecimento de Beleriand não foi algo repentino e imediato, pois os Exércitos de Valinor permanceram algum tempo em Beleriand, seja chamando Elfos a irem para Aman, seja construindo inúmeros barcos para conduzir estes Elfos. Também os Edain das Três Casas se reuniram no litoral de Beleriand para serem conduzidos até Elenna.
A descrição da "destruição" de Beleriand é dada na citação a seguir:
"For so great was the fury of those adversaries that the northern regions of the western world were rent asunder, and the sea roared in through many chasms, and there was confusion and great noise; and rivers perished or found new paths, and the valleys were upheaved and the hills trod down; and Sirion was no more."
Sabemos que houve grande destruição, principalmente no noroeste da Terra-média, mas não é dito que Beleriand foi destruída como um todo, mais apropriadamente parece que a região norte de Beleriand foi destruída, tornando-se uma grande baía e que Sirion tornou-se não mais um rio e sim um braço de mar. Beleriand teria se tornado, talvez, uma grande ilha. Isto é compatível com os Portos Cinzentos, que sabemos com certeza foram criados no início da Segunda Era e que um Porto exige certas características básicas para ser funcional, uma delas sendo o acesso as águas. Portanto pelo menos aquele trecho norte de Beleriand deveria estar sob águas já no início da Segunda Era.
Mas se Beleriand não foi completamente destruída ao final da Primeira Era, quando o teria sido? A resposta óbvia e direta é durante a Queda de Númenor, de cuja descrição obtemos os seguintes trechos:
"For Ilúvatar cast back the Great Seas west of Middle-earth, and the Empty Lands east of it, and new lands and new seas were made; and the world was diminished, for Valinor and Eressëa were taken from it into the realm of hidden things."
e
"And all the coasts and seaward regions of the western world suffered great change and ruin in that time; for the seas invaded the lands, and shores foundered, and ancient isles were drowned, and new isles were uplifted; and hills crumbled and rivers were turned into strange courses."
A existência de pelo menos alguns trechos de Beleriand, não exatamente habitados ou habitáveis, é consistente com as descrição das destruições causadas pela Queda de Númenor, inclusive serviria como "proteção" aos portos da Terra-média (Forlond, Umbar, Lond Daer e mesmo os Portos Cinzentos) que não receberiam diretamente o impacto da mudança do mundo.
Embora longe de completo e conclusivo, este pequeno ensaio pode ajudar a propiciar uma visão mais ampla sobre os acontecimento do final da Primeira Era até a Equeda de Númenor, quando os holofotes estavam, em sua maioria, direcionados a Númenor e pouca informação nos é dada sobre a situação da Terra-média em si.
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Da Guerra da Ira e da Destruição de Beleriand
Um dos trechos mais obscuros da obra de Tolkien, cuja versão contida nO Silmarillion publicado por Christopher Tolkien data de 1937, é o que fala sobre a Guerra da Ira e a Destruição de Beleriand. Não existem textos mais completos, escritos por Tolkien, que nos auxiliem a ter uma visão do que realmente aconteceu naqueles anos conturbados do final da Primeira Era, quando os exércitos de Valinor invadiram a Terra-média e derrotaram Morgoth. Temos que buscar fontes alternativas de informação, muitas vezes indiretas e, ao buscá-las, pelo menos uma das crenças comuns, a do afundamento de Beleriand, sofre alguns abalos. Mas estou me adiantando, antes de mais nada devemos analisar a Guerra da Ira em si.
O fato que deslanchou a Guerra da Ira é bem conhecido: o pedido de ajuda de Eärendil Meio-Elfo diretamente aos Valar em Aman, à qual ele conseguiu chegar por meio da influência da Silmaril. Sabemos também que Morgoth não esperava ser atacado, ou seja, após a Nirnaeth ele considerava sua vitória completa, como o próprio Silmariilion nos mostra:
"Yet it is said that Morgoth looked not for the assault that came upon himfrom the West; for so great was his pride become that he deemed that none would ever again come with open war against him."
e
"Moreover he thought that he had for ever estranged the Noldor from the Lords of the West,"
Não fica difícil extrapolar e chegar à conclusão de que Morgoth estava confiante de que sua estratégia de se identificar com a matéria de Arda ("O Anel de Morgoth") havia funcionado, assim como Sauron em meados da Segunda Era, e que ninguém ousaria atacá-lo, pois estaria atacando a própria Terra-média.
Alguém poderia alegar que a Guerra da Ira envolveria poucos riscos, pois Morgoth estaria exaurido e Angband quase vazia, uma vez que há apenas sete décadas atrás, na Nirnaeth, é dito que Morgoth esvaziou completamente Angband. Mas a Guerra da Ira durou mais de 5 décadas (de acordo com os Annals) e mesmo os exércitos de Valinor foram rechaçados pela primeira aparição dos dragões alados:
"and so sudden and ruinous was the onset of that dreadful fleet that the host of the Valar was driven back, for the coming of the dragons was with great thunder, and lightning, and a tempest of fire."
Mas Eärendil chega, destrói Ancalagon, o mais poderoso dos dragões alados e a Guerra prossegue para seu inevitável final. É interessante notar que a tarefa de matar Ancalagon aparenetemente trocaria de ombros, se Tolkien tivesse mais tempo de trabalhar em sua mitologia, pois em um dos comentários no texto "Problem of Ros" do HoME 12 é dito que quem mataria Ancalagon seria Túrin, retornando triunfante ao final da Primeira Era. É, de fato Tolkien tinha um carinho especial por esse personagem. O relacionamento desta citação com a dita "Segunda Profecia de Mandos" fica como exercício para os curiosos.
Portanto em meras 7 décadas Morgoth reconstruiu o poder de Angband, possivelmente tornando-se mais poderoso do que nunca, em termos gerais, e mais fraco do que nunca, em termos pessoais. É sabido que os Orcs se reproduziam muito rapidamente então em 70 anos poderíamos talvez ter 5 gerações de Orcs formadas a partir dos sobreviventes da Nirnaeth, além de Balrogs (que parecem ter sobrevivido) e toda uma geração de dragões.
Mas, afinal, quais eram os componentes do Exército de Valinor? Existiram Maiar e mesmo Valar dentro de suas fileiras? Infelizmente não há nada que afirme indubitavelmente que os Valar participaram - ou não - da Guerra da Ira. Através de citações contidas no HoME 10 sabemos com certeza que nem Manwë nem Námo teriam participado da Guerra, mas isso não elimina a possibilidade de todos os demais Valar participando. Vamos gastar alguns parágrafos para avaliar com mais calma as possibilidades.
As afirmações a favor da participação de um ou mais Valar giram em torno do nível de destruição causada a Beleriand e ao nível de poder necessário para a derrota de outro Vala, mesmo um tão exaurido de poderes quanto Morgoth. Existe também dois trechos, ligados que parecem corroborar a presença de Valar na Guerra da Ira: "But at the last the might of Valinor came up out of the West" e "for the host of the Valar were arrayed in forms young and fair and terrible, and the mountains rang beneath their feet."
Afirma-se que "the might of Valinor" não poderiam ser outros a não ser os próprios Valar e que eles seriam, junto aos Maiar, os únicos capazes de fazer "the mountains rang beneath their feet". Sabemos com certeza de que existiam Maiar no Exército de Valinor e também que este era constituído, em sua maioria absoluta, por Vanyar e um punhado de Noldor sob o comando de Finarfin.
Contra a hipótese de Valar na Guerra da Ira temos o fato de Eonwe estar conduzindo o Exército de Valinor ou pelo menos é mostrado como tomando decisões em várias oportunidades, inclusive se abstendo do julgamento de Ainur, afirmanado que não poderia julgar iguais e que estes seriam julgados em Aman, o que parece sugerir que não existiam Valar acessíveis para tomar tais decissões. O fato da guerra ter durado mais de 500 anos e do exército ter sido rechaçado pelos dragões alados também são utilizados para apoiar a tese da não-participação dos Poderes do Oeste na Batalha.
O afundamento de Beleriand parece ser uma afirmação bastante forte pela presença de alguns Valar pois o paralelo com a destruição de Utumno e as alterações causadas no mundo por este fato parecem bastante claras e só os Valar são citados como tendo capacidade de fazer alterações profundas em Arda, como criar cadeias de montanhas (ou destruí-las). Mas é interessante notar que não temos detalhes da destruição de Beleriand, além do afundamento em si. Afinal, nos mapas da Terceira Era ela simplesmente não está mais lá.
Vale a pena suplantarmos a visão geral ("Beleriand afundou") e tentar validar e verificar alternativas, possibilidades e detalhes. Com que velocidade teria ocorrido o afundamento? Toda ela afundou? O que aconteceu com os moradores de lá? E, mais importante de tudo: teria realmente afundado?
Vamos analisar o que sabemos na esperança de juntarmos os caquinhos e conseguirmos montar um mosaico mais ou menos claro da situação. Sabemos com certeza que o desaparecimento de Beleriand não foi algo repentino e imediato, pois os Exércitos de Valinor permanceram algum tempo em Beleriand, seja chamando Elfos a irem para Aman, seja construindo inúmeros barcos para conduzir estes Elfos. Também os Edain das Três Casas se reuniram no litoral de Beleriand para serem conduzidos até Elenna.
A descrição da "destruição" de Beleriand é dada na citação a seguir:
"For so great was the fury of those adversaries that the northern regions of the western world were rent asunder, and the sea roared in through many chasms, and there was confusion and great noise; and rivers perished or found new paths, and the valleys were upheaved and the hills trod down; and Sirion was no more."
Sabemos que houve grande destruição, principalmente no noroeste da Terra-média, mas não é dito que Beleriand foi destruída como um todo, mais apropriadamente parece que a região norte de Beleriand foi destruída, tornando-se uma grande baía e que Sirion tornou-se não mais um rio e sim um braço de mar. Beleriand teria se tornado, talvez, uma grande ilha. Isto é compatível com os Portos Cinzentos, que sabemos com certeza foram criados no início da Segunda Era e que um Porto exige certas características básicas para ser funcional, uma delas sendo o acesso as águas. Portanto pelo menos aquele trecho norte de Beleriand deveria estar sob águas já no início da Segunda Era.
Mas se Beleriand não foi completamente destruída ao final da Primeira Era, quando o teria sido? A resposta óbvia e direta é durante a Queda de Númenor, de cuja descrição obtemos os seguintes trechos:
"For Ilúvatar cast back the Great Seas west of Middle-earth, and the Empty Lands east of it, and new lands and new seas were made; and the world was diminished, for Valinor and Eressëa were taken from it into the realm of hidden things."
e
"And all the coasts and seaward regions of the western world suffered great change and ruin in that time; for the seas invaded the lands, and shores foundered, and ancient isles were drowned, and new isles were uplifted; and hills crumbled and rivers were turned into strange courses."
A existência de pelo menos alguns trechos de Beleriand, não exatamente habitados ou habitáveis, é consistente com as descrição das destruições causadas pela Queda de Númenor, inclusive serviria como "proteção" aos portos da Terra-média (Forlond, Umbar, Lond Daer e mesmo os Portos Cinzentos) que não receberiam diretamente o impacto da mudança do mundo.
Embora longe de completo e conclusivo, este pequeno ensaio pode ajudar a propiciar uma visão mais ampla sobre os acontecimento do final da Primeira Era até a Equeda de Númenor, quando os holofotes estavam, em sua maioria, direcionados a Númenor e pouca informação nos é dada sobre a situação da Terra-média em si.