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Confessionário literário

A tradução escorregou mesmo! "Minute" nem sempre é minuto, literalmente; pode ser só o mesmo que instante, um espacinho de tempo. Como em "wait a minute"
Então, acho que tenho essa pira desde que, no meu trabalho, certa vez fiz um curso de atendimento por telefone e uma das coisas mais básicas era nunca dizer pra pessoa do outro lado esperar "um minuto", mas sim "um momento", "um instante" ou simplesmente "aguarde, por favor".
 
O Spohr também usa muito esses intervalos gigantes. Sempre que aparece uma cena dessas eu penso em algo tipo isso:
Stare Down The Good The Bad And The Ugly GIF
 
Confesso que, mais do que nunca parar de me surpreender com Clarice Lispector, nunca pararei de me surpreender com a felicidade que sinto quando leio a modulação da voz estética de um(a) autor (a) que amo na obra de outro (a).

Estou lendo Um sopro de vida, da Clarice Lispector. Em determinado momento, deparei com este trecho: "Eu antes era uma mulher que sabia distinguir as coisas quando as via. Mas agora cometi o erro grave de pensar". De imediato, veio-me à mente estes clássicos versos, do Alberto Caeiro (Pessoa): "O Mundo não se fez para pensarmos nele / (Pensar é estar doente dos olhos)".

A Literatura é um trem lindo demais da conta!
 
Depende, esses dias li o Noturno do Chile do Roberto Bolaño, e achei que naquele caso o livro ser quase todo um único parágrafo, inclusive os diálogos, agrega bastante à narrativa proposta. Em alguns beatniks também funciona bem.
Uns dias antes tinha lido O conto da ilha desconhecida, do Saramago. Gostei bastante, mas sinceramente, o discurso indireto livre não me pareceu agregar em nada. Me deu mais uma impressão de apego do autor ao estilo do que de uma necessidade ou de um plano pensado para a narrativa proposta. Nesse caso subtrai mais do que soma. Não diria que é preguiça, mas é graça e, talvez, um tanto de afetação, ou uma necessidade de impor uma identidade na escrita que eu acho irrelevante, como se o autor se colocasse acima da obra. De qualquer forma, é um puta livrinho (chamo de livrinho pelo tamanho, não pela qualidade), e ele escreve bem pra caralho.
 
No caso do Saramago, não chega a ser discurso indireto livre porque as falas não se misturam à voz do narrador. Ele as diferencia pelo uso de maiúsculas no começo de cada fala, e quase sempre tem os verbos dicendi para esclarecer quem disse o quê, e como. Ele só não curte travessões e aspas mesmo. Fica embolado, mas é tranquilo diferenciar narrador de personagens. O discurso indireto livre seria aquela maçaroca em que as falas surgem no meio do parágrafo, misturando-se à narração. :think:
 
Confesso que não suporto discurso indireto livre. Geralmente fico com a impressão de que o autor teve preguiça de mudar de linha e colocar o travessão ou as aspas.

É um recurso de que eu gosto, em livros narrados em primeira pessoa, quando o narrador efetivamente faz as vezes de alguém contando uma história, ou quando o narrador está contando uma história contada por outro narrador, como nos livros do Conrad. Alguns dos meus livros preferidos são escritos assim, como os do W. G. Sebald, visto aqui te julgando:

6580622.jpg
 
Antes da confissão, preciso fazer uma ressalva: eu gosto de Drummond, de verdade, só não gosto o suficiente para que ele possa ser classificado como um dos meus poetas preferidos. Como não gostar de quem escreveu versos tão maravilhosos quanto estes?

no milímetro que nos separa
cabem todos os abismos.


Adoro "Boca". Mas acho que todo mundo adora.

Tá, agora, a confissão: já disse que meu poeta, brasileiro, preferido é o João Cabral de Melo Neto, não o Drummond (sim, o povo pensa que, por eu ser mineira, meu poeta preferido é o Drummond). O que eu não disse é que o meu poeta mineiro preferido é o magnífico Murilo Mendes. Mais do que isso, meu segundo poeta, brasileiro, preferido é o Murilo Mendes. Sem a menor condição na versatilidade desse poeta. O povo só fala dele como católico, mas o cara era muito mais do que isso. Mesmo que não mencionem, ele foi um poeta extremamente comprometido com a realidade política e humana no âmbito mundial. Murilo fez poesia satírica, surrealista, sincrética (ele estabeleceu um diálogo absurdo com as outras artes, enfim) e tudo o mais.

Bom, é isso. Murilo Mendes > Drummond. :assobio:
 

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