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Crônicas

Para quem não sabe, uma crônica é geralmente um texto sobre alguma peculiaridade do cotidiano do autor. Nelas podemos encontrar estórias emocionantes ou muito engraçadas, às vezes ambos !

Quero criar esse espaço para que as pessoas possam postar crônicas que acharam interessantes, ou de sua própria autoria, e que queiram compartilhar com os amigos do fórum.

Eu vou começar com uma crônica da Veja, que faz você pensar... e rir bastante !


Palavrinha Perigosa
por Walcyr Carrasco

Visito uma amiga, dona de um antiquário. Detalhe: ela mora na parte de cima da loja. Para minha surpresa, nesse sábado, meio da tarde, parece haver uma festa no pátio. Várias pessoas bebem cerveja e comem bolinhos de bacalhau, fritos por uma senhora portuguesa, vizinha da loja. Um rapaz faz drinques e sucos. Minha amiga se apressa a me receber.

- Aceita uma cerveja? Ou prefere um suco?

Aceito, é claro. Um suco geladinho, delicioso. Como alguns bolinhos de bacalhau. Entro no papo. Dali a algum tempo, resolvo me despedir. Sorrio, grato pela tarde deliciosa.

- Bem, vou indo...

Imediatamente, ela saca um bloquinho, a caneta, e começa a fazer as contas.

- Deixa ver. Você tomou um suco... ou foram dois? Quantos bolinhos de bacalhau?

A senhora portuguesa grita:

- Seis! Ele comeu seis!

Bem, eu comi seis pensando que eram de graça! Arranco algumas notas do bolso, desenxabido. Ela recebe, feliz da vida.

- Volte no sábado que vem.

É o drama da palavra "aceita". Ah, palavrinha perigosa!

Conheci uma jovem que veio do interior estudar. Vida difícil, morando em pensionato. Um dia, resolveu fazer uma extravagância. Saiu com umas amigas, estudantes como ela, para jantar fora. Sentaram-se no restaurante. Nenhuma tinha experiência de cidade grande. Veio o garçom.

- Aceitam uma entrada?

- Aceitamos!

- Aceitam um vinho?

- Oh, sim, aceitamos!

E foram aceitando. Certas de que era uma gentileza, já que ninguém estava falando em dinheiro. No fim, veio a conta. Quase morreram de susto. Passaram o mês comendo ovo com pão.

O verbo aceitar acabou se tornando uma forma disfarçada de empurrar a mercadoria sem discutir o preço. O correto seria o garçom ter oferecido a carta de vinhos.

Em tempos bicudos, as coisas ficam ainda mais difíceis. Recentemente fui à casa de um amigo na Vila Madalena. Artesão. Mal entrei, ele lembrou:

- Ainda não dei seu presente de aniversário! Está guardado.

Foi para dentro, voltou com uma caixinha de madeira enfeitada com flores do tipo que detesto. Sorriu e disse:

- Que acha? Gosta?

- É... linda!

- Quer ficar com ela?

- Claro!

Afinal, o que se diz diante de um presente? Mas a coisa não era bem assim. Saltitante, ele entrou no quarto. Voltou com um pacote.

- Este é seu presente.

- Ahnnn?

Desembrulho uma camiseta, atônito. Ele continua.

- Pela caixinha, vou fazer um preço especial!

E manda ver! Que tática, hein? Como voltar atrás, ainda por cima sendo uma obra assinada pelo próprio? Deu vontade de atirar a caixinha na cabeça dele.

Uma amiga, que mora em um bairro de classe média tradicional da cidade, anda apavorada. Diante da crise que assola as melhores famílias, a maioria das vizinhas partiu para negócios domésticos. Uma faz massas em casa. Outra, doces e bolos. As visitas amigáveis de antigamente se transformaram em armadilhas.

- Não quer levar uma lasanha para casa?

A ingênua caiu na conversa algumas vezes. Logo depois de embrulhada a massa, ou a bandeja de docinhos, vinha o preço.

- Mas... mas...

Nos bons tempos, bastava devolver o prato com outra gulodice. Minha amiga desenvolveu uma tática.

- Estou de regime.

Ninguém acredita, é claro. Continua gordíssima. Mas com o dinheiro no bolso.

Eu optei pela franqueza.

- Não aceito, não.

- Mas está tão gostoso.

- Não quero, não quero e não quero!

Vou acabar passando por mal-educado. Só que, do jeito que as coisas vão, ficou perigoso aceitar até presente de aniversário.


Veja São Paulo (18/08 - 23/08)
 

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