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Culturas Africanas

Tá bom um post desse tamanho aí? Duvido que vocês leiam essa porra toda. :lol:

Eu li.

Eu li inteiro (até porque você fez questão de divulgar o post no meu perfil, né?).

Acho que de todos que se interessaram.

Gostei bastante da mitologia. O mais legal é que não é muito diferente das mitologias que estamos acostumados a ver. É interessante como todas as religiões ou mitologias se desenvolvem de maneira parecida.

A mitologia árabe influenciou a mitologia iorubá?
Acredito que os mitos e a cultura africana sejam mais antigos que a árabe, não?

São os arquètipos Junguianos ou alguém fez a ponte entre as várias culturas.

Existem muitos elementos que se repetem em outras mitologias.

O nascimento do homem a partir do ovo e a árvore, por exemplo, lembram-me a criação do mundo a partir de um ovo da mitologia fínica e a Yggdrasil nórdica, muito embora as duas árvores tivessem origem diferente.

A "prisão" dos espíritos malignos no mundo terreno está presente no imaginário ocidental, e o kardecismo acredita nisso.

A necessidade de explicar religiosamente a ordem social é, naturalmente, lugar comum.

Agora, algo MUITO notório nas mitologias é a associação da lua com o feminino, e do feminino com o Mal.

O que eu fiquei intrigado é que no caso deles, a parada é muito mais sinistra. Imagina, a lua à noite como símbolo do mal supremo?

São os arquètipos Junguianos ou alguém fez a ponte entre as várias culturas.

Eu confesso que tenho um medinho de coisas espirituais oriundas da África, umbanda, candomblé.

Tipo, eu tremo na base de imaginar um despacho com meu nome.


É porque colocaram medo em você, se traumatizou.
 
E a imagem nada estereotipada de que todos os praticantes de religião afroamericana (candomblé, umbanda, vodou haitiano, whatever) fazem despachos para conseguirem o que quer, em detrimento de outrem.
 
E a imagem nada estereotipada de que todos os praticantes de religião afroamericana (candomblé, umbanda, vodou haitiano, whatever) fazem despachos para conseguirem o que quer, em detrimento de outrem.

Sim, a imagem que eu tive desde a minha tenra infância é a de que praticantes de religiões afroamericanas, praticam coisas obscuras e do mal. :|
 
Ka Bral, excelente post!
Sabia que aquele outro tópico poderia render boas postangens! ;)
Tenho acesso a uma informação ou outra de Angola por conta do candomblé, mas confesso que Angola sempre foi o meu segmento menos favorito do candomblé. Talvez seja hora de mudar isso! ;)
Muitos termos que você mencionou me são familiares e são usados até hoje no segmento Angola do candomblé. Nzambi, Ngombe...
Entre os Fongbe (ou Fon, se não me engano) também existe o mito da serpente, que envolve a Terra e a mantém constrita, mordendo o próprio rabo. A serpente era chamada de Dan pelos Fon e foi incorporada ao "panteão iorubá" como Oxumarê (Òsùmàrè). Acho muito interessante o sincretismo que se faz possível entre os povos africanos e que também pode se fazer possível com outras culturas e mitologias.

Gostei da dica do livro. Tá anotado.
A única literatura africana que conheço é 'Feras de Lugar Nenhum', de Uzodinma Iweala. O restante são livros de antropólogos brasileiros, franceses e alguma outra coisa.

Meu conhecimento de África vem todo do candomblé e se resume basicamente ao povo Iorubá.

Quanto à influência árabe, o próprio mito de criação do mundo iorubá se confundiu ao longo dos séculos com um personagem árabe. É a respeito de Oduduwa. Porém não estou muito lembrado dos fatos para escrever a respeito e meu material não está aqui! :(

A respeito dos orixás sempre existe muita curiosidade e principalmente equívoco.
Os orixás cultuados no Brasil, no chamado candomblé, eram cultuados em diferentes territórios africanos. E muitas vezes não havia sequer comunicação de um culto com o outro. Iemanjá era cultuada em Egbá e Abeokutá, porém completamente desconhecida em Ijexa, onde havia forte culto a Oxum. No Brasil, devido à mistura e concentração de escravos em determinados locais, houve a fusão desses cultos.

Iemanjá, por exemplo.
Iemanjá = Yemojá, que seria a contração de Yèyé omo ejá, que significa "mãe cujos filhos são peixes".
Essa divindade era cultuada como soberana na região de Egbá, no rio de mesmo nome (Yemojá). Guerras entre os iorubás levaram o povo Egbá a emigrar na direção oeste, para Abeokutá. Não levaram o rio (por questões óbvias hehe), mas levaram os objetos de culto e passaram a cultuar Iemanjá no rio Ògùn (que nada tinha/tem a ver com a divindade Ogun). A Iemanjá iorubá também nada tem a ver com a imagem comumente vendida e cultuada na umbanda, de mulher branca com cabelos longos e negros. A Iemanjá iorubá, cultuada no candomblé, é retratada como matrona e de seios volumosos.

Xangô é confundido com personagem histórico e divino.
Como personagem histórico ele teria sido o 3o rei de Oyó.
Teria crescido no país de sua mãe, a princesa Torosi dos tapás e se instalou mais tarde em Kossô (Kòso). Xangô destronou seu irmão Dadá-Ajaká, ganhando para si o trono de Oyó.
Os autores se contradizem bastante sobre dados a respeito de Xangô, mas todos concordam que realmente existiu um soberano em Oyó com esse nome e que hoje é cultuado como ancestral divinizado.

É isso. No que eu também puder contribuir estou aqui! :)
 
Última edição:
Excelente contribuição, Castiel. Continue falando sobre os orixás.




Sei lá porque diabos decidi trilhar um caminho completamente diferente, conforme deixei claro nos posts anteriores. Daqui a pouco postarei mais sobre a Cultura Lunda-Tchokwe.


Falando nisso, resolvi até criar um tumblr pra "desafogar" as trocentas imagens tchokwe que acumulei todo esse tempo: http://tchokwe.tumblr.com/
 
Dizem que a presença da serpente circulando o mundo, nas diversas mitologias, deve-se à Via Láctea, que ainda é visível fora da poluição luminosa do mundo urbano moderno.
 
Post maravilhoso, KaBral, poste mais, pos te muito!

Como adoro literatura, e sei um pouquinho, e também tenho um projeto de livro em andamento, e...., enfim, salvei os seis primeiros capítulos do teu escrito, lerei e depois volto pra te dar minha análise, ok?
 
Ah sim...
Vou imprimir os capítulos do Ka Bral e ler on the go! :)

Assim que possível posto mais coisas sobre a cultura iorubá também!
 
Post maravilhoso, KaBral, poste mais, pos te muito!

Como adoro literatura, e sei um pouquinho, e também tenho um projeto de livro em andamento, e...., enfim, salvei os seis primeiros capítulos do teu escrito, lerei e depois volto pra te dar minha análise, ok?

Ah sim...
Vou imprimir os capítulos do Ka Bral e ler on the go! :)

Assim que possível posto mais coisas sobre a cultura iorubá também!
Agradeço a todos os elogios e espero mesmo críticas sinceras a essas pequenas amostras minhas - se estiver ruim podem falar sem medo!


E pra menina Pim: escreva. Escreva. Escreva. Escreva até cansar, até chorar, até surtar. Mas escreva. Escreva.


Uma fonte mui valiosa de informações é este site, adoro: http://www.culturalunda-tchokwe.com/
 
Esse glutão aqui espera contribuições gastronômicas nesse tópico. Tem receitas fodas na culinária africana. Uma pena que tenha se perdido tanto da culinária original com as adaptações que tiveram que se fazer.
 
Hoje fui ao centro do Rio e vi que TODAS as livrarias estão apostando em África durante esse período de Copa.
São vários livros sobre África e relacionados estampando as vitrines.
Na Livraria da Travessa, eles colocaram 2 mesas só com títulos relacionados à África e cultura afro-brasileira. Bom... não sei se fora da época de copa também tem, mas a vitrine com certeza é por ocasião da copa.

Comprei Os Nagô e a Morte, de Juana Elbein dos Santos e também Àkògbádùn, ABC da língua, cultura e civilização iorubanas, de Félix Ayoh'omidire. :)

Esse os Nagô e a Morte é uma tese de doutorado sobre Etnologia apresentada na Sorbonne. É a 13a edição. Já comecei a ler uma vez e tive que interromper. Dessa vez levo ao final! :)

Pra quem se interessa por culturas africanas, essa Livraria da Travessa tava de matar! Muita coisa mesmo!!
 
Última edição:
Estou consultando minhas fontes para fazer um post digno sobre o império Lunda-Tchokwe. Aquele meu primeiro post foi digitado na improvisação, de cabeça mesmo, não imaginava tanto sucesso. :hxhx:


ka Bral você sabe alguma coisa sobre tabu nas sociedades que você conhece?
Há muitos. Vou digitar alguns aqui de memória, enquanto não termino minhas leituras.


Ofícios sagrados como o de ferreiro ou escultor de máscaras eram rodeados de tabus - entre eles, a proibição de fazer sexo no dia anterior aos trabalhos e a condição de viver afastado das aldeias, não podiam se misturar à gente comum. Tinham de realizar banhos especiais na véspera dos trabalhos, escarificações características, etc. Ferro era considerado um elemento sagrado, enquanto as máscaras continham propriedades espirituais muito poderosas e temidas.

Ambos os ofícios merecem um posto futuro mais detalhado. Bem com as máscaras... ah, as máscaras. Um dia farei um post digno para a divina Muana Puó.


Havia a temida sociedade secreta dos chibindas, "aqueles que caçam com magias". Eram hábeis com flechas enfeitiçadas que nunca erravam o alvo, eram mais rápidos e fortes que os homens comuns, sabiam falar a língua de vários animais, ficavam invisíveis e alguns voavam! Assim dizem as lendas. O mais famoso é o Chibinda Ilunga, fundador do Império Lunda-Tchokwe, ao lado de Rainha Lweji. Esses dois protagonizam uma lenda famosa em Angola, inclusive meu romance favorito do Pepetela, "Lueji, o Nascimento dum Império". Falarei desses dois mais tarde.

Tabus dos chibindas: de novo, nada de sexo no dia que antecede à caça; anexar ao colar de fibras humanas dentes e pedaços de chifres de feras abatidas, para adquirir sua força e poder; SEMPRE realizar uma prece de respeito à alma dos animais abatidos.


Mais tarde quero falar também dos ritos de iniciação, muitos tabus envolvidos.



Tenho de reler um monte de coisas antes de postar decentemente aqui.


Enquanto isso, publicaram agorinha mais um capítulo do Numumba, o sétimo, no qual eu descrevo a toka, um jogo tchokwe real. Deem uma olhada Numumba – Desgraças ridículas de ridículos desgraçados


Estou retomando as minhas leituras e prometo seguir postando aqui. Enquanto isso improvisarei quando me couber. =]
 
Existe alguma relação dos tabus que você mencionou com o temo "kizila"? Não sei a grafia exata, mas seria algo assim.

Entre o segmento Angola dos cultos afro-brasileiros existe a aplicação dessa palavra aos chamados tabus/interdições. Nos segmentos nagô (yorubá) a palavra seria ewó (acho que a grafia é essa), mas o termo kizila foi muito mais difundido e é mais utilizado pelos demais segmentos, não só Angola.

Kizila/Ewó seria tudo que afasta o ser humano do contato com a divindade ou o torna impuro diante da divindade; o que é contrário/impróprio/prejudicial à sua própria energia, à sua constituição. Até hoje esses conceitos são seguidos pelas religiões de matriz africana. Na iniciação e consagração a uma divindade, o noviço fica sabendo de sua interdição e algumas delas são descobertas até acidentalmente. É comum, após iniciado, um noviço passar mal ao transgredir sua interdição (dores de cabeça, vômito, mal estar, diarréia, etc), ou até mesmo sofrer pequenos acidentes e infortúnios. As interdições vão desde alimentos a cores de roupa e passando por atos do cotidiano.
Alguns exemplos: café, álcool, roupa preta, roupa vermelha, camarão, roupa suja, adornos com formato de borboleta, objetos feitos de bambu, mel, frutos do mar, gema de ovo, mentira, azeite de dendê, dormir no total escuro, andar à rua ao meio-dia, dormir de barriga para cima, mencionar determinados nomes dentro de casa, manter roupas no varal durante a noite, entregar/receber facas diretamente nas mãos... e por aí vai.
 
Eu sei que, na África subsaariana, em alguns povos de fala bantu, existem tabus linguísticos. Há etnias onde a mulher não pode utilizar nenhum fonema presente no nome do marido.

Diz-se que o empréstimo dos cliques de um outro tronco linguístico, o Khoisan, por idiomas bantu como o Zulu deve-se em parte à essa proibição, já que as mulheres tinham que arrumar alguma forma para recuperar sua capacidade de comunicação.

A propósito, e só a título de cultura: a palavra tabu é de origem polinésia. Isso mesmo, ali na Oceania, o "continente" mais esquecido (e talvez o mais bizarro) de todos. Tapu em tongolês e maori, tabu em fijiano, kapu em havaiano. E tatuagem (de "tatau") também.
 
Terminei de ler Os Nagô e a Morte, da antropóloga argentina Juana Elbein.
É uma tese de doutorado em Etnologia e é muito interessante para quem se interessa por culturas africanas, muito embora o enfoque seja na diáspora africana.

A questão da morte é abordada mais pro final do livro e mostra como os yoruba (nagô) vêem a morte. Fala sobre os ritos e tudo o mais, contando lendas e abordando conceitos interessantes.

Para os yoruba a morte é uma divindade masculina, chamada Ìku. É responsável por reintegrar o ser humano ao todo primordial. Não é necessariamente reverenciado, pois os ritos de morte prestam reverência ao "ancestral" recém tornado e não à morte em si.

Conta a lenda yoruba que Ìku fez parte da criação do homem e é ao mesmo tempo fornecedor primordial e o restaurador da matéria retirada. Foi ele o único que teve coragem de retirar da lama a porção necessária para a criação do ser humano, não se importando quando ela (a lama) chorou.

Mais tarde vou ver se pego o livro e transcrevo algo mais específico! :)
 
Um duvida que eu tenho é como o homem negro encarou o homem branco quando o viu pela primeira vez? Viu-o como um deus, um demónio? Ou como um simples homem?

Por exemplo, os aztecas ou maias, já não me recordo, viam o homem branco como deuses. Os homens brancos achavam os negros seres sem alma. E por aí fora... Mas que achavam numa primeira aproximação o homem negro do branco? Isto está patente nalguma parte da cultura negra?
 
Achei aqui uma lenda interessante sobre a deusa Oyá (Oya), sua relação com a morte e a criação do rito fúnebre nagô.

Oduleke, chefe de uma linhagem ilustre de caçadores e pai ancestral de todos os Ode, era casado com Osun e tomou uma criança para criar. Esta criança, esperta e alegre, tornou-se a preferida de seu pai adotivo e recebeu o nome de OYÁ.

A criança cresceu e tornou-se uma jovem que apreendeu com os pais as artes da caça e os segredos da magia.

Um dia, velho e alquebrado, Oduleke é levado pela morte. Oyá, entristecida, resolve fazer uma homenagem ao pai. Para tanto, reuniu os pertences de caça de Oduleke enrolando-os em um pano por ela bordado. Preparou as comidas prediletas de Oduleke e convidou todos os chefes caçadores para a cerimônia fúnebre.

Cantando e dançando, durante sete dias carregou na cabeça o cesto com pertences de caça do pai. Sua voz foi levada aos quatro cantos do mundo pelo vento - seu elemento mágico, e de todos os lugares se apresentaram multidões de caçadores. Ao fim da sétima noite, Oyá, acompanhada por todos os caçadores, foi depositar o "carrego" ao pé de uma árvore sagrada situada dentro da mata. O pássaro agbe, de penas azuis e brilhantes, deixou o galho da árvore voando para o firmamento.

Olorun (o senhor dos céus), emocionado, concedeu à Oyá o poder de transportar os recém nascidos numa outra vida, os espíritos, do aiye (terra) para o orun (céu), transformando Oduleke em divindade e Oyá na mãe dos espaços sagrados do céu. Desta forma se criou o Axêxê - vigilia do caçador, ritual fúnebre nagô.

:)

Um duvida que eu tenho é como o homem negro encarou o homem branco quando o viu pela primeira vez? Viu-o como um deus, um demónio? Ou como um simples homem?

Por exemplo, os aztecas ou maias, já não me recordo, viam o homem branco como deuses. Os homens brancos achavam os negros seres sem alma. E por aí fora... Mas que achavam numa primeira aproximação o homem negro do branco? Isto está patente nalguma parte da cultura negra?

Boa pergunta!! :)
 
Um duvida que eu tenho é como o homem negro encarou o homem branco quando o viu pela primeira vez? Viu-o como um deus, um demónio? Ou como um simples homem?

Por exemplo, os aztecas ou maias, já não me recordo, viam o homem branco como deuses. Os homens brancos achavam os negros seres sem alma. E por aí fora... Mas que achavam numa primeira aproximação o homem negro do branco? Isto está patente nalguma parte da cultura negra?
Eu acho que houve inclusive relações no começo se não amistosas pelomenos de tolerância e o ocntato branco negro deve ser antigo. Não podemos esquecer que inclusive houve tribos africanas conhecidas por venderem inimigos também negros para brancos caçadores de escravos. Prisioneiros de guerra e tal.
 

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