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Conto - 5 Minutos

Dei uma melhorada num conto que fiz há algum tempo. Não costumo ter lá tantas idéias para serem expressas em forma de conto. Eu sempre penso em histórias enormes, coisa pra ser tratada num romance, de modo que esse conto, pela simples criação dele, independente de sua qualidade, me dá um certo orgulho. Foi meu primeiro conto, afinal. Inspirado num caso verídico:

5 Minutos


Em transe, olhava para o cadáver do seu bebê estendido no sofá. Não, isso não pode estar acontecendo! Ante os infortúnios a que fora submetida em cada instante da adolescência e vida adulta, o bebê era o último respingo de sentido a sua porca existência. Ainda poderia trazer uma linda criança ao mundo, afinal.

Levantou as mãos ao pescoço e anteviu a gordura de seus braços pender com a ação da gravidade. Seu pescoço, aliás, nem sequer mais existia, perdido em meio a uma imensa papada e pele recaída. Olhou para baixo - incapaz de enxergar os próprios pés. Como chegara a tal ponto? Cento e sessenta quilos da mais absoluta mediocridade.

O pequenino permanecia imóvel, sem respiração. Pensou em chamar uma ambulância, mas já era tarde. Tudo por causa de um maldito tênis no chão que a fez tropeçar. O auge da agonia foi sentir seu anjinho se debater por debaixo de seu corpo, sem que ela conseguisse ao menos se levantar. Seus esforços para se reerguer aumentaram o peso em cima da criança, precipitando sua morte.

O que seria dela agora, já que, nem para resguardar a simples sobrevivência de seu filho, mostrou-se capaz. Previu um futuro de condenações morais daqueles que sempre a desprezaram. Dedos apontados, cochichos maldizendo sua forma física, ou até mesmo a agressão direta: “gorda, assassina, matou o próprio filho!”. Sua foto sendo estampada nos jornais. Especialistas comentando o caso, achando-se os senhores do mundo, com recomendações de uma alimentação saudável: “evite os males da obesidade”.

E um processo! Não tinha dúvidas de que a incriminariam pela morte de seu filho. Ela, sentada num tribunal, vendo sua vida vegetativa ser esmiuçada aos mais mínimos detalhes... O vislumbre dessa possibilidade trouxe todo seu almoço a tona, garganta afora.

Precisava de ar. Alcançou a janela e observou a paisagem em volta. A brisa fresca atingiu seu rosto como fosse uma pequena amostra de um mundo de expectativas há muito esgotado. “Uma vida inteira que poderia ter sido e não foi”, nas palavras de seu poeta predileto. Diz-se que, quando o homem vê seus anseios transformados em decepções, estaria ele apenas à espera da morte. Ela não tinha mais a esperar. Esperar para quê? Medo da providência Divina? Ele já dera mostras de sua justiça em doses cavalares.

Pensou no estado do seu corpo ao atingir o chão daquela altura. Ao menos, horrorizados ficariam, ao invés da chacota típica. Um grand finale!

Jogou-se. Um novo mundo a acolheria. Um mundo de gordos felizes, onde alguém a amasse.
 

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