Fúria da cidade
ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ
O plano da ITF vai assassinar de vez a 'nossa' Copa Davis
54
A Federação Internacional de Tênis (ITF) anunciou, nesta segunda-feira, planos para mudar radicalmente a Copa Davis. A ideia de agora, ainda sujeita a votação em agosto, prevê uma competição com 18 países se enfrentando ao longo de uma semana em melhor de três sets e sede única, em novembro, para decidir o campeão do Grupo Mundial. E antes de entrar na questão financeira – que é sempre o motivo para essas mudanças – sugiro rever com calma tudo que está no começo deste parágrafo.
– 18 países vão se enfrentar em uma semana. Isso significa três dias de fase de grupos, quartas de final, semifinal e final. Apertado, né? Isso praticamente descarta a hipótese de confronto outdoor, com vento, chuva, calor, frio e elementos que deixam o jogo mais interessante e variado. Empurra-se goela abaixo de todo mundo mais um evento indoor. Além disso, a única maneira possível de encaixar tantos jogos em sete dias era com…
– Confrontos de três jogos. Sim! Em vez dos atuais duelos de cinco jogos, com quatro simples e uma dupla, a proposta de Copa Davis da ITF inclui apenas três jogos. Duas simples e uma dupla. Aumenta consideravelmente a força dos duplistas. Sem entrar no mérito de isso ser bom ou ruim, é preciso constatar que é uma grande mudança.
– Sede única. Outro ponto que desvirtua completamente o que os fãs da Copa Davis mais gostam. Torcidas barulhentas pressionando os visitantes, escolha do piso pelo país-sede, estádios lotados no mundo todo. Em vez disso, teremos torcida neutra (ou, na melhor das hipóteses, dividida), um piso escolhido sei lá por quem e um estádio lotado em uma cidade possivelmente rica (em vez de 15 arenas entupidas ao longo do ano).
– Novembro. Detalhe mais importante do que parece. Se alguém não ficou tão convencido sobre a questão indoor/outdoor, aqui fica mais fácil de entender. A não ser que uma cidade do hemisfério sul se candidate, é difícil imaginar uma sede na Europa e nos EUA, no inverno, jogando a céu aberto.
Chegamos, então, à parte que realmente vai conquistar votos. A ITF fez uma parceria com o fundo de investimento Kosmos, presidido por Gerard Piqué (sim, o jogador de futebol do Barcelona). O Kosmos, com o apoio financeira da japonesa Rakuten, promete investir US$ 3 bilhões ao longo de 25 anos “para ajudar a desenvolver o esporte no mundo inteiro” nessa nova Copa Davis.
E isso tudo ainda baseado naquele papo de que a Copa Davis precisa mudar, que os melhores do mundo não querem mais jogar, que o evento precisa de mais atenção, etc., etc., etc. Aquele blablablá que a gente conhece bem e que já comentei em várias ocasiões aqui no blog.
Coisas que eu acho que acho:
– Sabe a cena do vídeo acima? Se a mudança for aprovada… Nunca mais.
– Não duvido que uma “Copa do Mundo” nesse formato possa ser um evento bacana de acompanhar pela TV. Mas chamar isso de Copa Davis é espetar um ferro quente e pontudo nos olhos e ouvidos de quem cresceu e se apaixonou pela Copa Davis como ela é hoje. A “nossa” Copa Davis vai morrer. O mais justo seria usar outro nome.
– Ao mesmo tempo, é fácil entender por que a ITF quer manter o nome “Copa Davis”. É uma marca forte, estabelecida e com história. É mais fácil aproveitá-la do que criar algo do zero e que pode acabar conhecido como o-evento-que-matou-a-copa-davis.
– A ITF disse que vai manter os formatos dos Zonais – inclusive dos playoffs -, o que cria uma situação bizarra: quem torcer para o Brasil voltar ao grupo Mundial também vai estar torcendo para não ver mais tão cedo um confronto de Copa Davis em solo nacional. Bacana, não?
– Vendo uma proposta tão radical assim, é capaz de todo mundo começar a achar que mudar de cinco pra três sets está longe de ser o fim do mundo. É aquela velha teoria: quem quer aprovar uma mudança impopular só precisa apresentar uma proposta ainda mais impopular a insana. A segunda faz a primeira parecer um meio-termo aceitável.
– É tentador olhar hoje, em 2018, e pensar que US$ 3 bilhões são uma grana impensável. Vejamos se daqui a 20 anos um futuro presidente da ITF não vai estar achando que fez um mau negócio com um contrato tão longo.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
54
A Federação Internacional de Tênis (ITF) anunciou, nesta segunda-feira, planos para mudar radicalmente a Copa Davis. A ideia de agora, ainda sujeita a votação em agosto, prevê uma competição com 18 países se enfrentando ao longo de uma semana em melhor de três sets e sede única, em novembro, para decidir o campeão do Grupo Mundial. E antes de entrar na questão financeira – que é sempre o motivo para essas mudanças – sugiro rever com calma tudo que está no começo deste parágrafo.
– 18 países vão se enfrentar em uma semana. Isso significa três dias de fase de grupos, quartas de final, semifinal e final. Apertado, né? Isso praticamente descarta a hipótese de confronto outdoor, com vento, chuva, calor, frio e elementos que deixam o jogo mais interessante e variado. Empurra-se goela abaixo de todo mundo mais um evento indoor. Além disso, a única maneira possível de encaixar tantos jogos em sete dias era com…
– Confrontos de três jogos. Sim! Em vez dos atuais duelos de cinco jogos, com quatro simples e uma dupla, a proposta de Copa Davis da ITF inclui apenas três jogos. Duas simples e uma dupla. Aumenta consideravelmente a força dos duplistas. Sem entrar no mérito de isso ser bom ou ruim, é preciso constatar que é uma grande mudança.
– Sede única. Outro ponto que desvirtua completamente o que os fãs da Copa Davis mais gostam. Torcidas barulhentas pressionando os visitantes, escolha do piso pelo país-sede, estádios lotados no mundo todo. Em vez disso, teremos torcida neutra (ou, na melhor das hipóteses, dividida), um piso escolhido sei lá por quem e um estádio lotado em uma cidade possivelmente rica (em vez de 15 arenas entupidas ao longo do ano).
– Novembro. Detalhe mais importante do que parece. Se alguém não ficou tão convencido sobre a questão indoor/outdoor, aqui fica mais fácil de entender. A não ser que uma cidade do hemisfério sul se candidate, é difícil imaginar uma sede na Europa e nos EUA, no inverno, jogando a céu aberto.
Chegamos, então, à parte que realmente vai conquistar votos. A ITF fez uma parceria com o fundo de investimento Kosmos, presidido por Gerard Piqué (sim, o jogador de futebol do Barcelona). O Kosmos, com o apoio financeira da japonesa Rakuten, promete investir US$ 3 bilhões ao longo de 25 anos “para ajudar a desenvolver o esporte no mundo inteiro” nessa nova Copa Davis.
E isso tudo ainda baseado naquele papo de que a Copa Davis precisa mudar, que os melhores do mundo não querem mais jogar, que o evento precisa de mais atenção, etc., etc., etc. Aquele blablablá que a gente conhece bem e que já comentei em várias ocasiões aqui no blog.
Coisas que eu acho que acho:
– Sabe a cena do vídeo acima? Se a mudança for aprovada… Nunca mais.
– Não duvido que uma “Copa do Mundo” nesse formato possa ser um evento bacana de acompanhar pela TV. Mas chamar isso de Copa Davis é espetar um ferro quente e pontudo nos olhos e ouvidos de quem cresceu e se apaixonou pela Copa Davis como ela é hoje. A “nossa” Copa Davis vai morrer. O mais justo seria usar outro nome.
– Ao mesmo tempo, é fácil entender por que a ITF quer manter o nome “Copa Davis”. É uma marca forte, estabelecida e com história. É mais fácil aproveitá-la do que criar algo do zero e que pode acabar conhecido como o-evento-que-matou-a-copa-davis.
– A ITF disse que vai manter os formatos dos Zonais – inclusive dos playoffs -, o que cria uma situação bizarra: quem torcer para o Brasil voltar ao grupo Mundial também vai estar torcendo para não ver mais tão cedo um confronto de Copa Davis em solo nacional. Bacana, não?
– Vendo uma proposta tão radical assim, é capaz de todo mundo começar a achar que mudar de cinco pra três sets está longe de ser o fim do mundo. É aquela velha teoria: quem quer aprovar uma mudança impopular só precisa apresentar uma proposta ainda mais impopular a insana. A segunda faz a primeira parecer um meio-termo aceitável.
– É tentador olhar hoje, em 2018, e pensar que US$ 3 bilhões são uma grana impensável. Vejamos se daqui a 20 anos um futuro presidente da ITF não vai estar achando que fez um mau negócio com um contrato tão longo.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------