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[Conto] Perseguição em Andamento

Bruce Torres

Let's be alone together.
Perseguição em Andamento

A perseguição havia começado por volta das 10 da manhã. Já era meio-dia e nem perseguidor nem perseguido davam mostras de querer desistir. Para falar a verdade, parecia que ambos dispunham de tanto combustível quanto possível, um sempre à frente, e o outro sempre em sua cola. Árvores, gente, prédios – tudo estava distorcido quando visto através do para-brisas, mas tinha-se a impressão de que ambos os motoristas sabiam por onde passavam, o que deveriam evitar e onde queriam chegar com seus automóveis.

Vistos de fora, alguém concluiria que os carros podiam sentir cada nervo, osso e articulação de seus motoristas, dada a desenvoltura dos veículos. Chame a isso sincronia, mas algo mais parecia estar acontecendo. Depois de duas horas de perseguição e tentativas inúteis de alcançar o automóvel à frente, o perseguidor decidiu tentar convencer o perseguido a se entregar.

- Para logo esse carro, seu filho da p***! – gritou o perseguidor com a cabeça para fora do vidro.

- Tenho cara de imbecil, por acaso? - respondeu o perseguido também aos berros e com a cabeça para fora do vidro. - Imagina se eu vou parar!

- Você não pode continuar correndo desse jeito! Vai chegar a hora em que o seu combustível vai acabar e então eu vou agarrá-lo!

- Isso é o que nós vamos ver, meu chapa. Tô me divertindo pra valer até agora!

Mal tendo dito isso, ambos foram pegos de surpresa quando o carro perseguidor teve uma mudança brusca de marcha e colou na traseira do automóvel à frente. Em resposta, o carro perseguido também trocou a marcha e acelerou com tudo.

O perseguidor tentou várias vezes voltar à marcha anterior, mas a alavanca estava presa.

- Droga, isso vai fundir o motor! VOLTA A MARCHA, SEU FILHO DA P***!

E o carro respondeu: ele trocou de marcha aos poucos, e então foi diminuindo a velocidade até parar de vez. O motorista encarou atônito o volante. Pra piorar, vapor começou a sair pelo capô, aparentemente um problema no radiador. Ele saiu, bateu a porta com força, olhou para os lados e começou a chutar o carro em várias partes da lataria.

- SEU FILHO DA P***, POR QUE FEZ ISSO COMIGO?!

Como que ofendido, o carro deu ignição sozinho e partiu.

O perseguido olhou pelo retrovisor para ver o que tinha acontecido. Toda aquela fumaça não podia ser bom sinal, pensou. Mas o que importava? Agora ele estava livre. Ninguém sabia para onde ele ia ou onde ele estava – nem mesmo ele próprio. Diminuindo a velocidade até parar, reparou que não se via construção ou casa sequer por perto. Tudo que havia era apenas um lamaçal parcialmente seco com uma floresta cheia de árvores em decomposição.

- Mas que m*** de lugar é esse? – perguntou em voz alta, talvez esperando uma resposta. Tirou a chave do contato... ou pelo menos tentou.

O carro não obedecia. Ao tentar tirar a chave mais uma vez, o automóvel pareceu entender o gesto como uma provocação e resolveu acelerar com tudo, jogando o motorista para o banco traseiro. O homem tentou fazer um esforço para alcançar o volante – e conseguiu -, mas o carro continuava não obedecendo aos pedais ou alavancas. Pelo menos as rodas iam para a direita e para a esquerda, o que lhe permitia ter certo controle sobre a direção, mas o carro parecia não estar nem aí.

Enquanto lutava contra a vontade do automóvel de continuar correndo, foi pego mais uma vez de surpresa quando, ao olhar pelo retrovisor, notou algo vindo em sua direção em alta velocidade.

- Mas como aquele m**** me alcançou?

O carro perseguidor colou na traseira do perseguido. Este continuava acelerando, mas o outro automóvel acelerou ainda mais e continuou próximo. Sabe-se lá como, mas chegou o momento em que o perseguidor conseguiu ficar lado a lado com o outro carro, dando início a uma briga pra ver quem tirava o outro da “pista”.

Essas investidas de um carro e outro deixaram o motorista perseguido tonto, sem um ponto fixo para focar. Em um dos poucos momentos em que conseguiu ver através do borrão de cores, viu que não havia ninguém dirigindo o outro carro. De repente, tal constatação anulou o choque inicial com seu próprio carro agindo estranho, e não pôde conter sua língua traindo o que se passava em sua cabeça:

- M-m-mas... Como?! NÃO TEM NINGUÉM ALI! Que m**** tá acontecendo? Como não pode ter NINGUÉM ali?!

Talvez o carro não tivesse gostado da pergunta, talvez estivesse cansado de aturar seu passageiro. Fato é que o automóvel deu uma freada brusca, abriu a porta, acelerou com tudo e lançou seu carona no lamaçal. O carro foi embora, e o motorista ficou pra trás.

Sem entender nada, o perseguido, ainda atônito, começou automaticamente a se limpar, até perceber que era inútil. Tentou encontrar algo no horizonte que pudesse esclarecer tudo que havia acontecido até então. Mal havia conseguido dar uma clareada nas ideias quando notou que seu corpo já não estava mais sob seu controle, tentando agora permanecer o máximo possível à frente do carro perseguidor que vinha rápido e reto em sua direção.
 
Considero isso um elogio, rs?

[Nada contra, mesmo porque também gosto de Stephen King. Só não sei se você gosta, rs.]
 
Nada como ler os contos bacanas aqui do Meia!

Cara, eu admiro muito quem consegue escrever cenas de ação sem ficar algo embolado ou tão descritivo beirando o chato. Ficou na medida certa, e o que eu mais curti foi sua maneira ágil e esperta de interagir o leitor na perseguição, dando referências de pensamentos e cenários.
 
Obrigado pela opinião, Fernando. Espero poder colaborar mais no futuro e poder acompanhar os contos e poemas dos demais membros do Fórum. O problema é estar tudo corrido ultimamente - o que não quer dizer que não acompanho o que é postado aqui. Um abraço. :D
 
Obrigado pela opinião, Fernando. Espero poder colaborar mais no futuro e poder acompanhar os contos e poemas dos demais membros do Fórum. O problema é estar tudo corrido ultimamente - o que não quer dizer que não acompanho o que é postado aqui. Um abraço. :D

Tem muita coisa boa por aqui, e pra falar a verdade os pedaçinhos que eu mais gosto nesse fórum é justamente o de prosa e poesia. No mais, poste mais coisas quando puder.
 

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