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Culturas Africanas

Castiel

Angel of the Lord
Como comentado no tópico a respeito de cotas, vamos tentar trazer pra cá o debate de culturas africanas.

Temos vários assuntos que podemos abordar, desde antigos reinos africanos, passando por formação da cultura brasileira e até mesmo culinária.

Pronto, povo. Criado o tópico!
;)
 
uahiuoahuioahuioahauiohaiu

Por onde achar melhor.
Pq não começa falando o que te levou a estudar as culturas africanas e talz? :)

Eu por exemplo comecei a me interessar por causa do candomblé. E hoje em dia admiro o lance como um todo (além da religião).
 
Eu nunca me interesse por culturaS AfricanaS (antes que o Kabral dê xilique). O que eu sei é puro senso comum.

E gostei do tema das cotas ter evoluído pra esse assunto sobre a África!
Mas o que vai rolar aqui? O Kabral vai dar uma entrevista?
 
Eu só entrei pra ver se o Cabral ja tinha postado... só estranhei ele ainda num ter feito um post repleto de informações.
 
Mas o que vai rolar aqui? O Kabral vai dar uma entrevista?
:hxhx::hxhx::hxhx:

Peço então permissão para começar os trabalhos. =]

Pq não começa falando o que te levou a estudar as culturas africanas e talz? :)

Eu por exemplo comecei a me interessar por causa do candomblé. E hoje em dia admiro o lance como um todo (além da religião).
Eu comecei por causa do... RPG. Ou melhor, o RPG me levou às mitologias grega, nórdica, egípcia, celta, hindu, etc.

Aos 13 anos eu já tinha decorado o panteão grego.

Inicialmente minha família era toda cristã, mas devagarinho foram todos ou pro candomblé ou pra umbanda.

Já eu nunca tive religião real.

Certo, estou divagando. O que me levou às culturas da África Subsaariana - ou seja, a África abaixo do Saara, a "África Negra" - foi meu incômodo durante a criação do meu cenário de RPG (!!); muitas influências europeias, mas onde estavam os negros na parada? Na escola não me ensinaram porra nenhuma; tive de ir atrás por conta própria. Mas carecia de fontes.

Os livros de Umbanda e Candomblé me irritavam, em geral eram escritos por pais-de-santo que escreviam mais com o coração do que com a cabeça :sacou: - ou seja, careciam de fontes, e chegou-se ao absurdo de se dizer que a crença de orixás se estendia por toda África, quando na verdade era restrito ao reino Iorubá no que hoje é chamado de Nigéria.

Aí tudo mudou quando entrei na faculdade de Letras e tive às Literaturas Africanas de Língua Portuguesa.

Aí surtei bonito na batatinha quando li este livro:

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Aí o cenário de RPG digievoluiu para uma série de romances (!!) cujo primeiro livro ainda está em andamento e cujos capítulos iniciais vocês podem conferir aqui: primeiro, segundo, terceiro, quarto, quinto e sexto.

Acho que publicarei nas internetz só até o 9. Aqui comigo já tenho mais de 50.


Mas então. Meu enfoque maior são os países africanos lusófonos, em especial Angola. A religião original de lá é diferente do que estamos acostumados com o estereótipo de África - ou seja, nada de orixá, etc.


Eu tenho interesse nas entidades espirituais. Tem como?
Vou falar o que sei, que é da religião original de Angola. Entidades de Umbanda e Candomblé não sei tanto, outros poderão falar melhor por mim, creio eu.

As etnias do que hoje é Angola e Congo - quiocos (tchokwe), umbundos, quicongos, lundas, lubas, etc., eram animistas - i.e., a crença de que existem espíritos em todas as coisas, do menor pedregulho à maior montanha, no Sol (Tangwa), na Lua (Kakueje) e na própria Terra - Tchyanza Ngombe, a Grande Mãe Serpente Criadora de Todas as Coisas.

Os lubas e outros na verdade acreditam em Nzambi (Deus) como Espírito Supremo e criador do Mundo - deste e de outros mundos.

Nzambi criou o Mundo e tudo o que nele existe. E depois pôs-se a dormir. E nunca mais se interessou por sua Criação. Por isso a crença de que os homens devem completar a Obra de Nzambi - para o bem ou para o mal.

Já a crença de Tchyanza Ngombe, Grande Mãe Serpente, é semelhante, com o adendo de que ela é a própria Terra - por isso não pode "partir", como fez Nzambi. E todos nós nascemos de seu ventre e somos seus filhos.

Existem dois mundos: este mundo visível sob o Sol e o mundo invisível, lar dos espíritos. Embora entre algumas etnias se digam de outras dimensões e mundos.


A hierarquia dos espíritos é simples: primeiro, os Grandes Espíritos da Natureza - a Terra, o Sol, a Lua e os demais; depois, os heróis fundadores de linhagem. Cada etnia tem o seu.

Por exemplo, entre os humbe e ambo há a crença de Nambalisita, o primeiro homem, que nasceu dum ovo, partindo a própria casca; na cultura umbundo, o primeiro homem é Feti, nascido da Serpente das Águas; entre os lundas e quiocos, os primeiros humanos são Namutu e Samutu, os gêmeos de sexo diferente, que nasceram da Grande Mãe Serpente e deram origem ao país lunda (Império Lunda-Quioco [Tchokwe], já chego lá.


Acreditava-se que a hierarquia do mundo visível se mantinha no mundo invisível - por isso, eram mais importantes os espíritos de ancestrais da classe nobre - reis, sobas (chefes), kimbandas (sacerdotes), etc - do que espíritos de plebeus.


Ah sim, as entidades. Eram várias.


Assim como nem todas as coisas que existem possuem inteligência, nem todos os espíritos possuem intelecto real - alguns não passam de instintos selvagens, forças naturais, imprevisíveis e dignos de temor. Os homens prestavam reverências de respeito, sempre que abatiam um animal ou cortavam uma árvore, por exemplo - para que o espírito destes não retornassem para os incomodar à noite.


Hm. Algumas etnias reverenciavam a mulemba, a Árvore Sagrada dos Deuses. É que se acredita que quando a pessoa falece seu espírito sobe lentamente, até alcançar as camadas superiores do mundo invisível e então repousar ao lado dos grandes ancestrais do passado. Nas mulembas eles acreditavam que repousavam por ora, seus entes nobres falecidos mais recentemente.

Por isso, havia um tipo de punição que era considerado cruel: arremessar os condenados num abismo profundo. Acreditava-se que a alma do criminoso demoraria mais para subir e dessa forma sofreria mais neste mundo visível sob o Sol.


Ah, por último e nem de longe menos importante: os cazumbis, os malignos espíritos dos mortos. Era consenso geral que pessoas verdadeiramente monstruosas e feiticeiros viraram cazumbis após a morte e permaneciam no mundo dos homens causando o caos: invocando a fome, nuvens de insetos, ondas de azar ou mesmo sugando energia vital das pessoas durante a noite. Aliás, Kakueje (Lua) era considerada a Rainha dos Espíritos Malignos. Há uma estória (machista) por detrás disso. contarei resumidamente.

Entre os que creem em Nzambi, diz que quando desceu à Terra criou uma mulher para lhe fazer companhia. Transou com a mulher e tiveram uma filha. Um dia, Nzambi saiu pra caçar e quis levar apenas a filha. A esposa foi contra, mas a vontade de Nzambi era soberana. A filha voltou grávida do próprio pai. A esposa acabou se enforcando, dominada por um misto de horror, ciúme e desespero. E seu espírito desencarnado se tornou o primeiro cazumbi e subiu além dos céus. E seu nome é Kakueje, a Pálida.


O que mais falo de espíritos?



Eu só entrei pra ver se o Cabral ja tinha postado... só estranhei ele ainda num ter feito um post repleto de informações.

Num é? Vamos encham aqui de informações sobre Mama África.
Tá bom um post desse tamanho aí? Duvido que vocês leiam essa porra toda. :lol:
 

Anexos

  • muanaPuoIV.jpg
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Eu li inteiro (até porque você fez questão de divulgar o post no meu perfil, né?).

Gostei bastante da mitologia. O mais legal é que não é muito diferente das mitologias que estamos acostumados a ver. É interessante como todas as religiões ou mitologias se desenvolvem de maneira parecida.

E do que, mais necessariamente, fala o livro Pepetela Muama Puó? E o que quer dizer esse título


Edit.: Transferindo pra cá uma questão que surgiu em outro tópico (impressionante como essa coisa de repente tomou conta do forum inteiro):

a árabe (que influênciou também, por sinal, a mitologia iorubá)
A mitologia árabe influenciou a mitologia iorubá?
Acredito que os mitos e a cultura africana sejam mais antigos que a árabe, não?
 
Última edição:
Esse tópico é tipo: Users perguntam, Ka Bral responde?

Se for, por favor fale mais dos impérios/reinos que existiram, e porque acabaram e tals! :lol:
 
Não é mais podia ser, pq não há como negar que ele realmente conhece bastante do assunto!
 
Existem muitos elementos que se repetem em outras mitologias.

O nascimento do homem a partir do ovo e a árvore, por exemplo, lembram-me a criação do mundo a partir de um ovo da mitologia fínica e a Yggdrasil nórdica, muito embora as duas árvores tivessem origem diferente.

A "prisão" dos espíritos malignos no mundo terreno está presente no imaginário ocidental, e o kardecismo acredita nisso.

A necessidade de explicar religiosamente a ordem social é, naturalmente, lugar comum.

Agora, algo MUITO notório nas mitologias é a associação da lua com o feminino, e do feminino com o Mal.

O que eu fiquei intrigado é que no caso deles, a parada é muito mais sinistra. Imagina, a lua à noite como símbolo do mal supremo?
 
Eu li inteiro (até porque você fez questão de divulgar o post no meu perfil, né?).
Eu divulguei porque vocês cobraram que eu escrevesse. E eu jamais escrevo em vão.


:hihihi:



Gostei bastante da mitologia. O mais legal é que não é muito diferente das mitologias que estamos acostumados a ver. É interessante como todas as religiões ou mitologias se desenvolvem de maneira parecida.
Somos todos muito parecidos. Apesar de sermos diferentes.



E do que, mais necessariamente, fala o livro Pepetela Muama Puó? E o que quer dizer esse título.
Pepetela é o nome do autor, ou melhor, o pseudônimo de Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, provavelmente o maior escritor angolano vivo. Publicou mais de vinte livros, ganhou o prêmio Camões pelo conjunto da obra - maior homenagem a um escritor de língua portuguesa, abaixo apenas do Nobel, que é para todos os idiomas. "Pepetela" é "Pestana" em umbundo.

Muana Puó significa "Mulher Jovem" - ou melhor, Mulher que faleceu jovem, visto as máscaras Muana Puó são sempre de jovens moças falecidas.


Isso mesmo. Tatuaram nove mulheres mortas no meu corpo. Até agora.


Esse livro é uma viagem total, com o perdão da expressão. É o primeiro livro de Pepetela, e o que menos tem a ver com toda sua extensa obra. Quem quiser começar a lê-lo, recomendo o Mayombe, seu segundo livro e um dos mais famosos.


O livro Muana Puó fala sobre dois seres que talvez vivam cada um em cada olho fechado da Muana Puó. Esses dois seres lutam para se encontrar e enfim se amar. Mas, quando se encontram, descobrem que a paixão não queima para sempre. E se separam de forma dolorosa.

Há uma guerra louca como pano de fundo.

Essa resenha grosseira não faz juz ao livro, é uma narrativa muito estranha. Mas eu entendi e pirei à minha própria maneira - e por isso tatuei as máscaras. Mas não contarei detalhes dessa piração aqui, que cada um leia e enlouqueça sozinho. Mas é só para os mais fortes.


Quem quiser, pode experimentar jogar "Mwana Pwo" no Google Imagens. Olhem para as máscaras. Olhem para os olhos mortos. Sua boca semicerrada. Seus dentes serrilhados. Suas escarificações. Olhem e prestem a atenção na sua tristeza serena. E no seu poder irresistível.


Uou. Ok.


Posso falar, depois, acerca do que representa as máscaras Muana Puó para essas sociedades. Cobrem-me para que eu me lembre.



Edit.: Transferindo pra cá uma questão que surgiu em outro tópico (impressionante como essa coisa de repente tomou conta do forum inteiro):
Culpa minha - eu fico comentando que falta África aqui e ali, dá nisso... :hxhx:


A mitologia árabe influenciou a mitologia iorubá?
Acredito que os mitos e a cultura africana sejam mais antigos que a árabe, não?
Sim, as culturas de África são mais antigas. Não sei o quanto da mitologia árabe influenciou a iorubá, mas é verdade que as mitologias influenciam umas às outras - a mitologia e cultura gregas bebeu muito das egípcias, embora isso não seja muito mencionado nos livros de História - aliás, pelo menos na minha época, sequer mencionavam que o Egito ficava na África. Fizeram-me acha que África era só "aquele 'país' de pretos escravos e sem cultura"...


Olha, sei que em algumas sociedades ali do sul do Saara, o idioma árabe era o equivalente ao latim para nós - uma "língua culta". A única influência de que tenho notícia é essa.


Esse tópico é tipo: Users perguntam, Ka Bral responde?
Não precisa ser, muitos sabem muito mais que eu.


Se for, por favor fale mais dos impérios/reinos que existiram, e porque acabaram e tals! :lol:
Alocs. Sei um bocado do Império Lunda-Tchokwe, mas me cansei agora. Cobre-me no próximo post.


Não é mais podia ser, pq não há como negar que ele realmente conhece bastante do assunto!
Não sei o suficiente. O Continente é imenso.



Existem muitos elementos que se repetem em outras mitologias.

O nascimento do homem a partir do ovo e a árvore, por exemplo, lembram-me a criação do mundo a partir de um ovo da mitologia fínica e a Yggdrasil nórdica, muito embora as duas árvores tivessem origem diferente.

A "prisão" dos espíritos malignos no mundo terreno está presente no imaginário ocidental, e o kardecismo acredita nisso.

A necessidade de explicar religiosamente a ordem social é, naturalmente, lugar comum.

Agora, algo MUITO notório nas mitologias é a associação da lua com o feminino, e do feminino com o Mal.

O que eu fiquei intrigado é que no caso deles, a parada é muito mais sinistra. Imagina, a lua à noite como símbolo do mal supremo?
Foi como eu disse, somos todos muito parecidos, apesar de sermos diferentes.


Repare no elemento da Serpente como provedora de vida e Mãe de Todos, que aparece nessas e em várias outras mitologias. Pena que o cristianismo fez o (des)favor de diabolizar a figura da serpente.


E sim, eles acreditavam que a noite era fonte de todo mal, que à noite perambulavam os cazumbis sinistros. E Kakueje, a Pálida, tudo enxerga dos céus trevosos.
 
Agora, algo MUITO notório nas mitologias é a associação da lua com o feminino, e do feminino com o Mal.

Mas não regra geral. É notório também que na mitologia nórdica a personificação da lua é masculina, Máni, enquanto que a do sol é sua irmã, Sól.

Tampouco o feminino é estritamente relacionado com o mal. De um modo geral, há mais personagens masculinos fazendo o "mal" (principalmente jötunar, os gigantes) do que femininos. Vide Loki, ainda que a maioria das ações dele sejam decorrentes do fato de ele ser um trickster, ou seja, um deus que gosta de pregar peças, encher o saco dos outros deuses, etc.; o fato dessas ações às vezes terem consequências que são percebidas como "más" já é outra história.
 
Esses dias eu li uma matéria sobre a cidade de Timbuktu e a Universidade Sankoré, um dos maiores pólos de difusão de conhecimento que a África já teve. Alguém tem mais informações a respeito disso?
 
Eu confesso que tenho um medinho de coisas espirituais oriundas da África, umbanda, candomblé.
Tipo, eu tremo na base de imaginar um despacho com meu nome.:|
 

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