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Confessionário literário

Confesso que faz mais de uma semana que estou com um livro estrategicamente posicionado na minha cabeceira pra começar a ler e ainda não tive coragem - ou vontade - de pegar ele na mão.
 
Confesso que faz mais de uma semana que estou com um livro estrategicamente posicionado na minha cabeceira pra começar a ler e ainda não tive coragem - ou vontade - de pegar ele na mão.

Culpa da quarentena.

Confesso que sempre que falam sobre o Sérgio Sant'Anna (de quem nunca li nada), penso que estão falando sobre o Affonso Romano de Sant'Anna 🥰. Inclusive, na ocasião da morte daquele, pensei que se tratava da morte deste. :oops:
 
Eu gostaria de, não necessariamente confessar, mas entender.
Faz poucas semanas, fui chamada na chincha por um motivo bastante novo para mim. Sigo algumas listas de bookstan no twitter, e cai no meio de uma discussão, até agora não sei como.

Em resumo da discussão, o termo que me foi dador foi racista literária. Evidentemente por eu ler apenas autores brancos (parece que meu Skoob foi stalkeado).

Qual não foi minha surpresa com está afirmação, pois até então, na hora de escolher um livro, o que eu menos procuro é sobre o autor, as vezes descobrindo se homem ou mulher apenas depois de terminar. Não gosto de ter spoilers precoces, pesquisar a vida da pessoa causa isso.

Foi bastante inexplicável, diga-se de passagem, mas criou um questionamento que eu nunca tive, e de certa forma tenho pensado bastante:

É racismo eu ler apenas autores brancos, ainda que isso seja resultado de, sei lá, a mídia geral?

Vocês costumam analisar o autor para ter um background diverso de leitura?

Eu não tenho dúvidas que ler autores diversos tragam uma visão mais rica das muitas formas de realidade, cultura e experiências. Isso eu acredito veementemente, mas nunca tinha parado realmente para tratar isso como uma decisão lógica: agora vou ler uma obra cujo autor é mulher, agora homem, negro, LGBTQ+ (não sei se é a sigla correta).
 
Olha, eu acho que falar que isso é racismo chega a ser exagero e histeria da galera.

Mesmo que não se fosse influenciado pela mídia, o fato de alguém gostar de um livro ou ficar atraído a ponto de lê-lo envolve aí uma série de variáveis, não apenas a cor do autor..

Partindo do mesmo raciocínio, se eu não assistir Moonlight eu sou racista e homofóbico, se eu escolher não ler literatura brasileira, sou xenófobo, e assim por diante.

E talvez essas pessoas, se você lesse demasiado autores negros, te acusariam de "apropriação cultural" e afins......
 
Mesmo que não se fosse influenciado pela mídia, o fato de alguém gostar de um livro ou ficar atraído a ponto de lê-lo envolve aí uma série de variáveis, não apenas a cor do autor..
Essa foi basicamente minha linha de argumentação, eu acho que resulta ser para todos que lêem muito. Achei mais intrigante que me acusassem de algo por seguir exatamente a política que eles defendem (acaba sendo isso por tabela), e ler o que eu quiser, já que é um ato de liberdade de expressão.

Partindo justamente para o oposto, onde eu deveria policiar o que leio, justamente para evitar a situação, se torna errado ler somente o que gosto, agora deve-se gostar de ler mas ter ressalvas quanto à diversidade.

O curioso é que defender esse posicionamento é algo que tem estado muito forte, pelo menos nos bookstan que sigo aleatoriamente hoje. 🤔
 
Foi bastante inexplicável, diga-se de passagem, mas criou um questionamento que eu nunca tive, e de certa forma tenho pensado bastante:

É racismo eu ler apenas autores brancos, ainda que isso seja resultado de, sei lá, a mídia geral?

Para mim só o fato de você ter se questionado isso já mostra o estado absurdo para o qual as coisas têm caminhado. O discurso está tão forte que faz com que você tenha dúvidas se você é racista ou não, sendo que, pelo que você disse, não há a menor prova disso. Qual é o próximo passo? Fazer cotas para leituras?

Claro que você pode escolher um livro pelo autor, por sua nacionalidade, cor, gênero, orientação sexual. Não há nenhum problema nisso. Mas claramente você dá preferência para livros cuja história possa ser interessante para você, independentemente do autor, e é o seu critério, e tá tudo bem.

É por isso que eu tenho tentado me afastar cada vez mais do twitter (hoje só entrei uma vez :meditando:). Um ambiente que no início era totalmente descontraído está ficando cada vez mais tóxico, dos dois lados. Cada vez que eu entro lá para espairecer acabo ficando mais irritado.
 
Eu concordo com que o @Loveless comentou e acrescento que isto pode ser acrescentado para outras mídias. Até mesmo em séries não estamos lá para ver quem dirigiu, quem é o ator principal, se ela é baseada em alguma obra de algum escritor específico ou algo do gênero. Queremos ter a liberdade de escolher o que nos parece agradar. Seja pelo resumo, por um trailer, por uma capa bonita do livro, por uma recomendação, por um título bonito e etc.

O que eu fico mais chocado é alguém te atacar gratuitamente por conta da sua lista. Chega até a ser meio bizarro. Espero que tenha sido com respeito ao menos.
 
eu acho que racismo seria dizer que escritores negros são inferiores ou algo nessa linha.

mas.

quando falamos das nossas leituras, temos que nos dar conta principalmente que não dá para ler toooooodos os livros, por mais tempo e boa vontade que tenhamos. e aí precisamos fazer um recorte (eu tenho gostado de ficção contemporânea escrita por mulheres, por exemplo, é o meu recorte no momento). o problema é que nós achamos que temos algum poder de decisão muito forte quando falamos do "próximo livro que leremos", mas a verdade é que antes dessa escolha, outras tantas pessoas escolheram por nós.

seja pela mídia ao divulgar uma obra (é muito difícil trombar em um livro "sem querer", normalmente a gente fica sabendo porque alguém falou dele em algum lugar: amigo próximo, post de facebook, crítica em revista, etc.), seja o marketing da editora pesar mais para outra obra (e aí ele ganha destaque nos goodreads e nas estantes de livrarias da vida), seja por uma editora escolher publicar x e não y, ou a editora nacional optar por traduzir a ou b no brasil. enfim, muita decisões são tomadas antes de decidirmos a nossa próxima leitura. e é aí que a porca torce o rabo.

para dar um exemplo: o fato que mais discutiram no mercado editorial lá fora antes da pandemia, é que o mercado dá preferência para obras de autores brancos, ouve poucas vozes diversas. um exemplo é a treta envolvendo my dark vanessa (saiu por aqui pela intrínseca como minha sombria vanessa), que dizem ser meio, ahmmmm.... parecido demais (digamos assim) com livro de uma outra autora, latina. qual fez sucesso e ganhou espaço? my dark vanessa, de uma autora branca. a latina copiada sequer foi lançada aqui no brasil.

eu estou dizendo tudo isso para que você entenda que nós enquanto leitores podemos não ser racistas, mas nossas escolhas acabam sendo influenciadas por uma sociedade racista. e a parte mais insidiosa da coisa é que nós achamos que estamos escolhendo o que vamos ler, que são decisões nossas e que só "nunca rolou um interesse", mas não é exatamente isso.

não é o caso para "criar cotas", como disse loveless, mas estar ciente que o mercado é racista e é dominado por autores brancos. o nosso dar de ombros e dizer "eu nem presto atenção em quem é o autor ao escolher um livro" é um tanto confortável, mas implica em dizer que estamos deixando todo o mercado decidir por nós.

mais ou menos assim: tá ok se enquanto leitor a pessoa não quer ter uma lista com vozes diversas, pode ser o recorte dela, ué. mas se a pessoa bate os olhos nas leituras, percebe que há pouca diversidade e isso a incomoda, o discurso do "eu nem olho quem é o autor" tem que ser deixado de lado, porque essas vozes diferentes vem de nadar contra a maré.
 
Não sei o que ha de bom em Drummond. Desculpa; entedia-me, dorme-me.
Tenta esses aí: https://www.letras.mus.br/carlos-drummond-de-andrade/460649/

A UM AUSENTE
Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste

Carlos Drummond de Andrade>>



 
Última edição:
Valeu! Mais por sinceridade que por respeito, gostei, mas não tanto. O final é bello; muito bello, mas não basta. Quero dizer, ha uma certa aurea mystica de maior poeta do Brasil em torno do Drummond, que eu não vejo, e nem sei se é pura lorota da midia, se é porque elle tinha muitos amigos influentes que escreviam critica etc. Gosto mais do Manuel Bandeira; ainda assim, nenhum dos dois tem perfil de "Grande Poeta", como um Camões e um Dante tem.
 
Valeu! Mais por sinceridade que por respeito, gostei, mas não tanto. O final é bello; muito bello, mas não basta. Quero dizer, ha uma certa aurea mystica de maior poeta do Brasil em torno do Drummond, que eu não vejo, e nem sei se é pura lorota da midia, se é porque elle tinha muitos amigos influentes que escreviam critica etc. Gosto mais do Manuel Bandeira; ainda assim, nenhum dos dois tem perfil de "Grande Poeta", como um Camões e um Dante tem.

Vai lendo os outros inseridos depois.... 💖 😍 Hope that helps :joinha::joinha::drunk::drunk:
 
Eu gostaria de, não necessariamente confessar, mas entender.
Faz poucas semanas, fui chamada na chincha por um motivo bastante novo para mim. Sigo algumas listas de bookstan no twitter, e cai no meio de uma discussão, até agora não sei como.

Em resumo da discussão, o termo que me foi dador foi racista literária. Evidentemente por eu ler apenas autores brancos (parece que meu Skoob foi stalkeado).

Qual não foi minha surpresa com está afirmação, pois até então, na hora de escolher um livro, o que eu menos procuro é sobre o autor, as vezes descobrindo se homem ou mulher apenas depois de terminar. Não gosto de ter spoilers precoces, pesquisar a vida da pessoa causa isso.

Foi bastante inexplicável, diga-se de passagem, mas criou um questionamento que eu nunca tive, e de certa forma tenho pensado bastante:

É racismo eu ler apenas autores brancos, ainda que isso seja resultado de, sei lá, a mídia geral?

Vocês costumam analisar o autor para ter um background diverso de leitura?

Eu não tenho dúvidas que ler autores diversos tragam uma visão mais rica das muitas formas de realidade, cultura e experiências. Isso eu acredito veementemente, mas nunca tinha parado realmente para tratar isso como uma decisão lógica: agora vou ler uma obra cujo autor é mulher, agora homem, negro, LGBTQ+ (não sei se é a sigla correta).

Sinceramente, eu estou de saco cheio desse patrulhamento e me causa espanto saber que agora existam essas Forças Tarefas dedicadas a monitorar o skoob das pessoas para compor uma espécie de inquéritos raciais a partir das suas leituras e então te botar o carimbo de "racista literário". Esses pseudo-progressistas são, na verdade, autoritários, reacionários. É nas costas desse identitarismo de fundo multiculturalista, hiperfragmentário, inorgânico e tendencialmente autofágico que cresce a extrema-direita, aqui e nos EUA.

A História não é um passeio no parque. A produção dos bens culturais reflete, em larga medida, as desigualdades que estão entranhadas nas nossas sociedades. Você pode muito bem ter uma compreensão crítica de que a formação do cânone, na literatura, obedece a uma matriz eurocêntrica ou pelo menos referida aos países do capitalismo central. Um ou outro escritor periférico consegue se fazer relevante nesse processo, mas certamente muitas vozes são silenciadas, escritores talentosos são apagados e a literatura de vários países da periferia do mundo seguirá inexplorada. De qualquer forma, você não necessariamente precisa assumir como dever moral ler literatura que você não esteja interessado em ler.

A valorização dessas vozes silenciadas se dá numa disputa - por certo, desigual - por espaços, por novos consensos e convenções estéticas. E, a despeito disso, grande parte dessa literatura permanecerá apagada mesmo, não conseguirá se impor como um bem cultural relevante. De qualquer forma, me parece pouco produtivo enfiar o dedo na cara das pessoas, pretendendo determinar o que elas devem ler, nesse discurso de introjeção culpa, tachando fulano e beltrano de racistas em razão das leituras que fazem, como se fossem escolhas plenamente conscientes. A Ana comentou sobre a definição daquilo que é ou não relevante pelo mercado, e que precede as escolhas que nós muitas vezes pretendemos absolutamente livres. Eu acho mesmo que essa é uma questão relevante. Mas eu pontuaria que o próprio mercado já começa a descobrir no discurso que pauta a representatividade das minorias um nicho a explorar - seja nas propagandas de cosméticos, seja também no mercado editorial.
 
Não achei tópico melhor pra postar isso, então vai aqui mesmo

Ehp2GDjWAAIHgXK


Ehp5v8dXsAAMcrg
 
Confesso que revendi meu Guimarães Rosa completo sem ter lido.

Explico:
Comprei o box da prosa completa em 2018 por R$ 90 na Amazon (acho que o preço tabelado na época eram uns R$ 150). Ficou desde então na estante, pegando pó, como 99% dos meus livros, sem previsão para a leitura.

Uns dois meses atrás, soube que o box estava esgotado e vi um carinha vendendo por R$ 700 num grupo do Facebook... Detalhe: devido à pandemia, ele só entregaria a pessoas de São Paulo (??)...
Fiquei meio... :ahn?: Como assim né?

De brincadeira, para tirar uma onda com o sujeito, anunciei no mesmo grupo o meu box por R$ 650, com frete já incluso, a ser transacionado pelo Mercado Livre...

Três dias depois alguém comprou!
:byebye:

Estou contando que reimprimam essa obra ano que vem ou no outro.
Quem tem pressa para comprar o que se pode ler da biblioteca universitária, em caso de urgência?
:hxhx:
 
Confesso que revendi meu Guimarães Rosa completo sem ter lido.

Explico:
Comprei o box da prosa completa em 2018 por R$ 90 na Amazon (acho que o preço tabelado na época eram uns R$ 150). Ficou desde então na estante, pegando pó, como 99% dos meus livros, sem previsão para a leitura.

Uns dois meses atrás, soube que o box estava esgotado e vi um carinha vendendo por R$ 700 num grupo do Facebook... Detalhe: devido à pandemia, ele só entregaria a pessoas de São Paulo (??)...
Fiquei meio... :ahn?: Como assim né?

De brincadeira, para tirar uma onda com o sujeito, anunciei no mesmo grupo o meu box por R$ 650, com frete já incluso, a ser transacionado pelo Mercado Livre...

Três dias depois alguém comprou!
:byebye:

Estou contando que reimprimam essa obra ano que vem ou no outro.
Quem tem pressa para comprar o que se pode ler da biblioteca universitária, em caso de urgência?
:hxhx:
Devia ter feito isso com meu exemplar de O Sol é Para Todos antes de sair a edição nova. Podia ter ganhado uns duzentinhos, mas não tive coragem.
 

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