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Contos zen budistas- A Garota

Gerbur Forja-Quente

Defensor do Povo de Durin
Pessoal, gostam de contos budistas/orientais/koans.

Conhecem algum livro bom sobre isso?

Eu vi que a Monja Coen lançou um, mas ainda não consegui folheá-lo. Alguém já o fez?

Enquanto não respondem vou deixar um desses contos aqui que gostei bastante:

A Garota.

Dois monges caminham pela chuva à caminho do templo.

No meio do caminho a estrada está pantanosa pela chuva e uma garota está à deriva, sem conseguir atravessar.

O mestre encurva as costas para a moça subir e diz: “Vem, garota”.

A moça sobe e o mestre atravessa o pântano com ela nas costas. Ao chegar do outro lado, coloca a moça no chão, se despedem e os dois monges continuam seu caminho.

O aprendiz ficou intrigado com a situação durante todo o caminho e quando chegou no templo não se conteve e perguntou: “Mestre, se me permite, o senhor quebrou uma regra sagrada, não podemos tocar em mulheres, especialmente as belas, gostaria de saber, porque o senhor quebrou a regra?”

O mestre respondeu: “Eu deixei a garota lá, você ainda a carrega consigo?”
 
Li o "108 contos e parábolas orientais" contados pela monja Coen, não sei é a esse que você se refere. Acho uma boa pedida pra quem se interessa pelo assunto.
Indico também o "Contos Jataka" contados pela Noor Inayat Khan.

Ambos acho que vão nessa pegada do conto que você postou. Inclusive eu já o conhecia e é bem provável que o lera em algum desses dois livros.
 
Sobre o Zen eu comprei o livro "Zen" do Osho (li e deixei com meu pai quando ele ainda era vivo, junto de um livro do Tao e um livro A Arte da Guerra, eu tinha duas edições de cada livro). Recomendo para quem quiser entrar no assunto do budismo porque teve influência no passado vindo do hinduísmo. Outros como os livros do Paramahansa Yogananda também são bons.

São livros focados em temas filosóficos e espiritualidade. Mas para aprofundamento eu recomendaria textos que abordam situações na prática também, já que o corpo de estado Búdico ainda não é o corpo mais alto existencial segundo o hinduísmo. É apenas o sexto corpo e que pode vir a ser perdido. Há o sétimo corpo (corpo átmico) e outros acima segundo outras fontes (corpo cósmico, corpo universal). Um dos contos relata sobre isso de que o Buda se equivocou quando estava vivo (existem várias histórias do Buda por aí que derivam tanto em vertentes pacifistas quanto em vertentes marciais, no Japão tinham da vertente marcial).

Num conto que li se dizia que um grande amigo do Buda não queria sair de casa pois a Morte estava esperando por ele debaixo de uma árvore para quando ele saísse de lá a Morte tomaria a vida dele. A esposa do amigo dele veio pedir ajuda ao Buda e ele foi ajudar. Ao chegar na casa do amigo o Buda avistou a Morte esperando debaixo da árvore. Ele foi até lá e deu um soco tão forte nela que a Morte morreu e ele salvou o amigo dele. Mas isso produziu muitos problemas (a morte sempre esteve cumprindo uma função natural) e o Buda teve que trazê-la de volta (ninguém nem nada mais morria e isso produziu muitos infortúnios na ordem das coisas).

Segundo dizem sempre quando o Buda chegava em uma região, por centenas de quilômetros em volta se sentiam os efeitos.

Tem outra história também sobre o assassino de 100 homens que encontrou com o Buda. Tem múltiplas versões e temas.

O legal dessas histórias é que funcionam como parábolas bíblicas, alimento para pessoas entenderem de forma simples e refletirem aprendendo algo sobre experiência. O Osho comenta sobre isso quando fala que Jesus em Israel estava muito sozinho porque os discípulos e outros estavam em nível muito abaixo dele para entenderem as coisas do espírito. Osho comenta que Jesus estava ainda mais sozinho e numa missão ainda mais difícil do que o Buda (o Buda teve privilégio de estar num lugar com estímulo maior para ensinar essas coisas).
 
Última edição:
Acho que é sobre ver a realidade da forma como ela é, não da forma como se pensa que é. Mas é só minha interpretação; outros que refletirem sobre o koan podem tirar um significado diferente.
 
“Ver a realidade como ela é, e não como pensa que ela é”.

Está aí um grande desafio. Nossa ferramenta cerebral é muito precária para compreender a totalidade da realidade, estamos fadados a observar pela pequena fresta que nossa mente consegue desnudar a realidade. Cada um vê o pequeno recorte que lhe cabe.

Mas isso não nos impede de continuar tentando. É bem verdade que já houve pessoas com grande visão/capacidade de entender a realidade.

Talvez esse koan seja sobre isso mesmo.

Pensei agora numa outra possível interpretação também:

“Os gansos selvagens não pretendem lançar o seu reflexo, a água não tem intenção de receber a sua imagem.”

Independente do que você pretende, do que você acredita, da narrativa que constrói em sua mente a partir da pequena fresta que consegue enxergar, a vida/realidade é o que ela é. Nossa narrativa particular é pequena e não se dá conta que nós somos mais 1 personagem do mundo, não o contrário. Não é o mundo/realidade personagem de nossa narrativa pessoal.

O mundo vai capturar o reflexo do ganso, independente da pretensão do mesmo, e essa imagem será refletida na água independente da intenção dela. O mundo é o que é, ele está sempre acontecendo a nossa volta, mesmo que não percebamos.

As vezes somos o ganso que lança reflexo sobre outros sem perceber. As vezes somos a água refletindo a imagem de outro. Pois as vezes a nossa ação/pensamento já é uma reação a ação/pensamento de outro. E nem nos damos conta disso. Acreditando que nossas ações/pensamentos são realmente nossas… não são. Nós somos os personagens, o ganso e a água. O mundo é o que acontece no meio, é o reflexo que não controlamos o lançamento tampouco o recebimento.

Sei lá, dei uma viajada, rsrs.

o que achou @Giuseppe ?
 
É uma interpretação boa também. As coisas estão todas interligadas de uma forma complexa, nunca se sabe qual vai ser o resultado de algo que você faça ou deixe de fazer, mesmo que seja uma coisa aparentemente insignificante.
 

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