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Como romancista, Chico Buarque é mestre em gerar desconforto, diz "The New York Times"

Ana Lovejoy

Administrador
Lançado no início deste mês nos Estados Unidos, o romance "Leite Derramado" (2009), de Chico Buarque, foi recebido com elogios pelo jornal "The New York Times".

Em resenha publicada nesta segunda-feira (24), Chico é apontado como dono de um estilo muito diferente de escrever músicas e livros, mas com "reputação bem merecida" para as duas atividades. O texto é assinado pelo ex-correspondente do jornal no Brasil Larry Rohter, autor do livro de memórias "Deu no New York Times" (2008).

"Como compositor, ele tende para composições cadenciadas que se baseiam em bossa nova e samba, enquanto romancista, ele é um mestre em gerar desconforto", avalia Rohter.

Sobre a temática do livro, que conta a história de um idoso de comportamento racista no leito de morte, a crítica interpreta como um confronto de temas que fazem o Brasil "se contorcer", por debater a "mancha da escravidão" e o "complexo de inferioridade que o país historicamente sentiu quando se compara à Europa".

O texto cita ainda que "Leite Derramado" recebeu "endosso" do escritor português José Saramago e de escritores americanos da nova geração como Jonathan Franzen e Nicole Krauss, que ficaram impressionados com a destreza verbal do brasileiro.

Segundo informação do jornal "O Estado de S. Paulo", de outubro deste ano, Chico Buarque estaria preparando atualmente um novo romance, o quinto de seu currículo como escritor.

fonte
 
Gosto demais de Leite Derramado, mas meu favorito ainda é Estorvo por causa daquela citação linda na capa da edição da Cia das Letras. :grinlove:
 
Uma das lembranças divertidas que tenho de quando li Leite Derramado é da época em que eu fiz o processo seletivo para o mestrado (2009?). Eu tinha uma colega de trabalho que, na segunda-feira, sempre perguntava como tinha sido nosso fim de semana. Então, quando ela me perguntou, eu dei uma risadinha, e falei: "Passei o fim de semana na cama, com Chico Buarque e o Leite Derramado. O que significa que meu fim de semana foi melhor do que o de vocês".

Btw, eu concordo, demais com isso de a escrita do Chico Buarque gerar desconforto.
 
Sim, é desconfortavelmente ruim demais.
bitch slap GIF
 
Sim, é desconfortavelmente ruim demais.
Amo o Chico compositor, foi a playlist da minha adolescência.
Admiro muito o Chico escritor dos anos 70: A ópera do malandro, Gota D'água e Calabar são obras primas do teatro nacional. Fazenda Modelo também é o plágio mais gostoso que já tive oportunidade de ler.
MAS quando o assunto é o Chico metido a romancista a partir dos anos 80... concordo com Paganus, só ressalvando que reconheço o estilo e a voz única construída pelo Chico, ainda assim, ele enquanto romancista me parece expressar o ponto mais morno de uma carreira musical e teatral extremamente feliz.
 
Sim, é desconfortavelmente ruim demais.

Só li o Budapeste.
Admiro a versatilidade do artista, mas também não gostei tanto.Tanto é que adquiri pelo sistema de trocas do Skoob e pelo mesmo sistema eu o despachei.

E não me deu vontade de ler os outros romances dele.
 
Só li o Budapeste.
Admiro a versatilidade do artista, mas também não gostei tanto.Tanto é que adquiri pelo sistema de trocas do Skoob e pelo mesmo sistema eu o despachei.

E não me deu vontade de ler os outros romances dele.
Fico com a impressão que o ponto todo é só gerar desconforto, e adoro me sentir desconfortável, mas... é só isso, saca? Não tem mais nada.
 
Eu vou também nessa linha do Cide. O Chico compositor musical e alguns trabalhos dele como dramaturgo eu até respeito. Qualquer outra coisa que ele fez fora disso não posso dizer o mesmo.
 
Se eu quiser desconforto, uso cueca apertada. :P Brimks. Nem li romance nenhum do Chico; mas o Gota d'Água, em coautoria, eu li e achei péssimo. Um panfleto político mal disfarçado que não sabia nem aonde queria chegar.
Na verdade todo a produção literária do Chico setentista é um "panfleto político mal disfarçado" apoiado em adaptações de Brecht ou com mote chupado de Eurípedes (no caso da Gota D'água). Mesmo a novelinha Fazenda Modelo, como já insinuei acima, é um hibrído de "Animal Farm" misturado com "Brave new world" numa prosa que tenta -- sem sucesso -- emular o estilo do Guimarães Rosa, do qual o Chico foi grande admirador na juventude ("eu queria ser ele", declarou certa vez num documentário sobre as influências literárias subjacentes em suas canções; "Pedro pedreiro" é um ótimo exemplo: segundo o próprio Chico, a letra desta música inspira-se muito na "oralidade beletrista" roseana).
A grandeza do Chico Buarque enquanto artista reside em sua lírica pessoal. Ele carece da unidade do tema, típica em excelentes escritores; também passa longe do acurado senso flaubertiano de processo criador. Só o poeta lírico salva-o da trivialidade datada. O Chico político é um anão possuído pelo espírito grandioso do "vate," ora trovador mambembe ora malandro sambista.
Talvez por esta razão tenhas percebido o "não sabia nem aonde queria chegar" do Gota D'água. Concordo plenamente, mas o apelo não vem -- em absoluto -- da falta de ordem ou unidade de suas produções, e sim de uma metáfora felicíssima, um ritmo simples que casa espantosamente bem com palavras inusuais, ou uma expressão grotesca e agressiva, mas que renuncia a destrutividade...
Fico com a impressão que o ponto todo é só gerar desconforto, e adoro me sentir desconfortável, mas... é só isso, saca? Não tem mais nada.
Paganus tocou a área erógena da questão: o Chico romancista renuncia ao seu espírito trovador e adquire os contornos do "homem solitário vagando por aí" camusiano, meio existencialista, forçadamente punk. Troca, em verdade, a poesia boêmia e a máscara de saltimbanco por uma prosa pesada e a máscara inexpressiva do homem-massa.
A ditadura militar foi talvez a maior responsável por Chico ser quem é hoje. O desconforto gerado pelos militares serviu não só de leitimov, mas também de contraste para a obra do Chico: ele deu o colorido, as formas e as figuras, enquanto a Ditadura proporcionou os contornos sombreados que, afinal, cooperam para a densidade do quadro, transformando-as em formas independentes, vivas, cujas figuras podem tranquilamente serem destacadas do contexto social-histórico-politico (isto é, da moldura) sem quase nenhum prejuízo para o sentido e a beleza das obras.
A perda desta estranha e paradoxal "parceria" foi sentida por Chico de maneira imediata: Estorvo é seu primeiro romance, lançado pouco tempo depois da redemocratização do país. O desconforto presente nesta obra é, talvez, uma forma de auto-preservação inconscientemente percebida por Chico: "a Ditadura se foi, acabou-se Aquela que trouxe tantos desgostos e, no mesmo movimento, possibilitou o sombreado, o acabamento perfeito de minhas obras -- logo, terei de eu mesmo, a partir de agora, cuidar de introduzir as sombras". Este foi seu erro fatal (ou mesmo inevitável), o qual levou-lhe a tratar do desconforto, do sombrio, do peso com suas próprias mãos. Porém, não soube fazê-lo de maneira harmoniosa, e a sombra, as forças negativas, caíram como um manto sob toda sua obra romanesca. Continua inventivo sim... e abafado, pesado, sufocante demais.
 
Última edição:
Nunca li um livro dele. Alguma indicação?

Admiro-o mais pelo lado musical que pelo literário. As harmonias sofisticadas que ele toca no violão não se ouvem mais em música brasileira. Pelo menos, a do mainstream.
 
Falar nisso, alguém leu os romances mais recentes dele (irmão alemão, essa gente)?

passei na livraria e achei o livro novo de contos dele tão bonitinho, capa dura, tecido na lombada... mas em algum lugar, não lembro onde, li que ele não mandou tão bem nas formas breves...

ainda não li nenhum romance dele, mas quero muito :timido:
 
O Chico infelizmente não passou na minha régua de me agradar nos 20 a 25% iniciais de um livro e o escolhido na ocasião foi Budapeste. Prefiro ele mais como compositor musical e nada além disso.
 

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