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Curiosity fará viagem no tempo para ajudar a entender nossas raízes

Morfindel Werwulf Rúnarmo

Geofísico entende de terremoto
O jipe Curiosity finalmente pousou em Marte, depois de uma longa jornada e de uma descida complicada. Com isso, abre uma nova janela de alta tecnologia para a exploração à distância do planeta vermelho.

As missões que precederam o nosso MSL (Laboratório de Ciências de Marte) fizeram um trabalho incrível abrindo caminho para nós. Esses pioneiros foram "aonde nenhum jipe jamais tinha ido antes" e descobriram muitas coisas novas sem o benefício de saber de antemão o que elas seriam.

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Foto da sonda Mars Reconnaissance Orbiter mostra momento em que o jipe-robô Curiosity se aproxima do solo de Marte preso a um paraquedas​

Mas nunca antes de agora havíamos chegado a Marte com uma sonda projetada para alcançar uma meta tão desafiadora quanto a avaliação das possibilidades de futuras missões que vão procurar vida. A missão MSL se baseia na suposição de que Marte, em algum ponto de sua história, foi habitável. Contudo, não estamos procurando a vida propriamente: queremos encontrar ambientes habitáveis.

Como cientista-chefe da missão MSL, normalmente fico tão envolvido com o planejamento da viagem que tendo a ficar imerso nos detalhes específicos do aprendizado da operação do jipe na superfície de Marte. Imagine comprar um caro de US$ 2,5 bilhões com um manual do proprietário de 10 mil páginas, o qual você não apenas tem der ler, mas também precisa escrever, porque é o primeiro e único carro do tipo que será construído.

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O passo que vamos dar agora é fantástico. Vamos viajar numa espécie de máquina do tempo, criada para reconstruir como era a superfície de Marte há bilhões de anos. Podemos ter vislumbres de um tempo tão remoto que é equivalente à época em que a vida microbiana estava evoluindo na Terra. A história primitiva de Marte está mais bem preservada lá do que seu equivalente na Terra, e por isso temos a chance de entender o desenvolvimento do nosso próprio planeta estudando outro.

Os ingredientes essenciais para um ambiente habitável são água, energia e carbono. Missões anteriores determinaram que Marte tinha água líquida em seu passado -- e ocasionalmente também há tem no presente. Essas missões também indicaram locais onde processos químicos naturais poderiam ter gerado energia para o metabolismo de seres vivos. Mas onde está o carbono orgânico que torna esse metabolismo possível?

É aí que nós entramos. Voltar bilhões de anos no tempo geológico não é brincadeira, mas o Curiosity está bem equipado para fazer isso por causa de duas de suas mais importantes qualidades.

Primeiro, ele é um laboratório completo, com funis, tubos de ensaio, lupas, espectrômetros de massa [usados para "pesar" moléculas], analisadores de gases, fornos, e um sistema de obtenção de amostras com uma bronca forte o suficiente para raspar concreto. Isso para não falar de suas 17 câmeras, várias delas coloridas, com captação de vídeo e resolução em HD [alta definição]. Em segundo lugar, é um jipe movido a plutônio, o que permite levar seu laboratório para a estrada durante anos a fio.

Essa mobilidade é muito importante porque a busca por carbono orgânico pode ser um jogo de esconde-esconde. O Curiosity é capaz de vasculhar o terreno em busca do local mais promissor e ir até ele, onde seu laboratório portátil pode ser colocado à prova.

E isso me leva ao lugar onde o Curiosity vai praticar sua vocação de geológo. A cratera Gale foi escolhida depois de estudos de cinco anos de duração. Dentro dessa antiga bacia de impacto [criada pela queda de um meteorito] encontra-se um leito de rio igualmente antigo, que possui registros de água corrente superficial e terrenos fraturados ricos em minerais.No meio dessa cratera de 150 quilômetros de diâmetro ergue-se uma montanha na qual o Curiosity vai passar a maior parte de sua vida ativa.

Batizado de monte Sharp pela equipe científica, esse pico de 5.000 m de altitude é feito de camadas sedimentares que representam centenas de milhões, se não bilhões, de anos dos princípios da história ambiental de Marte. São essas camadas que a nossa equipe científica quer conhecer na intimidade, e é nesse tipo de tarefa que o Curiosity pode se dar muito bem.Em breve, poderemos obter as imagens com a mais bela resolução e a maior quantidade de detalhes já obtidas na superfície de outro planeta.

Se tivermos sucesso, teremos em nossas mãos um tesouro nacional de valor incalculável. Estes dias, semanas e meses após o pouso verão nossa equipe científica e de engenheiros trabalhando juntos para extrair cada grama de desempenho do Curiosity e cada grama de ciência do nosso local de pouso. Todos os que estão trabalhando nessa missão estão prontos para fazer essa viagem no tempo geológico, para tentar entender que segredos estão preservados no monte Sharp, que panoramas do tempo em que Marte era tão diferente do que hoje vamos conseguir reconstruir, e se alguma vez houve ambientes nos quais micróbios poderiam ter prosperado.

O escritor Marcel Proust (1871-1922) nos lembra que a verdadeira viagem de descoberta consiste não apenas em buscar paisagens novas, mas novos olhos. A perspectiva extraordinária que o Curiosity vai trazer poderá, algum dia, nos permitir entender por que um planeta que no começo pode não ter sido tão diferente do nosso começou seu declínio inexorável, enquanto a Terra floresceu. E, ao fazer isso, pode nos dizer algo sobre nós e sobre onde estão nossas raízes mais profundas.

John Grotzinger é o cientista-chefe da missão MSL

Fonte
 

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